Metodologias na estimativa do impacte visual
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- Ana do Carmo Macedo Avelar
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1 Metodologias na estimativa do impacte visual A determinação dos recursos visuais da paisagem podem ser definidos segundo Burley (2000), como um esforço interdisciplinar para descrever, inventariar, analisar e gerir as suas características visuais, no que diz respeito às características físicas e à percepção humana. A paisagem deve ser, numa primeira fase, descrita depois classificada, posteriormente analisada (se se justificar definem-se unidades homogéneas), e avaliada (Hankinson, 1999). Existem diversas metodologias que permitem avaliação da magnitude dos impactes visuais na paisagem. Qualidade visual da paisagem A qualidade da paisagem pode ser entendida como o seu grau de excelência, o seu mérito em não ser alterada ou destruída, ou de outro modo, o mérito para que a sua essência e estrutura actual se conserve (Blanco, 1979 cit. Ayala & et al. 2003). A paisagem tem um valor intrínseco e a qualidade pode ser definida em função da sua qualidade visual intrínseca, da qualidade das vistas directas e do horizonte que a demarca, ou seja, do conjunto de características visuais e emocionais que qualificam a beleza da paisagem (Cifuentes, 1979 cit. Ayala & et al. 2003). De acordo com Ayala & et al. (2003), o modelo para avaliar a qualidade visual da paisagem considera as seguintes variáveis: Fisiografia - a qualidade fisiográfica de uma unidade de paisagem é função do desnível e da complexidade topográfica; Vegetação e Usos do solo consideram a diversidade de formações e a qualidade visual de cada formação; Presença de água factor de indubitável valor paisagístico, valoriza-se quando entendido como elemento dominante na unidade; Grau de humanização depende da abundância de estruturas artificiais presentes na paisagem.
2 Fragilidade visual da paisagem A fragilidade visual pode ser definida como a susceptibilidade de um território à alteração quando nele se desenvolve um uso, sendo a expressão do grau de deterioração que a paisagem experimentaria perante a incidência de determinadas actuações (Cifuentes, 1979 cit. Ayala & et al. 2003). Os factores considerados na análise da fragilidade da paisagem, de acordo com Ayala & et al. (2003), são: A vegetação e usos do solo a fragilidade é definida como o inverso da capacidade destes factores em ocultar uma dada actividade que se realize no território; Declive traduz a fragilidade da paisagem em função da maior ou menor visibilidade e exposição de usos; Fisiografia contempla a altitude, o declive e a abruptuosidade das formas nas unidades de paisagem; Forma e dimensão da bacia visual a conjugação destes dois parâmetros permite aferir a fragilidade, onde as formas que direccionem vistas e tamanhos, potenciando visualizações, incutem à paisagem uma fragilidade mais acentuada; Compacidade considera a complexidade morfológica das bacias visuais em cada unidade de paisagem definida; Distância à rede viária e núcleos habitacionais factor que contempla a influência da posição de potenciais observadores no território. Em suma, a qualidade visual de uma paisagem corresponde à qualidade intrínseca do território, enquanto que a fragilidade depende do tipo de actividade que se pretende desenvolver (Ayala & et al. 2003). Neste contexto, alguns autores introduzem outros conceitos, como é o caso de Hanna (1999), que refere a sensibilidade visual, também denominada absorção visual, a qual infere da capacidade da paisagem em comportar o desenvolvimento de determinada actividade sem prejuízo da sua qualidade. Uma sensibilidade elevada indica que a área é muito sensível a alterações, reciprocamente uma elevada capacidade de absorção visual demonstra que a unidade de paisagem pode suportar o desenvolvimento de um dado uso sem
3 diminuição da sua qualidade. Trata-se de um conceito, cujo propósito último é similar ao da fragilidade visual, ou seja, analisar e averiguar se uma dada paisagem possui ou não as características para receber um dado projecto, mantendo a sua qualidade. Outras metodologias Segundo alguns autores, Law (1984) e Loeffler (1989 cit. Burley (2000), não existe nenhuma metodologia específica para a avaliação de paisagens sujeitas à indústria mineira, o que constitui uma lacuna importante e é fonte de preocupação por parte de cientistas e de práticos. Contudo, Burley (2000) crê que alguns métodos são aplicáveis à indústria extractiva. Neste contexto, são de considerar a análise do recurso visual e os métodos de gestão, caracterizados em termos de paradigmas de percepção da paisagem e em termos de inventários descritivos e aproximações perceptuais. A última categoria será analisada neste trabalho. A abordagem do inventário descritivo baseia-se na premissa de que os aspectos biofísicos e culturais da paisagem podem ser objectivamente inventariados, contabilizados e avaliados. Estas características definem o recurso visual da área em análise e são, geralmente, analisadas e avaliadas por profissionais, frequentemente arquitectos paisagistas. Nesta abordagem são considerados seis factores, em que os três primeiros estão directamente relacionados com a paisagem, enquanto que os últimos traduzem a relação fisíca e temporal do observador com a paisagem: A forma (a massa ou aspecto do objecto); A definição espacial (closura, orientação e criação); A luz (nas diversas intensidades e ângulos de incidência); A distância ( foreground, middleground e background ) (vide figura 4); A posição do observador (superior, inferior ou normal) (vide figura 5); A sequência, ou seja, a disposição visual dos cenários da paisagem.
