O lado negro da força : representação da União Soviética na primeira trilogia Star Wars ( Guerra nas Estrelas ) ( ) Introdução

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1 O lado negro da força : representação da União Soviética na primeira trilogia Star Wars (Guerra nas Estrelas) ( ) JOSÉ ADÉCIO LIMA CHAVES Introdução Durante muito tempo os historiadores estiveram presos basicamente às fontes escritas, apenas nelas se poderia fazer um texto historiográfico, contudo, isso já faz parte de um passado bastante distante. Desde o surgimento da Escola dos Annales, no final da década de 1930, o território de análise e as fontes para os historiadores se alargaram exponencialmente, hoje tudo que teve o toque humano, com o devido cuidado metodológico, pode ser usado como fonte para pesquisa histórica. Nesse aspecto, a arte, de modo geral, se torna uma ferramenta muito interessante para a análise do passado, uma vez que nela se expressam os sentimentos e as emoções de um determinado período, sendo muito útil para entender as nuances das atitudes dos indivíduos perante a sociedade. Além disso, geralmente, essa arte é destinada a um público alvo, assim ela tem a propagação desse sentimento, reforçando, ou não, determinados medos e\ou anseios, criando um discurso, ou discursos da realidade. Nesse contexto o cinema ganha uma força fenomenal, pois sendo uma arte eminentemente visual, seu apelo é mais forte e, diferentemente de outras artes como a literatura, seu problema de decodificação não é tão grande, o tornando acessível a um grupo muito maior. Essa é uma característica bastante relevante, pois sua capacidade de reprodução em massa torna o cinema uma ferramenta bastante eficaz na disseminação de ideologias, valores, e pontos de vistas,principalmente em períodos de embates sóciopolíticos como o da Guerra Fria. Normalmente toda sociedade já produz uma imagem de si, (ARBEX JR, 1997: 18) valorizando suas qualidades e em boa medida escondendo seus defeitos. Contudo, na Guerra Fria, essa característica ganhou proporções mundiais. A principal arma utilizada tanto por capitalista como por comunista foi às imagens. Em vez de atacarem com misseis, eles bombardeavam um ao outro com propaganda e retorica, a fim de Aluno graduando de história na Faculdade de filosofia Dom Aureliano Matos FAFIDAM-UECE, Bolsista do Programa de Educação Tutorial, PET. Orientado pelo Prof. Dr. João Rameres Reges.

2 convencer uma ao outro de sua supremacia econômica e militar (ARBEX JR, 1997: 19-20). E tinha no cinema uma dos principais meios de construção dessas imagens. A trilogia clássica de Star Wars ( ) Segundo Marc Ferro, o cinema é um agente da história, o cinema cria representações, que tanto servem para doutrinar quanto glorificar (FERRO, 1976: 15)O cinema tem a característica de mexer com as emoções do publico, ele atinge de uma forma muito profunda, ele faz ver e sentir, (ROSENSTONE, 1988: 5) é um motivador de almas. O cinema é um produto fruto do meio em que foi gerado, mesmo que retrate o passado, seu olhar é do presente, pois seus criadores estão presos pelo tempo e pelo espaço. Assim, qualquer obra cinematográfica pode ser utilizada como fonte para o historiador. No meu caso eu uso os filmes de Space Opera de Star Wars: primeiro por ser uma obra de Ficção Científica, o que dar muito mais liberdade para o autor se expressar e falar dos temas mais controversos protegido pela distância espaço e/ou temporal: As características da ficção científica permitem ao historiador pensar sobre a forma como aquela sociedade discutiu as relações entre ciência e sociedade, futuro e presente, modos de ver o que era considerado positivo e desejável e o que era abominável. (Noboa, 2007:318) Segundo por se tratar de uma obra do subgênero da ficção cientifica Space Opera,esse termo pode ser traduzido livremente como novela espacial. Esse subgênero, assim como foi com os filmes de criatura nas décadas de 1950/60, também tinha uma estrutura que pouco mudava, geralmente envolvia viagens espaciais intergalácticas, enredo cheio de aventuras e o confronto do bem contra o mal. Principalmente dos anos 1960 em diante, esse tipo de obra passou a entreter a classe media norte-americana (RODRIGUES, 2010: 45). Sendo um gênero popular, a Space Opera atendia a uma demanda popular, que via ali um reflexo de sua sociedade, principalmente no que se referia à dicotomia do bem contra o mal, a bipolarização.

