LARI Fact sheet Junho de Recentes negociações da Colômbia com as Farc, intermediadas pela Venezuela

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1 Universidade de Brasília Instituto de Relações Internacionais Programa de Educação Tutorial PET-REL LARI - Laboratório de Análise de Relações Internacionais LARI Fact sheet Junho de 2013 Recentes negociações da Colômbia com as Farc, intermediadas pela Venezuela 1. Objeto de Análise: As recentes negociações de paz entre Colômbia e as Forças Armadas Revolucionárias Colombianas (FARC), intermediadas pela Venezuela, gerando um acordo sobre a reforma agrária com o governo. 2. Palavras-chave: FARC, Colômbia, Juan Manuel Santos, reforma agrária, negociações de paz, guerrilha, terrorismo, Venezuela 3. Cronologia: 27 de maio de 1964: Soldados são enviados para reprimir camponeses rebelados no povoado de Marquetália. Esses camponeses fogem para as florestas e a data passa a ser considerada a fundação das FARC. 28 de Março de 1984: Trégua é declarada entre as FARC e o governo de Belisário Betancur. 1986: Partido da União Patriótica (UP), que teria ligações com os rebeldes, elege 14 congressistas 1987: Paramilitares de ultra direita começam perseguição contra membros da UP. Estima-se que 3 mil teriam morrido. 1º de Junho de 1991: Em Caracas, negociações entre as FARC e o governo colombiano são retomadas mais uma vez até junho de de Agosto de 1996: FARC sequestra 60 militares em ataque feito da base das Delícias. Tem início seqüestros em massa. 27 de agosto: Presidente Santos afirma que o governo colombiano começou negociações exploratórias com as FARC a fim de iniciar processo de paz. 1999: Presidente Andrés Pastrana oferece território de km² às FARC em diálogo com o grupo. Fevereiro de 2002: FARC sequestram um congressista colombiano, pondo fim às negociações com o presidente Pastrana. Três dias depois, Ingrid Betancourt, candidata a presidência, é também é sequestrada. Agosto de 2002: Uribe se torna presidente e promete derrotar a organização. O governo ataca base presidencial das FARC, deixando 21 mortos. 2003: FARC derrubam avião e seqüestram três americanos. 2008: São realizadas mundialmente marchas pelo combate as FARC e pela liberdade dos reféns do grupo. Março de 2008: Tropas colombianas invadem Equador, matando Raúl Reyes, número dois das FARC.

2 Maio de 2008: Guerrilha anuncia morte de Manuel Marulanda "Tirofijo, líder histórico da organização. Julho de 2008: Ingrid Betancourt, três americanos e mais 11 reféns são resgatados por tropas colombianas. 2 de Abril de 2012: Últimos 10 militares e policiais seqüestrados são libertos pelas FARC. 27 de agosto de 2012: Presidente Santos afirma que o governo colombiano começou negociações exploratórias com as FARC a fim de iniciar processo de paz. 30 de agosto de 2012: Analistas da BBC Brasil afirmam que inserção política dos membros das FARC e reforma agrária devem ser temas cruciais nas negociações. 04 de setembro de 2012: Timo León Jiménez confirma, em Havana, que as FARC deram inicio ao processo de negociação de paz com o governo. - Santos afirma que as negociações começaram na segunda quinzena de outubro, em Oslo. As conversas depois partirão para Havana. O presidente afirma que as negociações durarão meses, não anos. - União Europeia declara que a negociação é uma janela de oportunidade única para o fim da guerrilha no país - Ex-presidente Uribe afirma que as negociações de paz com as FARC seriam uma bofetada na democracia, afirmando que a única solução plausível seria a submissão do grupo à justiça. 05 de setembro de 2012: Governo colombiano forma equipe que irá negociar com as FARC, formada pro cinco membros, inclusive o ex-presidente colombiano Humberto de la Calle. 06 de setembro de 2012: FARC anuncia dois representantes que negociarão com o governo, afirmando querer incluir também Simón Trinidad, que está detido nos EUA, independentemente da repercussão que a inclusão de Simón trará. O grupo também afirma a necessidade de um cessar-fogo durante as negociações. 07 de setembro: Presidente Santos nega cessar-fogo durante negociações, colocando a situação em segundo plano por alguns meses. Janeiro de 2013: negociações de paz são retomadas em um ritmo mais acelerado, em Havana, por representantes do governo colombiano e das FARC. 26 de Maio de 2013: é anunciado um acordo preliminar sobre reforma agrária, buscando o desenvolvimento econômico e social nas zonas rurais, a fim de solucionar o conflito de mais de 50 anos. 29 de Maio de 2013: presidente colombiano e ex-candidato presidencial venezuelano (Henrique Capriles) gera reações negativas do governo venezuelano e das FARC. 03 de Junho de 2013: Colômbia demonstra interesse em entrar na Organização do Tratado Atlântico-Norte (OTAN), sendo repudiada pelos presidentes latino-americanos, especialmente pelo recentemente empossado na Venezuela, Nicolas Maduro. 08 de Junho de 2013: o Secretariado do Estado Maior Central das FARC declara que o encontro de Santos com Capriles revela um desejo de esvaziar a atmosfera de paz na Colômbia, conquistada pelas recentes negociações intermediadas pela Venezuela.

