Para início de conversa 9. Família, a Cia. Ltda. 13. Urca, onde moro; Rio, onde vivo 35. Cardápio de lembranças 53

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Anna Cabral Araújo
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1 Rio de Janeiro

2 Sumário Para início de conversa 9 Família, a Cia. Ltda. 13 Urca, onde moro; Rio, onde vivo 35 Cardápio de lembranças 53 O que o homem não vê, a mulher sente 75 Relacionamentos: as Cias. I-Ltdas. 95 Amor-eco: amor, amor, amor, amor, amor, amor

53 O que o homem não vê, a mulher sente 75 Relacionamentos: as

3 para início de conversa

4 Tudojuntoemisturadoporqueavidaéassim começou a ser escrito lá pelos idos de 2001, no meu blog Escrita Fina. Nos primeiros anos, eu escrevia diariamente e, na empresa onde eu trabalhava, a primeira atividade dos amigos era comentar o que havia sido publicado no blog. Nós, os blogueiros da época, levávamos a coisa a sério e escrevíamos com regularidade, pois sabíamos que havia pessoas do lado de lá da tela esperando para ler. Era uma comunidade perfeita, apesar não estarmos ligados a nenhuma rede social. Cada blogueiro publicava sua lista de blogs amigos. Ninguém convidava ou indicava algum blog só para fazer número ou para ter um milhão de amigos. O importante, o que contava, era fazer parte de lista de blog de amigos. Éramos bem seletivos na escolha de nossos pares. Foi um tempo bom, de muita interação e com brincadeiras muito criativas. Uma vez, inventei um espelho imaginário, diante do qual as pessoas escreviam como se viam. Como era uma turma que escrevia muito bem, o resultado foi surpreendente. De outra vez, imaginei sassevas sà airótsih asson, onde redigi um final e os visitantes escreveram o miolo da narrativa. Brincávamos com as palavras. Havia prêmios do jornal O Globo para os melhores blogs da semana, mestrandas escreveram teses e publicaram livros sobre o fenômeno dos blogs e o Escrita Fina participou disso tudo. Até que cansei do compromisso de escrever todo o dia e, em dezembro de 2007, os posts começaram a rarear. Foi-se o tempo, mas o gostinho de brincar de escrever permaneceu. Permane- 10

Nós, os blogueiros da época, levávamos a coisa a sério e escrevíamos com regularidade, pois sabíamos que havia pessoas do lado de lá da tela esperando para ler.

5 ceu meio de molho pois, apesar de ser aposentada no Estado, como especialista de Educação, e no INSS, pelas atividades em colégios e empresas, até hoje trabalho muito. Há tempos, viajei com um motorista de táxi, ex-aluno meu, e ele comentou: A senhora aiiiiinda trabalha? E deu ao ainda, aquela entonação esticada, característica do espanto. Às vezes, acho que deveria parar de trabalhar, mas, parar para quê? Na falta da resposta, continuo com muita alegria, fazendo o que sei fazer bem. Houve até uma época, logo depois da aposentadoria do INSS, em que planejei parar definitivamente e morar Itaipava. A família topou, talvez porque soubesse que logo, logo essa ideia morreria. Aí pensei melhor e essa história de ficar pensando muito no que fazer, sem fazer, nunca deu certo comigo. O que eu faria durante as noites, em Itaipava? Durante o dia, teria a horta para cuidar, o jardim para podar e regar, a piscina para nadar. Cuidaria da casa, faria compras, passearia com os cachorros. Mas e à noite? Haja livro, haja assunto para conversar com o marido, que é marido há 49 anos. Televisão não me empolga e tem todo aquele silêncio. Chatice. Gosto de saber que perto, bem perto de mim, há aquele buchicho, gente, teatro, cinema, movimento. Mesmo que eu fique dentro da minha casa e não saia para quase nada, adoro pensar que tenho opção. Desisti. Um amigo, pessimista de plantão, para colocar cal definitivamente na ideia, tornou as coisas piores ao lembrar que éramos (meu marido e eu, supostamente) um casal idoso. E se houvesse uma emergência e nós lá no meio do mato? Claro que 11

Às vezes, acho que deveria parar de trabalhar, mas, parar para quê? Na falta da resposta, continuo com muita alegria, fazendo o que sei fazer bem.

6 não precisava ser tão enfático, me lembrando da terceira idade; eu já tinha desistido. Exagero desnecessário. Mas voltando ao início do tudojuntoemisturado..., guardei os escritos e, agora, depois de muitos cortes e de novos excertos, publico. E o livro é assim mesmo, tudo misturado: eu e as minhas circunstâncias. Uma vez, escutei um padre dizer que hoje as pessoas não são, elas têm: têm filhos, têm casa, têm amor. Daí em diante, sou mãe, sou avó, sou mulher. Como diz o anúncio, tem coisas que o dinheiro não compra; essas eu tenho. E foram as circunstâncias que me levaram nessa vida a ser mulher, filha, mãe, esposa, avó, professora, inteligente, ingênua, divertida, chata, insuportável, chique, bonita, mais ou menos magra, a viver de regime, a beber mais do que devo, a eliminar completamente a bebida, a fumar, a viajar, a ler, a escrever, a rir demais fora da hora, a rir na hora certa, a rir de menos, a chorar pouco, e, finalmente, essas mesmas circunstâncias me levaram a arriscar muito e a publicar meu primeiro livro. Espero que com o livro aconteça do mesmo jeito que sempre aconteceu comigo: que você vá gostando mais à medida que avançar na leitura, pois quem me ama primeiro gostou de mim, depois me conheceu mais, até que me amou. Tomara que você goste, pois estou gostando demais desta história toda. Não fui menino, não tive trenzinho elétrico que apitava e passeava nos trilhos, não tive autorama, muito menos Playstation. Tenho meus escritos: eles são meu brinquedo. 12

Uma vez, escutei um padre dizer que hoje as pessoas não são, elas têm: têm filhos, têm casa, têm amor. Daí em diante, sou mãe, sou avó, sou mulher.

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Lembro-me do segredo que ela prometeu me contar. - Olha, eu vou contar, mas é segredo! Não conte para ninguém. Se você contar eu vou ficar de mal. -...eu nem te conto! - Conta, vai, conta! - Está bem! Mas você promete não contar para mais ninguém? - Prometo. Juro que não conto! Se eu contar quero morrer sequinha na mesma hora... - Não precisa exagerar!