Cuidado maternal em Paratemnoides nidificator (Arachnida: Pseudoscorpiones): reconhecimento dos filhotes e dedicação maternal
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- Fernanda Taveira Canto
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1 Cuidado maternal em Paratemnoides nidificator (Arachnida: Pseudoscorpiones): reconhecimento dos filhotes e dedicação maternal Alinne Ferreira Silva Tizo (IC)*, Everton Tizo-Pedroso (PQ) Universidade Estadual de Goiás. Licenciatura em Ciências Biológicas. Câmpus Morrinhos, Goiás. alinneftizo@gmail.com Palavras-chave: Comportamento social; Cuidado parental; Aracnídeos; Valor adaptativo; Seleção de Parentesco. Introdução A ordem Pseudoscorpiones é amplamente diversificada, possuindo atualmente mais de 3400 espécies descritas em 425 gêneros e 24 famílias, representando 3,3% de todos os aracnídeos conhecidos (HARVEY, 2011). Os pseudoescorpiões são pequenos animais solitários (2-8 mm) que, geralmente, se comportam agressivamente em contatos intraespecíficos (WEYGOLDT, 1969; HARVEY, 1986). Contudo, algumas espécies da família Atemnidae podem viver em grandes colônias (DEL-CLARO; TIZO- PEDROSO, 2009). O conhecimento da biologia e comportamentos dos pseudoescorpiões ainda é muito fragmentado. Porém, acredita-se que o cuidado maternal ocorra em todas as espécies, porém variando em complexidade. Em Paratemnoides nidificator o cuidado maternal é obrigatório (TIZO-PEDROSO; DEL-CLARO, 2008; 2011). Os filhotes recebem alimento e proteção principalmente das fêmeas. A espécie apresenta cuidado maternal cooperativo, ocasião em que várias fêmeas atuam no cuidado dos filhotes da colônia. Entretanto, não se sabe se o cuidado maternal cooperativo surgiu a partir da falha do reconhecimento dos próprios filhotes pelas fêmeas ou se surgiu como uma estratégia mais elaborada de cuidado à prole. Assim, o objetivo deste estudo foi avaliar a capacidade de reconhecimento dos próprios filhotes por fêmeas do pseudoescorpião social Paratemnoides nidificator. Material e Métodos Para a análise do cuidado maternal, colônias experimentais de pseudoescorpiões foram preparadas em laboratório, da UEG, câmpus Morrinhos. As
2 colônias matrizes foram coletadas em cidades do estado de Goiás e também do triângulo mineiro. No primeiro experimento, 40 fêmeas portando bolsa incubadora foram selecionadas. A bolsa incubadora foi removida da fêmea e colocada em uma das extremidades de uma Placa de Petri. A placa foi previamente forrada com papel vegetal para aderência e proteção da bolsa incubadora. Na extremidade oposta de 20 placas, foi colocada a bolsa incubadora de uma fêmea aparentada (provinda da mesma colônia), enquanto nas outras 20 placas, colocou-se na extremidade oposta uma bolsa incubadora de uma fêmea não-aparentada (provinda de colônia diferente). No fundo da placa de Petri colocou-se uma marcação com canetinha azul, logo abaixo da bolsa incubadora, para indicar a bolsa da própria fêmea e uma marcação vermelha para indicar a posição dos embriões de segunda fêmea. Após isso, a progenitora de P. nidificator foi colocada na área central da placa de Petri. Posteriormente, em intervalos de 12 horas (até perfazer o período máximo de 72 horas) registrou-se se a mãe se reorientou em relação à própria bolsa incubadora (registrou-se qual o tempo necessário para a localização), se reconstruiu a câmara de seda para proteção dos embriões (qual o tempo necessário para a reconstrução) e se permaneceu até a eclosão das ninfas. O número de acertos foi comparado com as condições, escolha da própria bolsa incubadora, bolsa da fêmea aparentada ou nãoaparentada com o teste de Chi-quadrado para proporções observadas versus proporções esperadas. No segundo experimento, 30 fêmeas em fase de cuidado de protoninfas foram selecionadas em suas colônias de origem. Foram preparadas 30 placas de Petri (forradas com papel vegetal) para os experimentos, sendo que, no primeiro grupo (15 placas) foram adicionados em cada placa 5 filhotes da própria fêmea e 5 filhotes aparentados (retirados da colônia de origem da fêmea). No segundo grupo (as 15 placas restantes), foram adicionados em cada placa 5 filhotes da própria fêmea e 5 filhotes não-aparentados (retirados de colônias coletadas em outras localidades). A fragilidade e o tamanho muito reduzido dos filhotes nessa fase de desenvolvimento impediu o uso de marcação para a diferenciação das crias. Cerca de 60 minutos após inserir todos os filhotes nas placas, as fêmeas foram colocadas na parte central da placa de vidro. Primeiramente, observou-se a aceitação dos filhotes pelas fêmeas. Ao longo do período de desenvolvimento pós-embrionário, a mortalidade de filhotes