3 4. Contextualização 4.1 O surgimento e a extensão do conflito - Uma das principais questões que levaram à formação das FARC, em 1964, foi sua caracterização enquanto movimento comunista ligado à reforma agrária, corroborando a sua insurgência. - As FARC são a guerrilha mais antiga da América Latina. Na década de 80, o grupo já chegou a ter aproximadamente combatentes, espalhados por quase todo o país. Hoje, após forte combate do governo, as FARC se encontram apenas nas áreas rurais mais afastadas e tem cerca de combatentes. - No ano de 2000, os EUA criam o Plano Colômbia, com o objetivo de combater o narcotráfico, principalmente de cocaína, na Colômbia. O plano consistiu, então, no armamento das forças colombianas a fim de lutar contra o tráfico. Após mais de dez anos do início do plano, o narcotráfico não foi reduzido, mas as FARC se enfraqueceram. - Há alguns anos, a Venezuela foi acusada de ocultar os guerrilheiros em seu território, impedindo sua captura pelo governo colombiano. Mais recentemente, entretanto, a Venezuela vem tentando se estabelecer como um intermediador do conflito entre o governo da Colômbia e as FARC. 4.2 As negociações de paz - Os acordos preliminares alcançados no dia 26 de maio seriam retomados no dia 11 de junho para procurar alinhar algumas habilitações específicas (como maior participação política do movimento), no entanto, aparentemente após o encontro entre o presidente Santos e o candidato venezuelano Capriles, tal encontro foi cancelado ou adiado. - As últimas negociações de paz, iniciadas ao final de 2012 e retomadas efetivamente mais recentemente, com o apoio da Venezuela, têm obtido resultados mais expressivos, admitidos pelas duas partes (governo colombiano e liderança das FARC). Elas são a esperança de um eventual fim entre o conflito do governo da Colômbia com as FARC. - O que as FARC buscam com o fim do conflito armado com o governo é uma inserção política da organização, significando que o grupo não parará com sua luta e reivindicações, mas passará a fazê-lo no campo político. 5. Repercussões 5.1. Domésticas: - Após as discussões de paz iniciadas em Cuba, as consequências do conflito estão em intensidade inferior diante das mais de 100 mil pessoas que já morreram e outras milhões que foram deslocadas em consequência do conflito de guerrilha mais longo da América Latina. - As negociações de paz entre as Farc e o governo da Colômbia contam com o apoio da sociedade civil do país. Uma pesquisa divulgada pelo jornal El Tiempo apontou que 74,2% dos colombianos respaldam a possibilidade de que o governo Santos inicie um diálogo com as Farc. Mas os comentários nas redes sociais mostram uma polarização da sociedade colombiana frente ao assunto.

