A INSERÇÃO DO BIOMÉDICO NO PROGRAMA DE SAÚDE DA FAMÍLIA. Flávia B. da Costa; Mara A.do N. Trindade; Mauro Lúcio T. Pereira. 1
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- Alícia Damásio di Azevedo
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1 Revista Eletrônica Novo Enfoque, ano 2010, v. 11, n. 11, p A INSERÇÃO DO BIOMÉDICO NO PROGRAMA DE SAÚDE DA FAMÍLIA Flávia B. da Costa; Mara A.do N. Trindade; Mauro Lúcio T. Pereira. 1 RESUMO O projeto criado no Brasil pelo Ministério da Saúde em 1994, intitulado Programa da Saúde da Família (PSF), tem como principal propósito reorganizar a prática da atenção à saúde em novas bases e substituir o modelo tradicional, que se configurava. Para isso, prioriza ações de prevenção, promoção e recuperação da saúde das pessoas de forma integral e contínua. Esse atendimento é prestado por profissionais da área de saúde: médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem, entre outros. O presente estudo teve por objetivo caracterizar o potencial do profissional biomédico, bem como analisar a sua inserção junto à equipe de saúde no atendimento à população, atuando direta ou indiretamente no Programa de Saúde da Família. PALAVRAS-CHAVE: PSF. Biomédico. Atendimento a População. INTRODUÇÃO Evidencia-se no cenário atual a crescente conscientização para que as disciplinas do conhecimento se integrem em prol do bem comum da sociedade. Todavia, o que se observa ainda em algumas áreas são embates quanto à habilitação concedida legalmente pelos respectivos órgãos legais para o exercício pleno da função, além do acesso à inclusão e inserção de profissões relativamente recentes no mercado de trabalho. Neste contexto encontra-se o biomédico, cuja regulamentação se deu pela Lei n.º 6.684, de 03 de setembro de 1979, quando também foram criados os Conselhos Federal e Regional de Biomedicina. Segundo o Art. 4º da referida lei, ao biomédico compete atuar em equipes de saúde, a nível tecnológico, nas atividades complementares de diagnósticos. Assim, uma iniciativa relevante que possibilita absorver um significativo número de profissionais biomédicos é o Programa de Saúde da Família (PSF). Este programa foi uma estratégia criada pelo Ministério da Saúde com o objetivo de reorientar o modelo assistencial de saúde, implementando equipes multiprofissionais em unidades básicas de saúde para o acompanhamento de um número de famílias localizados em determinada área geográfica. (1) O presente estudo possibilitou uma análise crítica sobre a atuação do profissional biomédico, 1 Alunos do curso de Graduação em Biomedicina na Universidade Castelo Branco
2 especificamente no Programa de Saúde da Família (PSF), onde a inserção ainda é incipiente. O programa de saúde da família vem sendo utilizado há mais de 10 anos e tem como objetivo a prevenção de doenças, assistência coletiva e a formação de uma estratégia de educação e conscientização sanitária. Vários profissionais estão inseridos nesse contexto: médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem, agentes sanitários entre outros. Espera-se que o biomédico possa fazer parte desta equipe multiprofissional, haja vista sua habilitação para atuar nas áreas do conhecimento técnico científico e comportamental. A contribuição funcional estende-se na prevenção da saúde por meio de educação sanitária, coleta e armazenamento de material biológico para análise laboratorial e pesquisa de possíveis agentes etiológicos de maior incidência na comunidade em que está inserido o PSF. Estas ações estão previstas para serem desenvolvidas em um ciclo de padrões estabelecidos seguindo-se uma visão articulada do estudo da saúde, da doença e da interação do homem com o meio ambiente. Esses aspectos supracitados podem esclarecer a comunidade médica e os responsáveis pela gestão do Programa de Saúde da Família (PSF) quanto aos benefícios auferidos na inserção de profissionais biomédicos para comporem a equipe multidisciplinar, podendo contribuir significativamente para o atendimento da sociedade. DESENVOLVIMENTO No ano de 1991, foi iniciado pelo Ministério da Saúde o Programa de