ACÓRDÃO RO Fl. 1. DESEMBARGADOR GILBERTO SOUZA DOS SANTOS Órgão Julgador: 3ª Turma

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1 RO Fl. 1 DESEMBARGADOR GILBERTO SOUZA DOS SANTOS Órgão Julgador: 3ª Turma Recorrente: Recorrente: Recorrido: Origem: Prolator da Sentença: JULIANO RICARDO DA SILVA COSTA - Adv. Gisela Beltrame da Silva COLEURB COLETIVO URBANO LTDA. - Adv. Ademar Toffoli OS MESMOS 1ª Vara do Trabalho de Passo Fundo JUÍZA CRISTIANE BUENO MARINHO E M E N T A COBRADOR DE ÔNIBUS. DANO MORAL. ASSALTO. ATIVIDADE DE RISCO. Situações de assalto, que colocam o trabalhador sob ameaça de agressão física e geram sentimentos de medo, angústia e ansiedade, são passíveis de caracterizar dano moral. Cabe ao empregador, em face do risco da atividade, criar as condições para que seu estabelecimento seja um ambiente seguro para seus empregados e clientes. A C Ó R D Ã O Vistos, relatados e discutidos os autos. ACORDAM os Magistrados integrantes da 3ª Turma do Tribunal Regional do Trabalho da 04ª Região: por unanimidade, NEGAR PROVIMENTO AO RECURSO DA RECLAMADA; e também por unanimidade, DAR PARCIAL PROVIMENTO AO RECURSO

2 RO Fl. 2 DO RECLAMANTE para majorar a indenização por danos morais para R$ ,00 (quinze mil reais), em quantia atual, valor sobre o qual deverão incidir correção monetária a partir da publicação deste acórdão e juros a partir do ajuizamento da ação (Súmulas 50 e 54 deste Regional) Valor da condenação e das custas majorados para R$ ,00 e para R$ 300,00, respectivamente. Intime-se. Porto Alegre, 19 de maio de 2015 (terça-feira). R E L A T Ó R I O Contra a sentença de fls. 329/330 recorrem a reclamada as fls. 332v/337 e o reclamante as fls. 339v/344. A reclamada apresenta contrarrazões as fls. 349/355 em que se limita a refutar a linha argumentativa do apelo adverso O reclamante não apresenta contrarrazões. Regularmente processados os autos são remetidos ao Tribunal para julgamento. É o relatório. V O T O DESEMBARGADOR GILBERTO SOUZA DOS SANTOS (RELATOR): RECURSO ORDINÁRIO DA RECLAMADA

3 RO Fl. 3 DANO MORAL. ASSALTOS NO EXERCÍCIO DO TRABALHO A reclamada não se conforma com sua condenação ao pagamento de indenização por dano moral. Entende que sua responsabilidade é subjetiva, de modo que deveria ter sido demonstrada sua conduta culposa ou dolosa, nos termos da norma contida no artigo 7º, XXVIII, da Constituição. Colaciona jurisprudências que entende aplicáveis ao caso. Afirma que não é possível evitar os assaltos, mas que disponibilizou tratamento psicológico e médico a todo funcionário vítima desta violência. Narra, ainda, que também determinou a instalação de cofres no interior dos coletivos a fim de inibir a ocorrência de assaltos e que passou a oferecer cursos de orientação ministrados pela Brigada Militar. Pede a reforma da decisão para ver afastada a condenação em tela. Sucessivamente, pede a redução da quantia arbitrada na origem. Analiso. O reclamante sustenta que foi vítima de constantes assaltos durante o trabalho, sem ter recebido qualquer tipo de apoio psicológico da reclamada. Diz que ao todo vivenciou 11 ocorrências desta natureza. Juntou diversos Boletins de Ocorrência em que foram registrados tais acontecimentos (fls. 13/31). A empresa não nega nenhuma das ocorrências mencionadas, limitando-se a sustentar que sua responsabilidade é subjetiva, daí porque entende ser necessária a prova de sua conduta culposa ou dolosa. No mais, defende que os assaltos se tratam de casos fortuitos, impossíveis de serem impedidos. Nos termos do artigo 5º, V, da Constituição, "é assegurado o direito de