3 A trilogia clássica é composta por Star Wars Episódio IV: 1 Uma Nova Esperança(George Lucas, EUA, 1970), Star Wars Episódio V: OImpério Contra Ataca (IrvinKershner, EUA,1980),e por fim ostar Wars EpisodioVI:O Retorno de Jedi(Richard Marquand, EUA,1983). A escolha se deu porque eles formam uma narrativa fechada, pois mesmo tendo diretores diferentes o roteirista foi o mesmo, George Lucas. O primeiro filme Episódio IV. Uma Nova Esperança (1977) é o responsável por compor o universo da história, são mostrados seus heróis, Luke Skywalker, a Princesa leia Organa, Han Solo e seus vilões, o Império e o temível Darth Vader. É nesse ponto que o império está prestes ao domínio total, principalmente por que sua arma mais potente, A estrela da morte, a qual é possível destruir um planeta com um único tiro, entrasse em operação. Contudo, através dos heróis, o império tem uma incrível derrota e A estrela da morte é destruída. No segundo filme Episódio V.OImpério Contra Ataca (1980) acontece à revanche do império, com um ataque esmagador, ele elimina quase que completamente os rebeldes,apenas alguns poucos conseguem escapar, entre eles os nossos heróis. O enredo se complica, pois mostra um possível parentesco de pai e filho entre o herói Luke Skywalker e o vilão Darth Vader. No terceiro filme EpisodioVI. O Retorno de Jedi(1983)ocorre o desfecho da história. Aqui o vinculo entre Luke e Vader se confirma; o vilão tenta trazer o filho para seu lado, o lado negro da força, no entanto, Luke se mostra forte e não sede à tentação. Neste filme é mostrado o Imperador Darth Sidious, a própria representação do mau, depois de ver que é impossível atrair Luke para seu lado, passa a querer matá-lo, e conseguiria se não tivesse sido interrompido pelo arrependido Darth Vader, que num ato heroico mata o imperador para salvar seu filho, mas ao fazer isto também morre. Simultaneamente o que sobrou dos rebeldes elimina completamente o exército do império, o que traz a paz de volta ao universo. 1 Durante a elaboração da história, George Lucas escrevendo um roteiro muito grande, que seria inviável para um filme. Com isso ele dividiu o roteiro em seis partes, começando pela IV que era mais viável tanto comercialmente quanto tecnologicamente. No entanto, Inicialmente o primeiro filme se chamava apenas Star Wars, pois tanto Lucas como a Fox não acreditavam numasequência, apenas em 1981 depois do lançamento do segundo filme que o subtítulo do primeiro foi acrescentado.

4 O mito em Star Wars O cinema como arte, como criação de realidades, naturalmente já se aproxima muito do mito (AUGÉ, 1998: 96).Do momento em que o espectador chega ao cinema existe um verdadeiro ritual, todo um clima que o prepara para o mito/filme. Temos o escuro, o silêncio, os bancos confortáveis, tudo isso leva a um relaxamento, a uma introspecção, somente assim o filme é iniciado.e quando este começa o espectador se vê diante daquela tela gigantesca, muito iluminada, sua visão de realidade pode ser alterada: Primeiro o espectador acredita na história que se desenrola na tela. Evidentemente, ele sabe que se trata de uma ficção e não acredita verdadeiramente na realidade do que tem diante dos olhos. Mas o fato de, nesse sentido, ele não acreditar na história é corrigido pelo fato de que ele pode, que teria podido outrora acreditar nela, que poderia ainda acreditar se fosse criança (AUGÉ, 1998: 99) Sobre essa volta a infância no cinema, Augé (1998: 99) continua: No cinema somos pequenos. Temos que erguer a cabeça (como na oração a esta ou aquela figuração religiosa) para ver quem ocupa a tela. A tela grande, tão bem denominada, é antes de mais nada o instrumento que nos restitui as proporções da infância (...) Esse retorno à infância acaba por tornar a experiência do cinema, de ver o filme algo mítico, isso no cinema de uma forma geral, não seu conteúdo. Além dessa experiência inerente ao cinema como um todo,na serie Star Wars, seu conteúdo também é mítico. Para escrever a serie, George Lucas se inspirou num livro chamado O herói de mil faces (1949), do filosofo Joseph Campbell, no qual fala sobre as semelhanças e as metamorfoses dos mitos através das sociedades e dos tempos. Portanto, por ter se inspirado nesse livro, os filmes ganharam uma roupagem mitológica, ou seja, os filmes funcionam como um mito moderno. Nesse livro, Campbell analisa os mais variados mitos, de diferentes civilizações, tendo ou não cunho religioso, com o intuito de traçar suas semelhanças. Nessa pesquisa ele percebeu que civilizações sem contato, de épocas diferentes, tinham em sua essência a mesma base mitológica, com os mesmos medos, receios e uma estrutura narrativa semelhante. A explicação para isso ele foi buscar na psicologia de Jung, o qual fala de arquétipos mitológicos:

