IPSO JURE. Agosto de 2009 EDITORIAL

Transcrição

1 IPSO JURE Agosto de 2009 Direcção: Pedro Costa Azevedo Colaboração: Andreia Azevedo Ribeiro EDITORIAL A Lei n.º 42/2005, de 29 de Agosto, veio alterar o regime das férias judiciais então vigente, fixando o actual período de 1 a 31 de Agosto e diminuindo o período que vigorava anteriormente e que estendia as tradicionais férias judiciais de Verão entre 15 de Julho e 15 de Setembro. Fazendo um breve balanço, continua a notar-se um nítido abrandamento na marcação de diligências para o período compreendido entre 15 e 31 de Julho e entre 1 e 15 de Setembro. Esse abrandamento justifica-se não só pelos velhos hábitos instalados, em todas as classes, magistrados, advogados e funcionários judiciais, mas também pelo gozo de férias dos magistrados e funcionários judiciais que continua a poder ser feito em todo aquele período, embora durante um espaço de tempo mais limitado. Além disso, quem lida diariamente com o trabalho dos tribunais, embora apenas no recato do escritório, sabe que o trabalho de um juiz, durante o curso de um processo, vai para além das diligências, sendo grande parte do seu tempo tomado pela elaboração de despachos e sentenças. Ora, poucos foram os advogados que não receberam notificações até ao passado dia 31 de Julho e poucos serão os que não serão notificados electronicamente de novos despachos e sentenças logo no dia 1 de Setembro. Como diz o velho ditado, o caminho faz-se caminhando e, certamente, que, com o passar dos anos e a entrada de novos magistrados, advogados e funcionários, a nova lei acabará por entrar no quotidiano e os seus efeitos far-se-ão notar naturalmente, beneficiando a sociedade de mais um mês com os tribunais em quase pleno funcionamento. No entanto, importa também salientar que também muitos advogados se podem considerar prejudicados com a diminuição das férias judiciais. Aqueles advogados que trabalham em prática isolada, cujo modo de actividade também pode trazer inegáveis benefícios para os cidadãos, também se viram privados de um tradicional período de estudo e de repouso. São estes advogados que vêem nas férias judiciais, em que agora estamos, a única altura em que podem estudar calmamente as novas leis que saem em catadupa, durante todo o ano, ou repousar com um mínimo de descanso, sem a ansiedade e inquietação diárias de verificar o correio ou atender o telefone. É certo que dois meses com os tribunais parados, com excepção dos processos urgentes, poderia ser demasiado tempo para a sociedade em que vivemos, mas certamente que o caminho de acabar pura e simplesmente com as férias judiciais, com o argumento demagógico do interesse das populações, traria efeitos devastadores para advocacia, principalmente fora dos grandes centros urbanos, com evidentes prejuízos para todos os cidadãos. Pedro Costa Azevedo

2 JURISPRUDÊNCIA. Ac. do Supremo Tribunal de Justiça, proc. nº 1124/05.3TBLGS.S1, de O Acórdão do TC nº 23/06, de 10.01, declarou inconstitucional, com força obrigatória geral, a norma do nº 1 do art. 1817º do C. Civil, que prevê a extinção, por caducidade, do direito de investigar a paternidade a partir dos 20 anos de idade do filho, conforme o art. 26.º, nº1, da Constituição, reconhecendo que o direito do filho ao apuramento da paternidade biológica é uma dimensão do direito fundamental à identidade pessoal, invocando o direito à identidade, na vertente de se saber de onde se vem, ou de quem se vem, dos arts. 25.º, nº1 e 26.º, nº1 da Constituição, que não seria devidamente acautelado se a acção que o concretiza estivesse sujeita ao dito prazo de caducidade. No presente acórdão, foi apreciada a questão de saber se esta doutrina é aplicável às acções de impugnação da paternidade, que, no art º, nº1, als. a), b) e c), do C. Civil, estão sujeitas a diversos prazos de caducidade, consoante sejam propostas, respectivamente, pelo marido, pela mãe, ou pelo filho, designadamente, na nova redacção que lhe foi dada pela Lei nº 14/2009, de 1 de Abril. O STJ acabou por decidir que a valorização dos direitos fundamentais da pessoa, como o de saber quem é e de onde vem, na vertente da ascendência genética, e a inerente força redutora da verdade biológica fazem-na prevalecer sobre os prazos de caducidade para as acções de estabelecimento de filiação. Assim, o prazo previsto no art º, nº1, alínea a), do C. Civil, mesmo na actual redacção, na medida em que é limitador da possibilidade de impugnação, a todo o tempo, pelo presumido progenitor, da sua paternidade, é inconstitucional.. Ac. Uniformização de Jurisprudência, proc. nº 09A0682 Neste acórdão, o STJ uniformizou a jurisprudência, no sentido de que não garantindo o Fundo de Garantia de Alimentos Devidos a Menores o pagamento da prestação de alimentos não cumprida pelo responsável legal e assegurando antes uma prestação própria e diferente daquela, fixada oportunamente pelo tribunal, nos termos previstos nos artigos 1.º da Lei nº 75/98, de 19 de Novembro, e 2º e 4º, nº5, do Decreto-Lei nº 164/99, de 13 de Maio, a sua obrigação só nasce com a decisão que, apreciando os respectivos pressupostos, julgue o incidente de incumprimento do devedor originário, e a sua exigibilidade ocorre no mês seguinte ao da notificação da decisão do tribunal. O presente acórdão teve doze votos de vencido.. Ac. de Fixação de Jurisprudência n.º 11/2009 (D.R. n.º 139, Série I de ) É autor de crime de homicídio na forma tentada, previsto e punido pelas disposições conjugadas dos artigos 22.º, n.os 1 e 2, alínea c), 23.º, 26.º e 131.º, todos do Código Penal, quem decidiu e planeou a morte de uma pessoa, contactando outrem para a sua concretização, que manifestou aceitar, mediante pagamento de determinada quantia, vindo em consequência o mandante a entregar-lhe parte dessa quantia e a dar-lhe indicações relacionadas com a prática do facto, na convicção e expectativa dessa efectivação, ainda que esse outro não viesse a praticar qualquer acto de execução do facto. O presente acórdão teve sete votos de vencido.. Ac. do Tribunal da Relação do Porto, proc. nº 753/07.7TBMAI.P1, de

