PIBID: análise de um programa duradouro e novas perspectivas. 1

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1 PIBID: análise de um programa duradouro e novas perspectivas. 1 Felipe Souza Soares Renato da Silva Melo "A prática docente crítica, implicante do pensar certo, envolve o movimento dinâmico, dialético, entre o fazer e o pensar sobre o fazer" 2. Presente na Escola Estadual Henrique Diniz desde o ano de 2013, o Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência do curso de Ciências Sociais da Universidade Estadual de Minas Gerais é uma iniciativa que já se integrou ao cotidiano escolar sob a forma de atividade complementar de acesso a conteúdos diversificados aos alunos e contato com Figura 1 - Reunião com bolsistas do PIBID nas dependências da UEMG - Barbacena uma instituição renomada de Ensino Superior 3. No terceiro ano de presença do programa na instituição de educação básica, com seu foco voltado ao Ensino Médio, descortinam-se novos desafios à coordenação e aos bolsistas, pois a longa duração de um projeto escolar implica na perda de um elemento surpresa, de novidade, pelos jovens e adolescentes, um público bastante inteirado acerca das inovações tecnológicas, por exemplo. Este novo panorama encontrado demanda igualmente um novo olhar, novas abordagens, metodologias essenciais à manutenção da execução das oficinas e atividades propostas. Por isso mesmo, observa-se um amadurecimento tanto da própria interação entre as duas instituições de ensino, bem como das relações entre os bolsistas e a escola em que desenvolvem seus projetos, amadurecimento esse importantíssimo 1 Trabalho apresentado no Grupo de Trabalho II Diversidade e Formação Docente da VIII semana de Pesquisa e extensão e III semana de Ciências Sociais da UEMG/Barbacena. 2 FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 17ª ed., p MELO, Renato. A prática educacional emancipadora pelo saber da experiência. In: FRANÇA, Cristiane S., ALEXANDRINO, Daniela F. L., SILVA, Kelly da, MELO, Renato da S. PIBID: Construindo saberes e práticas docentes. Barbacena: EdUEMG, 2014, p

2 para a formação profissional de um docente e que dificilmente se obtém nos estágios regulares dos cursos de licenciatura. A realidade futura de um bom docente, um bom professor, é justamente se estabelecer em uma instituição de ensino, lidando com o questionamento de seus métodos didáticos, os quais necessariamente deverão passar por alterações para a adequação a novos contextos. O olhar crítico para sua própria didática e a fuga da aula rotineira, que causa poucos impactos na formação da juventude atual, são importantes preocupações a serem desenvolvidas pelos acadêmicos para que não se transformem em simples repetidores de conteúdo ao atingirem o nível de profissionais da educação e no decorrer de suas carreiras. Etapa crucial para o início das oficinas, a divulgação deve levar em conta que cada escola tem um cotidiano próprio. Portanto, os paradigmas de exposição das oficinas e projetos propostos, incluindo aí as formas de inscrição ou participação dos alunos, precisam ser debatidas para que haja maior clareza e se afaste a ideia preconcebida de Figura 2 - Execução de oficina de preparação para o ENEM na E. E. Henrique Diniz em 2014 "aulas extras" que muitos discentes têm de iniciativas realizadas extra turno. Na E. E. Henrique Diniz, embora as divulgações dos projetos tenham sido feitas durante as aulas, tomou-se um cuidado especial em apresentar o PIBID como uma oportunidade singular de ter acesso a conhecimentos diversificados e relacionados a nossa própria sociedade, nossa vivência, não Figura 3 - Entrega de certificados aos alunos participantes do PIBID na E. E. Henrique Diniz no ano de