5 Essas "imagens primordiais" ou "arquétipos", como eu os chamei, pertencem ao substrato fundamental da psique inconsciente e não podem ser explicados como aquisições pessoais. Todos juntos formam aquele estrato psíquico ao qual dei o nome de inconsciente coletivo.(jung apud CAMPBELL: 1971). Ou seja, o mito ou sua essência, não pode ser compreendido enquanto aquisição social, mas como algo proveniente da psique humana, que buscava nos mitos uma resposta para dilemas internos, inconsciente. Essa é mais outra possível explicação para o sucesso da obra, ele está para além das fronteiras, das nacionalidades, pode alcançar o inconsciente. Nessa perspectiva, a análise do discurso no filme ganha relevância, pois compreender seu conteúdo é compreender sua ideologia, suas apropriações e, por conseguinte compreender a sociedade, ou o que se espera dela. Sobre os mitos, Campbell fala que eles têm quatro funções básicas, mística, cosmológica, sociológica e pedagógica (1988: 45), essas funções em nosso trabalho nos ajudam no que se refere ao reforço do discurso do conteúdo aparente do filme. Segundo o raciocínio de Campbell, vamos ver cada função, uma a uma, e em que elas nos são útil na análise do filme. Primeiro temos a mística, essa função está ligada ao mistério, ao desconhecido, você no universo (IDEM), esse fascínio diante do desconhecido, do que pode ser abrangente e ao mesmo tempo individual, na serie é perceptivo através da Força, que nas palavras de ObiWan, ela [Força] é um campo de energia criado por todas as criaturas vivas. Ela nos envolve e nos penetra. Ela mantém a galáxia junta. (33min23seg) Mesmo com essa definição, a Força nunca é bem compreendida, vista como resquício de uma religião arcaica e praticada por feiticeiros, a mesma Força que mantém a galáxia unida é a que dá poder a um Jedi. Aqui temos o micro e o macro se unindo através da Força. Depois temos a função cosmológica, é a dimensão da qual a ciência se ocupa mostrando qual é a forma do universo, mas fazendo detal maneira que o mistério, outra vez, se manifesta (CAMPBELL, 1988:, 45). Em seguida vem à sociológica, esta é responsável pelo suporte e validação de determinada ordem social (IDEM). Essa característica se torna fundamental para analisarmos a serie, já que a função sociológica do mito legitima a sociedade que