Agentes Comunitários de Saúde (PACS), que tem por objetivo financiar equipes de Agentes Comunitários de Saúde (ACS) trabalhadores leigos oriundos da comunidade local, cuja atuação se dá por meio de ações envolvendo vigilância e educação em saúde. Após dois anos, houve um encontro oficial do governo, no qual foram avaliadas as experiências com os PACS dentre outras iniciativas de atendimento comunitário com finalidades afins. Em 1994 foi criado o Programa de Saúde da Família (PSF), também sob a esfera do Ministério da Saúde, tendo o primeiro documento oficial intitulado Programa Saúde da Família: Dentro de Casa. Sua distinção em relação ao PAC configura-se pela incorporação à equipe pelas profissões de auxiliar de enfermagem e médico, ocasionando a diminuição da população e do território delimitados ao atendimento por equipe, assim como a redução do montante de ACS. No mesmo ano de sua criação, o PSF passa a ter outra visão empreendida pelo Ministério da Saúde, que deixa progressivamente de reconhecê-lo como um programa verticalizado e focalizado, endereçando-o como uma estratégia para a reorientação do modelo de ações às necessidades provindas da saúde. (2) 28
3 Em 2004, a saúde no Brasil foi marcada pelos 10 anos de implantação da estratégia de saúde da família. Foram identificadas mais de 60 milhões de pessoas acompanhadas por quase equipes, na maior parte dos municípios brasileiros. (4) O programa de saúde da família é hoje uma das principais respostas do Ministério da Saúde à crise vivida no setor, nascido exatamente no bojo do Sistema Único de Saúde (SUS). Por ser um modelo assistencial centrado no usuário, propõe-se um processo de trabalho multiprofissional, determinado pela "produção do cuidado", entendido enquanto ações de acolhimento, vínculo e resolução. (5) As equipes do PSF foram designadas para atuarem nas ações de promoção da saúde; na prevenção, recuperação, reabilitação e agravos mais frequentes de doenças, e na manutenção da saúde coletiva e individual. (6) Como ideia principal, o Ministério da Saúde propôs a reorganização da prática de atenção à saúde, substituindo o modelo tradicional antigo, garantindo às comunidades um acesso mais próximo à saúde e à qualidade de vida. Esse novo modelo prioriza a prevenção e promoção de forma integral e contínua. O atendimento é prestado em unidades básicas de saúde, próximas às casas das pessoas ou na própria residência, onde há a visita dos profissionais da saúde participantes desse projeto. Dessa forma, tornou-se acessível o controle de determinadas doenças, pois os profissionais conhecem mais de perto as famílias, seus problemas e podem direcionar melhor a prevenção e/ou a recuperação salutar das mesmas. (6) O Ministério da Saúde vem alcançando ótimos resultados e por isso tem estimulado a ampliação do número de equipes de saúde para atuarem nesse projeto. Vários municípios através de suas prefeituras estão se tornando receptivos a esse trabalho. É importante também a participação das comunidades para que esse programa ganhe cada vez mais um número significativo de atendimentos e mobilização dos profissionais. Com isso é mais rápida a informação sobre quais doenças têm afetado determinada comunidade, como é possível fazer um controle para que menos pessoas sejam atingidas por certas patologias, além de se criar uma forma de acesso às informações de saúde para as comunidades, através de palestras para adultos, jovens e crianças. (6) Ao perceber a expansão do Programa Saúde da Família que se consolidou como estratégia prioritária para a reorganização da Atenção Básica no Brasil, o Ministério da Saúde emitiu a Portaria n.º 648, de 28 de março de 2006, na qual ficou estabelecido que o PSF é a estratégia prioritária do Ministério da Saúde para organizar a atenção básica no Brasil. Segundo a referida Portaria, a atenção básica caracteriza-se por um conjunto de ações de saúde, no âmbito individual e coletivo, que abrangem a promoção e a proteção da saúde, a prevenção de agravos, o diagnóstico, o tratamento, a reabilitação e a manutenção da saúde. É desenvolvida por meio do exercício de práticas gerenciais e sanitárias democráticas e participativas, sob forma de trabalho em equipe, dirigidas a populações de territórios bem delimitados, pelas quais assume a responsabilidade sanitária, considerando a dinamicidade existente no território em que vivem essas populações. Orienta-se pelos princípios da universalidade, da acessibilidade e da coordenação do cuidado, do vínculo e continuidade, 29