4 RO Fl. 4 resposta, proporcional ao agravo, além da indenização por dano material, moral ou à imagem". O inciso X do mesmo dispositivo constitucional estabelece que "são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação". Alice Monteiro de Barros define o dano moral como "O menoscabo sofrido por alguém ou por um grupo como consequência de ato ilícito ou atividade de risco desenvolvida por outrem capaz de atingir direitos da personalidade e princípios axiológicos do direito, independentemente de repercussão econômica" (Curso de Direito do Trabalho. 4ª ed. São Paulo: LTr, 2008, p. 643). Entendo que situações de assalto, que colocam o trabalhador sob ameaça de agressão física e geram sentimentos de medo, angústia e ansiedade, são passíveis de caracterizar dano moral. Embora a segurança pública seja um dever do Estado, não se pode afastar a responsabilidade do empregador, pois é dele o risco da atividade. Ainda que o empregador também seja vítima da violência, o fato é que a ele cabe criar as condições para que seu estabelecimento seja um ambiente seguro para seus empregados e clientes. Os documentos juntados pela empresa - fls. 266/279 - não demonstram a prestação de qualquer apoio médico ou psicológico aos empregados que sofreram os abalos de constantes assaltos, pois não ultrapassam a barreira do mero registro formal dos acontecimentos. A rigor, nenhum suporte foi prestado pela reclamada. No mesmo, sentido, a alegação de que a empresa oferece cursos aos empregados sobre segurança pública, ministrados pela Brigada Militar, não

5 RO Fl. 5 ultrapassou a barreira retórica, já que nenhum indício desta prática veio aos autos. De mais a mais, é certo que a norma contida no parágrafo único do art. 927 do CCB não revogou, tampouco colide com aquela lançada no art. 7º, XXVIII, da CF. Tratou, apenas, de ampliar a proteção do trabalhador, o que não é obstado neste art. 7º da Constituição Federal.Neste sentido, transcrevo trecho da sentença ora atacada, que adoto como razões de decidir, em que resta estampada a lição de Sergio Cavalieri Filho: "- A remissão feita pelo art.7º, XXVIII, da CF, à culpa ou dolo do empregador como requisito para sua responsabilização por acidentes de trabalho, não pode ser encarada como uma regra intransponível, já que o próprio 'caput' do artigo confere elementos para criação e alteração dos direitos inseridos naquela norma, objetivando a melhoria da condição social do trabalhador. - Admitida a possibilidade de ampliação dos direitos contidos no art. 7º da CF, é possível estender o alcance do art. 927, parágrafo único, do CC/02 - que prevê a responsabilidade objetiva quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para terceiros - aos acidentes do trabalho." Tanto é assim que a 3ª Turma do TST acolheu a responsabilização calcada no exercício de atividade de risco, senão vejamos: "(...) À proporção em que assaltos se tornam ocorrências frequentes, adquirem status de previsibilidade para aquele que

6 RO Fl. 6 explora a atividade econômica, incorporando-se ao risco do negócio (fortuito interno), cujo encargo é do empregador (art. 2 da CLT) A realidade de violência que assola o transporte público no Brasil atrai para a esfera trabalhista a responsabilidade civil objetiva da empresa de transporte, em face da atividade de risco desempenhada pelos seus funcionários, quase que rotineiramente submetidos a atos violentos de terceiros. Incidência da cláusula geral de responsabilidade objetiva positivada no parágrafo único do art. 927 do Código Civil Na linha da teoria do danum in re ipsa, não se exige que o dano moral seja demonstrado: decorre, inexoravelmente, da gravidade do fato ofensivo que, no caso, restou materializado nos diversos assaltos sofridos pelo reclamante como cobrador do coletivo. Recurso de revista conhecido e provido. (...)" Recurso de Revista n TST-RR ª Turma do TST, Rel. Min. Alberto Luiz Bresciani de Fontan Pereira. Julgado em 17/12/2012. O valor arbitrado será analisado no apelo do autor. Diante do exposto, nego provimento ao recurso no particular. RECURSO ORDINÁRIO DO RECLAMANTE DANO MORAL. VALOR O demandante se insurge contra a quantia arbitrada na origem a título de

