RELATÓRIO. Klaus Kuschel HABEAS CORPUS N /AM

Transcrição

1 RELATÓRIO ROBERTO ANDRÉ XAVIER BEZERRA, advogado, impetra Habeas Corpus em favor de OSMAR NONATO DA SILVA FILHO, condenado nas sanções do artigo 297, do Código Penal, por sentença proferida pelo MM. Juiz Federal da 4ª Vara da Seção Judiciária do Estado do Amazonas, nos autos da Ação Penal n //AM, à pena de 02 (dois) anos e 02 (dois) meses de reclusão, substituída por duas restritivas de direito em que o Paciente prestaria serviços à comunidade em instituição determinada na própria sentença, bem como o pagamento de multa arbitrada em dois salários mínimos, tendo sido preso por descumprimento da pena alternativa, objetivando a sua revogação. Alega o Impetrante que, após trânsito em julgado da sentença condenatória, o Paciente foi intimado a cumprir imediatamente a pena, mas não cumpriu ; foi intimado a informar porque não estava cumprindo, mas manteve-se inerte, portanto, a Autoridade Coatora decretou a regressão do regime prisional para o Regime Semi-Aberto, mandando expedir Mandado de Prisão, que foi cumprido em Sustenta, em síntese, que não obstante a referida inércia, a decisão de regredir o regime prisional sem a oitiva do Réu, transgrediu o disposto no 2º do artigo 118 da Lei de Execuções Penais, portanto, flagrante está o cerceamento de defesa do Paciente que não teve a oportunidade de se manifestar sobre a regressão do regime prisional, tornando a prisão um constrangimento ilegal e, bem assim, que não houve defesa técnica que assegurasse os direitos constitucionais do Paciente, uma vez que o Defensor Dativo do Paciente foi intimado por diversas vezes e não compareceu em Juízo (fls. 04, 06 e 12). E, ainda, que além de ter causado constrangimento ilegal ao Paciente, a decisão impugnada foi decretada de forma equivocada, tendo em vista que a Autoridade Coatora deveria ter regredido ao Regime Aberto, conforme determinado na sentença como sendo o regime definitivo e inicial de cumprimento da pena, resultando em uma reformatio in pejus sem a oitiva do Paciente (fl. 04).

2 2 O eminente Desembargador Federal MÁRIO CÉSAR RIBEIRO deferiu o pedido de liminar (fls. 383/385) e as informações foram prestadas à fl Por Petição de fls. 405/406, o Impetrante requer o cumprimento da liminar que concedeu ao Paciente o direito de cumprir a pena no regime aberto. O Ministério Público Federal interpôs AGRAVO REGIMENTAL (fls. 411/414), não provido pela 4º Turma (fls. 430/435) e, às fls. 441/444, opinou pela denegação da ordem. É o relatório. Juiz Federal Relator Convocado

3 VOTO Consta dos autos que o Paciente OSMAR NONATO DA SILVA FILHO foi condenado a 02 (dois) anos e 02 (dois) meses de reclusão, beneficiado com suspensão da pena privativa de liberdade por restritivas de direitos, pela prática do crime previsto no artigo 297 do Código Penal. E, ainda, que o Paciente deixou de cumprir a suspensão condicional da pena, tendo sido preso, por decisão do MM. Juiz Federal da 4ª Vara da Seção Judiciária do Estado do Amazonas, em regime semi-aberto. O eminente Desembargador Federal MÁRIO CÉSAR RIBEIRO deferiu o pedido de liminar apenas e tão-somente para assegurar ao Paciente, OSMAR NONATO DA SILVA FILHO, o restabelecimento do regime aberto de cumprimento da pena, tal como fixado na sentença condenatória (fls. 358/364), determinando ao Juiz Singular a observância do disposto no 2º do artigo 118 da Lei de Execução Penal (fls. 383/385). A egrégia Quarta Turma desta Corte, acompanhando o Voto do eminente Relator, por unanimidade, negou provimento ao AGRAVO REGIMENTAL interposto pelo Ministério Público Federal nos seguintes termos: Tem a decisão agravada (fls. 221/223) o seguinte teor: Compulsando os presentes autos verifico que o MM. Juiz Singular, a vista do descumprimento das penas restritivas de direito decorrentes de sentença condenatória transitada em julgado (fl. 25), por Decisão de fl. 68/70, ato ora impugnado, decretou a regressão do regime prisional (do aberto para o semi-aberto) e, em consequência, a prisão do condenado, ora Paciente, que restou efetivada em (fl. 113). Referida medida tem por fundamento o artigo 118, 1º, da Lei de Execução Penal, segundo o qual, a execução da