4 da integralidade, da responsabilização, da humanização, da equidade e da participação social. (3) A atenção básica possui seis fundamentos que norteiam sua atuação de modo que seja possível delimitar seu campo de ação, bem como possibilitar aos responsáveis legais acompanhar os progressos de sua inserção na sociedade. Atualmente, o PSF é definido com Estratégia Saúde da Família (ESF), ao invés de programa, visto que o termo programa aponta para uma atividade com início, desenvolvimento e finalização. O PSF é uma estrátégia de reorganização da atenção primária e não prevê um tempo para finalizar esta reorganização. Um dos legados acentuados na Portaria n.º 648, de 28 de março de 2006, é o caráter integrador entre disciplinas do saber propostos no PSF, pois das nove características do processo de trabalho da Saúde da Família, três dispõem sobre esta natureza, a saber: trabalho interdisciplinar e em equipe, integrando áreas técnicas e profissionais de diferentes formações; promoção e desenvolvimento de ações intersetoriais, buscando parcerias e integrando projetos sociais e setores afins, voltados para a promoção da saúde, de acordo com prioridades e sob a coordenação da gestão municipal; valorização dos diversos saberes e práticas na perspectiva de uma abordagem integral e resolutiva, possibilitando a criação de vínculos de confiança com ética, compromisso e respeito. (3) Esta abordagem da referida Portaria n.º 648, de 28 de março de 2006, expande a possibilidade da inserção de outros profissionais atuantes no PSF, já que é de competência do Ministério da Saúde articular junto ao Ministério da Educação mecanismos de capacitação dos profissionais da saúde, inclusive viabilizando estratégias às mudanças curriculares nos cursos de graduação na área da saúde, em especial de medicina, enfermagem e odontologia, visando à formação de profissionais com perfil adequado à atenção básica, conforme a Política Nacional de Atenção Básica no capítulo I do instrumento legal em questão. Assim, corroborando com a visão interdisciplinar, o profissional Biomédico, devidamente regulamentado pela Lei n.º 6.684, de 3 de setembro de 1979, detém a competência de atuar em equipes de saúde, com amplitude no nível tecnológico, realizando atividades complementares de diagnósticos. Cabe destacar que o biomédico é um profissional que pode atuar na área de análises ambientais, realizando análises físico-químicas e microbiológicas para o saneamento do meio ambiente. A inserção deste profissional poderá também ser em suas áreas de especializações, tais como: análise ambiental, microbiologia, citologia oncótica, parasitologia, hematologia, virologia, saúde pública, sanitarista, toxicologia, epidemiologia; contribua assim para a prevenção da saúde coletiva e individual. Especificamente no PSF, ele poderá desenvolver palestras que visem à conscientização das formas de higiene pessoal, demonstrando a importância do cuidado com a manipulação adequada dos alimentos e 30
5 com a eliminação adequada dos resíduos de forma a comprometer minimamente o meio ambiente, tanto em âmbito local quanto global. Para uma atuação adequada, o Biomédico integrante da equipe de saúde da família deverá conhecer as famílias do território de abrangência, identificar os problemas de saúde e as situações de riscos existentes na comunidade. Poderá também elaborar um plano que contenha programações de atividades para lidar com os determinantes do processo saúde/doença, desenvolvendo ações educativas e intersetoriais relacionadas com os problemas de saúde identificados na comunidade sob sua responsabilidade. CONCLUSÃO A saúde coletiva no Brasil logrará maior êxito na medida em que houver uma real interação