EFEITO DA TORTA DE MAMONA E DO REPOLHO NA BIOFUMIGAÇÃO E SOLARIZAÇÃO DO SOLO PARA CONTROLE DE FITONEMATÓIDES ASSOCIADOS AO PESSEGUEIRO

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1 EFEITO DA TORTA DE MAMONA E DO REPOLHO NA BIOFUMIGAÇÃO E SOLARIZAÇÃO DO SOLO PARA CONTROLE DE FITONEMATÓIDES ASSOCIADOS AO PESSEGUEIRO Cesar Bauer Gomes 1 ; Daniel Lopes Lima 1 ; Sérgio Delmar dos Anjos e Silva 1 ; Carlos Reisser Junior 1 ; André Vanconselos da Costa 1 ; Luís Eduardo Correa Antunes 1, Maria Laura Mattos 1, João Guilherme Casagrande Júnior 1 ; José Soares do Nascimento 2 e Andréa Bittencourt Moura 2. 1 Embrapa Clima Temperado, cbauer@cpact.embrapa.br; 2 UFPEL, jsnpel@ufpel.tche.br, abmoura@ufpel.tche.br RESUMO - Considerando que os resíduos gerados no beneficiamento da cultura da mamona apresentam grande potencial no controle de nematóides fitoparasitas, foi objetivo deste trabalho, estudar o efeito da torta de mamona (TM) e outros resíduos vegetais na biofumigação e solarização do solo para controle de fitonematóide do pessegueiro e seus efeitos sobre nematóides de vida livre. Canteiros de 1,5 x 3,5m foram preparados sobre pomar de pessegueiro previamente arrancado, sendo o solo arado e gradeado para estabelecimento dos tratamentos: 1) biofumigação do solo com repolho (resíduo picado, seco, incorporado, solo umedecido e coberto com plástico transparente); 2) biofumigação com TM; 3) biofumigação com TM e repolho; 4) solarização do solo com plástico transparente; 5) solo mantido sem vegetação (alqueive). Decorridos 50 dias, foram retiradas amostras de solo de cada parcela para processamento e contagem dos diferentes nematóides, determinando-se o percentual de controle. A biofumigação do solo com TM, isolada ou associada ao repolho, foi eficiente no controle de Mesocriconema xenoplax e Helicotylenchus sp., apresentando níveis de supressão entre 85 e 94%. Todos tratamentos afetaram as populações de nematóides de vida livre no solo, entretanto, nas camadas mais profundas, independentemente do método testado, ocorreu menor redução destes organismos comparativamente aos gêneros fitoparasitas. INTRODUÇÃO No Brasil, o controle de fitonematóides em espécies frutíferas como o pessegueiro e a ameixeira, baseia-se, principalmente, na utilização de porta-enxertos tolerantes ao nematóide das galhas (Meloidogyne spp.) e no manejo do pomar através de práticas culturais que favoreçam a redução das populações de diversos gêneros fitoparasitas em níveis abaixo do limiar de dano econômico (GOMES, 2005). Entretanto, ainda não se dispõe de porta-enxertos resistentes e ou tolerante destas prunóideas a todas espécies fitoparasitas economicamente importantes. Da mesma forma, o emprego de estratégias de controle baseadas em medidas eficientes de controle como a rotação de culturas, leva no mínimo dois anos para reduzir significativamente os níveis populacionais destes patógenos no solo, o que pode ser considerado um tempo demasiadamente longo, dependendo da necessidade de uso do solo.