4 2 pena privativa de liberdade ficará sujeita à forma regressiva, com a transferência para qualquer dos regimes mais rigorosos, quando o condenado: I praticar fato definido como crime doloso ou falta grave (...) grifei. E, também, o 2º do artigo 36 do Código Penal, que por sua vez estabelece: O condenado será transferido do regime aberto, se praticar fato definido como crime doloso, se frustrar os fins da execução ou se, podendo, não pagar a multa cumulativamente aplicada (grifei). Por outro lado, preconiza o artigo 50, inciso V, que comete falta grave o condenado que descumprir, no regime aberto, as condições impostas. É o que, em exame provisório, se verifica na espécie. Com efeito, embora conste nos autos que o condenado promoveu o pagamento da multa e custas (fl. 113), não se desincumbiu do cumprimento da pena concernente à prestação de serviços à comunidade, no caso, ao Instituto Filippo Smaldone, da Congregação Irmãs Salesianas dos Sagrados Corações (fl. 68). Não obstante isso, é certo que, consoante os termos do 2º do mencionado artigo 118 da Lei de Execução Penal, antes da regressão, é assegurado ao condenado o exercício da ampla defesa, ao dispor que nas hipóteses do inciso I e de seu 1º, deverá ser ouvido previamente, o que não tendo sido observado na espécie, caracteriza constrangimento ilegal. Por tais razões e fundamentos, defiro o pedido de liminar, apenas e tão-somente para assegurar ao Paciente, OSMAR NONATO DA SILVA FILHO, o restabelecimento do regime aberto de cumprimento da pena, tal como fixado na sentença condenatória (fls. 358/364), determinando ao Juiz Singular a observância do disposto no 2º do artigo 118 da Lei de Execução Penal. (fls. 384/385 grifado no original) Pois bem, por intermédio de Agravo Regimental, o Agravante MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL sustenta que essa decisão merece reforma, nesses termos que destaco: (...) o próprio impetrante reconheceu que transitada em julgado a sentença o Paciente foi intimado a cumprir

5 3 imediatamente a pena, mas não cumpriu, foi intimado a informar porque não estava cumprindo, mas manteve-se inerte (ênfase acrescida, fl. 03). Ora, não há neste proceder qualquer ilegalidade. O artigo 118 da Lei n /1984 expressamente prevê a possibilidade de regressão de regime em casos que tais: (...) Além disso, é desnecessária a oitiva do acusado quando ele, por sua vontade, deixa de atender intimação pessoal realizada para tal finalidade. Isto já proclamou o Superior Tribunal de Justiça: 6. Não há a alegada incompetência do Juízo para o exame da regressão de regime do condenado ou ofensa à Lei de Execuções Penais, se o Juiz sentenciante também é o responsável pela execução da pena. 7. Tendo sido oportunizado ao paciente apresentar justificativa ao descumprimento das condições impostas ao regime aberto, com a sua devida intimação antes da decisão que determinou a regressão do condenado ao regime semi-aberto, não há que se falar em ofensa aos princípios da ampla defesa e do contraditório, diante de sua inércia. 8. Ordem denegada, em conformidade com o parecer ministerial. (HC n /GO, rel. Min. NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, DJe ) Entendimento diverso faria tabula rasa do quanto dispõe o artigo 118 da Lei de Execuções Penais, uma vez que o magistrado não pode obrigar o condenado a se pronunciar em semelhante hipótese. Facultado o exercício do contraditório, nos termos da lei, não há falar em ilegalidade, sob pena de chancelar a própria torpeza do paciente: nemo auditur propriam turpitudinem allegans. (fls. 412/413 grifo original) Vejamos. Compulsando os presentes autos, verifico que do ato impugnado pelo presente Habeas Corpus constou o seguinte relatório:

6 4 (...) O condenado foi intimado a iniciar o cumprimento de sua pena na instituição indicada na sentença, assim como para adimplir o valor imposto por sentença a título de multa e custas (fl. 245). Por via do ofício n. 46/2006 (fl. 248) a Coordenadora da Congregação das Irmãs Salesianas dos Sagrados Corações INSTITUTO FILIPPO SMALDONE noticiou que o apenado não compareceu nenhum dia para prestar serviços para aquela entidade (fl. 248). Instado a opinar a respeito, o órgão ministerial veio aos autos para requerer a intimação do sentenciado para que justificasse sua inadimplência e, em caso de inércia, fosse deferida a conversão em pena privativa de liberdade, com espeque no artigo 44, 4º, do Estatuto Penal Repressivo Brasileiro (fls. 252/254). O Defensor Dativo do sentenciado e este foram intimados para que adotassem a providência acima aludida (fls. 259 e 262 verso) e nada aludiram a respeito em prazo superior a trinta dias. Por intermédio da promoção lançada às fls.265/266, o parquet federal requereu a conversão da pena restritiva de direitos em privativa de liberdade, com a consequente expedição de mandado de prisão (fls. 265/266). O Defensor Dativo do condenado foi novamente intimado sobre o conteúdo do despacho proferido na fl. 255 (fl. 271) e manteve-se inerte até o presente momento. (fls. 68/69 grifo original) Diante desse contexto, verifica-se, portanto, que a intimação a que se refere o Ministério Público Federal em suas razões de agravo foi efetivada para os fins do 4º do artigo 44, do Código Penal, que assim dispõe: A pena restritiva de direitos converte-se em privativa de liberdade quando ocorrer o descumprimento injustificado da restrição imposta. No cálculo da pena privativa de liberdade a executar será deduzido o tempo cumprido da pena restritiva de