entre profissionais envolvidos. Acredita-se que o ideal para o PSF é que as equipes de trabalho instaurem um diálogo entre os diferentes campos de atuação, propondo uma comunicação horizontal, sem o predomínio de um sobre o outro, a fim de gerar novos dispositivos capazes de lidar com a complexidade do processo saúdedoença-cuidado. Um exemplo desta abordagem configura-se no aproveitamento de reuniões das equipes interdisciplinares objetivando compartilhar novas abordagens de trabalho, identificando situações-problemas pela ação de múltiplos olhares na direção de uma solução compartilhada. Contudo, estudos recentes sobre o trabalho em equipe no PSF revelaram ausência de responsabilidade coletiva do trabalho e baixo grau de interação entre as categorias profissionais. Cenário este que destoa do discurso de teor igualitário, pois os membros das equipes de saúde da família mantêm representações sobre hierarquia entre profissionais e não profissionais, nível superior e nível médio de educação, médico e enfermeiro, entre outros. (9) Destacou-se ainda que o trabalho do biomédico não se restringe apenas à identificação dentro de um laboratório dos agentes etiológicos que podem causar doenças na comunidade. Ele também pode e deve atuar como orientador no descarte adequado desses dejetos que podem contaminar o meio ambiente e trazer sérias consequências à saúde das pessoas. O biomédico pode também ministrar palestras educativas com os agentes comunitários e também com a própria comunidade, buscando um diálogo através de uma linguagem simples, para atingir seus objetivos em alertar, corrigir e transformar as atitudes das pessoas na mudança de certos hábitos há tanto tempo praticados, como por exemplo, o descuido com os restos alimentares. O presente trabalho pretendeu estimular discussões acerca da inserção do profissional Biomédico no Programa de Saúde da Família (PSF) de modo que possibilitem analisar os acertos e as possibilidades de melhorias desta iniciativa social que se propõe obter resultados de qualidade na esfera da saúde junto à sociedade brasileira. 31
6 ANEXO: RELATÓRIO: VISITA À COMUNIDADE Foi realizada uma visita ao Conjunto Habitacional COHAB em Realengo sendo observados os seguintes aspectos: a comunidade está assistida pelo saneamento básico e água tratada, com grande parte de suas ruas asfaltadas, com coleta de lixo realizada três vezes por semana, com uma pracinha com brinquedos para as crianças da comunidade, com cinco escolas públicas, com alguns animais como gatos cachorros e cavalos soltos pelas ruas. Foi feita uma visita também no interior do posto de saúde onde fomos informados das várias especialidades de atendimento médico: ginecologia, pediatria, clínica médica, odontologia, entre outras. Sua área física é composta de sala de informática (para o armazenamento dos dados de atendimento), sala de curativos, sala de imunização, consultórios médico e odontológico, sala de esterilização e espurgo. Apesar dessa coleta de lixo ser realizada semanalmente, este aparecia jogado no chão fora dos recipientes de coleta, inclusive ao redor da área de lazer das crianças. Constatou-se que a comunidade apresentava problemas referentes à falta de informação de cuidados básicos de prevenção de doenças causadas pelo acúmulo de lixo pelas ruas. Na maioria das ruas visitadas, observaram-se muitos animais comendo, inclusive restos de alimentos colocados em sacolas, mas que espalhados pelo chão, eram abertos por esses animais e consumidos no próprio local. Ao redor da pracinha onde as crianças brincavam, também observamos pacotes de biscoito e papéis de balas pelo chão, além de restos destes e pombos no local. Esses acúmulos de restos alimentares atraem animais que podem transmitir doenças para as crianças e, consequentemente, levarem para as suas famílias. 32
7 REFERÊNCIAS Saude-da-Familia-um-estudo-de-caso 9. BASTOS, L. G. C. Trabalho em equipe em atenção primária à saúde e o Programa Saúde da Família Dissertação (Mestrado) - Faculdade de Medicina, Universidade de São Paulo, São Paulo. 33
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