CANTINA ECOLÓGICA ASSOCIAÇÃO ENTRE O CONSUMO E A CONSCIÊNCIA AMBIENTAL
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- Rubens José Carlos Bacelar
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1 CANTINA ECOLÓGICA ASSOCIAÇÃO ENTRE O CONSUMO E A CONSCIÊNCIA AMBIENTAL Maria Angelina Zequim Neves 1 (PQ/PM/PT) maria.zequim@gmail.com Colégio Estadual Olimpya de Morais Tormenta/Secr. Mun. de Saúde de Londrina Palavras Chave: Educação Ambiental, Consumo,Reciclagem. RESUMO: Este artigo relata a implantação de um projeto de construção da cantina no Colégio Estadual Olympia Tormenta, localizado na cidade de Londrina, reciclando garrafas PET descartadas como material alternativo. Trata-se de um locus que instiga a associação entre a apropriação do conhecimento, o fomento à pesquisa e a articulação de atividades técnicas de educação ambiental, que envolve tanto os alunos do Curso Técnico em Meio Ambiente, quanto os demais alunos dos ensinos fundamental e médio. Trata-se da construção de um espaço estratégico, onde se darão reflexões acerca do papel a ser desempenhado por cada um, através de atividades de Educação Ambiental. A informação que nem sempre está ao alcance das populações possibilita o processo intrínseco de construção da consciência e, conseqüentemente, mudança de atitude. Acreditamos que é através de mudanças individuais, que poderemos alcançar a transformação das populações, na busca de um mundo socialmente justo, economicamente eficiente e ambientalmente prudente. ALGUMAS REFLEXÕES SOBRE A EVOLUÇÃO DA SOCIEDADE, DO CONSUMO E DA PRODUÇÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS Os resíduos gerados pelas atividades humanas não são algo recente, mas fato observado desde as primeiras comunidades humanas. No entanto, análises arqueológicas e paleontológicas revelam que parecia haver um equilíbrio entre a disposição de rejeitos e a capacidade de absorção e incorporação (reciclagem natural) pelo ambiente. Com o tempo, as relações entre os homens organizados em sociedade e a natureza tornaram-se desequilibradas, e a forma de utilização dos recursos colabora imensamente com o crescimento dos impactos ambientais negativos. A partir da era industrial no século XIX aconteceu nas cidades européias uma revolução na vida urbana. Os planos de urbanização em grandes cidades foram conjugados à abertura de novos bairros e ao início da implantação de infra-estrutura em relação à água tratada e ao esgoto em pequenas áreas nas cidades. Concomitantemente, surgiram outros problemas, como a deposição de detritos industriais e a poluição, causados pela liberação no ar e na água de substâncias tóxicas. Entre os problemas deve-se considerar também a pobreza crescente e a superpopulação urbana que deteriorava a vida na cidade a cada ano, segundo registros do Bulletin of the World Health Organization (2000). À medida que a industrialização se intensificava, o mesmo ocorria com a poluição, principalmente nas áreas urbanas. As cidades geralmente não estavam equipadas, principalmente nos países menos desenvolvidos, para oferecer saneamento básico ao contingente populacional que migrava para as áreas urbanas. O abastecimento de água de boa qualidade e o serviço de esgotos, a coleta de lixo, moradias em lugares adequados do ponto de vista sanitário e demais
2 serviços públicos de infra-estrutura pré-existentes tornam-se insuficientes diante da crescente urbanização. A indústria passa a determinar as necessidades sociais, e as populações são levadas a crer, através das artimanhas da propaganda, que os novos produtos lhes são imprescindíveis à vida. Essa alteração dos padrões de consumo da sociedade industrial, iniciada no século XX, aumenta drasticamente a produção de resíduos, principalmente nas cidades, em completo descompasso à capacidade de absorção desses rejeitos pelo meio ambiente. Os resíduos tornam-se um grande desafio a ser vencido pelos gestores