DISCIPLINA DE PRÁTICA JURÍDICA INTERDISCIPLINAR
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1 DISCIPLINA DE PRÁTICA JURÍDICA INTERDISCIPLINAR 2016 Prática Processual Civil Equipa Docente Dra. Mafalda Ferreira Santos ACTA DE AUDIÊNCIA PRELIMINAR SELECÇÃO DA MATÉRIA DE FACTO FACTOS ASSENTES: A) A autora é uma sociedade anónima que se dedica à produção e distribuição de volantes e peças acessórias (inclusive airbags), de todo o tipo de produtos plásticos e similares, de produtos da indústria e fabrico de ferramentas, dispositivos e maquinaria, bem como da mecânica de precisão. B) A ré AIRBAGS PORTUGAL, S.A., constituída em 1992, dedica-se à produção e comercialização de componentes de segurança automóvel (entre os quais, revestimentos de volantes e montagem de airbags), tendo por objecto a transformação de materiais não ferrosos, resinas sintéticas e matérias plásticas. C) A ré AIRBAGS ESPAÑA, S.A. dedica-se, entre outros aspectos, à produção e comercialização de componentes de segurança para automóveis (entre os quais, volantes e airbags). A autora detém 49% do capital social da ré AIRBAGS PORTUGAL, S.A.. D) 1
2 Sendo os restantes 51% detidos pela ré AIRBAGS ESPAÑA, S.A.. E) A ré AIRBAGS ESPAÑA, S.A. é a principal cliente da ré AIRBAGS PORTUGAL, S.A.. F) A autora detém 21,60% do capital social da ré AIRBAGS ESPAÑA, S.A.. G) H) A COMPONENTES DE SEGURANÇA, AG, que se dedica designadamente à produção e comercialização de componentes de segurança automóvel (entre os quais, volantes e airbags), detém, desde 2005, 78,40% do capital social da ré AIRBAGS ESPAÑA, S.A.. I) As rés integram, com outras sociedades, o Grupo AIRBAGS e a COMPONENTES DE SEGURANÇA, AG. J) Na estrutura do Grupo AIRBAGS, as filiais industriais, entre as quais a ré AIRBAGS PORTUGAL, S.A., vendem os produtos que fabricam à ré AIRBAGS ESPAÑA, S.A., a qual os revende a clientes do grupo, e a outras entidades. A ré AIRBAGS PORTUGAL, S.A. tem obtido resultados de exercício positivos. K) L) Nos dias 24 de Abril de 2001, 24 de Abril de 2002, 24 de Abril de 2003, 28 de Abril de 2004 e 28 de Abril de 2005, em Assembleia-Geral da ré AIRBAGS PORTUGAL, S.A. foi objecto de deliberação o relatório de gestão e contas de exercício dos anos 2000, 2001, 2002, 2003 e 2004 respectivamente. M) 2
3 No dia 23 de Maio de 2006, em Assembleia-Geral da ré AIRBAGS PORTUGAL, S.A. foi objecto de deliberação o relatório de gestão e as contas do exercício do ano de 2005; proposta de aplicação de resultados do exercício de 2005; apreciação geral da administração e fiscalização da sociedade. N) Na sequência de reagendamento da Assembleia-Geral da AIRBAGS PORTUGAL, S.A. para o dia 4 de Julho de 2007, a autora solicitou a inserção de um novo ponto na ordem do dia, concretamente prestação detalhada de informações sobre os preços de transferências, bem como a consulta prévia das contas da ré AIRBAGS PORTUGAL, S.A.. O) Para o efeito, no dia 29 de Junho de 2007, a autora, através do Dr. João, acompanhado do Dr. Pedro (auditor oficial de contas), deslocou-se à sede da ré AIRBAGS PORTUGAL, S.A. e consultou: i) cópia da certidão do registo comercial, (ii) cópia da carta da E&Y a solicitar a alteração do sócio responsável da sociedade, (iii) cópia da convocatória para a Assembleia-Geral, (iv) cópia dos relatórios de gestão, balanço e demonstração de resultados, certificação legal das contas e parecer do fiscal único. P) Não obstante, entendeu a autora que lhe deveriam ter sido disponibilizados ainda os livros de actas da Assembleia-Geral, Conselho de Administração e Conselho Fiscal, bem como o relatório de preços de transferência. Q) Na sequência da consulta referida em O), a autora solicitou o reagendamento da Assembleia-Geral, o que foi deferido, tendo a mesma sido convocada para o dia 27 de Novembro de R) Ao mesmo tempo, ficou estabelecido que a autora poderia realizar nova consulta na 3