3 por meio de aulas tradicionais, mas sim em oficinas de plano didático aberto, participativo e dinâmico. Além disso, todo o processo de inscrição ou seleção dos alunos (realizado por motivo de restrição de espaço físico da própria escola) ocorreu sempre nos momentos de recreação, com muito diálogo, possibilidade de questionamento e a própria presença dos bolsistas envolvidos no sentido de quebra da noção hierárquica formal muito comum em escolas, notadamente as da esfera pública. As escolas escolhidas para desenvolvimento das oficinas do PIBID em 2014 e também em 2015 estão situadas em bairros periféricos da cidade de Barbacena, e possuem perfis socioeconômicos bem específicos de suas localizações que tiveram de ser levados em consideração na elaboração dos projetos pelos bolsistas. Em tal realidade, a falta de boas perspectivas de acesso ao Ensino Superior, tipo por muitos alunos como algo distante e que exige alto custo de deslocamento Figura 4 - Execução de oficina Socializando em Libras na E. E. Henrique Diniz em 2015 ou mesmo moradia 4, gera necessidades pragmáticas, vol- Figura 5 - Execução de oficina de Artesanato e Sociologia da Cultura na E. E. Henrique Diniz em Esta distorção, ainda observável nas falas de muitos alunos do Ensino Médio regular, parece tratar-se da reprodução de opiniões dos próprios pais ou da comunidade em que os jovens estão inseridos. Durante décadas, os únicos cursos de Ensino Superior disponíveis no município de Barbacena eram de instituições privadas, o que muito contribuiu para a formação de um senso comum de que a academia é para poucos, que podem arcar com as mensalidades ou com os custos de transporte ou estabelecimento em outros municípios, dotados de universidades federais. Felizmente, a abertura dos cursos superiores na Universidade Estadual de Minas Gerais - Campus Barbacena e no Instituto Federal Sudeste Mineiro e a ampliação do acesso ao Ensino Superior incorrerão para a mudança, a médio e longo prazos, dessa visão. 3

4 tadas ao um imediatismo para o ingresso no mercado de trabalho. A procura por cursos técnicos e/ou profissionalizantes é geralmente observada como preocupação dos discentes do Ensino Médio, o que pode ser entendido como elemento motivador para a busca das atividades extra classe no contra turno das escolas. Entre 2014 e 2015, portanto, foram oferecidas oficinas de temáticas variadas, mas que traduziriam em alguma aplicabilidade prática cotidiana ou mesmo profissional vinculada às abordagens sociológicas planejadas pelos bolsistas, tais como oficina de "As canções como construção de sentido sociológico" (com foco prático da interpretação crítica de textos), "Oficina de Língua Brasileira de Sinais" (visando ao despertar para a importância da LIBRAS no mundo inclusivo), oficina "Sociologia da cultura e modos de fazer: artesanato" (com foco prático em trabalhar diversas manifestações culturais atuais sob forma de artesanato) e a oficina do "Curso Preparatório para o ENEM" (como preparo dos alunos à principal forma de acesso ao Ensino Superior, trabalhando-se as áreas de Linguagens e Ciências Humanas). Figura 6 - Execução de oficina Socializando em Libras na E. E. Henrique Diniz em 2015 No período sob análise e, das oficinas mencionadas e realizadas inicialmente, a que apresentou um elevado índice de desistência foi a voltada à interpretação das canções. Embora não tenha sido possível identificar com precisão os motivos que levaram a essas desistências, pôde ser observada justamente a dificuldade que muitos alunos têm de relacionar o aprimoramento das técnicas interpretativas de textos com o cotidiano do mercado de trabalho não acadêmico, ou mesmo com uma função prática de uma determinada atividade. Dificuldade essa, percebida quando alguns alunos manifestaram pouco interesse ou mesmo intenção de deixar de frequentar a oficina por entenderem que seria mais interessante trabalhar a prática de algum ou vários instrumentos musicais e não algo apenas "teórico" como a interpretação das letras contidas nas canções. 4

