Direitos da criança e do adolescente. Prof. Dr. João Miguel da Luz Rivero Concepção de dignidade da pessoa humana
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1 Direitos da criança e do adolescente Prof. Dr. João Miguel da Luz Rivero jmlrivero@gmail.com Concepção de dignidade da pessoa humana As concepções de cidadania, quando se referem às condições devidas ao cidadão, requerem um tratamento mais rigoroso sobre o conceito de dignidade da pessoa humana. Isso justifica porque o tema está diretamente relacionado com o sujeito de direito, especificamente sendo esse sujeito a criança e o adolescente e sua proteção integral. Pode-se dizer que, historicamente, a dignidade da pessoa humana encontrou apoio em três concepções: individualismo, personalismo e transpersonalismo, expressões que emprestamos de REALE, com quem fazemos uma interlocução a fim de historicizar tais concepções. O individualismo expressa-se ao dizer que cada ser humano protege e realiza, cuidando de seus direitos, indiretamente, os interesses coletivos. Seu ponto de partida é o indivíduo. É pensando em si mesmo que o indivíduo cogita no bem da sociedade, compreendendo um modo de entender os direitos fundamentais. O Estado, dentro dessa concepção, abstém-se da intromissão na vida social, o mais possível, interferindo com a definição de impostos, preservando-se assim a liberdade pura em uma interpretação da lei como salvaguarda da autonomia individual. No transpersonalismo acontece o contrário. Nessa concepção, é realizando o bem coletivo que se salvaguardam os interesses individuais; aí, nega-se, portanto, a pessoa humana como bem supremo. As concepções socialistas ou coletivistas são consectárias dessa corrente, encontrando-se maior ênfase no marxismo, pois para o autor de O Capital, a emancipação do homem dar-se-á com o socialismo, com a abolição da propriedade privada. O pensamento marxista diz que o humanismo plenamente evoluído é o retorno do próprio homem como um ser social. Nesse sentido, vale reconhecer que o homem tem uma essência social, e por esta razão, não poderá bastar-se a si mesmo; ele é o resultado de um conjunto de relações sociais. A corrente que se denomina personalismo, terceira concepção aqui arrolada, rejeita as duas primeiras - o individualismo e o coletivismo - para valorizar a inter-relação entre os valores individuais e os valores coletivos, e fazendo a distinção entre indivíduo e pessoa. Nessa distinção, promove-se o reconhecimento de que o homem não é apenas uma parte, ele é uma pessoa no sentido amplo, o que uma unidade coletiva jamais pode ser.
2 Por essa razão, diz-se que o predomínio não pode ser voltado para uma ou outra vertente - o indivíduo ou coletivo dos indivíduos. Diz-se, sim, que não há valor que supere o da pessoa humana. A pessoa humana não pode ficar aquém do coletivo, nem qualificada de forma minimizada pelo Estado, ou por qualquer outra instituição. Seu valor tem prioridade. A doutrina da situação irregular Com a orientação da cultura sócio-jurídica da "proteção-repressão", surge a estrutura jurídico-institucional do Tribunal de Menores, em Ilinois, E.U.A., em 1899 e na Europa, no início deste século. Essa época caracterizou-se pela disseminação dessa cultura no continente latino-americano sob o rótulo de uma heresia jurídica denominada "doutrina da situação irregular" que, baseando-se na exclusão social, reforça e legitima esta situação, introduzindo uma dicotomia perversa no mundo da infância. A doutrina da situação irregular orientou toda a elaboração legislativa do continente latino-americano, estabelecendo, dessa forma, um eficiente sistema de "controle social" destinado às crianças pobres, abandonadas ou autoras de ato anti-social, podendo-se destacar como exemplo os Códigos de Menores, de 1927 e de No Brasil, vigoraram, com respaldo constitucional, até a promulgação, em 5 de outubro de 1988, da Constituição da República Federativa do Brasil que estabelece uma ruptura de paradigma ao adotar para a infância e adolescência a "doutrina da proteção integral". A mudança de paradigma: A doutrina da proteção integral A doutrina em análise está referenciada num conjunto de instrumentos jurídicos de caráter internacional que desencadearam um processo qualitativo na consideração social da infância e da adolescência. São quatro os instrumentos básicos: 1. a Convenção das Nações Unidas sobre os Direitos da Criança; 2. as Regras Mínimas das Nações Unidas para a administração da Justiça da Infância e da Juventude (Regras de Beijing); 3. as Regras Mínimas das Nações Unidas para os Jovens Privados de Liberdade; 4. as Diretrizes das Nações Unidas para a Prevenção da Delinqüência Juvenil (Diretrizes de Riad). Esses instrumentos jurídicos, sem dúvida alguma, têm como seu antecedente direto a Declaração dos Direitos da Criança (Aprovada pela Assembléia Geral das Nações Unidas, aos 20 de Novembro de 1959). No início deste século, mais precisamente no ano de 1923, a União Internacional Save the Children, em prol dos direitos da Criança, aprovou um documento que ficou conhecido como Declaração de Genebra. Essa Declaração continha os princípios básicos da proteção à infância. Foi aprovada
