O MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAL DO PIAUÍ E O FINANCIAMENTO DA EDUCAÇÃO Emerson de Souza Farias - UFPI

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1 O MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAL DO PIAUÍ E O FINANCIAMENTO DA EDUCAÇÃO Emerson de Souza Farias - UFPI Introdução O direito à educação é previsto no marco legal brasileiro, no entanto, as políticas voltadas para a sua efetivação são insuficientes para a garantia do acesso e permanência de segmentos consideráveis da população, embora existam recursos vinculados para sua manutenção e desenvolvimento, como previsto no artigo 212 da Constituição Federal, mas a malversação dos recursos inviabiliza constitui-se um grande desafia a ser superado. Nesse sentido, a CF de 1988, em seus arts. 127 a 129, delineou o Ministério Público como função essencial à Justiça, incumbindo-lhe da defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais indisponíveis, passando a ser o órgão responsável de zelar pela correta aplicação das verbas educacionais. Para sua atuação a constituição disponibilizou mecanismos como instauração de procedimento administrativo, inquérito civil público, requisitar a instauração de inquérito policial pela autoridade policial, requisitar os documentos que se fizerem necessários, dentre outras medidas pertinentes para a apuração. Quando constatada a irregularidade o MP deve agir, por meio de uma medida extrajudicial do tipo, recomendação, termo de ajustamento de conduta, ou judicializar a demanda por meio de uma Ação de Improbidade Administrativa, Ação Civil Pública, ou Ação Penal. O presente estudo, apresenta os resultados de algumas investigação realizadas pelo Ministério Público Estadual do Piauí (MP/PI) em questões relacionadas ao financiamento da educação. O objetivo da pesquisa foi analisar as formas de atuação para prevenir e reprimir os desvios e retrocessos quantitativos ou qualitativos na efetivação dos programas relacionados aplicação de verba em educação em Teresina PI. A metodologia do trabalho envolveu pesquisa bibliográfica e análise documental, nos termos de Lakatos e Marconi (1991), tendo como fonte principal os relatórios anuais de atuação e os processos judiciais e extrajudiciais movidos pelo MP/PI no período de 2011 a 2016, disponíveis nos arquivos do Ministério Público Estadual.

2 O Ministério Público e a defesa da educação Por meio das prerrogativas asseguradas pela Constituição de 1988, o MP adquiriu independência e autonomia funcional para atuar sem a influência de ingerências políticas, nas perspectiva de zelar pelo regime democrático e pela garantia a participação popular na definição, condução e fiscalização das políticas públicas do país. O princípio da independência funcional é considerado vital para os membros do MP, pois lhes permite a garantia de poder atuar livremente, somente rendendo obediência à sua consciência e à lei, (CHEKER, 2009, p ) O Ministério Público tem função importante na defesa do direito à educação dados as prerrogativas para exigir a implementação de políticas públicas. Para Mazzilli (2007), a efetivação do direito humano à educação requer recursos para sua viabilização, nos termos do previsto na Constituição Federal de 1988: Art A União aplicará, anualmente, nunca menos de dezoito, e os Estados, o Distrito Federal e os Municípios vinte e cinco por cento, no mínimo, da receita resultante de impostos, compreendida a proveniente de transferências, na manutenção e desenvolvimento do ensino (BRASIL, 1988). Os referidos recursos devem ser aplicados em conformidade com o disposto no artigo 70 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional nº 9.396/96, sendo a fiscalização da aplicação dos recursos na educação uma das competências do MP, aspecto evidenciado a Resolução nº 44/2016 do Conselho Nacional do Ministério Público que estabeleceu por meio da Recomendação nº 44/2016, artigo 3º que o órgão deve: Artigo 3º Os membros do Ministério Público com atribuições para atuação na Educação, na Infância e Juventude e no Patrimônio Público devem realizar ações coordenadas para evitar e reprimir quaisquer desvios e retrocessos quantitativos ou qualitativos no piso de custeio do direito à educação, acompanhando sua execução orçamentário-financeira e a respectiva prestação de contas, (CNMP, 2016, p. 8). Essa determinação legal se fez necessária uma vez que as verbas de financiamento da educação são, muitas vezes, utilizadas indevidamente, como demonstram os estudos de Nicholas Davies (2004), o que diminui as condições de efetivação do direito à educação, visto a insuficiência dos recursos para o setor. No Estado do Piauí, o desrespeito ao direito à educação é sistemático. Os relatórios de atuação do Ministério Público referentes, de 2011 a 2016, na cidade de Teresina, informam a existência de muitos casos de violação do direito à educação, entre