5 Figura 7 - Execução de oficina de Artesanato e Sociologia da Cultura na E. E. Henrique Diniz em 2015 Apesar disso, as demais oficinas puderam ser conduzidas de forma integrada ao cotidiano escolar, no contra turno letivo dos alunos participantes, representando grande acréscimo de aprendizado, experiências e novas oportunidades num contexto que, geralmente burocratizado, não se incentiva a inovação e a revisão de metodologias e práticas didáticas. Sob o ponto de vista dos bolsistas envolvidos, as oficinas vieram realmente a proporcionar um espaço de vivência e convivência inestimável. A própria estrutura pensada pela coordenação, para a implantação dos programas nas escolas, facilitou e muito uma inserção pensada, gradativa e orientada dos acadêmicos no ambiente escolar. A ideia de que todo o trabalho pode ser desenvolvido recorrendo-se a uma coordenação central e a docentes supervisores das próprias instituições, além do acesso a um suporte material, possibilita uma base muitas vezes inexistente nos tradicionais programas ou disciplinas de estágio. Além dessa estrutura própria, o estreitamento de laços, seja do próprio grupo de coordenador, supervisores e acadêmicos (criado através das reuniões periódicas de avaliação do programa e do próprio planejamento das atividades propostas), mas também entre os integrantes do PIBID e as comunidades escolares locais, compostas de alunos, professores, funcionários e mesmo pais, não ocorre, via de regra, nos estágios regulares propostos pela academia nas grades curriculares dos cursos de licenciatura. A utilização de recursos didáticos diferen-ciados concretos, a exemplo de projeções ou dos inúmeros materiais imprescindíveis às atividades de artesanato vinculadas à análise da cultura, ou mesmo formação de grupos, alteração das disposições das carteiras e o uso de novos espaços contribuem para o rompimento do modelo das aulas tradicionais, elevando a motivação dos discentes e ampliando o espectro de recursos disponíveis no arcabouço dos futuros profissionais da educação. As oficinas de libras, em especial, exigem um esforço contínuo de reinvenção e utilização de dinâmicas e/ou recursos no sentido de afastar um exercício didático tecnicista e buscar a integração de um conteúdo extremamente caro aos dias 5

6 atuais, vinculando-o a todo o sentido social, humano e crítico presente nas discussões de autores das Ciências Sociais. A elaboração e execução da oficina de preparação para o Exame Nacional do Ensino Médio vêm ao encontro da ideia de fomentar a participação geral dos alunos no exame, explicitar as possibilidades de ingresso no Ensino Superior e, de forma prática, colocar jovens integrantes de sistema educacional subvalorizado em contato com a os parâmetros exigidos pelas academias. Embora de temática tradicional, a proposta possibilitou novas formas de interação entre os bolsistas, que assumiram conteúdos disciplinares específicos contidos nas áreas de conhecimento, e o desenvolvimento contínuo de práticas motivadoras na análise de questões de exames anteriores. Mais do que números, as oficinas desenvolvidas de 2014 até o presente momento contribuíram inegavelmente para uma melhora qualitativa do ensino público, perceptível pelo amadurecimento e valorização do conhecimento demonstrados pelos alunos, do estreitamento dos vínculos entre as instituições e da atuação dos acadêmicos do curso de Ciências Sociais ao longo do processo. O enriquecimento das atividades escolares é primordial para o desenvolvimento das práticas educacionais e para a subversão da lógica presente em Figura 8 - Entrega de certificados aos alunos participantes do PIBID na E. E. Henrique Diniz no ano de 2015 instituições públicas de ensino, às vezes reduzidas ao papel de disseminadoras de uma visão oficial, uniformizadora e dominante. Para os acadêmicos, a experiência e a vivência para além dos moldes por vezes burocratizados de muitas instituições públicas e de estágios contabilizados em horas que muitas vezes pouco têm a agregar à formação profissional criativa, autônoma e inovadora, são chaves para a disseminação, em suas futuras carreiras de educadores, de uma mentalidade nova, transformadora e, mais do que nunca, necessária. 6

7 ANEXOS Participação dos discentes na Oficina Socializando em Libras Participação dos discentes na Oficina de Preparação do ENEM 2014 Participação dos discentes na Oficina de Artesanato e Sociologia da Cultura

8 Participação dos discentes na Oficina Socializando em Libras REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 17ª ed MELO, Renato. A prática educacional emancipadora pelo saber da experiência. In: FRANÇA, Cristiane S., ALEXANDRINO, Daniela F. L., SILVA, Kelly da, MELO, Renato da S. PIBID: Construindo saberes e práticas docentes. Barbacena: EdUEMG,