4 sede da ré AIRBAGS PORTUGAL, S.A. no dia 13 de Novembro de 2007, o que fez através Do Dr. João acompanhado de dois peritos em contas, entre os quais O Dr. Pedro. S) No âmbito da consulta referida em R) foi disponibilizado um relatório da KPMG que concluiu pela regularidade e legalidade da política de preços de transferência aplicada no grupo AIRBAGS fls. 73 e 74 cujo teor se dá por integralmente reproduzido. T) No dia 14 de Novembro de 2007, o Dr. Pedro enviou à Dra. Adriana, directora administrativa e financeira da AIRBAGS PORTUGAL, S.A., solicitando informações adicionais relativamente às demonstrações financeiras do exercício de 2006 (juntas a fls. 162 a 172 cujo teor se dá por integralmente reproduzido). U) Concretamente, a) detalhes relativos à correcção mencionada na nota 46 do anexo ao Balanço e à Demonstração dos Resultados, no valor de ,00, bem como contrapartida contabilística deste custo; b) correcções relativas a exercícios anteriores, no valor de ,00, indicação da natureza destes custos que não os indicados na alínea anterior; c) justificação e cálculo dos ajustamentos do exercício em matérias-primas, subsidiárias e de consumo e produtos acabados e intermédios no montante respectivamente de ,00 e ,00; d) detalhe dos cálculos e respectiva contrapartida contabilística da correcção no valor de ,00 indicada na rubrica correcção de vendas da nota 49 do anexo ao Balanço e à Demonstração de Resultados. V) A pedido da autora, no dia 22 de Novembro de 2007, foi elaborado o relatório junto a fls. 96 a 105, cujo teor se dá por reproduzido, alegadamente com base nas demonstrações financeiras das rés relativas ao exercício de 2006 (fls. 173 a 226 cujo teor se dá por integralmente reproduzido) e na acta de aprovação das contas relativas ao exercício de 2005 e documentos de prestação de contas relativos ao 4
5 exercício de 2006, o qual conclui aconselhando a não aprovação das contas relativas ao exercício de 2006 por não esclarecidos assuntos relacionados com a política de preços de transferência. W) Em resposta ao referido em T) e U), a Dra. Adriana, no dia 26 de Novembro de 2007 (18:02h), enviou , que foi recebido, ao Dr. Pedro, esclarecendo que: a) quanto ao ,00, tal lançamento foi efectuado em Deb. # e custos extraordinários, e Crd clientes, respectivamente. Mencionando que em 2006 teve de realizar um ajustamento por preços de transferência relativos a 2005, com vista a dar cumprimento ao método do custo majorado; b) sobre a segunda questão colocada, sublinhou-se que os ,00 (nota 46) respeitam essencialmente a anulação de facturas emitidas em nome de fornecedores antes de 2006 e que a mais relevante respeita a um fornecedor local de matérias-primas no valor de ,00; c) em relação à terceira questão, a regularização de stock (notas 21) respeita a matéria-prima obsoleta que não pode ser utilizada; d) os ,00 (nota 49) foram lançados em Deb. # (clientes facturas pendentes de emissão) acréscimos de proveitos e em Cred. # vendas, respectivamente, tendo sido utilizado o método de custo majorado, o qual implica ajustes positivos ou negativos, dependendo dos resultados da fábrica quando comparada com os rácios de eficiência da indústria Fls cujo teor se dá por integralmente reproduzido. X) No dia 27 de Novembro de 2007 em Assembleia-Geral da ré AIRBAGS PORTUGAL, S.A. foi objecto de deliberação, para além do mais, o relatório de gestão e contas do exercício do ano de 2006; proposta de aplicação de resultados do exercício de 2006; apreciação geral da administração e fiscalização da sociedade; prestação de detalhada de informações sobre os preços de transferência, nos termos que resultam de fls. 118 a 136 cujo teor se dá por integralmente reproduzido. Y) 5
