Processo de Parecer n.º 6/PP/2018-G Requerente: Instituto dos Registos e Notariado Relatora: Dra. Regina Franco de Sousa. Parecer

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Osvaldo Imperial
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1 Processo de Parecer n.º 6/PP/2018-G Requerente: Instituto dos Registos e Notariado Relatora: Dra. Regina Franco de Sousa Parecer Tendo sido emitido há mais de doze anos parecer do Conselho Geral da Ordem dos Advogados (Parecer E-49/02), no qual se defendia que no âmbito das competências conferidas pelo Decreto-Lei n.º 237/2001, de 30 de Agosto, não era atribuída aos advogados, a faculdade prevista nos artigos 48º nº 1 e 49º nº 3 do Código de Notariado. E atendendo ao alargamento das competências que pelo Decreto-Lei n.º 76-A/2006, de 29 de Março foi atribuída também aos Advogados, no que respeita a atos, que até então eram da exclusiva competência dos Notários, solicita o Instituto de Registos e Notariado que a Ordem dos Advogados se pronuncie, informando se mantém ou não o mesmo entendimento do aludido parecer de Em primeiro lugar, é importante que se analise quais as alterações que o Decreto-Lei n.º 76-A/2006, veio trazer em relação ao Decreto-Lei n.º 237/2001. Pelo Decreto-Lei n.º 237/2001 era conferida aos Advogados no seu artigo 5º, bem como a todas as entidades nesse mesmo artigo elencadas, competência para serem efectuados reconhecimentos com menções especiais, por semelhança, nos termos previstos no Código de Notariado, sendo conferido pelo Artigo 6º desse mesmo Decreto-lei ao documento a mesma força probatória, se tais atos tivessem sido realizados com intervenção notarial. 1

2 Em 29 de Março de 2006 é publicado o Decreto-Lei n.º76-a/2006, o qual no seu artigo 38º, confere aos advogados e a todas as entidades aí previstas, competência para efectuar todo o tipo de reconhecimentos, quer sejam simples ou com menções especiais, podendo ser aqueles de letra e assinatura ou só de assinatura, mas sempre presenciais, enquanto que estes últimos poderão ser presenciais ou por semelhança. Este alargamento de competências contempla também a autenticação de documentos particulares, sendo que todos estes atos terão que ser obrigatoriamente realizados nos termos da lei notarial, conferindo-se a todos os documentos a mesma força probatória que teria se tais atos tivessem sido realizados com intervenção notarial. Aqui chegados, não nos restam quaisquer dúvidas que os Advogados têm competência para a realização de todo o tipo de reconhecimentos, mesmo no caso das assinaturas a rogo, que dúvidas existiam e que o Acórdão da Relação de Coimbra de 3 de Junho de 2014, veio a reconhecer a competência dos Advogados neste tipo de reconhecimento, acórdão este que mais adiante voltaremos a falar. A grande questão que aqui se coloca, diz respeito à forma como se afere a identidade dos outorgantes, e que vem prevista nos artigos 48º e 49º do Código de Notariado, mais concretamente na alínea a) do nº 1 do artigo 48º e no número 3 do artigo 49º. Ou seja, tal como consta destes mesmos artigos, a verificação da identidade por conhecimento pessoal, é uma prorrogativa apenas do Notário, ou os Advogados também a têm? A nossa opinião é que os Advogados também podem verificar a identidade por conhecimento pessoal, e vejamos porquê: 2

3 É pelo Decreto-Lei n.º 207/95, de 14 de Agosto que é aprovado o Código de Notariado, data em que ainda não se vislumbrava a hipótese de vir a ser atribuída competência aos Advogados para a prática de atos que sempre estiveram na alçada dos notários, o que só veio a acontecer, pela primeira vez no ano de 2000, ainda que de uma forma muito limitada. Com isto, queremos dizer que o facto de no artigo 48º nº 1 a) e no nº3 do artigo 49º constar Pelo conhecimento pessoal do Notário não significa, que não possa ser do conhecimento pessoal do Advogado, pois à data em que foi aprovado o Código de Notariado, os advogados não tinham qualquer competência nesta matéria, como aqui já foi dito. Da mesma forma que no Artigo 154º do Código de Notariado sob a epígrafe assinatura a rogo, o seu nº 2, estatui que: O rogo deve ser dado ou confirmado perante o notário.., o que poderia significar, que as assinaturas a rogo só podiam ser realizadas pelos Notários e não pelos Advogados, mas que efectivamente não é assim. Também e por analogia, nas procurações, em que o mandante não pode assinar, as mesmas também podem ser feitas pelos Advogados, tendo a mesma força probatória como se tivessem sido realizadas por Notários, e não apenas por estes. A este respeito, o aqui já referido Acórdão do Tribunal da Relação de Coimbra, diz que os Advogados (ainda que no caso em questão se tratasse de um advogado estagiário) de acordo com o artigo 38º do Decreto-Lei n.º 76-A/2006, de 29 de Março, podem fazer todo o tipo de reconhecimentos de assinaturas, simples ou com menções especiais sem qualquer exclusão, nomeadamente os reconhecimentos de assinaturas feitas a rogo (o sublinhado é nosso), concluindo que todas as entidades elencadas no artigo 38.º estão legalmente habilitadas a fazer todos os reconhecimentos exactamente como os Notários. 3

4 É o próprio acórdão da Relação de Coimbra, que ao conferir ao Advogado a faculdade de reconhecer as assinaturas a Rogo, confere lhe também, ainda que não expressamente, a faculdade de verificar a sua identidade por conhecimento pessoal, como aqui ficou dito. Ainda a este propósito, gostaríamos de chamar a atenção para o facto da verificação da identidade por conhecimento pessoal ser cada vez menos usual, o que não significa que não exista, atendendo ao disposto na lei que estabelece as medidas de combate ao branqueamento de capitais e ao financiamento do terrorismo, a Lei nº 83/2017, de 18 de Agosto, mais concretamente no seu artigo 25º que, sob a epígrafe Meios comprovativos dos elementos identificativos, no seu nº 1 diz o seguinte:. 1 - Para efeitos da verificação da identificação das pessoas singulares, as entidades obrigadas exigem sempre a apresentação de documentos de identificação válidos, dos quais constem os elementos identificativos previstos nas subalíneas i) a vi) da alínea a) do n.º 1 do artigo anterior. Conclui-se assim que: 1- Os Advogados têm competência tal como os Notários para o Reconhecimento de todo o tipo de assinaturas, nas quais se inclui as assinaturas a Rogo. 2- Os Advogados tal como os Notários, podem celebrar procurações, em que o mandante não possa, ou não saiba assinar. 3- A verificação da identidade dos outorgantes pode ser feita por conhecimento pessoal do Advogado, e não apenas por conhecimento pessoal do Notário. S.m.o. é este o meu parecer. Funchal, 6 de Dezembro de A Vogal Relatora, Regina Franco de Sousa 4

5 Aprovado em sessão plenária do Conselho Geral da Ordem dos Advogados, de 07 e 08 de Dezembro de Lisboa, 02 de Janeiro de Guilherme Figueiredo Bastonário 5

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