ORIENTAÇÃO CARDIAL DE PARCELAS EXPERIMENTAIS Ε RADIAÇÃO SOLAR*
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- Talita Caetano Lopes
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1 ORIENTAÇÃO CARDIAL DE PARCELAS EXPERIMENTAIS Ε RADIAÇÃO SOLAR* Zilmar Z. Marcos** Antonio Cadima Z.*** Nilson A. Villa Nova**** RESUMO O efeito da orientação cardial de uma parcela experimental sobre a variação de temperatura do solo foi estudado. Verificou-se que à latitude de 15 S, a parcela com uma inclinação de rampa de 5% apresentou diferenças mensuráveis entre as temperaturas do solo nas diversas faces de exposição, sendo mais salientes as diferenças entre as faces Norte e Sul. Os dados obtidos foram coerentes com as determinações de radiação solar recebida. * Entregue para publicação em Parte do trabalho de dissertação de Mestrado, apresentada à ESALQ/USP por A. Cadima Z., em ** Departamento de Solos, Geologia e Fertilizantes, E.S.A. "Luiz de Queiroz", USP. *** Centro de Pesquisas do Cacau, CEPLAC. **** Departamento de Física e Meteorologia, E.S.A. "Luiz de Queiroz", USP.
2 INTRODUÇÃO A orientação cardial de parcelas, em experimentos de campo, deve receber especial atenção nos casos em que varia çoes na temperatura do solo, balanços de energia e radiação" solar sejam considerados de importância para os efeitos que se pretende observar. Esta orientação se refere nao so às parcelas em sí, como também às linhas de plantas nas parcelas. Ha espécies vegetais cujo ciclo vegetativo, desde a germinação ate a frutificação, abrange mais de uma estação climática; consequentemente, estão sujeitas à variações ter micas, em função dos ângulos zenital e azimutal da radiação" solar, durante seu crescimento e desenvolvimento. Estas va riaçoes sao, por sua vez, afetadas pela situação geográfica e topográfica do local onde se encontra o experimento. Os trabalhos sobre o efeito da orientação de parcelas sobre o regime térmico do solo, em condições de campo, sao relativamente escassos na literatura, embora o método para a sua avaliação nao seja complexo. VILLA NOVA et alii (1974) apresentaram uma programação, para analise em computador, das equações básicas que permitem determinar a energia solar recebida pela superfície do terreno, na ausência de atmosfera, no decorrer do ano. Nesse trabalho os autores apresentaram a tabulaçao completa da radiação solar men sal para latitudes de 5 N a 45 S, combinadas com declives de 0 a 90. No presente trabalho os autores relatam observações fei tas em um experimento de campo com cacaueiro (CADIMA & MAR COS, 1978), com o intuito de verificar o efeito da variação do angulo de incidência da radiação solar sobre a variação de umidade do solo MATERIAL Ε MÉTODOS 0 experimento, descrito anteriormente por CADIMA & MAR COS (1978), foi conduzido em 1975, dentro da area do Centro
3 de Pesquisas de Cacau (CEPEC), situado no km 22 da Rodovia Ilheus-Itabuna, Estado da Bahia, nos arredores do ponto em que o meridiano de intercepta o paralelo de T. 0 clima da região onde se localiza o CEPEC enquadra-se, segundo Lopes da Costa, citado por SILVA & MELO (1970), no tipo Af de Koppen, caracterizando-se por apresentar um clima de selvas, quente e úmido, sem estação seca. 0 solo da ãrea foi classificado por SILVA & MELO (1970) como pertencente â serie Germoplasma, compreendendo solos com Β textural, saturação de bases alta, argila de atividade alta, medianamente profundos, argilosos, bem drenados e de permeabilidade moderada. 0 experimento constou, basicamente, de um bloco de terra com 6 cacaueiros. Este bloco, tendo as dimensões de 6mx9mx2m, foi isolado do restante do terreno por uma valeta de 0,70m, escavada ao seu redor. Foi, em seguida, irrigado ate a saturação e recoberto com um lençol plástico de cor preta com as dimensões de 10mxl3m. Foram colocados geo^ termômetros nas quatro faces verticais do bloco, as profundidades de 2cm e 10cm. A Figura 1 mostra, esquematicamente, as dimensões e orientação do bloco e disposição dos cacaueiros com seus respectivos números de ordem. As leituras de temperatura foram feitas durante o mesmo período em que foram efetuadas as amostragens para a determinação de umidade do solo, isto e, durante os meses de Agosto, Setembro e Outubro. Foram estabelecidos tres horários para as leituras: 9, 12 e 15 horas. CALCULO DE ÂNGULOS ZENITAIS Os ângulos zenitais para o local do experimento foram calculados para o 15 dia dos meses de Agosto, Setembro, Ou tubro, Novembro e Dezembro, por meio da equação astronômica básica: Cos Zn = sen6sen({) + cos6cos(j)cos h (1)
4 onde, Zn = angulo zenital da hora o = declmaçao do dia φ = latitude do local h = angulo horário Os valores de δ, φ e h para a situação da parcela neste trabalho foram os seguintes: a) declinaçao do dia - fornecidos por tabelas astronômicas, os valores de δ foram os seguintes para o 159 dia de cada mes do período experimental: 15 de Agosto = +14,06 15 de Set. = + 3,07 15 de Out. = - 8,48 15 de Nov. = - 8,45 15 de Dez. = -23,25 b) latitude do local - para a parcela experimental = - 14,75 c) angulo horário - para os horários de observação, 9, 12 e 15 horas tem os valores de 45, 0 e 45, respectivamente. Substituindo os valores apropriados na Equação 1, foram obtidos os valores dos ângulos zenitais apresentados na Tabela 1. ENERGIA SOLAR RECEBIDA Os valores da energia solar recebida ao nível do solo ao longo do ano por rampas com inclinação variando entre 0 a 90 foram determinados por VILLA NOVA et al%i (1974). As tabelas apresentadas por esses autores para a latitude de 15 e orientações Norte e Sul sao reproduzidas na Tabela 2.
