Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais Centro de Pesquisa e Pós-graduação FELIPE ARAÚJO DE OLIVEIRA
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1 Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais Centro de Pesquisa e Pós-graduação FELIPE ARAÚJO DE OLIVEIRA ABORDAGEM OSTEOPÁTICA NO TRATAMENTO DAS DISFUNÇÕES DA COLUNA LOMBAR (ARTIGO) Belo Horizonte 2018
2 ABORDAGEM OSTEOPÁTICA NO TRATAMENTO DAS DISFUNÇÕES DA COLUNA LOMBAR Felipe Araújo de Oliveira 1 ; Thaís Araújo de Oliveira 2 ; krishna de Almeida e Silva Autor. Fisioterapeuta. Pós-graduado em Fisioterapia Traumato-ortopédica pela Universidade Gama Filho RJ. Especializando em Osteopatia Estrutural e Funcional realizado pela Escola Brasileira de Osteopatia e Terapia Manual em parceria com a Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais/ Centro de Pesquisa e Pós-Graduação. 2. Orientadora. Fisioterapeuta. Graduada pela Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais. 3. Co-orientador, Mestre em Teoria da Literatura pela Universidade Federal de Minas Gerais. Endereço do autor: Rua Capitão Aviador Corteleti, 322 Residencial Ceolin Barbacena MG. felipecorporefisioterapia@hotmail.com Telefone: (31)
3 Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais Centro de Pesquisa e Pós-graduação FOLHA DE APROVAÇÃO Autor: FELIPE ARAÚJO DE OLIVEIRA Especialização em Osteopatia Trabalho de Conclusão de Curso sob a forma de artigo, apresentado como requisito para obtenção do certificado de conclusão da Especialização em Osteopatia Estrutural e Funcional. Professor Orientador Coordenador do Curso Coordenador do Centro de Pesquisa e Pós-graduação
4 RESUMO A dor lombar é descrita como uma das principais causas de incapacidade crônica em indivíduos em idade produtiva nos países industrializados e não industrializados. Sua etiologia tem sido objeto de pesquisa em vários campos do conhecimento, porém poucos estudos têm feito uma estreita relação entre as diferentes áreas da saúde de forma interdisciplinar, integrando conhecimento das ciências biológicas, sociais e da clínica. Este estudo teve como objetivo realizar um levantamento sobre o tratamento da dor da coluna lombar com a osteopatia. Para tanto, foi realizada uma revisão da literatura nas bases de dados MEDLINE, LILACS, SciELO, Free Medical Journals e PHYSIOTHERAPY EVIDENCE DATABASE (PEDro). Existem poucos estudos que avaliam o efeito da intervenção de terapia manual aplicada por clínicos osteopatas na lombalgia. Mas pode-se perceber, apartir dos artigos encontrados, que a osteopatia, conjuntamente à aplicação de técnicas de mobilização articular, pode ser considerada uma opção menos traumática, de custo mais acessível, e com efeitos mais duradouros, em relação ao tratamento com eletroestimulação nervosa transcutânea (TENS) e cinesioterapia, servindo amplamente para o tratamento de disfunções do sistema musculoesquelético, notadamente em casos de restrição de movimentos articulares que ocasionam dores ou limitam o movimento fisiológico normal. O tratamento manipulativo osteopático reduz significativamente a dor lombar pelo fato de restaurar o movimento das articulações, melhorando assim a função permitindo ao corpo uma melhor capacidade de adaptação. O nível de redução da dor é clinicamente importante, e pode persistir até o primeiro ano de tratamento. Palavras-chave: Lombalgia. Diagnóstico. Tratamento. Osteopatia.