municipais, principalmente nas médias e grandes cidades. Seu descarte inadequado pode acarretar o comprometimento de recursos naturais e da qualidade de vida das populações, comprometendo a sustentabilidade ambiental, social e econômica. A UTILIZAÇÃO DAS GARRAFAS PET COMO MATERIAL ALTERNATIVO NA CONSTRUÇÃO DA CANTINA ECOLÓGICA Os resíduos sólidos urbanos estão entre os mais cadentes problemas ambientais contemporâneos. Os impactos por eles causados podem ser observados em todas as esferas que nutrem a vida: no ar, no solo (e subsolo) e na água (superficial e subterrânea). Além de minimizar os impactos gerados pelos resíduos sólidos, a reciclagem se configura em uma alternativa interessante porque ainda contribui com a diminuição da exploração de recursos naturais, redução do consumo de energia no processo de fabricação, geração de empregos (ligados aos setores de reciclagem), criação de uma estratégia de destino final que se difere da construção de novos aterros sanitários. Inseridos nesta problemática que se acentua na medida em que crescem as cidades, estão as embalagens descartadas pós consumo, inúmeras vezes de maneira incorreta. Dentre essa categoria de resíduos, destacamos as garrafas PET. Trata-se de um poliéster, polímero termoplástico, utilizado para fabricação de garrafas e embalagens para refrigerantes, águas, sucos, óleos comestíveis, medicamentos, cosméticos, produtos de higiene e limpeza, destilados, isotônicos, cervejas, entre vários outros (ABEPET, 2004). Este material foi introduzido no Brasil em 1988, tendo sua utilização inicial na indústria têxtil. Desde 1993, o polietileno tereftalato passou a ter forte expressão no mercado de embalagens, notadamente para os refrigerantes. A escolha das garrafas PET como material alternativo utilizado na construção da cantina foi feita por apresentar alta resistência mecânica (impacto), conforme informações da ABEPET (2004) e, ainda, por estar amplamente inserido na realidade brasileira, e conseqüentemente dos nossos alunos, e por apresentar uma evolução do consumo de materiais plásticos no Brasil. O quadro 1 mostra esta evolução.
3 Quadro 1: Evolução do consumo de embalagens PET no Brasil 1994 a 2001 Evolução do consumo de embalagens PET Consumo mil Toneladas no Brasil Ano , , , , Fonte: ABEPET (2004) De acordo com VIDAL (2003), na engenharia a idéia de desenvolvimento sustentável envolve o uso e produção de materiais que apresentem maior tempo de vida útil, com o menor impacto ambiental possível, bem como na utilização de resíduos urbanos e industriais, reduzindo o consumo de recursos naturais e de energia empregada para obter ou produzir os materiais a serem empregados, reduzindo assim a poluição gerada. Cabe ainda destacar que a destinação incorreta dos resíduos, além de causar poluição, também desperdiça recursos naturais e sociais. Isto porque, o processo de reciclagem gera emprego e renda, poupa a natureza da retirada de nova matéria-prima (como a areia dos rios para produção de vidro, e as árvores para produção de papel), prolonga a vida útil dos aterros, e ainda normalmente consome menos água, energia e produtos químicos quando comparado ao processo de fabricação tradicional, a partir de recursos extraídos da natureza original. DO PENSAR AO FAZER: RELATOS DO PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DA CANTINA ECOLÓGICA Em fevereiro de 2011, nas aulas de Educação Ambiental, foram iniciadas as discussões sobre os processos de produção e consumo, sobre a importância da reflexão associada ao ato de se consumir, sobre a urgência na redução na geração de resíduos sólidos, e a imprescindibilidade da reciclagem daquilo que não se pôde ser reduzido, com relação ao lixo. Materiais foram produzidos sobre essa temática, para serem utilizados pelos alunos do curso Técnico em Meio Ambiente em atividades desenvolvidas por eles de Educação Ambiental, no espectro não formal, em supermercados da cidade.