3 De acordo com o aresto citado, estando provado que o prejuízo causado pela ocorrência de um acidente é o valor que foi pago pelo lesado pela reparação do veículo e para o aluguer de um veículo, para substituição do que foi sinistrado até à sua reparação, não se devem considerar nesse prejuízo os valores de IVA incorporados nas facturas pagas ( ) pela reparação e pelo aluguer, desde que esses valores sejam susceptíveis de serem descontados nas declarações periódicas de IVA do credor da indemnização. No entanto, defende o presente acórdão que, para poder ter relevância e sabermos se estamos perante um custo real ou não, o devedor deve alegar e provar, face ao ónus que lhe incumbe, que aquele IVA pago foi incluído na declaração periódica apresentada pelo credor, fazendo a compensação do IVA que pagou pelos bens ou serviços que adquiriu com o IVA que cobrou pelas vendas ou prestações de serviço que realizou.. Ac. do Supremo Tribunal Administrativo, proc. nº 031/08, de De acordo com o presente acórdão do STA, a responsabilidade dos devedores subsidiários pelas dívidas por coimas da sociedade originária devedora é uma responsabilidade de natureza civil extracontratual e não uma responsabilidade pelo pagamento de coimas, a cobrança destas dívidas de responsabilidade civil não figuram entre as dívidas que podem ser cobradas através do processo de execução fiscal, uma vez que tal cobrança não está prevista no predito artº 148º, concluindo que, nestes casos, não pode haver reversão. Esta decisão fundamenta-se no acórdão do Tribunal Constitucional que confirmou a constitucionalidade do art. 8.º do RGIT, por considerar que a responsabilidade subsidiária dos administradores e gerentes assenta, não no próprio facto típico que é caracterizado como infracção contra-ordenacional, mas um facto autónomo, inteiramente diverso desse, que se traduz num comportamento pessoal determinante da produção de um dano para a Administração Fiscal.. Ac. do Supremo Tribunal Administrativo, proc. nº 0365/09, de Neste acórdão, o STA considerou justo e apropriado o valor de ,00 para compensar a angústia e ansiedade que o autor sofreu, numa acção por ele anteriormente intentada, por razões somente imputáveis ao tribunal, se haver demorado cerca de vinte anos a designar a data da audiência de discussão e julgamento. Esta acção tinha como causa de pedir os danos provocados pela ocorrência de um acidente de viação. Esta decisão teve em conta que o anormal atraso do processo perturbou, preocupou ou afligiu o autor, atendendo às circunstâncias de vida difíceis em que o acidente colocara o autor, as quais agravaram sobremaneira as repercussões emocionais da demora do processo. LEGISLAÇÃO Em termos de regulamentação financeira, foram publicados: Decreto-Lei n.º 158/2009, de Aprova o Sistema de Normalização Contabilística e revoga o Plano Oficial de Contabilidade, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 47/77, de 7 de Fevereiro.

