I RELATÓRIO. Trata-se de ação direta de inconstitucionalidade, com pedido de medida cautelar, proposta pelo Procurador-Geral da República,

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1 N o /2016-AsJConst/SAJ/PGR Relatora: Ministra Cármen Lúcia Requerente: Procurador-Geral da República Interessado: Congresso Nacional CONSTITUCIONAL. AÇÃO DIRETA DE INCONSTITU- CIONALIDADE. LEI /2000. RELATÓRIOS DE CO- MISSÕES PARLAMENTARES DE INQUÉRITO. OBRIGATORIEDADE DE PROVIDÊNCIAS E INFOR- MAÇÕES AO MINISTÉRIO PÚBLICO E AO PODER JU- DICIÁRIO. OFENSA À DIVISÃO DO PODER E À AUTONOMIA DO MP E DO JUDICIÁRIO. 1. Somente a Constituição e lei complementar, de iniciativa do respectivo procurador-geral, poderiam impor atribuições a membros do Ministério Público, em virtude do art. 128, 5 o, da Constituição da República. 2. Impor obrigatoriedade de adotar providências e prestar informações ao Legislativo, sob pena de sanções, constitui forma indevida de controlar e subordinar as atividades do Ministério Público e do Judiciário, que não encontra ressonância no art. 58, 3 o, da Constituição. 3. Não há fundamento constitucional que justifique a prioridade automática estabelecida para procedimentos, somente pelo fato de serem provenientes de comissão parlamentar de inquérito. 4. Parecer pela procedência do pedido. I RELATÓRIO Trata-se de ação direta de inconstitucionalidade, com pedido de medida cautelar, proposta pelo Procurador-Geral da República,

2 contra dispositivos da Lei , de 4 de setembro de 2000, a qual dispõe sobre a prioridade nos procedimentos a serem adotados pelo Ministério Público e por outros órgãos a respeito das conclusões das comissões parlamentares de inquérito (CPIs). Sustenta inconstitucionalidade formal e material do ato normativo, por impor obrigações ao Ministério Público e ao Poder Judiciário, contrariando a autonomia e a independência de ambos. Alega ofensa aos arts. 2 o, 5 o, caput, 58, 3 o, 99, caput, 103-B, 4 o, incs. I e III, 127, 1 o e 2 o, 128, 5 o, 129, incs. I a IX, e 130-A, 2 o, I e III, todos da Constituição da República. Foi adotado o rito do art. 6 o da Lei 9.868, de 10 de novembro de 1999 (peça 6 do processo eletrônico). Em informações, o Congresso Nacional defende a constitucionalidade da lei, por entender que o rito por ela estabelecido apenas pretende valorizar a cooperação institucional entre os órgãos públicos no combate a ilícitos e na investigação de fatos relevantes e de repercussão (peça 9). A Advocacia-Geral da União manifestou-se por improcedência do pedido, por entender que a lei estabelece rito para valorizar a cooperação institucional. A seu ver, apenas confere maior celeridade e publicidade aos procedimentos decorrentes de fatos apurados por CPIs (peça 11). É o relatório. 2

3 II MÉRITO As razões apresentadas na petição inicial persistem e demonstram inconstitucionalidade das expressões no prazo de trinta dias, e ou a justificativa pela omissão, contidas no caput do art. 2 o, bem como o parágrafo único do mesmo artigo, e dos arts. 3 o e 4 o da Lei , de 4 de setembro de Dita lei impõe deveres processuais ao Ministério Público e a órgãos judiciais e administrativos com poderes decisórios, em especial os de informação, e prioridade na tramitação de relatórios encaminhados por comissões parlamentares de inquérito (CPIs), além de sanções civis, penais e administrativas, no caso de descumprimento. O Supremo Tribunal Federal, no julgamento da ação direta de inconstitucionalidade 3.041/RS, declarou inconstitucionalidade de lei do Estado do Rio Grande do Sul análoga à sob exame, por considerar que lei ordinária, de iniciativa parlamentar, não poderia impor atribuições ao Ministério Público. 1 Somente a Constituição e lei complementar, de iniciativa do respectivo procurador-geral, poderiam impor atribuições a membros do Ministério Público, na forma do art. 128, 5 o, da CR. 1 Supremo Tribunal Federal. Plenário. Ação direta de inconstitucionalidade 3.041/RS. Relator: Ministro RICARDO LEWANDOWSKI. 10 nov. 2011, unânime. Diário da Justiça eletrônico 22, 1 o fev

4 Além da inconstitucionalidade de ordem formal, a norma padece de inconstitucionalidade material. A Constituição assegura autonomia administrativa ao Poder Judiciário (art. 99, caput). Ao Ministério Público, de maneira semelhante, destina autonomia funcional, que lhe garante liberdade no exercício de sua missão constitucional, livre de ingerências por parte dos poderes e de outras origens. O art. 58, 3 o, da CR prevê como atribuição do Ministério Público promover responsabilização civil ou criminal de infratores apontados em conclusões das comissões parlamentares de inquérito. Representações ao Ministério Público, nesses casos, submetem-se a apreciação do Poder Judiciário, quanto aos aspectos jurídicos e, no plano administrativo, a seus conselhos superiores e ao Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP). Esse modelo constitucional é desconsiderado nos arts. 2 o, parágrafo único, 3 o e 4 o da Lei /2000. Essas regras, conquanto bem intencionadas, ofendem a autonomia e independência do Ministério Público e do Judiciário, pois lhes impõem prazos para que enviem relatórios, tomem providências ou justifiquem omissão, sob pena de sanções civis, penais e administrativas. Obrigatoriedade de tomar providências e prestar informações ao Legislativo, sob pena de sanções, constitui forma indevida de controlar e subordinar as atividades do Ministério 4

5 Público e do Judiciário, que não encontra ressonância no art. 58, 3 o, da Constituição. Esta norma dá o parâmetro na matéria e se limita a determinar envio do relatório das CPIs ao Ministério Público, para responsabilização civil e criminal dos infratores, nada mais. A possibilidade de cominar penalidades revela não se tratar de singela cooperação institucional, como afirma a Advocacia-Geral da União, mas de verdadeira sujeição do Ministério Público ao parlamento, nesse particular. Enfim, a autonomia do Ministério Público e do Judiciário, preconizada na Constituição, tem por escopo justamente impedir que qualquer autoridade possa, por qualquer meio, manipular ou manietar sua atuação funcional. Além disso, não há fundamento constitucional que justifique a prioridade estabelecida para procedimentos do Ministério Público e do Judiciário, somente pelo fato de serem provenientes de CPI. A fim de evitar repetição desnecessária, reiteram-se aqui, integralmente, quanto aos demais aspectos do litígio, as razões expostas na petição inicial. Por conseguinte, entende a Procuradoria-Geral da República que a ação direta de inconstitucionalidade merece conhecimento e julgamento de procedência, a fim de obviar as múltiplas afrontas ao regime constitucional em vigor. 5

6 III CONCLUSÃO Ante o exposto, o parecer é pela procedência do pedido. Brasília (DF), 4 de julho de Rodrigo Janot Monteiro de Barros Procurador-Geral da República RJMB/WCS/TVM-Par.PGR/WS/2.207/2016 6