APLICAÇÃO DE DUAS PRÁTICAS ALTERNATIVAS EM TURMAS INCLUSIVAS DO ENSINO MÉDIO DA EJA
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- Gilberto Fraga Faro
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1 APLICAÇÃO DE DUAS PRÁTICAS ALTERNATIVAS EM TURMAS INCLUSIVAS DO ENSINO MÉDIO DA EJA MARQUES, S. D. G. (IFPB/UFPB); FIGUEIRÊDO, A. M. T. A. (IFPB); BRANDÃO, E. M. (IFPB); SOUZA, N. S. (IFPB/UFPB); FIGUEIRÊDO, G. J. A. (IFPB/UFCG) Resumo Neste trabalho foram propostos recursos didáticos alternativos para o ensino de Química, objetivando coadunar teoria e prática, no intento de facilitar o processo de ensinoaprendizagem dos estudantes pertencentes à modalidade EJA (Educação de Jovens e Adultos). Tendo em vista uma abordagem interdisciplinar, o conteúdo sobre Matéria e Energia, assim como, o de Fenômenos Físicos e Químicos foi apresentado a partir de experiências da investigação e do questionamento de temas relacionados ao cotidiano do alunado. A partir destas, pôde-se fazer um desenho mais equitativo da partilha dos conhecimentos, por meio de gráficos representativos dos dados quantitativos e uma problematização qualitativa das dificuldades encontradas durante este processo. Como o mencionado trabalho teve caráter inclusivo, este promoveu a interação dos educandos surdos e ouvintes, respeitando as diferenças e as necessidades especiais de cada um, promovendo o interesse e a interação dos mesmos, através das práticas educativas. Palavras-chave: Ensino de Química; EJA; Inclusão de alunos surdos.
2 Introdução No contexto da sociedade moderna, não são exigidos das pessoas apenas o domínio da leitura e da escrita, ou do conhecimento geral das áreas de ciência e humanas estudadas no ensino fundamental. Para o cidadão moderno é necessário, também, o conhecimento específico das disciplinas científicas do nível médio (SANTOS, 2003). Tais informações devem estar diretamente vinculadas aos problemas sociais que afetam os alunos. Entretanto, o ensino de Química, em especial nas escolas públicas, na maioria das vezes limita-se à mera difusão de conteúdos teóricos, que se apresentam aos educandos de forma abstrata, reduzindo e/ou impedindo a compreensão real dos fatos. Além do processo de mecanização dos conteúdos trabalhados no nível médio de ensino no tempo hodierno, percebe-se a ausência do espírito investigativo/científico, ou seja, incompreensão da situação-problema causando a inexistência do questionamento/entendimento por parte dos estudantes, que não identifica a importância da ciência para perceber a relevância dos assuntos abordados em sala de aula (BRASIL,1999). São diversas as causas dessas carências, entre elas, situa-se com mais evidência, a ausência e/ou deficiência de laboratórios e de materiais, sendo uma das principais justificativas para que as aulas práticas sejam desvinculadas do processo de ensino. Sem prática, o ensino de Química não se concretiza de forma coerente (CHARLOT, 2002). Quanto mais integrada a teoria e a prática, mais sólida se torna a aprendizagem da disciplina Química, pois esta não trabalha apenas no cumprimento da sua sequência de conteúdo, mas interage com o mundo vivencial dos discentes de forma diversificada, associada à prática do dia-a-dia (Id., 2004, p. 4). Este fato torna-se mais proeminente num contexto inclusivo com estudantes surdos, por exemplo, onde as diferenças linguísticas, culturais e cognitivas devem ser levadas em consideração no currículo e na prática pedagógica em sala de aula, assim respeitando a diversidade do alunado. Diante do exposto, torna-se claro que aulas bem preparadas e experimentos que possam enriquecer o aprendizado e despertar a curiosidade do educando,
3 certamente ajudarão a manter elevada a motivação em sala de aula (FARIAS, 2005). Tendo em vista estes aspectos, é possível, aliando criatividade e disponibilidade, construir práticas pedagógicas que possam servir de apoio para o desenvolvimento de uma perspectiva interdisciplinar e globalizadora, articulada ao papel do conhecimento químico no desenvolvimento da sociedade. Possibilitando a aprendizagem de TODOS (surdos e ouvintes) os estudantes, contribuindo para a melhoria expressiva da qualidade de ensino. Metodologia Inicialmente, realizou-se uma pesquisa bibliográfica das temáticas já citadas. A técnica metodológica empregada foi baseada na pesquisa ação, aplicada no início do segundo semestre do ano letivo de 2009 na Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Professora Maria Geny S. Timóteo, situada no município de João Pessoa PB. A citada escola trabalha no regimento supletivo (EJA) no turno da noite, onde foram feitas atividades nas quatro turmas da 1ª série do Ensino Médio. Dentre estas, uma é inclusiva, pois atende alunos surdos e ouvintes. A proposta do estudo decorreu do desenvolvimento de duas experiências químicas, cujo conteúdo teórico fora explanado pelos professores das respectivas turmas. Os assuntos abordados foram: (1) Matéria e Energia, (2) Fenômenos Físicos e Químicos. Para tanto, construiu-se um barco a vapor (Figura 1) e um simulador ébrio - bafômetro (Figura 2), a partir de materiais alternativos. Durante a elaboração do barco, foi necessária a utilização de palitos de picolé e madeira para fazer a base, um tubo de alumínio preso a esta com arames de cobre onde foi colocada a água para ser aquecida e duas velas adaptadas abaixo do tubo para incitar a evaporação da água. O tubo foi tampado com uma rolha de diâmetro apropriado, a qual foi perfurada com uma agulha, no intento de permitir a passagem do vapor de água através do orifício, para que ocorresse a movimentação do barco.