6 E no que toca à prestação de informação detalhada sobre preços de transferência a autora solicitou sete esclarecimentos, tendo-lhe sido declarado que as respostas seriam facultadas, por escrito, no prazo de 15 dias. Z) Assim, em resposta, a ré AIRBAGS PORTUGAL, S.A. enviou à autora a carta junta a fls. 137 a 145 cujo teor se dá por integralmente reproduzido. AA) Até à data, a ré AIRBAGS PORTUGAL, S.A. não facultou à autora o acesso ao dossier de preços de transferência, nomeadamente através de cópia ou simples consulta. AB) No dia 12 de Outubro de 2005 a Comissão Europeia produziu a decisão que consta de fls. dos autos, que autorizou a concentração entre a AIRGBAGS ESPAÑA, S.A. e a COMPENENTES DE SEGURANÇA, AG. BASE INSTRUTÓRIA: 1º O relatório referido em V) foi solicitado de modo a apurar a existência de operações entre a ré AIRBAGS PORTUGAL, S.A. e a ré AIRBAGS ESPAÑA, S.A. sem observação do princípio da negociação em condições de igualdade (princípio da plena independência e concorrência)? 2º Cerca de 95% das vendas do ano de 2006 da ré AIRBAGS PORTUGAL, S.A. foram realizadas à ré AIRBAGS ESPAÑA, S.A.? 3º Os pontos 1. e 3. da resposta referida em Z) são essenciais à apreciação das matérias referidas em X)? 6
7 4º E permitem apurar se a AIRBAGS PORTUGAL, S.A. tem vindo a praticar preços abaixo dos preços de mercado com a ré AIRBAGS ESPAÑA, S.A.? 5º Gerando a transferência de lucros da ré AIRBAGS PORTUGAL, S.A. para a ré AIRBAGS ESPAÑA, S.A.? * 6º A COMPONENTES DE SEGURANÇA, AG, o Grupo DM e a autora vendem os seus produtos aos mesmos fabricantes de automóveis (OEM)? 7º Desde a aquisição de 78,4% da AIRBAGS ESPAÑA, S.A. pela COMPONENTES DE SEGURANÇA, AG que o mercado passou a contar apenas com três grandes concorrentes: Autoliv, COMPONENTES DE SEGURANÇA, AG e a autora? 8º O mercado automóvel associado à actividade da COMPONENTES DE SEGURANÇA, AG, AIRBAGS e autora é caracterizado pelo número reduzido de clientes e fornecedores? 9º E pelo sistema de adjudicação de contratos consistente no lançamento de concursos pelos OEM? 10º Pelo que, face à igualdade entre os produtos, o preço é o elemento essencial de desempate entre os proponentes? 11º 7
8 O acesso às informações não prestadas referidas em 3º permitiriam à autora aceder à estrutura de custos de produção e processo de formação de preços das rés e de todo o grupo AIRBAGS? 12º Colocando a autora numa posição de vantagem nos concursos para adjudicação de encomendas junto dos OME? 13º A actual política de preços de transferência da AIRBAGS PORTUGAL, S.A. (preço dos produtos vendidos à ré AIRBAGS ESPAÑA, S.A.) e do grupo AIRBAGS segundo o método do custo majorado vem sendo seguida desde 2004? O que é do conhecimento da autora? 14º 15º As aquisições da ré AIRBAGS ESPAÑA, S.A. à ré AIRBAGS PORTUGAL, S.A. representam 12,1% do volume de negócios da ré AIRBAGS ESPAÑA, S.A.? 16º Na hora referida em W), as instalações da autora já se encontravam encerradas? 17º O que não permitiu ao Dr. Pedro comunicar o teor do referido em W) à autora antes da Assembleia-Geral de 27 de Novembro de 2007? 18º A viabilização do acesso ao dossier de preços de transferência das rés põe em causa os pressupostos que permitiram a decisão referida em AB)? * 8
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