5 ABSTRACT Lumbar pain is described as one of the leading causes of chronic disability in workingage individuals in industrialized and non-industrialized countries. Its etiology has been the object of research in several fields of knowledge, but few studies have made a close relationship between the different areas in an interdisciplinary way, integrating knowledge of the biological, social and clinical sciences. This study aimed to perform a survey on the treatment of lumbar spine pain with osteopathy. A systematic review of the MEDLINE, LILACS, SciELO, Free Medical Journals databases and PHYSIOTHERAPY EVIDENCE DATABASE (PEDro). It can be seen that osteopathy, together with the application of joint mobilization techniques, can be considered a less traumatic option, with a more accessible cost, and with more lasting effects, serving largely for the treatment of dysfunction of the musculoskeletal system, especially in cases of restriction of joint movements that cause pain or limit normal physiological movement. Osteopathic manipulative treatment significantly reduces low back pain, by restoring joint movement, thereby improving function by allowing the body a better adaptive capacity. The level of pain reduction is clinically important, and may persist until the first year of treatment. There are few studies evaluating the effect of manual therapy intervention applied by clinical osteopaths on low back pain. Keywords: Low back pain. Diagnosis. Treatment. Osteopathy.
6 1 INTRODUÇÃO A região lombar desempenha papel fundamental na acomodação de cargas decorrentes do peso corporal, da ação muscular e das forças aplicadas externamente, devendo ser forte e rígida para manter as relações anatômicas intervertebrais e proteger os elementos neurais. Em contraposição, deve ser flexível o suficiente para permitir a mobilidade articular. A capacidade de desempenhar as duas funções é devida a mecanismos que garantem a manutenção do alinhamento vertebral (FREITAS et al., 2011). A coluna lombar é uma região que faz parte de um complexo lombo-pélvico, descrito na literatura como centro, uma denominação decorrente do fato de que nesta região fica posicionado o centro de gravidade. É aí onde a maioria dos movimentos é iniciada e onde ocorre a transmissão de carga do corpo, constituindo assim, uma fonte potencial de dor (MASCARENHAS; SANTOS, 2011). O alto índice de lombalgias se deve, dentre outros fatores, ao aumento da expectativa de vida que resulta no crescimento da população idosa. O envelhecimento desencadeia um processo natural de desgaste das estruturas da coluna. Esse processo inclui fatores hereditários e processos degenerativos que acometem as pessoas em diversas intensidades. O grau de acometimento determina a presença ou não de dor lombar e o nível dessa dor (FERREIRA; NAVEGA, 2010). Dentre as abordagens que se mostram efetivas no tratamento da dor lombar encontra-se o tratamento manipulativo osteopático (TMO). Ele é um sistema diagnóstico e terapêutico palpatório de bloqueios tissulares em geral, e articulares, em particular, igualmente chamadas lesões ou disfunções osteopáticas, utilizando para os tratamentos manipulações adequadas a cada tipo de tecido envolvido. Dentro da visão osteopática, é o raciocínio clínico que permite fazer a ligação entre essas observações das disfunções e a patologia funcional apresentada pelo paciente (FRANKE et al., 2014). A Osteopatia, desde 2001, foi oficialmente reconhecida no Brasil, juntamente com a quiropraxia, como práticas fisioterapêuticas, e vem conquistando espaço entre as terapêuticas alternativas para os problemas de lombalgia. O tratamento osteopático é realizado pela aplicação de técnicas específicas para o órgão trabalhado, considerando o corpo como unidade. Nesse sentido, pode
7 empregar mecanismos que trabalhem regiões específicas, como é o caso da coluna vertebral nas situações de lombalgia. O objetivo deste trabalho foi realizar um levantamento sobre o tratamento da dor da coluna lombar com a osteopatia.
8 2 METODOLOGIA Foi realizada uma revisão de literatura em artigos científicos retirados das bases de dados do Scholar Google, PubMed, do LILACS, do SCIELO publicados nas línguas portuguesa e inglesa nos últimos 10 anos. A pesquisa se deu durante os meses de Julho a Setembro/2017 e as palavras chaves utilizadas foram: Lombalgia. Diagnóstico. Tratamento. Osteopatia Foram utilizados também livros de osteopatia, fisioterapia e ortopedia além de monografias, dissertações e teses.