6 mostra. Esta é a função responsável por revelar os princípios éticos. As leis da vida como deveriam ser na sociedade ideal (IBIDEN). Campbell continua, foi esta função sociológica do mito que assumiu nosso mundo e está desatualizada. Ou seja, os mitos existentes, sejam religiosos ou não, já não conseguem mais explicar a sociedade atualdepois de tanto tempo está defasada, seria exatamente nesse espaço que os filmes de Star Wars, como mito moderno, ocupariam. Eles como reflexo do meio em que foi feito estava impregnado da mentalidade da época, atenderiafacilmente às demandas modernas, falariam de Guerra Fria, do comunismo, dos aliados e dosinimigos, da democracia, da paz, etc., e mais importante, mostraria como agir no meio disso tudo, qual seria a sociedade ideal. Podemos perceber isso em alguns personagens que agem de forma idealizada, representando junto com eles um grupo social. Um exemplo seria Luke Skywalker e Leia Organa, eles se encaixam nessa representação.ambos são jovens e engajados ; ele trabalha com os tios, seu sonho é se alistar na academia rebelde, todos os amigos deles já foram, e ele só não foi porque os tios colocam empecilhos; já Leia é princesa do planeta Alderaan, e também senadora (na teoria, pois na prática o senado é somente um joguete do imperador para manter a burocracia estatal) da republica, além desses dois cargos, também é espiã da aliança rebelde. Tanto um como outro representam o idealismo jovem, que sempre busca mudar o mundo em que vive, nem que para isso tenham que arriscar as própriasvidas. E por último, temos a função pedagógica.esta mostra como viver uma vida humana sob qualquer circunstância (CAMPBELL, 1988: 46). Assim como a sociológica, nos é importante na medida em que tentam explicar a realidade em que vivem, novamente Campbell fala da defasagem dos nossos mitos, principalmente ocidental, uma vez que nossa principal fonte seria a bíblia e como tal, ela se baseia numa sociedade antes de cristo (CAMPBELL, 1988: 46).Essa função pedagógica, em essência significa que o mito ensina alguma coisa. Novamente por se passar no futuro ele ganha um teor premonitório, quando ele mostra Império subindo ao poder, e usando a força para suprimir, democracia, religião e a liberdade individual, ele está mostrando aos telespectadores uma forma de governo autoritário, que estava alinhado com o discurso norte americano sobre o socialismo

7 soviético. Ou seja, para quem assiste fica o ensinamento, se as pessoas não fizerem nada para deter o Império do mal, assim como aconteceu no filme, o futuro da terra será igual. Além de inculcar nos telespectadores um medo do inimigo, o filme dá total legitimidade para as ações norte-americanas na Guerra Fria. Já que era um mau necessário, pois impediria algo bem pior, que era a subida de um tipo de governo autoritário que suprimiria todas a liberdades do mundo civilizado. Todas essas funções do mito se amplificam quando se juntam com a do cinema, ao contrário dos mitos clássicos que eram contados seja de forma escrita ou oral, o cinema vai muito além, mostra, ele faz ver e sentir, proporcionam emoções (ROSENSTONE, 1988: 5). Tornando sua análise muito rica. União Soviética, o Lado Negro da Força. O primeiro filme, o Episodio IV, Uma nova esperança, foilançado em 1977 quando a distensão 2 ( ) estava enfraquecendoe o acirramento entre as duas potências voltavam, assim como também o ataque ideológico. Iniciava a Nova Guerra Fria. O filme inicia com o texto Há muito tempo atrás, em uma galáxia muito, muito distante.... Essas palavras nos dão uma impressão de passado, de que os eventos que ocorrerão durante o filme já aconteceram, contudo, após a introdução, temos a imagem panorâmica do espaço sideral, na qual vermos dois astros, possivelmente luas, logo em seguida uma pequena nave espacial passa com outra maior em seu encalço, perseguindo-a, alvejando-a com tiros de laser. Essas imagens alteram totalmente a percepção de passado que tínhamos em relação à obra, pois tanto naves espaciais quanto armas laser não existem em nossa realidade, e se existe não é da mesma forma, isso implica dizer que, todos os eventos que ocorrem nessa historia são passadosem outro mundo, numa realidade diferente da 2 No inicio dos anos 1960 ambas as potencias passavam por problemas, nos EUA Kennedy era assassinado e Washington intensificava sua ação no Vietnam e na América latina; já na URSS Kruchev era derrubado e deixava vários problemas para ser solucionado. Nos dois casos, os novos líderes precisavam reorganizar e efetivar suas respectivas zonas de influencias. Isso enfraqueceu o embate entre os dois blocos, e ocasionou um equilíbrio de forças.