2 O emprego da solarização e da biofumigação do solo na redução das populações de fitonematóide tem sido estudada por vários pesquisadores (FREITAS et al., 2000). Estas técnicas baseiam-se no uso de um filme plástico sobre o solo (vedado) com a presença ou não de um resíduo orgânico por um período de 30 a 60 dias. Entretanto, dispõe-se de poucas informações sobre a efetividade desses dois métodos no controle do nematóide anelado (M. xenoplax), fitonematóide associado à síndrome da morte precoce do pessegueiro, problema sério na região Sul que vem limitando a produção de pêssegos há mais de duas décadas. Considerando-se que na Metade do Sul do Rio Grande do Sul a cultura da mamona tem se expandido consideravelmente nos dois últimos anos, e, que grande volume de resíduos serão gerados no seu beneficiamento, teve-se por objetivo neste trabalho, estudar o potencial de uso da torta de mamona e de folhas de repolho na biofumigação e solarização do solo para controle do nematóide anelado e de outros fitonematóides. MATERIAL E MÉTODOS Em uma área naturalmente infestada com os nematóides fitoparasitas Mesocriconema xenoplax, Helicotyelnchus sp. e Tylenchus sp., avaliou-se o efeito da solarização e da biofumigação do solo com torta de mamona e folhas de repolho no controle destes patógenos; estudando-se também a influência destes tratamentos sobre as populações dos nematóides de vida-livre que ocorriam neste local. Em um pomar de pessegueiro com aproximadamente 15 anos, inicialmente, arrancaram-se as plantas, sendo a área, logo após, arada e gradeada. Posteriormente montaram-se, canteiros de 1,5 x 3,5m, os quais constituíram as parcelas experimentais. Os tratamentos foram: biofumigação com repolho (T1), com torta de mamona e repolho (T2), e com torta de mamona (T3), solarização (T4) e alqueive (T5). O ensaio constou de 5 tratamentos, onde foram avaliadas as populações de nematóides em 3 profundidades do solo, utilizando-se seis repetições. Antes do estabelecimento dos diferentes tratamentos, foram retiraradas amostras compostas de solo, de cada parcela na profundidade de 0 a 25cm, para logo após serem processadas (JENKINS, 1964) e avaliadas sob microscópio estereoscópico quanto a presença e número dos diferentes nematóides fitoparasitas e de vida-livre presentes nas amostras. Nos tratamentos onde se testou a biofumigação do solo com repolho, inicialmente, distribuiramse 12 Kg de folhas picadas sobre o canteiro, deixando-se o material secar por 6 dias. Logo após, realizou-se a incorporação deste material nas respectivas parcelas, o solo foi umedecido, coberto com

3 filme de polietileno incolor transparente de 100µm de espessura, vedando-se o solo com o referido material. A biofumigação com torta de mamona consistiu na incorporação de 4,5kg deste resíduo ao solo de cada unidade experimental. Imediatamente o solo foi umedecido, coberto com filme plástico e vedado. Alternativamente, foi testado o efeito em conjunto da torta de mamona e de repolho utilizandose as mesmas quantidades de ambos materiais na mesma seqüência e procedimento. A solarização caracterizou-se pela cobertura do solo úmido com o plástico, sem adição de resíduo orgânico. Após o estabelecimento dos diferentes tratamentos, os mesmos foram submetidos à radiação solar por 50 dias no período de dezembro/2005 a fevereiro/2006. Como testemunha, foram utilizadas parcelas onde o solo foi mantido sob alqueive (solo mantido sem vegetação). Para monitoramento das temperaturas máximas e mínimas foram instalados sensores de temperatura a 5 e 15cm de profundidade do solo nos diferentes tratamentos. Decorridos 50 dias do estabelecimento deste trabalho, coletou-se uma amostra composta de cada parcela nas profundidades de 0-5, 5-15 e 15-25cm do perfil do solo para processamento (Jenkins, 1964) e quantificação da população final dos nematóides fitoparasitas e de vida-livre, determinando-se o percentual de controle do nematóide em cada tratamento. Posteriormente, as médias dos valores obtidos nos diferentes tratamentos, foram submetidas a ANOVA, sendo as médias dos diferentes tratamentos, em esquema fatorial, comparadas entre si pelo teste de Duncan a 5% de probabilidade. RESULTADOS E DISCUSSÃO Verificou-se que tanto a biofumigação do solo com torta de mamona, repolho, e de ambos os resíduos associados, assim como a solarização deste foram mais eficientes no controle de M. xenoplax (93,6-84,9%) em comparação com o método de alqueive (p<0,01), conforme tabela 1. Entretanto, para o gênero Helicotylenchus, apenas a biofumigação com torta de mamona, individual ou associada ao repolho, diferiu da testemunha, controlando, em média, 93,5% das populações desse nematóide. De acordo com Singh et al. (1983) e Lordello (1983), quando um material orgânico é incorporado ao solo, além de favorecer a multiplicação de inimigos naturais, sua decomposição resulta na liberação de alguns compostos nocivos aos nematóides. Entretanto, a incorporação de algum resíduo orgânico ao solo e a sua posterior vedação com filme plástico, podem resultar em maiores níveis de desinfecção do que a sua solarização ou adição de resíduo, separadamente (STAPLETON e HEAD, 1991). Embora a literatura demonstre este efeito, os resultados obtidos neste trabalho foram diversos (Tab. 1). No caso específico de incorporação de resíduos de brássicas, a redução dos níveis populacionais de fungos e

