Processo: 6660/17.6T9LSB Inquérito Referência: Data:
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- Ana Luiza Azenha de Sintra
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1 MINISTÉRIO PÚBLICO - Procuradoria da República da Comarca de Lisboa Telef: Fax: Mail: lisboa.diap@tribunais.org.pt Certificação CITIUS: Elaborado em: Exmo(a). Senhor(a) Andre Claro Amaral Ventura Avª de Pádua - Cond.Metrocity, Nº3- Edf.1 - Bloco C 4ºh Lisboa 6660/17.6T9LSB Processo: 6660/17.6T9LSB Inquérito Referência: Data: Assunto: Comunicação de arquivamento artºs 277º do CPP. Comunico a V. Exª, na qualidade de Denunciado, de que foi proferido despacho de arquivamento no Inquérito acima referenciado nos termos do art.º 277º do Código de Processo Penal. Segue em anexo cópia do despacho proferido. A presente notificação considera-se efetuada no 5.º dia útil posterior à data de expedição. O/A Técnico de Justiça Adjunto, Miguel Martins Solicita-se que, em caso de resposta, seja indicada a referência deste documento e n.º de processo Processado por computador 1 de 7
2 CONCLUSÃO (Termo eletrónico elaborado por Técnico de Justiça Principal Maria João M. L. C. Amaral) =CLS= Nuipc nº 6660/17.6T9LSB Despacho: Os autos têm a sua génese em exposição elaborada por Fabian Filipe Figueiredo, sociólogo e ao tempo candidato do Partido Bloco de Esquerda nas eleições autárquicas de 2017, à Camara Municipal de Loures, exposição que dirigiu à Procuradoria-Geral da República e onde dá conta de declarações e entrevistas aos órgãos de comunicação social prestadas por André Amaral Ventura, também ele candidato do PSD/CDS- PP áquela camara, onde o mesmo tece considerações sobre a comunidade cigana, considerações que classifica de discriminatórias. As entrevistas em causa foram concedidas, em ao Jornal online - Noticias ao Minuto e bem assim ao Jornal I, neste caso, em Posteriormente e por nele se denunciar a mesma matéria, reportada ao mesmo denunciado, só que desta feita participada ao Tribunal da Comarca de Lisboa Norte- Loures, veio a ser apenso aos autos o inquérito nº 19818/17.7T9LRS com génese em comunicação do Alto Comissariado para as Migrações, IP., na sequência de denúncia efectuada em formulário eletrónico pelo aludido Fabian Figueiredo e pela Associação Letras Nómadas. As declarações em causa levadas a efeito em período de campanha eleitoral mostram-se inseridas em entrevistas onde se pretende dar a conhecer o candidato não só 2 de 7
3 profissionalmente, como no seu dia-a-dia, bem como o que pensa do país nas mais diversas áreas e o que pensa do concelho a que se candidata e que ideais e soluções apresenta. Analisada a documentação verifica-se, assim que :. Na entrevista de 12.07, ao Jornal online, questionado enquanto candidato sobre políticas camarárias, o mesmo afirmou :. ( ) isto que vou dizer pode não ser muito popular, mas é a verdade. Temos tido uma excessiva tolerância com alguns grupos e minorias étnicas Não compreendo que haja pessoas à espera de reabilitação nas suas habitações, quando alguma família, por serem de etnia cigana, tem sempre a casa arranjada. Já para não falar que ocupam espaços ilegalmente e ninguém faz nada. Quem tem de trabalhar todos os dias para pagar as contas no final do mês olha para isto com enorme perplexidade. E já na entrevista de ao Jornal I, afirmou :. ( ) em Portugal temos uma cultura com dois tipos de coisas preocupantes: uma é haver grupos que, em termos de composição de rendimento, vivem quase exclusivamente de subsídios de Estado, outra é acharem que estão acima das regras de direito Eu tenho imensos relatos em Loures de situações em que são ocupados imoveis ilegalmente e a camara nada faz para os tirar de lá. Porquê? Porque seria racismo e xenofobia. Mas não é racismo é fazer cumprir a lei vários munícipes queixam-se de pessoas de etnia cigana que entram em transportes e nunca pagam e ainda geram desacatos. É preciso esclarecer o seguinte : o Estado de direito não pode ter medo de grupo nenhum nem de minorias nenhumas. ( ) A ideia de maioria e minoria inverteu-se a partir do momento em que as minorias se tornaram minorias de privilégio a etnia cigana, quer de Loures quer do resto do país, tem de interiorizar o manual do Estado de direito.. a etnia cigana tem de interiorizar o Estado de direito porque, para eles, as regras não são para lhes serem aplicadas. Há um sentimento enorme de impunidade, sentem que nada lhes vai acontecer... por medo de dizerem que estamos a ser fascistas, racistas, xenófobos. Sempre que alguém denuncia isto, acusam-no de racista e começam a falar em políticas de integração. A integração é o quê? Estarem em casas sem pagar, andarem de transportes públicos sem pagar? É não cumprirem a lei? Quem não cumpre as regras não pode utilizar espaços públicos. Se vou a loja do cidadão e 3 de 7