4 Decreto-Lei n.º 158/2009, de Aprova o Sistema de Normalização Contabilística e revoga o Plano Oficial de Contabilidade, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 47/77, de 7 de Fevereiro. Decreto-Lei n.º 160/2009, de Aprova o regime jurídico de organização e o funcionamento da Comissão de Normalização Contabilística e revoga o Decreto-Lei n.º 367/99, de 18 de Setembro. Decreto-Lei n.º 162/2009, de Altera o Regime Geral das Instituições de Crédito e Sociedades Financeiras, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 298/92, de 31 de Dezembro, o Decreto-Lei n.º 345/98, de 9 de Novembro, que regula o funcionamento do Fundo de Garantia do Crédito Agrícola Mútuo, e o regime jurídico relativo ao Sistema de Indemnização aos Investidores, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 222/99, de 22 de Junho, transpondo para a ordem jurídica interna a Directiva n.º 2009/14/CE, do Parlamento Europeu e do Conselho, de 11 de Março, que altera a Directiva n.º 94/19/CE, relativa aos sistemas de garantia de depósitos no que respeita ao nível de cobertura e ao prazo de reembolso. No âmbito do Direito Fiscal, registam-se: Decreto-Lei n.º 159/2009, de No uso da autorização legislativa concedida pelos n.º 1 e 2 do artigo 74.º da Lei n.º 64-A/2008, de 31 de Dezembro, altera o Código do IRC, adaptando as regras de determinação do lucro tributável às normas internacionais de contabilidade tal como adoptadas pela União Europeia, bem como aos normativos contabilísticos nacionais que visam adaptar a contabilidade a essas normas. Portaria n.º 772/2009, de Actualiza os coeficientes de desvalorização da moeda a aplicar aos bens e direitos alienados durante o ano de 2009, para efeitos de determinação da matéria colectável do imposto sobre o rendimento das pessoas singulares. No âmbito do Direito Processual Penal, foram publicados os seguintes diplomas: Portaria n.º 732/2009, de Altera a Portaria n.º 68-C/2008, de 22 de Janeiro, que aprova o Regulamento do Sistema de Mediação Penal. No âmbito do Direito de Propriedade Intelectual, foi publicada: Resolução da Assembleia da República n.º 53/2009, de Aprova o Tratado da Organização Mundial de Propriedade Intelectual sobre Direito de Autor, adoptado em Genebra em 20 de Dezembro de No âmbito do programa SIMPLEX, foi aprovada a seguinte Portaria: Portaria n.º 698/2009, de Alarga a várias conservatórias a competência para a tramitação do regime especial de constituição imediata de associações. Destaque ainda para os seguintes diplomas: Lei n.º 31/2009, de Aprova o regime jurídico que estabelece a qualificação profissional exigível aos técnicos responsáveis pela elaboração e subscrição de projectos, pela fiscalização de obra e pela direcção de obra, que não esteja sujeita a legislação especial, e os deveres

5 que lhes são aplicáveis e revoga o Decreto n.º 73/73, de 28 de Fevereiro. Decreto-Lei n.º 154-A/2009, de Aprova a Lei Orgânica do Ministério da Defesa Nacional. Lei Orgânica n.º 1-A/2009, de Aprova a Lei Orgânica de Bases da Organização das Forças Armadas. Lei n.º 31-A/2009. D.R. n.º 129, Suplemento, Série I de Aprova a Lei de Defesa Nacional. Nota: Esta Lei é rectificada pela Declaração de Rectificação n.º 52/2009, de 20 de Julho, na qual se publica a Lei Orgânica n.º 1-B/2009, de 7 de Julho Decreto-Lei n.º 155/2009. D.R. n.º 131, Série I de Portaria n.º 760/2009, de Adopta medidas excepcionais quanto ao regime que fixa os meios de subsistência de que devem dispor os cidadãos estrangeiros para a entrada e permanência em território nacional. Lei n.º 39/2009, de Estabelece o regime jurídico do combate à violência, ao racismo, à xenofobia e à intolerância nos espectáculos desportivos, de forma a possibilitar a realização dos mesmos com segurança. Foi ainda publicada a seguinte declaração de rectificação: Declaração de Rectificação n.º 55/2009, de Rectifica o Decreto-Lei n.º 133/2009, de 2 de Junho, do Ministério da Economia e da Inovação, que transpõe para a ordem jurídica interna a Directiva n.º 2008/48/CE, do Parlamento e do Conselho, de 23 de Abril, relativa a contratos de crédito aos consumidores, publicado no Diário da República, 1.ª série, n.º 106, de 2 de Junho de 2009.