7 RO Fl. 7 indenização por dano moral. Entende que o valor de R$ 6.000,00 não atende às funções reparadora e inibitória. Transcreve jurisprudência e pede a reforma da sentença para ver majorado o quantum em questão. Examino. Tenho que a indenização por danos morais deve contemplar as funções compensatória, punitiva e socioeducativa. Enquanto a primeira diz respeito à tentativa de amenizar o sofrimento vivido pelo trabalhador, as duas últimas levam em conta o perfil do ofensor. Assim, devem ser considerados para a fixação da indenização informações diversas como a situação econômica da empresa, a remuneração do empregado, o tempo de duração do contrato de trabalho e a extensão do dano, entre outras que o julgador entender relevantes. A indenização resultante deve ser suficientemente capaz de propiciar ao trabalhador a sensação de que lhe foi feita Justiça, sem produzir o enriquecimento da vítima, inibindo o empregador de condutas comissivas ou omissivas lesivas aos seus empregados. No caso concreto, o reclamante foi submetido a nada menos do que 11 assaltos, circunstância que, por si mesma, já escancara que o arbitramento no patamar lançado na sentença apelada não atende aos imperativos pedagógico e compensatório. Assim, observados os critérios sugeridos pela doutrina, tenho por adequado majorar o valor arbitrado na origem para R$ ,00, por considerar que tal quantia se mostra compatível com a conduta comprovada nos autos e praticada pela reclamada, bem como com o grau da culpa, o porte do dano e o caráter pedagógico da pena.

8 RO Fl. 8 Assim, dou provimento parcial ao recurso do reclamante para majorar a indenização por danos morais para R$ ,00 (quinze mil reais), em quantia atual, valor sobre o qual deverão incidir correção monetária a partir da publicação deste acórdão e juros a partir do ajuizamento da ação (Súmulas 50 e 54 deste Regional). QUEBRA DE CAIXA O reclamante pede a reforma da decisão quanto à quebra de caixa. Afirma que era obrigado a restituir à empresa qualquer diferença existente em sua prestação de contas, ainda que decorrente de passageiros que não pagaram, dinheiro falso ou passagens falsas. Analiso. O reclamante foi contratado em 01/10/2008 para exercer a função de cobrador, o que fez até sua despedida em 17/06/2013. De plano, cumpre salientar, como bem fez a Magistrada singular, que o adicional de quebra de caixa não possui previsão legal, sendo assegurado apenas na hipótese de existência de norma coletiva concedendo o pagamento à categoria, ou quando inserido no contrato de trabalho. E nenhuma destas hipóteses se verifica nos autos. Não fosse tal circunstância, é de fácil constatação a partir da leitura dos comprovantes de pagamento do reclamante que nenhum desconto a título de quebra de caixa foi realizado pela reclamada, como bem se extrai das fls. 87/113. Especificamente quanto à rubrica "prestação de contas" se constata ser o

9 RO Fl. 9 autor sempre credor e não devedor de valores. Por falta de prova quanto ao direito vindicado, nego provimento ao apelo forte nas normas dos artigos 818 da CLT e 333, I, do CPC. PARTICIPARAM DO JULGAMENTO: DESEMBARGADOR GILBERTO SOUZA DOS SANTOS (RELATOR) DESEMBARGADOR RICARDO CARVALHO FRAGA DESEMBARGADORA MARIA MADALENA TELESCA