4 Figura 1 Barco a vapor Para a elaboração do bafômetro, foi utilizado um frasco de vidro com tampa para colocar o álcool etílico (simulador do bafo alcoolizado), três canudos de plástico para soprar no mesmo, e os reagentes necessários para a efetivação da prática, dentre eles dicromato de potássio e ácido sulfúrico. Figura 2 Simulador Ébrio Bafômetro Antes da prática do barco, foi aplicado um questionário contendo 10 questões objetivas sobre o conteúdo supracitado. Em seguida, desenvolveu-se o experimento. Enquanto o mesmo ocorria, os discentes eram questionados quanto aos fenômenos e transformações energéticas envolvidas no processo de movimentação do barco, relacionando o conteúdo teórico da prática observada. Depois do experimento, passou-se o mesmo questionário acrescido de 3 questões subjetivas a respeito da opinião dos discentes, quanto à metodologia utilizada e se esta contribuiu de alguma forma na sua aprendizagem. A prática do bafômetro alternativo, além de abranger os assuntos já mencionados, enfatizou o problema do alcoolismo e suas consequências no organismo humano. Inicialmente, foi distribuído um questionário contendo doze questões objetivas sobre os temas abordados. Posteriormente, realizou-se uma
5 exposição em multimídia de duas animações relacionadas ao alcoolismo, para enfim, ocorrer a demonstração do simulador ébrio. Ao final, foi entregue o mesmo questionário, porém acrescido de duas questões subjetivas relacionadas à opinião dos discentes quanto à proposta desenvolvida, e se esta auxiliou, de forma eficaz, no seu processo cognitivo. Resultados e Discussão Após a resolução dos questionários nas respectivas turmas, construiu-se o Gráfico 1 e 2, que demonstra a quantidade de acertos pré e pós a aplicação das atividades práticas. Quantidade de acertos Pré e Pós Nº de acertos Acertos - pré 396 Acertos - pós Acertos - pré Acertos - pós Gráfico 1 Quantidade de acertos referente aos questionários pré e pós aplicação do barco a vapor. Gráfico 2 Acertos referentes aos questionários pré e pós aplicação do bafômetro.
6 Dentre os resultados, percebe-se um aumento quantitativo considerável de acertos após o método alternativo nos dois experimentos. A evasão escolar, a carga horária reduzida, a falta de tempo para atividades extraclasse e a diversidade linguística seriam, em tese, barreiras para a plena execução da prática. Porém, o planejamento objetivo, a motivação cognitiva, a presença da intérprete de LIBRAS e o respeito à diversidade corroboraram para a superação das dificuldades citadas (CAMPELLO, 2007, p. 113) (BRASIL, 2002, p. 28). Desta forma, faz-se justo tratar os dados não só quantitativamente, mas, principalmente, de maneira qualitativa. Neste aspecto, foi notório o entusiasmo dos alunos ao observar o barco navegando e as transformações energéticas, juntamente com os fenômenos físicos e químicos, envolvidos em seu funcionamento (conforme Figura 3); como também o aspecto visual das animações e do experimento com o bafômetro (Figura 4). Figura 3 Momento da aplicação do barco a vapor nas turmas. Figura 4 Momento da aplicação das animações, prática e questionários.
7 As respostas subjetivas retrataram bem o interesse pela aula: Isto pode influenciar na minha vida, A aula ficou mais interessante e o aprendizado ficou muito mais fácil, agora eu sei o que o álcool provoca no nosso organismo, e também como funciona o bafômetro. E principalmente a resposta do aluno surdo Falar é importante, mais ver é muito melhor. É importante elucidar que TODOS os alunos participaram ativamente do processo, tornando-se possível observar a superação da consciência comum, através de indagações mais profundas a respeito de situações antes corriqueiras, a partir da vivência de algumas experimentações químicas alternativas. O desenvolvimento desta ótica interdisciplinar se assentou sobre o entendimento da realidade dos discentes, buscando uma construção coletiva de um novo conhecimento. Conclusões Através deste ensaio, foi possível levar os alunos a perceber a Química como uma ciência que tem aplicações no dia-a-dia, facilitando a assimilação, independente das habilidades individuais. Além disso, a contextualização dos conteúdos apresentados promoveu uma significativa aprendizagem. Destarte, foi plausível a construção de uma aula diferente, articulada ao papel do conhecimento químico no desenvolvimento da sociedade, possibilitando a aprendizagem de TODOS os discentes, contribuindo para a melhoria expressiva da qualidade de ensino, se valendo da criatividade na reutilização de materiais e nos potenciais dos educandos. Referências BRASIL. Ministério da Educação. Programa de adaptações Curriculares em Ação: caderno de apresentação. / Secretaria de Educação Especial. Brasília: MEC; SEESP, Parâmetros Curriculares Nacionais: ensino médio:ciências da natureza, matemática e suas tecnologias. Volume III. Brasília: Ministério da Educação/Secretaria de Educação Média e Tecnológica, 1999.
8 CHARLOT, B. et al. Professor reflexivo no Brasil: gênese e crítica de um conceito. Selma Garrido Pimenta, Evandro Ghedin, (Orgs.) 2. ed. São Paulo: Cortez, FARIAS, Robson Fernandes. Química, ensino e cidadania. São Paulo: Edições Inteligentes, REGINA, A. CAMPELLO, S. Pedagogia Visual / Sinal na Educação dos Surdos. In QUADROS, R. M.; PERLIN.G. (org.). Estudos Surdos II. Petrópolis, RJ: Arara Azul, 2007, p SANTOS, W. L. P.; SCHNETZLER, R. P. Educação em química: compromisso com a cidadania. 3ª ed. Ijuí: Unijuí, 2003.
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