9 3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 3.1 Coluna Lombar Conceito A dor lombar crônica atinge níveis epidêmicos na população geral. Sua origem é desconhecida e informações sobre o perfil das pessoas atingidas podem ajudar a direcionar investimentos para o seu controle, pois constitui causa frequente de morbidade e incapacidade (OLIVER; MIDDLEDITCH, 2008). Para Andrade, Araujo e Vilar (2005), a dor lombar é uma das alterações musculoesquelética mais comum na sociedade, podendo afetar cerca de 70% a 80% de pessoas em algum momento de sua vida. Para Silva e Carvalho (2011), a lombalgia é conceituada como dor localizada na porção inferior das costas (entre o nível das espinhas ilíacas e costelas inferiores) com irradiação ou não para o abdômen, pelve, pernas ou tronco. A coluna lombar possui vértebras diferentes das outras vértebras da coluna vertebral, pois os corpos vertebrais são maiores, aumentando a capacidade de sustentação de carga da coluna lombar e os processos espinhosos são resistentes e curtos. (KONIN, 2006). Existe certa dificuldade em se identificar especificamente a estrutura ou estruturas anatômicas onde se localizam os sintomas dolorosos. Por consequência, também se torna difícil determinar os fatores biomecânicos que respondem pelo surgimento destes sinais (JACKSON et al., 1998). A lombalgia pode ser classificada como primária ou secundária, com ou sem comprometimento neurológico mecânico-degenerativa; não-mecânica; inflamatória, infecciosa, metabólica, neoplásica ou secundária a repercussão de doenças sistêmicas. Ainda há o importante grupo das lombalgias não orgânicas, de extrema importância no contexto ocupacional ou pericial, à custa dos frequentes ganhos secundários pertinentes a essas situações. Entre as lombalgias não orgânicas há aquelas secundárias à síndrome de Munchausen (pouco frequente), as lombalgias simuladas com o interesse direto e consciente de ganhos secundários óbvios (usualmente financeiros) e as lombalgias
10 psicossomáticas, secundárias a conflitos psicológicos usualmente inconscientes, podendo ou não ser acompanhadas de queixas somáticas. Os ganhos secundários também podem ter relação com este último tipo (psicossomático), porém, de maior complexidade que aqueles com simples simulação (WATKINS, 2011). Também pode ser classificada sob o ponto de vista do comprometimento dos tecidos como de origem muscular e ligamentar: lombalgia por fadiga da musculatura para-vertebral e lombalgia por distensão muscular e ligamentar; de origem no sistema de mobilidade e estabilidade da coluna: lombalgia por torção da coluna lombar ou ritmo lombo-pélvico inadequado e lombalgia por instabilidade articular; de origem no disco intervertebral: lombalgia por protrusão intra-discal do núcleo pulposo e lombalgia por hérnia de disco intervertebral; e como predominantemente psíquica: lombalgia como uma forma de conversão psicossomática ou objetivando ganhos secundários (KONIN, 2006) Causas A causa mais comum da lombalgia é a hérnia de disco, que consiste da evasão de parte do núcleo pulposo por meio do ânulo fibroso rompido. Esta lesão pode ser o resultado tanto de traumas, quanto do estresse constante sobre a região. Sua ocorrência é verificada, com maior prevalência, entre as vértebras C6-C7 (6º e 7º vértebra cervical), L4-L5 (4º e 5º vértebra lombar) e a vértebra S1 (1º sacral) (PANJABI et al., 2003). No entanto, os discos L4-L5 e L3-L4 apresentam maior grau de degeneração do que outros discos da região lombar (McGILL, 2004). De acordo com Gamn (2005) a lombalgia ocorre na maioria dos casos em virtude da ação de forças estáticas prolongada dos tecidos moles. Tem como sintoma dor local intermitente, não sendo alterada pelo movimento. Os trabalhadores que exercem função profissional que exige que a coluna sofra forças de compressão podem ser mais acometidos pela dor lombar. Várias pesquisas relacionam a idade como fator de risco para a lombalgia (NUNES et al., 2005). E, entre os diversos fatores encontrados nas manifestações da coluna lombar, um dos mais apontados é o esforço laboral. Para cada categoria profissional existe uma característica particular de exigência motora, podendo a dor estar ou não associada com a função exercida (KONIN, 2006). Barros et al. (2011) acreditam que a postura sentada e o sedentarismo podem