4 não tiro a senha, não sou atendido. Porque é que fico com a casa se não a pago? A Camara deve apoiar aqueles que precisam, não aqueles que não querem fazer nada ( ). Configuram tais declarações a prática de crime de discriminação racial, ilícito p.p. pelo artº 240º nº 2 al. b) do Código Penal? Tendente ao apuramento da eventual existência de tal crime ou de outro, procedeu-se à junção da edição imprensa do Jornal I e à inquirição de André Ventura que no depoimento que prestou é veemente em repudiar o caracter xenófobo ou rácico das declarações, propondo-se juntar recortes de noticias de jornais e outra documentação de onde tal decorre e dá conta que as suas afirmações assentam em estudos nacionais, nomeadamente de trabalho efectuado pelo Centro de Estudos para as Migrações e Relações Interculturais da Universidade Aberta com parceria com o Centro de Investigação e Estudos de Sociologia do Instituto Universitário de Lisboa, publicado em , bem como dos contactos com as comunidades, frisando o seu repúdio por partidos de extrema-direita ou pelo apoio dos mesmos às suas idéias. Dispõe o artº 240º nº 2 b) do CP : 2- Quem em reunião pública, por escrito destinado a divulgação ou através de qualquer meio de comunicação social ou sistema informático destinado à divulgação: a) ( ) b) difamar ou injuriar pessoa ou grupo de pessoas por causa da sua raça, cor, origem étnica ou nacional, religião, sexo, orientação sexual ou identidade de género, nomeadamente através da negação de crimes de guerra contra a paz e a humanidade, c) ( ) com intenção de incitar á discriminação racial, religiosa ou sexual, ou de a encorajar, é punido com pena de prisão de seis meses a cinco anos. 4 de 7
5 Após este breve enquadramento jurídico-penal desde já deixamos expresso que a factualidade denunciada não configura a prática do citado ilícito. Efectivamente, a indiciação do crime pressupõe que narrativa do agente, proferida nos meios e condições definidas no dispositivo legal, constituam em si um atentado à honra, ao bom nome e consideração da comunidade Cigana, uma desconsideração da mesma, um insulto à sua dignidade enquanto povo e, nessa medida, uma difamação, com o claro intuito de incitar ou encorajar ao odio e discriminação da mesma. Ora as expressões proferidas, porque também no âmbito da campanha eleitoral, mas na linha do que André Ventura tem expressado em exposições anteriores e subsequentes, são o que o mesmo apelida de constatação de realidades, que nomeadamente vieram a público num estudo elaborado pelo Centro de Estudos de Migrações e Relações interculturais da Universidade Aberta em parceria com o C.I.E.S do Instituto Universitário de Lisboa, apresentado publicamente em 2015 e que serviu de base ao lançamento do Observatório das Comunidades Ciganas e ao Fundo e Apoio e Estratégia Nacional, sendo tal estudo resultado de análise de documentos, medidas e programas de politica social e projectos de intervenção, revelando o mesmo inquéritos a pessoas da própria etnia mas também a representantes de instituições que mais próximo trabalham com a mesma. De acordo com tal estudo e como enfatizado pelo Alto - Comissário das Migrações, pese embora a evolução positiva da comunidade com a introdução do Rendimento Social de Inserção ( de que mais de metade das pessoas dependem para viver ) e com o impulso de políticas públicas; a escolaridade, o acesso ao trabalho ( sendo que só 15% depende do trabalho para viver e mais de metade nunca trabalharam ) são ainda dificuldades que assentam nas poucas qualificações escolares da comunidade cigana e do predomínio do trabalho por conta própria / venda ambulante. A conclusão que extraímos assenta também do depoimento prestado pelo denunciado onde expressa que não foi intenção do mesmo de difamar ou injuriar a comunidade, ou de apelar 5 de 7
6 ao racismo e odio social, mas alertar: que na sociedade há valores imperativos que não devem ser quebrados e relativamente aos quais não tolera a quebra. Sendo os problemas apontados comuns a outras comunidades e ao abordar os mesmos o que pretendeu foi chamar a atenção para as politicas que necessariamente devem ser adotadas com vista a combatê-los para que todos os cidadãos, independentemente de qualquer característica especial, sejam iguais perante a lei. Do conhecimento que enquanto cidadãos detemos do país e das suas realidades sociais, se excessos somos capazes de apontar ao denunciado cidadão, foi a forma generalista como colocou a questão ( o que necessariamente é de condenar ), mas não podemos deixar de considerar que as suas declarações lançaram o debate sobre os portugueses e as comunidades que os constituem enquanto Povo, e a reflexão sobre as politicas que urgentemente se impõe tomar por forma a uma unívoca e integral inserção de todos os cidadãos, e mais concretamente da comunidade cigana, como é seguramente anseio de todos. Pelos motivos expostos, não se vislumbra que o comportamento do denunciado configure quer do ponto de vista objetivo e quer subjectivo o citado crime, e nestes termos, determino o arquivamento dos autos, nos termos do artº 277º nº 2 do CPP. *. Comunique ao Alto Comissariado para as Migrações.. Comunique a André Ventura.. Consigno que vou comunicar superiormente, via correio electrónico. * Lisboa, ( processei e revi ) A Procuradora da República ( Emília Serrão ) 6 de 7
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