8 nossa. O filme chaga para nós do futuro do pretérito, o que significa que esse é um futuro que já passou. Esse elemento ganha importância, pois mostra um possível futuro (ocorrido num passado) em que um sistema autoritáriosubiu ao poder e passa a suprimir qualquer tipo de democracia. Levando em consideração o ano de lançamento do primeiro filme (1977), uma associação desse grupo com os comunistas se torna quase automática,já que o uso da democracia é um dos principais argumentos norte-americanos para se opor a União Soviética e aos comunistas, ou seja, o filme mostra um mundo onde a democracia\estados Unidos foi derrotada. Assim, já é possível fazermos suposições sobre a realidade retratada nas telas.o enredo dos filmes tem como tema principal a luta do bem contra o mau, representado respectivamente pela Aliança Rebelde e Império Galáctico. A aliança é composta principalmente por ex-membros da antiga república que foram destituídos pela subida do imperador ao poder, e por jovens, que não se conformam com o sistema opressor impostos pelo imperador; já o Império tem sua figura principal no Imperador, Darth Sidious, é um sistema fortemente militarista e hierárquico, que através da força, da opressão e do medo matem os governantes locais submissos, na linha. Podemos constatar que o universo de Star Wars, assim como a sociedade que o produziu, vive num contexto de bipolarização, com isso podemos inferir que mesmo que de forma indireta e metafórica, os eventos ocorridos nos filmes estão diretamente relacionas a realidade fora das delas.nesse sentido, o filme tem uma característica premonitória, ele mostra um possível futuro onde um sistema autoritário e totalitário assumiu o controle. A própria designação do vilãoimpério Galáctico, já nos dá uma sugestão de quem seria na realidade o inimigo. Sepegarmos a definição de Império Conjunto de territórios dependentes de um imperador (dicionário Aurélio online) secompararmos com a União Soviética, ela era um aglomerado de varias nações ou, micronações, que tem no líder soviético o seu soberano, ou seja, mesmo que eles não se intitulem assim, a URSS na prática era um Império. Além disso, em vários momentos se referem aos vilões como Império do mau, termo também utilizado para se referi aos líderessoviéticos.

9 Seguindo nessa linha de raciocínio, outro elemento bastante associado ao comunismo e aos soviéticos é a cor vermelha. Na serie essa é uma cor relacionada ao lado negro da força, esse é um termo utilizado para osjedis 3 que foram corrompidos pela sede de poder e terminaram decaindo, se tornando amorais e gananciosos, fazendo tudo que tivesse ao seu alcance para manter seu poder. Tanto Jedi quanto aqueles que decaíram para o lado negro se utilizam de sabres de luz para lutar, ele como o nome já supõe são espadas feitas de luz. As dos mocinhos (Jedis) podem ser das mais diversas cores, contudo, as dos vilões, aqueles do lado negro, são da cor vermelha (ver figura 1). O que está implícito nessa equivalência são os valores morais do inimigo, uma vez que a ordem dos jedisrepresenta a religião na série. Contudo, com a subida do império ao poder, os jedis foram quase que completamente destruídos, apenas alguns sobreviveram (Apenas dois, ObiWanKenobe e mestre Ioda) e estes tiveram que se esconder. Isso pode ser associado ao materialismo pregado pelo comunismo, no qual a religião é um fator de entrave para a libertação do homem, no entanto, esse conceito de valorização do homem em detrimento da religião é posto de forma radical, como se a primeira ação de sociedade comunista fosse caçar as ordem dos religiosos. Esse fator de relevância da religião para os mocinhos é ainda acentuado atreves do herói da serie, Luke Skywalker, posto que ele se torna um aprendiz de jedi, mostrando o quão imbricada é a relação religião e sociedade ocidental. Na serie a cor vermelha esta diretamente relacionada ao império, ou seja, a própria concepção de mau. Temos uma constatação disso através do segundo filme O império contra ataca, o qual com já citado anteriormente, é o responsável por mostrar um Império forte, ameaçador, impiedoso. Neste filme o foco central é a vitória quase que completa dos vilões. O cartaz de divulgação do filme é bastante revelador (ver figura 2), ele é quase todo vermelho, tendo da metade para baixo a imagem de um cenário gélido, local onde se passa a ação do filme, mas que também pode muito bem remeter a imagem já muito cristalizada da antiga Rússia, agora União Soviética gelada. Já da metade para cima temos a imagem impotente de Darth Vader segurando um sabre 3 Os Jedis são uma mistura de monges com guerreiros, que tinha que ter uma postura totalmente moralista, seguindo apenas sentimentos e pensamento puros, quanto tinha sentimentos como ódio ou ambição caiam para o lado negro. Na velha Republica antes do Império subir ao poder ele Eram os guardiões da paz e da justiça, mas foram praticamente extintos no Império.