11 provocar alterações musculoesqueléticas, como a diminuição dos níveis de força e de amplitude de movimento. Para Panjabi (2006) o uso excessivo da cadeira pode ocasionar um encurtamento gradual dos músculos iliopsoas e isquiostibiais, diminuindo a mobilidade da articulação do quadril e inclinando para frente o segmento lombar da coluna vertebral. Além disso, essa posição pode causar fadiga e sobrecarga nos elementos passivos articulares (cápsulas, ligamentos e discos intervertebrais), ocasionando dessensibilização dos mecanoceptores teciduais e consequente redução ou eliminação da força estabilizadora profunda, gerada principalmente pelo multifídio lombar e transverso abdominal. Barros et. al (2011) realizaram um estudo analítico transversal em uma instituição de ensino superior da cidade de Recife, incluindo 239 funcionários do corpo técnico administrativo e identificaram alta incidência de lombalgia entre os indivíduos que executam suas atividades laborais sentados Epidemiologia e Incidência Problemas relacionados a coluna lombar tornaram-se, em países industrializados, as lesões mais caras e as causas mais frequentes de limitação motora e da redução da produtividade em adultos acima de 45 anos, e tem sido mais comuns em grupos de trabalhadores de 20 a 50 anos (BATTI É et al., 1998). A OMS estima que 80% dos sujeitos têm ou terão, um dia, lombalgia e, em 40% dos casos a dor inicial tende a se tornar crônica (FERREIRA; NAVEGA, 2010). Mendes (1996) conceitua lombalgia crônica como a dor que persiste durante três meses, no mínimo. Para ele isso corresponderia a 10% dos pacientes acometidos por lombalgia aguda recidivante. Esse tipo de lombalgia é mais comum em paciente com idade entre 45 a 50 anos. Os principais fatores responsáveis pela cronicidade das dores lombares são problemas psicológicos, baixo nível de escolaridade, trabalho pesado ou em postura sentada, levantar grandes quantidades de peso, sedentarismo, acidentes de trabalho, dirigir veículos, horas excessivas de trabalho, gravidez, ferimentos e tabagismo. Para Mascarenhas e Santos (2011), o quadro de dor e as modificações funcionais de indivíduos portadores de lombalgia crônica merecem uma avaliação completa e minuciosa, de modo que contribua para o diagnóstico e para o direcionamento de um programa de reabilitação, vislumbrando uma melhor qualidade
12 de vida. Para Gil et al. (2011), a dor lombar, que é considerada distúrbio comum na população em geral, é também sintoma frequente durante a gestação. Vários estudos mostraram que pelo menos 50% das mulheres vivenciou algum tipo de dor na coluna durante a gravidez. As dores nas costas durante a gestação representam, portanto, queixa relevante, tanto pela alta frequência de mulheres acometidas, quanto pela intensidade da dor e desconforto provocado, além de influenciar de modo negativo a qualidade do sono, disposição física, desempenho no trabalho, vida social, atividades domésticas e lazer (MARTINS et al., 2005). Também para Silva e Carvalho (2011) a lombalgia durante a gravidez apresenta uma alta incidência, sendo considerada pela população em geral como uma alteração normal e esperada entre as gestantes. No meio esportivo, a incidência de lombalgia também é alta. Segundo estudos epidemiológicos, a lombalgia acomete de 30 a 60% dos ciclistas (CLARSEN; KROSSHAUG; BAHR, 2010), representando uma das queixas mais comuns entre as disfunções musculoesqueléticas neste esporte. O gênero e a massa corporal são fatores que não apresentam influência sobre a ocorrência de lombalgia em ciclistas, diferente do que ocorre com o fator idade (ALENCAR et al., 2011). A dimensão desses dados traz como consequência prejuízos econômicos, sendo que as despesas relacionadas à lombalgia, incluindo os gastos para os negócios, indústria e governo totalizam cerca de 50 bilhões de dólares anuais ao redor do mundo (FERREIRA; NAVEGA, 2010). A grande incidência de lombalgias também traz prejuízos psicossociais. No Brasil, as doenças da coluna correspondem à primeira causa de pagamento do auxílio-doença e a terceira causa de aposentadoria por invalidez. Além disso, há outras consequências que podem afetar o desempenho da função social como: perda do condicionamento físico, deterioração da saúde geral, diminuição da participação em atividades sociais, estresse familiar, diminuição do contato com a comunidade, irritação, ansiedade e depressão (TAVAFIAN et al., 2007).