4 Figura 4 Representação das distâncias a que se encontra o observador da paisagem analisada (Fonte: Burley, 2000). Figura 4 Representação da localização o observador face ao local e à paisagem considerados (Fonte: Burley, 2000). A disposição visual da paisagem é considerado um aspecto relevante numa análise desta natureza. Nos E.U.A. foram descritos quatro tipos de paisagem, particularmente relevantes para actividades em grande escala, como é o caso da indústria extractiva (Burley, 2000), e que se encontram representados nas figuras seguintes:
5 paisagens panorâmicas, onde existe pouca ou nenhuma restrição de fronteira espacial; paisagens feature, dominadas por objectos ou grupo de objectos característicos; paisagens focais, são criadas por uma série de objectos essencialmente paralelos vistos no alinhamento; paisagens efémeras, marcadas pela influência visual de efeitos transitórios. Canter (1996) considera ainda as paisagens enclosed - confinadas. Figuras 6,7,8,9 e 10 Paisagens panorâmica, focal, efémera, feature e enclosed respectivamente. (Fonte: Burley, 2000) De realçar que, os inventários descritivos recorrem abundantemente a terminologias típicas de profissionais do ambiente, como os arquitectos paisagistas, como sejam: a harmonia, o contraste, a variedade, a escala, a forma, a linha, a cor, a textura, entre outros (Burley, 2000).
6 Seguidamente descrevem-se alguns dos métodos frequentemente observados nos EUA, quer pelas companhias de exploração de inertes, quer pelos consultores. O Visual Management System (VMS), estabelecido em 1974 (Burley, 2000), identifica cinco atributos físicos da paisagem e um esquema com 3 níveis de classificação baseados em categorias classes de variedade para cada um. O volume de utilização da área é considerada na determinação do nível de sensibilidade, apontado como um indicador da visibilidade da paisagem. Esta técnica ainda contempla a delineação de áreas distintas nos mapas foreground, middleground e background (Canter, 1996). Nesta delineação, uma abordagem razoável e racional, é considerar que elementos com as mesmas dimensões induzem um impacte superior no foreground comparativamente ao middleground e, assim, sucessivamente (Hanna, 1999). Contudo, a definição destes limites não é passiva, sendo o foreground identificado por Smardon & et al. (1986) cit. Hanna (1999), como a área correspondente ao quarto de milha mais próximo e o background como um espaço que dista 2 milhas do observador. O Visual Resource Management (VRM) considera o inventário dos recursos visuais, a designação de classes de paisagem e os procedimentos de contraste visual (Burley, 2000). Esta metodologia aprecia ainda, de acordo com (Smardon, palmer & Felleman, 1986 cit. Canter 1996), o alcance de potenciais impactes negativos, considerando a sua avaliação detalhada. A capacidade de absorção visual (CAV) é considerada por Canter (1996) como a última componente do VMS ao fornecer o meio para a determinação da magnitude do impacte visual ou a capacidade de uma determinada paisagem em absorve-lo. Contudo, para Anderson, Mosier & Chandler 1979, cit. Burley (2000) trata-se de uma técnica individualizada, geralmente utilizada pelo US Forest Service, que se define como um processo analítico identificativo da susceptibilidade da paisagem a uma alteração visual. O CAV é utilizado para calcular a magnitude em que um projecto ou uma actividade pode interferir na paisagem, mediante o relacionamento de factores físicos, factores perceptuais altamente alteráveis, factores da qualidade visual existente (forma, linha, cor e textura) e os factores derivados da actividade
7 proposta (escala, configuração, duração, frequência, entre outros). Alguns dos factores mais importantes para determinar a capacidade de absorção visual, de acordo com Burley (2000), são: O declive; A vegetação; A distância do observador - Canter (1996) considera neste parâmetro, as três categorias de espaço referidas acima ( foreground, middleground e background ). Estes parâmetros quando conjugados com a posição do observador, a duração da visão, e o tipo de paisagem (Canter, 1996), permitem de um modo expedito determinar a capacidade de absorção visual de uma paisagem. Um CAV baixo indica que a amplitude para desenvolver a actividade é reduzida, ao inverso, um valor elevado evidencia que a paisagem têm uma capacidade elevada para o desenvolvimento dessa actividade (Canter, 1996). O VRAP (Visual resources assessment procedures) é um método sistemático que pode ser utilizado para avaliar e classificar a qualidade estética e visual, determinar e medir os impactes visuais dos projectos que actuam ao nível do recurso água, avaliar a natureza benéfica ou adversa dos impactes e deixar recomendações relativas a alterações no design de planos, entre outros (Smardon & et al cit. Cárter 1996). Composto pelo management classication system (MCS) e pelo visual impact assessment (VIA), considera recursos como a água, a morfologia do terreno, a vegetação e os usos do solo, desenvolvendo-se ao longo de 10 modelos. Na determinação do impacte visual da indústria extractiva, as aplicações em GIS desempenham um papel essencial na tomada de decisão (Berry & et al. 2000), comparativamente às técnicas mais tradicionais, o que será abordado oportunamente.
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