3 os anos de 2011 a 2016, foram encontrados 138 processos de negação do direito que tem relação com o financiamento da educação, conforme pode ser notado no Quadro 1 a seguir: Quadro 1 - Quantidade de ações no MP-PI relacionadas ao financiamento da educação Conteúdo do gasto mínimo entre 2011 a 2016 Fechamento de escolas e falta de vagas na educação básica por falta de recursos 51 Falta de investimentos na manutenção, construção e conservação de instalações e equipamentos necessários ao ensino 35 Irregularidades na compra de material didático-escolar e na contratação de no 15 transporte escolar Falta de professores nas escolas, e contratação irregular (uso indevido dos 15 recursos) falta de investimento na formação continuada de docente e demais profissionais 10 da educação especial. Falta de merenda Escolar 04 Falta de investimentos na manutenção de bens e serviços vinculados ao ensino 03 Irregularidade na destinação e prestação de contas dos recursos da educação 03 Pessoal docente em desvio de função ou em atividade alheia à manutenção e 02 desenvolvimento do ensino Fonte: Processos extrajudiciais da 38ª Promotoria de Justiça do MP-PI. Entre as ações que tramitam no MP/PI, muitas são relacionadas ao uso indevido de recursos do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (FUNDEB) no pagamento de pessoal. Embora o Fundo preveja a aplicação de, no mínimo 60% para o pagamento dos profissionais em efetivo exercício, processos pagamento de servidores não relacionados ao ensino, em desvio de função, pagamento e valores abaixo do piso salarial profissional nacional, estabelecido pela Lei n /2008. Qde Essa realidade demostra uma contradição entre a legislação que garante o direito à educação pública e a realidade praticada pelos responsáveis pela aplicação da lei, em uma sociedade de classe com a nossa. Considerações Finais A prática tem demonstrado que a mera existência do recurso ou a declaração do direito à qualidade na educação, não é suficiente, pois os meios de controle social e institucional da efetividade da aplicação correta dos recursos em educação é um desafio. O Ministério Público deve participar dessa discussão, atuando em articulação e mediação social, a impulsionar um debate democrático na escolha dos critérios e nas prioridades de

4 gastos com a educação, valer-se, quando necessário dos meios extrajudiciais ou judiciais para a implantação de políticas públicas na área de controle social do financiamento e gosto com educação. Referências BRASIL. Conselho Nacional do do Ministério Público. Recomendação n. 44, de 27 de setembro de /2016. DispoeDispõe sobre a atuação do Ministério Publico Público no controle do dever de gastos mínimos em educação. Diário Eletrônico do CNMP, Caderno Processual, de 24 de outubro de 2016, p. 1-9Diário Oficial da União. Brasília, DF, setout Disponível em: :< 4_2016.pdf>. Acesso em: 18 jun BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil, de 05 de outubro de Diário Oficial da União, Brasília, DF, 05 out Disponível em: < Acesso em: 05 set BRASIL. Lei nº , de 16 de julho de Regulamenta a alínea e do inciso III do caput do art. 60 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, para instituir o piso salarial profissional nacional para os profissionais do magistério público da educação básica. Disponível em: < Acesso em: 18 jun BRASIL. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Disponível em: < Acesso em: 18 jun DAVIES, N.. O financiamento da educação e seus desafios. Eccos. Revista Científica, São Paulo - SP, v. 6, n.1, p , CHEKER, Monique. Ministério Público junto ao Tribunal de Contas. Belo Horizonte: Fórum, GIL, Antônio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. 5. ed. 8. reimpr. São Paulo: Atlas, LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Marina de Andrade. Fundamentos da Metodologia Científica. 3. ed. São Paulo: Atlas, MAZZILLI, Hugo. Nigro. O acesso à justiça e o Ministério Público. 5. ed. rev. ampl. e atual. São Paulo: Saraiva, PIAUÍ. Tribunal de Justiça do Piauí. Diário da Justiça do Piauí, 2016, disponível em: < Acesso em: 10 junho 2017 PIAUÍ. Ministério Público do Piauí. Relatório de Atividades, Disponível em: < out=blog&id=247&itemid=139>. Acesso em: 10 dez PIAUÍ. Ato do Procurador Geral de Justiça nº 454, de 08 de novembro de Dispõe sobre os Centro de Apoio Operacional Ministério Público do Estado do Piauí e

5 dá outras providências. Disponível em: < % pdf>. Acesso em: 02 jul