13 3.2 Condutas da Osteopatia Não se pode afirmar, categoricamente, que existe um conjunto de procedimentos específicos para o tratamento das dores da coluna lombar, principalmente as crônicas (CERRITELLI, 2013). Para Madalena (2008), tais procedimentos envolvem desde o aconselhamento à manutenção de atividades físicas, ao desencorajamento de repouso no leito; e prescrição medicamentosa, se necessário. Para Barros et al. (2011) a fisioterapia dispõe de vários recursos que auxiliam no controle do quadro álgico e na reeducação funcional dessas disfunções, promovendo bem estar físico, mental e social e favorecendo o retorno às atividades cotidianas e laborais. Dentre outras técnicas, três são utilizadas com maior frequência no alívio da dor da lombalgia: a eletroestimulação nervosa transcutânea (TENS), a cinesioterapia e a manipulação osteopática (JUNQUEIRA, 2013). Aure et al. (2003) relataram que a terapia manual mostra significante melhora quando comparada à terapia de exercícios ativos com pacientes de lombalgia crônica, assim como Briganó e Guerrino (2005), que comparam os efeitos da terapia manual e cinesioterapia em pacientes com lombalgia, bem como a mobilidade lombar de indivíduos com e sem dor nesta região. Eles utilizaram amostras de conveniências, compostas por 25 pacientes com o diagnóstico de lombalgia crônica e um grupo controle com de 25 indivíduos assintomáticos, com a mesma idade e gênero dos indivíduos com lombalgia. O resultado encontrado no estudo mostra que o protocolo de fisioterapia e terapia manual proposto apresentou influência significativa na melhora da dor lombar do grupo analisado. A osteopatia, conjuntamente à aplicação de técnicas de mobilização articular, pode ser considerada uma opção menos traumática, de custo mais acessível, e com efeitos mais duradouros, servindo amplamente para o tratamento de disfunções do sistema musculoesquelético, notadamente em casos de restrição de movimentos articulares que ocasionam dores ou limitam o movimento fisiológico normal (TIXA, 2003). Através do uso da mobilização articular com associação dos princípios osteopáticos, é possível a eliminação de queixas álgicas de origem vertebral e periférica (TOZZI, 2012). Sua aplicação se dá justamente na eliminação das causas
14 mais comuns para a perda do movimento artrocinemático, que são: rigidez ou aderência cápsulo-ligamentar, desarranjo interno, espasmo muscular reflexo, mudanças degenerativas hipertróficas, entre outras (TEIXEIRA; YENG, 2004). Segundo Carvalho et al. (2008), a mobilização articular é comumente utilizada para o tratamento de diversas disfunções do sistema musculoesquelético, inicialmente nos casos de restrição dos movimentos articulares acessórios que causam dor ou restrição do movimento fisiológico normal, possibilitando através de um tratamento conservador a eliminação de queixas álgicas. Para Kuchera (2005) essas técnicas são aplicadas em geral tanto para afetar diversos segmentos de movimento, quanto, ou especificamente, para libertar uma determinada articulação com perda do movimento artrocinemático. Maitland (2000) também defini que a mobilização articular é uma técnica da Osteopatia de movimentos passivos, com o intuito de restaurar os movimentos e a amplitude de movimento fisiológico, melhorando, assim, a dor e a função do indivíduo. Licciardone et al. (2005) realizaram uma revisão sistemática e metanálise de ensaios clínicos osteopáticos e concluiu que os pacientes apresentaram melhorias significativas da dor de forma imediata com a intervenção osteopática. Porém muitos dos resultados são de ensaios com pequenos números e a intervenção é muitas vezes uma única técnica inespecífica. Dessa forma, são necessários mais estudos com um número maior de pessoas e procedimentos, para que se possa quantificar se a intervenção osteopática pode se mostrar uma boa alternativa no tratamento de dores na coluna. Briganó e Macedo (2005) compararam os efeitos da terapia manual com a cinesioterapia, em pacientes com diagnóstico de lombalgia crônica, em uma amostra de 25 indivíduos com faixas etárias entre 18 e 65 anos, foram avaliados através do método da Escala Visual Analógica (EVA), e pelo Teste de Shöber para mobilidade lombar. O tratamento escolhido foi de 30 sessões de terapia manual e cinesioterapia, com avaliações posteriores da escala de dor. Em função da diferença estatística apresentada, os autores concluíram que essas técnicas apresentam melhoras significativas no quadro álgico da lombalgia, com diminuição da mobilidade lombar em indivíduos assintomáticos. Carvalho et al. (2008) realizaram estudos objetivando analisar os efeitos da manipulação do osso ilíaco na dor lombar. Para isso observaram a aplicação desta técnica em onze pacientes do sexo masculino, de faixas etárias entre 20 a 40 anos,
15 onde preliminarmente foram aplicados testes de Finger-Floor, Gillet e Downing para identificação dos graus disfuncionais. Os resultados foram que a mobilização articular é efetiva no alívio imediato da dor e no aumento da flexibilidade da coluna vertebral. Em um estudo piloto sobre manipulação articular em pacientes com dor lombar crônica, Couto (2007), mostrou uma correlação desta técnica com a de mobilização articular, salientando que esta última gera um efeito hipoalgésico central, o que sugere, portanto, não ser necessária sua aplicação diretamente sobre o segmento afetado. Num estudo realizado por Hanrahan et al. (2008), foram avaliados os efeitos das mobilizações articulares sobre um grupo de pacientes com lesões lombares mecânicas, constatando-se um aumento imediato e em 24 horas na habilidade da musculatura paravertebral quanto á produção de força, além de diminuição em um período de até 24 horas da dor. No estudo de Cerritelli (2013) o tratamento manipulativo osteopático (TMO) reduziu significativamente a dor lombar. As análises de subgrupos demonstraram reduções significativas de dor em ensaios de TMO comparado ao tratamento de exercícios ativos ou placebo. O nível de redução de dor clinicamente importante é maior do que o esperado a partir de efeitos do placebo apenas, e pode persistir durante o primeiro ano de tratamento. Pesquisas adicionais são necessárias para elucidar mecanicamente como o TMO exerce seus efeitos, para determinar se os benefícios do TMO podem se estender para além do primeiro ano de tratamento e avaliar a relação custo-eficácia do TMO como um tratamento complementar para a dor lombar. Cavalcante (2009) realizou estudos em indivíduos que se encontravam em tratamento fisioterapêutico de dores lombares em clínica universitária. Após avaliação da intensidade da dor, escolheu-se o tratamento de terapia manual (osteopatia), através de mobilização articular, durante cinco sessões semanais de dez minutos cada, com posterior avaliação da intensidade álgica. Nos resultados apresentados, houve uma redução significativa ao final de todas as sessões, com o registro de redução quase total dos sintomas de lombalgia crônica ao final das cinco sessões. Em revisão literária, Cherkin et al. (2009) identificaram que as terapias manuais que envolvem tanto as técnicas de manipulação como as técnicas de mobilização articular, possuem efeitos similares, sendo o uso dessas técnicas recomendado como importantes ferramentas para o fisioterapeuta no tratamento de disfunções da coluna
