O LÚDICO COMO RECURSO AUXILIAR DO ENSINO DE QUÍMICA COM ALUNOS SURDOS DA EJA

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1 O LÚDICO COMO RECURSO AUXILIAR DO ENSINO DE QUÍMICA COM ALUNOS SURDOS DA EJA BRANDÃO, E. M. (IFPB); FIGUEIRÊDO, A. M. T. A. (IFPB); SOUZA, N. S. (IFPB/UFPB) RESUMO Este trabalho foi realizado em uma Escola Estadual de João Pessoa-PB, em turmas de EJA de 3ª ano do Ensino Médio, durante aulas de Química, sendo uma das turmas inclusiva com quatro alunos surdos. Foi montado um quebra-cabeça sobre Isomeria Plana com intuito de estimular os discentes de forma prazerosa e criativa, levando-os à compreensão dos conteúdos, respeitando a dinâmica do ambiente e as necessidades especiais do alunado (BERNADELLI, 2004, p.1) (SILVA, BRANCO e MELLO, 2006, p. 48) (ALMEIDA, 1998, p.121). Após a montagem cooperativa, os educandos responderam um questionário e foi observada uma ampla assimilação do assunto, demonstrando que o método lúdico-alternativo influi consideravelmente na aprendizagem apesar das diferenças etárias, sociais, linguísticas e culturais desses discentes. Palavras -chave: Ensino de Química; Inclusão de alunos surdos; Educação lúdica; EJA; Aprendizagem significativa. INTRODUÇÃO O presente ensaio tem como objetivo propor um método alternativo para o ensino de Química, tendo o lúdico como subsídio alternativo na inclusão de alunos surdos e ouvintes da modalidade EJA (Educação de Jovens e Adultos). Tal modalidade destina-se àqueles que não tiveram acesso ou continuidade de estudos no Ensino Fundamental e Médio na idade própria, conforme a Lei nº 9.394/96.

2 A atual política educacional enfatiza a inclusão dos alunos com necessidades educacionais especiais nas classes comuns nos níveis de ensino, na perspectiva de abolir as práticas segregacionistas, garantindo a TODOS (surdos e ouvintes), um espaço de acolhimento à diversidade humana e de aceitação das diferenças individuais, além do esforço coletivo na equiparação de oportunidades de desenvolvimento, com qualidade, em todas as dimensões da vida (BRASIL, 2001, p. 14) (SILVA, BRANCO e MELLO, 2006, p. 23) (MARQUES, 2007 p. 137). Neste estudo foram usados materiais de fácil aquisição para a construção de quebra cabeças, recurso lúdico que, segundo Bernadelli, procura colocar o estudante em posição de pensar por si mesmo, colher dados, discutir idéias, emitir e testar hipóteses, sempre motivado pela identificação do problema, levando-os à aprendizagem alicerçada pelo encantamento e pela curiosidade (2004, p. 2). O método lúdico foi planejado levando em consideração a diferença linguística e cognitiva dos educandos surdos do Brasil (Decreto nº 5.626/2005) que se comunicam por meio da Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS (Lei nº /2002, Art. 1º e Parágrafo Único), como também da diversidade existente entre os ouvintes. O intuito desta proposta é corroborar com o processo de ensino-aprendizagem destes discentes ouvintes e surdos na modalidade EJA. MATERIAIS E MÉTODOS Inicialmente foi feita uma revisão bibliográfica sobre os supracitados conceitos. A atividade desenvolveu-se no 1º bimestre do ano letivo de 2009 na Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Profª. Maria Geny S. Timóteo, situada em João Pessoa-PB. Foram trabalhadas duas turmas do 3º ano do Ensino Médio da EJA. Uma destas, inclusiva (surdos e ouvintes) e a outra apenas de ouvintes.

3 Foram confeccionados cinco quebra-cabeças com o assunto de Isomeria Plana. Cada um com uma cor característica (verde, vermelho, azul, amarelo e rosa) onde se utilizou diversos materiais de baixo custo. Usou-se também, purpurina colorida para enfatizar as funções orgânicas e as cadeias carbônicas. Os quebra-cabeças abordando os cinco tipos de Isomeria Plana (função, cadeia, posição, compensação e tautomeria), foram então montados. A turma do 3º ano A contém 22 alunos ouvintes, a qual foi dividida em 5 grupos. Por outro lado, a turma do 3º ano C, inclusiva, possui 19 discentes, dentre os quais, quatro surdos. Nesta, foram divididos quatro grupos, contendo cada um, de 4 a 5 ouvintes e um surdo. As duas turmas dispuseram de esboços das moléculas para a montagem. Em seguida, foram aplicadas em ambas as turmas, um instrumento avaliativo contendo três questões subjetivas, onde os alunos opinaram quanto à utilização do lúdico como ferramenta auxiliar nas aulas de Química, e se esta metodologia pôde favorecer de alguma maneira no seu processo de ensinoaprendizagem. RESULTADOS E DISCUSSÃO Durante a aplicação do jogo lúdico na turma inclusiva, tivemos a presença da intérprete de Libras e da professora que realizaram estratégias de ensino com base no aspecto visual (WILCOX apud MARQUES, 2007). O interesse por parte de TODOS os alunos foi nítido pelas suas expressões, como mostra a Figura 1, assim como nas respostas referentes às questões subjetivas como: Professora, me vejo mais importante, Gostei, porque brincamos e aprendemos, Ótimo para estimular a mente a trabalhar, Adorei, porque temos uma atenção maior no assunto e isso faz com que você aprenda se divertindo, As aulas de Química deveriam ser sempre assim, Muito bom porque mexe com o nosso raciocínio.