4 - Senadores conservadores se mostraram preocupados ontem com o papel da Venezuela. Já o ex-presidente Ernesto Samper elogiou a discrição de Santos durante o processo de início de diálogo com a guerrilha. O Polo Democrático do Trabalho e o grupo Progressista, de esquerda, também apoiaram a medida. - Entre os principais críticos está o ex-presidente Álvaro Uribe que não concorda com os termos para o acordo nem com a participação da Venezuela no processo. Ele disse que as negociações seriam uma bofetada na democracia - A estratégia adotada pelo presidente Santos para as negociações incluiu um processo de diálogo no ano passado, apostando no sucesso das negociações como algo que poderá beneficiá-lo em uma possível tentativa de reeleição em Regionais: - O presidente dos EUA, Barack Obama, respaldou o governo colombiano sobre o processo. - A presidente Dilma Rousseff disse que a notícia é motivo de comemoração na América do Sul e no mundo e expressou o apoio brasileiro ao processo. - O secretário-geral da Organização dos Estados Americanos, José Miguel Insulza, elogiou o avanço que constituiu essa aproximação. - O presidente venezuelano Hugo Chávez declarou sua intenção de acompanhar o processo. Ele parabenizou os dois lados. - Cuba afirmou que respalda o diálogo e o governo chileno designou o chefe de gabinete da chancelaria, Milenko Shoknic, para acompanhar a negociação. 5.3 Globais: - O analista Christian Voelkel, do Grupo Internacional de Crise, sediado em Bruxelas, comentou do enorme passo que esse acordo representa, retirando qualquer sugestão de legitimidade para o conflito. - A comunidade internacional também se mostrou a favor do processo de paz. A ONU e a União Europeia se manifestaram favoravelmente. Ban Ki Moon ofereceu sua ajuda nas negociações. 6. Cenários: - Em um cenário otimista, uma solução rápida e pacífica seria alcançada, fazendo com que os líderes de negociação tanto do governo colombiano quanto das Farc entrem em um acordo que privilegie os termos da reforma agrária e toquem no ponto da participação política dos guerrilheiros. Nesse caso, haveria inclusive uma expressiva redução nos índices do narcotráfico. O poder bélico da FARC seria diminuído e a intenção de entrada da Colômbia na OTAN seria, de fato, frustrada, dando à região uma conformação ainda mais pacífica e harmoniosa. Em um acordo final, com a narcoguerrilha enfraquecida, a implementação das medidas seriam mais fáceis e favoráveis ao governo e à população, especialmente às vítimas que seriam reparadas com indenizações e restituição de terras. Não haveria anistia dos criminosos e seria criada uma Comissão da Verdade para investigar crimes e desaparecimentos durante os quase 50 anos de conflito. Ao se desmobilizarem, os

5 guerrilheiros não condenados seriam reintegrados à sociedade com apoio do governo. A Colômbia reduziria seus gastos com defesa e segurança e usaria os recursos para se desenvolver economicamente. Além disso, o país receberia mais investimento externo com a estabilização institucional e com o aumento da segurança. - No cenário provável, as negociações, mesmo após percalços e adiamentos, seriam levadas adiante. Os termos do acordo de cunho mais complexo seriam resolvidos mais lentamente e a força das FARC não iria aumentar, não lhes dando um poder de barganha relevante. Mesmo com toda dificuldade, as Farc não abrirão mão dos pontos de habilitações específicas, no que diz respeito a uma participação política, mas o governo não concederá anistia total. Ademais, o processo poderá levar mais de um ano e Santos terá que usar sua habilidade para conversar não só com os guerrilheiros como também com militares e a linha dura conservadora. A reforma agrária conseguida será colocada em prática, sem o uso estrito de violência e "com todo o respeito pela propriedade privada e pela lei", segundo as palavras do principal negociador do governo, Humberto de la Calle. Quanto às questões de crimes ligados ao narcotráfico, tal acordo não conseguiria resolvê-lo totalmente, mas após a instauração da paz no país, o governo teria mais capacidade e recursos para controla-los. - Um cenário pessimista seria o de mais uma frustração das negociações de paz e um eventual fortalecimento das FARC. Com o recente apontamento de que as ações do presidente Juan Manuel Santos demonstraram um desinteresse pela intermediação venezuelana do conflito e sua resolução a curto prazo, é possível que as FARC realizem novas ações paramilitares com um possível suporte do governo de Maduro. As negociações com relação à reforma agrária sofreriam um impasse e as demais relativas a crimes e à situação de participação política dos guerrilheiros seriam adiadas ainda mais. A não resolução acarretaria um possível fortalecimento dos guerrilheiros, cujas fontes de receitas, como o narcotráfico e mais recentemente, a mineração, ainda funcionam bem. Nessa situação, Uribe e conservadores ganhariam respaldo político e Santos, provavelmente, não alcançaria um segundo mandato. Dessa forma, o estilo Uribe de combate às guerrilhas seria instaurado e as relações com vizinhos como a Venezuela e o Equador ficariam abaladas novamente. 6. Links sugeridos: A_TIMELINE.html firmam-acordo-parareforma-agraria, ,0.htm /farc-acusa-presidente-santos-de-esvaziar-atmosfera-de-paz-para-colombia.shtml