16 lombar, principalmente no que diz respeito à redução da dor. O estudo foi composto por uma amostra de 2238 pacientes. O sintoma primário mais comum foi a dor localizada na coluna lombar (27,3%) e 51,2% das queixas primárias apresentadas foram classificadas como crônicas. A intervenção osteopática neste subconjunto de pacientes foi predominantemente de tecidos moles (78% receberam esta modalidade), mobilização articular (65%), energia muscular (58%), manipulação de alta velocidade (sinônimo de SMT) (55%) e aconselhamento físico (42%) (ORROCK, 2009). Pezolato et al. (2009) realizaram estudo na tentativa de identificar as diferenças entre as técnicas de mobilização articular quando realizadas em meio aquático ou em solo. Para tanto, aplicaram mobilização póstero-anterior em todos os segmentos lombares de L1 a L5 durante um minuto, com repetições duplas para cada vértebra em quatro semanas. Eles registraram ter havido um aumento na amplitude de movimento e a diminuição da intensidade da dor, porém não identificaram diferenças significativas na aplicação entre os ambientes utilizados. Somente em relação à diminuição do quadro doloroso é que fizeram uma inferência, tendo em vista que o calor do meio aquático pode ter provocado o alívio sintomático, hipótese em que se considera esse meio como possibilitador de melhoras no que diz respeito à sintomatologia dolorosa. Seffinger (2010) concluiu que o tratamento manipulativo osteopático reduz significativamente a dor lombar. Nesse estudo ele afirma que o nível de redução da dor nesse tipo de tratamento é clinicamente importante, e pode persistir até o primeiro ano de tratamento. O estudo de Brian (2011) teve como objetivo determinar se manipulação vertebral (MV) altera o estiramento reflexo dos músculos eretores da coluna e se estas respostas fisiológicas tem relação com o som audível. Foi utilizada a estimulação magnética transcraniana em 10 pacientes com lombalgia crônica e 10 pacientes assintomáticos (grupo controle). Resultados neurofisiológicos foram medidos antes e depois da MV. Os resultados sugerem que um único tratamento com MV não altera sistematicamente a excitabilidade corticoespinhal ou estiramento reflexo dos músculos eretores da coluna (quando avaliadas ~ 10 minutos após a MV). No entanto, eles indicam que o reflexo de estiramento é atenuado quando a MV provoca uma resposta audível. Esta descoberta fornece esclarecimentos sobre os mecanismos da
17 MV, e sugere que a MV que produz uma resposta audível pode agir mecanicamente para diminuir a sensibilidade dos fusos musculares. Clark et al. (2011) relataram que na última década, tem havido crescentes provas científicas que sustentam a eficácia clínica de terapias manuais no tratamento da dor lombar. Além disso, os resultados de um estudo piloto que analisou 342 práticas osteopáticas no Reino Unido, coletando dados em 1630 pacientes, demonstraram que a dor localizada na parte inferior das costas era o sintoma mais comum (36%). As intervenções osteopáticas mais utilizadas para estes pacientes foram técnicas de tecidos moles (78% receberam esta modalidade), mobilização articulação (72,7%), manipulação de alta velocidade (37,7%). Os resultados demonstraram uma melhora significativa da dor lombar em todos os grupos avaliados, porém o estudo não foi suficiente para avaliar quais técnicas tiveram um melhor resultado para o alívio da dor lombar. Degenhardt et al. (2007) observaram uma diminuição dos marcadores sanguíneos de dor associada com uma diminuição do nível de tensão muscular descrito pelos pacientes 24 horas após receber terapia manual osteopática (TMO). Relataram também, que os resultados gerais mostraram uma redução estatisticamente significativa na dor lombar em doentes tratados com TMO. Metaanálises estratificadas foram realizadas para controlar variáveis moderadoras, e isso mostrou que TMO reduziu significativamente a dor lombar versus tratamento controle ativo / placebo. Um estudo com 19 mulheres obesas com dor lombar crônica, randomizadas em dois grupos: um grupo utilizando exercícios específicos (ES) + TMO e outro grupo utilizando somente ES, sendo ambos os grupos estudados durante a flexão anterior da coluna usando um sistema optoeletrônicos. Um modelo biomecânico foi desenvolvido a fim de analisar a cinemática e definir ângulos de interesse clínico. Foi estudada a cinemática da coluna vertebral durante a flexão anterior e a dor de acordo com uma escala visual analógica (EVA). Efeitos significativos sobre a cinemática foram relatados apenas para TMO + ES com uma melhora na região torácica do movimento de quase 20%. Todos os escores das escalas clínicas utilizadas melhoraram significativamente. O tratamento de reabilitação combinado, incluindo tratamento manipulativo osteopático e exercícios (TMO + ES) mostrou-se eficaz em melhorar parâmetros biomecânicos da coluna torácica em pacientes obesos com dor lombar crônica. Esses resultados devem ser atribuídos a TMO, uma vez que não eram