3 em 1924, pela 5ª Assembléia da Sociedade das Nações que propõe aos países membros que a orientação de sua conduta no que se refere às crianças e aos adolescentes, pelos princípios nela estabelecidos. Após o término da II Guerra Mundial, a Assembléia Geral das Nações Unidas aprovou a Declaração Universal dos Direitos da Criança, um texto conciso, contendo dez princípios, ampliando, dessa forma, os direitos da infância. A Declaração dos Direitos da Criança tem o seguinte teor: 1. Direito à igualdade, sem distinção de raça, religião e nacionalidade. 2. Direito à especial proteção para o seu desenvolvimento físico, mental e social. 3. Direito a um nome e a uma nacionalidade. 4. Direito à alimentação, moradia e assistência médica adequadas para a criança e a mãe. 5. Direito à educação e a cuidados especiais para a criança física ou mentalmente deficiente. 6. Direito ao amor e à compreensão por parte dos pais e da sociedade. 7. Direito à educação gratuita e ao lazer infantil. 8. Direito a ser socorrido em primeiro lugar, em caso de catástrofes. 9. Direito a ser protegido contra o abandono e a exploração no trabalho. 10. Direito a crescer dentro de um espírito de solidariedade, compreensão, amizade e justiça entre os povos. Após o término da II Guerra Mundial, a Assembléia Geral das Nações Unidas aprovou a Declaração Universal dos Direitos da Criança, um texto conciso, contendo dez princípios, ampliando, dessa forma, os direitos da infância. A Convenção das Nações Unidas sobre os Direitos da Criança constitui-se no mais relevante instrumento normativo, apesar de, cronologicamente, não ser o primeiro, pois teve ele o mérito de despertar os movimentos sociais e setores das políticas públicas para a necessidade de melhorar a qualidade de vida das crianças e adolescentes. A Convenção estabelece uma mudança radical na percepção de uma nova condição da infância, especialmente na América Latina, que, no momento de sua aprovação, mantinha legislações destinadas aos menores, absolutamente incompatíveis com o espírito e as disposições jurídicas estabelecidas. A mudança fundamental de paradigma está alicerçada na superação da doutrina da situação irregular, que via o menor como objeto da compaixãorepressão, e na aproximação da doutrina da proteção integral, que considera crianças e adolescentes como sujeitos de direitos. A Convenção é um consistente instrumento jurídico de direitos que transforma os menores em crianças e adolescentes, titulares de direitos individuais, direitos coletivos econômicos, direitos sociais e direitos culturais.
4 Os termos da referida Convenção são extensivos a todas as crianças e adolescentes, ou seja, a todos os menores de 18 anos, a menos que sejam emancipados. A regra é que toda a população infanto-juvenil seja detentora dos direitos tradicionalmente garantidos aos adultos e que sejam aplicáveis à sua faixa etária. Destaca-se, em especial, a proteção a todas as crianças e adolescentes contra os abusos historicamente praticados com seres humanos, independentemente da idade, como tortura, exploração do trabalho abusivo, violação dos direitos às liberdades de crença e opinião, omissão ou precariedade na prestação de serviços como saúde, educação, distribuição da justiça etc. pelo Estado O direito à educação, ao lado de outros três, como esporte, lazer e recreação, é específico das crianças e dos adolescentes, enquanto condição particular para o seu desenvolvimento. Sobre os direitos referentes às necessidades das crianças e adolescentes, a Convenção dispõe: o atendimento às suas necessidades básicas; a proteção contra crueldade e exploração; o direito à convivência familiar e comunitária; a proteção especial àqueles que se encontram em circunstâncias especialmente difíceis. A Convenção está alicerçada em dois grandes princípios que orientam os direitos das crianças e dos adolescentes, a saber: o interesse superior da criança e do adolescente; o reconhecimento à criança e ao adolescente do direito de expressarem-se à medida que vão crescendo em anos e em maturidade, sobre o modo como se aplicam os seus direitos na prática. Como fonte mais significativa da doutrina da proteção integral, a Convenção, notadamente, demonstrou à comunidade internacional a necessidade urgente de um reordenamento institucional, para a superação do paradigma da doutrina da situação irregular. Esta, até aquele momento, impedia que crianças e adolescentes usufruíssem das garantias fundamentais inerentes ao ser humano em condição peculiar de desenvolvimento, estabelecidas pelo Estado Democrático de Direito. A ruptura com o velho paradigma significa criar condições institucionais de direito e de fato para o desenvolvimento das crianças e dos adolescente e para a garantia de sua dignidade, e isto implica em ações como a superação do assistencialismo, das medidas correcionais e repressivas destinadas especialmente aos menores de baixa renda.
5 MENDEZ, ao se pronunciar no II Seminário Latino-Americano, ocorrido em São Paulo, em 1992, estabelece um paralelo denominado o avesso e o direito. O AVESSO a) Uma doutrina: a doutrina da situação irregular; b) Uma instância judicial: o juiz de menores; c) Uma instância administrativo-executiva: os órgãos estatais de assistência à infância; d) Uma substimação do vínculo entre a condição material e jurídica da infância: o basismo das organizações não-governamentais; e) Uma diferença generalizada: a omissão ativa da sociedade civil. O DIREITO a) A doutrina: a doutrina da Nações Unidas de proteção integral da infância; b) A instância judicial: o novo juiz da infância e da juventude; c) A instância administrativo-executiva: do assistencialismo à política das garantias. d)as organizações não-governamentais como fiscais dos direitos da infância. e)uma sociedade civil de todos e para todos. MENDEZ afirma, ao concluir seu trabalho, que a reforma da lei constitui um passo absolutamente fundamental sendo, no entanto, somente o começo de uma nova etapa nos esforços para melhorar as condições de vida da nossa infância e adolescência.
Pós-graduado em Direito Administrativo, Direito Constitucional, Direito Penal, Direito Civil e em Educação à Distância;
Sou o Professor EDUARDO GALANTE; Mestre em Direito Internacional. Mestrando em Direito Público; Pós-graduado em Direito Administrativo, Direito Constitucional, Direito Penal, Direito Civil e em Educação
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