3 também foi anotada. Aplicou-se o teste de Mann-Whitney, primeiramente, para analisar as medianas da sobrevivência entre ninhadas com filhotes aparentados e não-aparentados, e depois para comparar as medianas da mortalidade por canibalismo em relação às condições experimentais. Resultados e Discussão No primeiro experimento a proporção de acerto foi de 70% (Chi-quadrado Obs vs Exp=16,00; GL=1; p=0,00006). Na segunda condição, com fêmea exposta aos próprios embriões e exposta também à embriões de fêmea não-aparentada, a proporção de acerto foi de 85% (Chi-quadrado Obs vs Exp=49,00; GL=1; p= ). No segundo experimento, observou-se que a proporção média de filhotes vivos até a última ecdise, em ninhadas com a adição de filhotes aparentados, foi de 68% (±9.41%), enquanto a proporção média de filhotes vivos até a última ecdise, com a inclusão de filhotes não-aparentados foi menor, 40,67% (±12,80%). A análise estatística indicou que a sobrevivência dos filhotes foi significativamente maior nas ninhadas em que os filhotes eram aparentados (teste U=9,00; N=15; p<0,0001). Além disso, nas colônias com ninhadas mistas, aquelas envolvendo filhotes de fêmeas nãoaparentadas, a mortalidade de filhotes causada por canibalismo entre filhotes foi significativamente maior (X=3,87±1,30 filhotes) do que em colônias com ninhadas aparentadas (X=0,80±0,86 filhote) (teste U=4,00; N=15; p«0,0001). O reconhecimento entre indivíduos aparentados constitui-se um importante elemento nas sociedades de vertebrados e invertebrados (GRIFIN; WEST, 2003). O reconhecimento favorece a coesão entre os indivíduos, a realização de comportamentos cooperativos, o forrageamento e a manutenção das colônias ou ninhadas, a comunicação, assim como o cuidado parental cooperativo (HAMILTON, 1964; WILSON, 1971; GADAGKAR, 2006). A seleção de parentesco deve favorecer a ocorrência de nepotismo e o compartilhamento de recursos preferencialmente entre indivíduos aparentados (SILK, 2009). Considerações Finais Os experimentos indicaram que as fêmeas de P. nidificator são capazes de reconhecer seus próprios filhotes. Este comportamento deve ampliar a coesão do
4 grupo, permitindo que, em um grupo social, as fêmeas invistam em cuidados dos seus próprios filhotes. Agradecimentos Agradecemos à Universidade Estadual de Goiás pelo suporte para a realização deste estudo e pela concessão de bolsa de Iniciação Científica (BIC). Referências DEL-CLARO, K.; TIZO-PEDROSO, E. Ecological and evolutionary pathways of social behavior in pseudoscorpions (Arachnida: Pseudoscorpiones). Acta Ethologica, v. 12, n. 1, p , GADAGKAR, R. The Other Insect Societies. Science, v. 314, n. 5804, p , GRIFIN, A. S.; WEST, S. A. Kin discrimination and the benefit of helping in cooperatively breeding vertebrates. Science, v. 302, p , HAMILTON, W. D. The genetical evolution of social behaviour I and II. Journal of Theoretical Biology, v. 7, p. 1-52, HARVEY, M. S. The systematics and biology of pseudoscorpions. In: AUSTIN, A. D. & HEATHER, N. W. (Ed.). Australian Arachnology. Brisbane: Australian Entomological Society., p HARVEY, M. S. Pseudoscorpions of the World., Disponível em: < >. Acesso em: 10/27/2015. SILK, J. B. Nepotistic cooperation in non-human primate groups. Philos Trans R Soc Lond B Biol Sci, v. 364, n. 1533, p , Nov TIZO-PEDROSO, E.; DEL-CLARO, K. A Sociedade Secreta dos Pseudoescorpiões. Ciência Hoje, v. 42, p , TIZO-PEDROSO, E.; DEL-CLARO, K. Is there division of labor in cooperative pseudoscorpions? An analysis of the behavioral repertoire of a tropical species. Ethology, v. 117, n. 6, p , 2011.
5 WEYGOLDT, P. The biology of pseudoscorpions. Cambridge: Harvard University Press, WILSON, E. O. The Insect Societies. Cambridge: Harvard University Press,
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