18 evidentes no grupo que recebeu apenas ES. Observou-se também uma redução da incapacidade e dor. Os resultados clínicos devem ser considerados preliminares, devido ao pequeno tamanho da amostra (VISMARA et al., 2012). Orrock e Myers (2013) realizaram uma revisão sistemática da pesquisa clínica sobre a intervenção osteopática na dor lombar crônica não específica. A literatura foi pesquisada até agosto de Foram utilizados vários termos de pesquisa em várias combinações: Osteopatia, Técnica de Manipulação Osteopática, Terapia Manipulatória Espinhal, ensaio clínico, dor nas costas, dor crônica nas costas. Foram encontrados efeitos clinicamente relevantes da intervenção osteopática para reduzir a dor e melhorar o estado funcional dos pacientes com dor lombar não específica aguda e crônica e dor lombar em mulheres grávidas e puérperas em três meses pós tratamento.
19 4 CONCLUSÃO O problema da incidência da lombalgia constitui um fenômeno universal, de grandes proporções, em constante crescimento. As atividades ocupacionais que requerem esforços físicos intensos representam um importante fator de risco de dor lombar. O tratamento da dor e a disfunção lombar envolve equipe multidisciplinar incluindo médico, fisioterapeuta e psicólogo tendo como proposta geral controlar o quadro álgico, a promoção do bem-estar e o retorno do indivíduo as suas atividades funcionais. Ao longo da última década tem havido uma crescente evidência científica sobre a eficácia clínica de terapias manuais, sobretudo a osteopatia, no tratamento da lombalgia, mas pouca evidência científica para explicar os efeitos e os mecanismos subjacentes a estes tratamentos. A falta de um suporte mecânico impede a aceitação dessa eficácia por parte das comunidades científicas e de cuidadores de saúde, e também limita o desenvolvimento de estratégias racionais para o uso de terapias manipulativas. Existem poucos estudos que avaliam o efeito da intervenção de terapia manual aplicada por clínicos osteopatas na lombalgia. Alguns estudos mostram que a intervenção osteopática foi semelhante em efeito a uma intervenção simulada, e outros sugerem similaridade de efeito entre a intervenção osteopática, exercício e fisioterapia. Novos ensaios clínicos sobre este assunto são necessários, que tenham métodos científicos consistentes e rigorosos. Esses ensaios precisam incluir um controle apropriado e utilizar uma intervenção que reflita a prática real.
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24 Não há nada de nobre em sermos superiores ao próximo. A verdadeira nobreza consiste em sermos superiores ao que éramos antes. (Autor desconhecido)
25 AGRADECIMENTOS A Deus por me dar fé, saúde e perseverança para conquistar meus objetivos. A todos os professores que contribuíram para o meu aprendizado, dividindo comigo sua sabedoria. Aos colegas que participaram das alegrias e angústias durante o curso e aos amigos já formados, que sempre estiveram presentes. Agradeço, principalmente, aos meus pais, por terem me dado condições de estar aqui. Agradeço a todos aqueles que fazem parte da minha vida, suportando e aceitando minhas impaciências, minha busca incansável pelo que acredito.
Carlos Alberto Gomes do Nascimento D.O.; Maria Letizia Maddaluno D.O. Esp; Grace Alves D.O. Esp; Marcia Elizabeth Rodrigues D.O.
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