10 de luz (vermelho). O interessante é que a roupa da personagem é preta, entretanto, no cartazele ganhou um brilho vermelho, causando um efeito muito aterrorizador. Assim, como o Darth Vader, outra personagem que é forte, impactante, aterrorizador, é o supremo líder do Império, o imperador Darth Sidious. Sabíamos de sua importância desde o inicio da serie, massó veio ser bastante utilizado no terceiro filme, o Retorno de jedi(1983). O Imperador representa o próprio sistema Soviético e seus lideres, ele é velho e decrépito, mas que tem uma sede de poder insaciável, sempre querendo mais, se expandir, crescer seu poder de convencimento muito grande, isso porque ele usa o lado negro da força. Esta expressão remeteria ao comunismo, tanto um quanto o outro é sedutor, qualquer um que fosse envolvido por ele pode se perder, pessoas boas como Anakin Skywalker (Darth Vader) pode ser influenciada e mudar completamente, não se importando mais com família,amigos, mas na realidade é apenas uma ilusão. Em, O Retorno de jedi(1983), ele simbolicamentenos dá uma pista das verdadeiras intenções tantos dos EUA quanto do real motivo da Guerra Fria. As intenções dos Estados Unidos nunca foram destruir a União soviética. Assim, como o Darth Vader (Anakin) o povo Russo estava sob a ilusão do lado negro /Comunismo, e a função do Ocidente Capitalista é mostrar o quanto aquilo era do mau.no entanto, não precisava se preocupar, assim como o Darth Vader, quem foi influenciado pelo mau só necessita se arrepender e seria recebido de volta, seja como um Jedi, seja como um capitalista. Considerações finais Em resumo, neste artigo a hipótese que proponho é que, tendo como pano de fundo uma novela de naves espaciais (Opera Space), e aproveitando do aparente desvinculo político e do distanciamento espaço-temporal, os filmes de Star Wars criam um enredo mítico, que como expliquei tem um forte apelo sócio-pedagógico para mostrar um futuro onde a União Soviética teria vencido a Guerra Fria. Com essa afirmação explicito uma leitura, na qual O Império Galáctico mostrado no filme é na realidade uma representação da União Soviética e do Comunismo, assim como os mocinhos, a Aliança Rebelde, seria o ocidente

11 democrático, tendo como padrão o modo de vida norte-americano. O que quero dizer é que, mesmo de forma latente, ou subliminar, a trilogia de Star Wars tem um discurso anticomunista e antissoviético. Para tal afirmação me baseei numa leitura semiótica do filme bem como numa analise sócio-política de sua criação, tendo como referencial, o ângulo discursivo americano, ou seja, como eles viam a si mesmo, e como construíam as imagens de seu inimigo, tendo no âmbito ideológico o Comunismo e no físico a União Soviética, e como esses discursos se alinham na película de George Lucas. Figura 1imagem extraída do filme uma nova esperança (1977)

12 Figura 2Cartaz de divulgação do império contra ataca Bibliografia ARBEX JR, José. Guerra Fria: Terror de Estado, politica e cultura./ Jose Arbexjr. São Paulo: Moderna, AUGE, Marc. A Guerra dos Sonhos: exercícios de etnoficção. Trad. Maria Lucia Pereira. Campinas, SP: Papirus, CAMBELL, Joseph e MOYERS, Bill.O poder do mito. Flowers; trad Carlos Felipe Moisés. -São Paulo: Palas Athena, Org. Betty Sue

13 CAMBELL, Joseph. O heroi de mil faces. Trad. Adail Ubirajara Sobral, - São Paulo, ed. Cultrix/Pensamento. FERRO, Marc. Cinema e História. Trad.: Flavia nascimento. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1992 NOBOA, Igor Carastan. Cinema de Ficção Científica e Guerra Fria, in Projeto História, São Paulo, n.34, p , jun RODRIGUES, Elsa M. da Silva. Alteridade, tecnologia e utopia no cinema norte americano: a tetralogia Alien. Tese de doutoramento. Universidade de Coinbra, ROSENSTONE, Robert. História em imagens, história em palavras: reflexões sobre a possibilidade de plasmar a história em imagens. In: O Olho da História: revista de história contemporânea. Salvador, v. 1, nº 1, set/1998