4 O conteúdo técnico-científico sobre os resíduos sólidos foi trabalhado em sala de aula, na disciplina de Gestão de Resíduos Sólidos, para que os alunos compreendessem a importância do destino adequado desses materiais e quais os riscos que eles podem representar à saúde humana e ao meio ambiente. Foi estabelecido contato entre um representante do Curso Técnico em Meio Ambiente do Colégio e a empresa de engenharia parceira na construção da obra e implantação do projeto. A empresa comprometeu-se com o subsídio de parte do projeto, com o fornecimento dos profissionais qualificados à execução da obra, ou seja, da construção da cantina com uso de garrafas PET. O espaço utilizado para a obra foi selecionado e estudado pela empresa construtora, que se incumbiu em analisar qual a melhor maneira de utilização das garrafas PET. Experiências que utilizam esse material alternativo na obra já existem no Brasil, e as técnicas não são homogêneas. Por não se tratar apenas de uma obra modelo, para estudo, mas de um espaço que desempenhará, além de um papel educativo, um papel social e econômico, a construtora está realizando um estudo minucioso quanto às questões técnicas da construção, e ainda não apresentou sua decisão se utilizará as garrafas na posição horizontal, expostas no acabamento, como na Figura 1, ou se em forma de bloco, na posição vertical, como na figura 2. Ambas as técnicas possuem pontos positivos e negativos quanto aos requisitos técnicos de construção, e isso está sendo ponderado para a conclusão dos estudos, mas o fato é há viabilidade técnica, financeira e ambiental nas duas formas de construção. Figura 1: Modelos de construção com utilização de garrafas PET como material alternativo na obra Fonte: /listforcontributor? screenname=18lxtej50c4mt&xg_source=activity&page=2 Acesso em 20/06/2011 Figura 2: Bloco de obras de construção com utilização de garrafas PET como material alternativo Fonte: pet-podem-se-transformar-em-casas-pre-moldadas.html Acesso em 20/06/2011
5 Essa segunda maneira de utilização das garrafas é defendida pela catarinense Thaís Lohmann Provenzano, arquiteta e urbanista, que realiza um trabalho de mestrado na Universidade Federal de Santa Catarina, sobre a utilização das garrafas na construção de casas em substituição aos tijolos. De acordo com Provenzano, os painéis são pré-fabricados e os blocos cerâmicos comumente utilizados substituídos pelas garrafas e preenchidos com argamassa e cimento. Elas são cortadas na base e encaixadas umas nas outras, sobre um molde, antes do preenchimento. Tem ainda a vantagem de as instalações hidráulicas e elétricas serem facilitadas nesse modelo. Diferente das casas comuns de concreto, que precisam ter as paredes quebradas, as canalizações e dutos são embutidos antes da finalização. Os alunos do Curso Técnico em Meio Ambiente confeccionaram tanto os materiais de divulgação, quanto os materiais pedagógicos por eles utilizados durante o período de construção, na prática da Educação Ambiental e Educação para a Saúde, orientados pela professora da disciplina de Gestão de Resíduos Sólidos e Educação Ambiental, após pesquisa científicobibliográfica. Os alunos estenderam o convite à comunidade escolar, através da afixação dos cartazes, faixas, banners e demais mídias em pontos estratégicos como postos de saúde, igrejas e estabelecimentos de comércio e serviços por onde circulam pessoas da comunidade, a participarem ativamente da construção da obra, através da doação de garrafas PET, que estão sendo recolhidas pelos alunos do curso técnico em Meio Ambiente e armazenadas em local apropriado nas dependências do Colégio. O Colégio Estadual Olympia de Morais Tormenta disponibilizou suas dependências tanto para a confecção dos materiais de divulgação e recursos pedagógicos pelos alunos, quanto para a realização de um evento de inauguração da obra, uma vez acabada, que levará o nome de Cantina Ecológica: local de consumo consciente. Durante o dia da inauguração, os alunos identificados com camisetas do evento, realizarão apresentações às populações presentes sobre temas econômicos, sociais e ambientais que envolvem o processo da reciclagem de resíduos sólidos e consumo consciente. A entrega da obra está prevista para dezembro de A criatividade pode ser uma excelente saída para resolver impasses ambientais como os causados por produtos como este (garrafas PET), mas esses mesmos problemas poderiam ser evitados se nosso modelo de produção e consumo estivesse mais comprometido com o ciclo de vida dos produtos e com os princípios de não geração de resíduos. Enquanto isso não ocorre, sejamos criativos e busquemos a tomada de consciência, de cada um de nós e da coletividade. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABEPET Associação Brasileira dos Fabricantes de Embalagens de PET < acesso em março de DANIELS N, BRYANT J, CASTANO RA, DANTES OG, Khan KS, PANNARUNOTHAI S. Benchmarks of Fairness for Health Care Reform: A Policy Tool for Developing Countries. Bulletin of the World Health Organization MONEIRO, Jose Henrique [et al.]. Manual de Gerenciamento Integrado de resíduos sólidos. SEDU/PR. Rio de Janeiro: IBAM, 2001.
6 VIDAL, Frederico Xavier Rodrigues; ALMEIDA, Sávio Giacomini; SONCIM, Sérgio Pacífico. Estudo da utilização do resíduo da reciclagem do pet em pavimentos rodoviários. Anais de resumos do Simpósio de Pesquisa e Iniciação Científica. Governador Valadares, Minas Gerais, 2003.
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