5 Os dados de VILLA NOVA et alii (1974) foram obtidos em termos de cal/cm^/dia e correspondem â radiação direta ao nível do solo, desprezando-se o efeito da atmosfera. Embora o efeito amortecedor da atmosfera tenha sido desprezado, os dados permitem ter uma idéia relativa da disponibili dade de energia para as diversas exposições de superfícies de terrenos ao longo do ano. RESULTADOS Os dados médios de temperatura do solo obtidos sao a- presentados na Tabela 3. Estes dados correspondem à media de duas leituras. Comparando os dados de temperatura da Tabela 3 com os relacionados na Tabela 2, observa-se que para a inclinação de 59 a energia solar recebida durante o mes de Agosto e maior para a orientação Norte (769) do que para a orientação Sul (677). Coincidentemente a temperatura do bloco experimental para esse mes foi maior na face Norte em todos os tres horários de observação e nas duas profundidades estudadas. Esta mesma observação e valida para os meses de Setembro e Outubro. A soma da temperatura dos tres horários para a face Norte excede a soma da face Sul em cerca de 10 para os tres meses considerados.
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8 A Figura 2 mostra uma representação esquematica da variação do angulo zenital em relação ao plano da superfície do bloco experimental. Observa-se que durante os tres meses em que as leituras de temperatura do solo foram feitas (Agosto, Setembro e Outubro), os ângulos localizam-se no quadrante Norte. Considerando-se que a rampa da parcela ex perimental tinha uma inclinação de 5%, que corresponde a 2,86, os ângulos zenitais tomados em relação à normal da superfície de reflexão teriam um valor menor que os calcula dos (diminuídos de 2,86 ), Ainda assim a declinaçao seria para o Norte. Consequentemente a face Norte a latitude de 15 aquece mais que a face Sul ate o mes de Outubro. Como se pode deduzir das Tabelas 2 e 3, a face Sul aquece mais que a face Norte a partir do mes de Novembro. Estas considerações explicam as variações de temperatura observadas entre as faces do bloco experimental. As observações relatadas neste trabalho permitiram explicar em parte, as variações de umidade do solo do experi mento original descrito por CADIMA & MARCOS (1978). 0 efei r to da radiação solar e considerado de importância para a correta interpretação dos dados de umidade do solo. CONCLUSÕES Os dados apresentados permitem concluir que ha uma relação direta entre a orientação cardial de parcelas experimentais e a quantidade de radiação solar recebida â sua superfície. Esta relação ê variável durante o decorrer do ano. Alem disso verifica-se que a face que recebe radiação mais intensa pode mudar de norte para sul durante o ano e que a significação desta mudança para a interpretação de re sultados experimentais esta relacionada ã latitude do local onde se situa a parcela. Esses efeitos sao particularmente importantes em terrenos inclinados como se observou neste trabalho em que a parcela tinha uma inclinação de 5%. Para terrenos com inclinações maiores deve-se esperar que as diferenças de radiação recebida entre as faces de exposição sejam mais acentuadas.
9 SUMMARY ORIENTATION OF EXPERIMENTAL PLOTS AS RELATED TO SOLAR RADIATION The effects of cardinal orientation of experimental plots on soil temperature were studied. The results indicated that the experimental plot located at 15 S latitude, with a 5% slope, had distinct soil temperatures in the north face as compared with the south face. The soil temperature data was coherent with previously published soil radiation measurements. LITERATURA CITADA CADIMA, Z.A.; MARCOS, Z.Z., Absorção de água pelo ca caueiro. Revista Theobroma, Itabuna (aceito para publicação). SILVA, L.F.; MELO, A.A.A. de, Levantamento detalhado dos solos do Centro de Pesquisas do Cacau. Itabuna, Bahia, CEPLAC, 86 p. (Boletim Técnico nº 1). VILLA NOVA, N.A.; GODOI, C.R. de Melo; FERRAZ, Ε.S.Β.; OMETTO, J.C.; DECICO, A.A.; PEDRO JUNIOR, M.J., Radiação solar disponível a diferentes exposições na ausência da atmosfera (radiação direta). Universidade Federal da Paraíba, Centro de Tecnologia, Laboratório de Energia Solar, Ano I.
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