7 5 direitos, respeitado o saldo mínimo de trinta dias de detenção ou reclusão. Ora, cuida a hipótese da necessária e prévia audiência do condenado, prevista no 2º do artigo 118, da Lei de Execução Penal (Lei n /1984), que assim estabelece: Nas hipóteses do inciso I [Art A execução da pena privativa de liberdade ficará sujeita à forma regressiva, com a transferência para qualquer dos regimes mais rigorosos, quando o condenado: I praticar fato definido como crime doloso ou falta grave] e do parágrafo anterior [ 1º O condenado será transferido do regime aberto se, além das hipóteses referidas nos incisos anteriores, frustrar os fins da execução ou não pagar, podendo, a multa cumulativamente imposta], deverá ser ouvido, previamente, o condenado. (grifei) A propósito, nesse sentido já decidiu o egrégio Superior Tribunal de Justiça: Para a determinação de regressão de regime prisional em virtude do cometimento de falta grave, faz-se necessária a prévia audiência do condenado, em harmonia com o que dispõe o 2º do artigo 118 da Lei n /1984 (REsp n /RJ, 6ª Turma, DJe grifei). De acrescentar, ademais, que a autoridade ora impetrada, o Juízo Federal da 4ª Vara da Seção Judiciária do Estado do Amazonas, foi quem determinou a intimação do condenado para os fins do 4º do artigo 44, do Código Penal (cf. o Despacho de fl. 255, trazido por cópia à fl. 48 destes autos). Ocorre, porém, que o exame da regressão de regime, na espécie, compete ao Juízo da Execução Penal, no caso o MM. Juiz de Direito da Vara de Execuções Penais do Estado do Amazonas. Com efeito, à fl. 396, ao prestar informações, assim se manifestou a MMª Juíza Federal Substituta ANA PAULA SERIZAWA SILVA PODEDWORNY, respondendo pela titularidade da 4ª Vara/AM: (...) reportando-me ao TELEFAX/CTUR4/2009, informo a Vossa Excelência que, em razão de decisão declinatória de competência, o processo em epígrafe foi remetido à Vara de Execução da Justiça Estadual/AM, no dia ,

8 6 através do Ofício SECRI n. 435/2009, motivo pelo qual encaminhei o referido TELEFAX àquele Juízo para cumprimento da decisão exarada no HC n /AM. Anexo: cópias do Ofício SECRI n. 435/2009, despacho, certidão e espelho de consulta processual. (grifei) Não tem aplicação, portanto, na espécie, o precedente do Superior Tribunal de Justiça, consubstanciado no HC n /GO, que afirma inexistir incompetência do Juízo para o exame da regressão de regime do condenado ou ofensa à Lei de Execuções Penais, se o Juiz sentenciante também é o responsável pela execução da pena, o que não ocorre, no caso. Isso posto, por tais razões e fundamentos, nego provimento ao Agravo Regimental (grifei fls. 430/435). O v. Acórdão está assim ementado: HABEAS CORPUS. AGRAVO REGIMENTAL. REGRESSÃO DE REGIME. PRÉVIA AUDIÊNCIA DO CONDENADO (LEP, ART. 118, 2º). 1. Para a determinação de regressão de regime prisional em virtude do cometimento de falta grave, faz-se necessária a prévia audiência do condenado, nos termos do 2º, do artigo 118, da Lei de Execução Penal (Lei n /1984). 2. Agravo Regimental improvido (julgado em fl. 437). Pois bem, atento às disposições do artigo 2º e do artigo 118, inciso I e 1º e 2º, da Lei de Execução Penal, que assegura ao condenado, antes da regressão, o exercício da ampla defesa no direito de ser ouvido previamente (não observado no caso), o eminente Desembargador Federal MÁRIO CÉSAR RIBEIRO deferiu parcialmente o pedido de liminar, para assegurar à Paciente o restabelecimento do regime fixado na sentença para o cumprimento da pena. Acertada a decisão que deve ser confirmada, tendo em vista o que dispõe o artigo 118 da Lei de Execução Penal: A execução da pena privativa de liberdade ficará sujeita à forma regressiva, com a transferência para qualquer dos regimes mais rigorosos, quando o condenado: I - praticar fato definido como crime doloso ou falta grave;...

9 7 1 O condenado será transferido do regime aberto se, além das hipóteses referidas nos incisos anteriores, frustrar os fins da execução ou não pagar, podendo, a multa cumulativamente imposta. 2º Nas hipóteses do inciso I e do parágrafo anterior, deverá ser ouvido previamente o condenado. (grifei) Ante o exposto, concedo parcialmente a ordem confirmando os termos da decisão liminar deferida às fls. 383/385. É como voto. Juiz Federal Relator Convocado

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