4 Figura 1-Montagem dos quebra-cabeças nas duas turmas Diante do exposto, pode-se notar que através da metodologia lúdica, consegui-se promover uma educação mais agradável e significativa. Pois segundo Almeida, a educação lúdica está distante da concepção ingênua de passatempo, brincadeira vulgar, diversão superficial, sendo portanto, uma ação inerente na criança, no adolescente, no jovem e no adulto, aparecendo sempre como uma forma transacional em direção a algum conhecimento, que se redefine na elaboração constante do pensamento individual em permutações com o pensamento coletivo (1998, p. 13). CONCLUSÕES De acordo com os resultados obtidos, pode-se perceber que o quebracabeça empregado para TODOS os alunos de EJA, colaborou significativamente com o aprendizado. O lúdico conseguiu levar os discentes à compreensão e ao estudo da Química de forma bem diferente da convencional. Destarte, contribuindo no arrefecimento de problemáticas como a falta de atenção, desmotivação, indisciplina e baixo rendimento escolar. Além disso, considerando as especificidades dos alunos surdos, estes participaram ativamente da montagem, pois o aspecto visual evidenciado em cada peça facilitou o raciocínio e o aprendizado dos mesmos.

5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALMEIDA, Paulo N. Educação Lúdica: Técnicas e jogos pedagógicos. 9ª ed. São Paulo: Loyola, BERNADELLI, Marlize Spagolla. Encantar para ensinar Um procedimento alternativo para o ensino de Química. In: CONVENÇÃO BRASIL LATINO AMÉRICA, CONGRESSO BRASILEIRO E ENCONTRO PARANAENSE DE PSICOTERAPIAS CORPORAIS. Foz do Iguaçu. Anais Centro Reichiano, CD-ROM. [ISBN ]. BRASIL. Lei n , de 20 de dezembro de Estabelece as diretrizes e base da educação nacional. Brasília, 185º da Independência e 108º da República. Disponível em: < Acesso em: 09 maio Ministério da Educação, Secretaria de Educação Especial. Direito à educação - necessidades educacionais especiais: subsídios para atuação do Ministério Público Brasileiro. Brasília: MEC, SEESP, 2001, p Lei nº de 24 de abril de Dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais - Libras e dá outras providências. Disponível em:< seesp/arquivos/txt/lei10436.txt> Acesso em: 10 de maio Decreto nº 5.626, de 22 de dezembro de Presidência da República.Regulamenta a Lei nº , de 24 de abril de 2002, que dispões sobre a Língua Brasileira de Sinais Libras, e o art. 18 da Lei nº 10,098, de 19 de dezembro de Brasília, 184ª da Independência e 117ª da República. Disponível em: < Acesso em: 10 maio, 2009.

6 MARQUES, Rodrigo Rosso. Educação de Jovens e Adultos : Um dialogo sobre a educação e aluno surdo. In : QUADROS, Ronice M.; PERLIN, Gladis, (Orgs). Estudos Surdos II. Petrópolis, RJ: Arara Azul, SILVA, Adilson F.; BRANCO, Castelo; MELLO, Maria C. A inclusão escolar de alunos com necessidades educacionais especiais Deficiência Física. Imprenta: Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Especial, 2006, p. 07; 23; 48; 49. UNESCO.Declaração de Salamanca. Sobre Princípios, Políticas e Práticas na Área das Necessidades Educativas Especiais.1994.Disponível em: < Acesso em : 10 de maio, 2009 WILCOX, Sherman & WILCOX, Phyllis Perin. Trad. de Tarcisio de Arantes Leite. Aprender a ver: Um ensino de língua de sinais americana com segunda língua. Rio de Janeiro:Arara Azul, 2005 apud MARQUES, Rodrigo Rosso. Educação de Jovens e Adultos : Um diálogo sobre a educação e aluno surdo. In : QUADROS, Ronice M.; PERLIN, Gladis, (Orgs). Estudos Surdos II. Petrópolis, RJ: Arara Azul, 2007, p. 141.