4 nematóides é atribuída à liberação de grande quantidade de enxofre (MAYTON et al. 1996), glicosinolatos (LEWIS e PAPAVIZAS, 1971), isotiocianatos, nitrilas, tiocoanatos e epinitrilas (MAYTON, et al., 1995), decorentes do processo de decomposição desses materiais. Da mesma forma, em vários trabalhos (LORDELLO et al., 1983, ZEN e ALVES, 1983; MORAES, 1976; KHAN et al., 1973) é referido o uso da torta e farelo de mamona no controle de fitonematóides, quer seja pelo efeito nematicida direto através da liberação de substâncias tóxicas como a ricina, e outras, decorrentes do processo de decomposição, quer seja pela estimulação da microbiota natural do solo, antagônica a estes fitopatógenos. Conforme resultados da Figura 1, observou-se influência da profundidade do solo no controle dos nematóides avaliados, independentemente do método de controle testado. Para o gênero Helicotylenchus sp., não houve diferença estatística nas camadas de 0-5 e 5-10cm de profundidade do solo, verificando-se altos níveis de controle em ambos perfis (98,99-93,75%). Embora tenha sido observado bom nível de controle de M. xenoplax nos perfis mais inferiores do solo, na camada superficial do solo houve maior supressão deste nematóide. Apesar de todos os métodos de controle terem afetado sensivelmente as populações de nematóides de vida livre no solo (Tab. 1), os tratamentos de biofumigação com repolho apresentaram menor efeito no controle destes organismos. Comparando-se os percentuais de controle de M. xenoplax deste trabalho (Tab. 1) com aqueles encontrados por Gomes et al., (2004), verificou-se aumento significativo da supressão deste nematóide pela biofumigação do solo no primeiro. Isto se deve, provavelmente, ao filme plástico utilizado; pois Gomes et al., usaram plástico preto transparente; o que deve ter dificultado o aquecimento do solo, não atingindo valores suficientemente altos para controle deste patógeno. Apesar de ter sido observado bom nível de controle da nematofauna estudada empregando-se a biofumigação com torta de mamona e repolho, estudos adicionais com outros tipos de filmes plásticos associados a diferentes resíduos orgânicos e outras quantidades de material/área aplicada, podem viabilizar o emprego desta prática na redução das populações dos nematóides fitoparasitas no solo. CONCLUSÕES A biofumigação do solo com torta de mamona, separada ou em conjunto com o repolho, demonstra ser um método alternativo eficiente no controle de M.xenoplax e Helicotylenchus sp.; além

5 do que, os resíduos deste material podem ser usados como adubo orgânico, incrementando a produção agrícola. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS FREITAS, L.G.; MITCHELL, D.J.; DICKSON. D.W.; CHELLEMI, D.O. Soil solarization and organic amendment effects on Pasteuria penetrans. Rer. Nematologia Brasileira, v.24, n.2, p GOMES, C.B. & HERTER, F.G. Avaliação da biofumigação e solarização do solo no controle de Mesocriconema xenoplax, nematóide associado à morte precoce do pessegueiro. In: Anais do XVIII Congresso Brasileiro de Fruticultura, 2004, Florianópolis-SC. v. CD Rom. GOMES, C.B. Fitonematóides que afetam o pessegueiro e a ameixeira: importância e resultado de pesquisas. Pelotas: Embrapa Clima Temperado, p. (Embrapa Clima Temperado. Comunicado Técnico, 124). Disponível em: JENKINS, W.R.. A rapid centrifugal-flotation technique for separating nematodes from the soil. Plant Disease Reporter, vol.48, p.692. KHAM, M.W.; KHAN, A.M; & SAXENA, S.K. Influence of certain oilcakes amendments on nematode and fungi in tomato field. Acta Botanica Indica, 1(1/2):49-54, LEWIS, J.A. & PAPAVIZAS, G.C. Effect of sulfur-containing volatile coumpounds and vapours from cabbage decomposition on Aphanomyces euteiches. Phytopathology, 61: , LORDELLO, R.R.A.; SAWAZAKIE, E.; LORDELLO, L.A.J.; SOBRINO J.A. Controle de Pratylechus spp. com nematicidas sistêmicos e com torta de mamona. Anais da VII Reunião Bras. Nematologia, p MAYTON, H.S.; OLIVER, C.; VAUGHN, S.F. & LORIA, R. Correlation of fungicidal activity of Brassica species with allyl isothiocyanat e production in macerated leaf tissue. Phytopathol., v.86, p MORAES, M.V. & LORDELLO, L.G.E. Uso de torta de mamona no controle de nematóides em solo para viveiros de café. Anais da II Reuniaão de Nematologia, p , SINGH, S.P.; PANT, V.; KHAM, A.M.; SAXENA, S.K.. Atracctiveness of Meloidogyne inconita larvae to the root of tomato and changes in biochemical content of plants as affected by oilcakes and nematicides. Nematologia Mediterranea, vol.11, n.2, p STAPLETON, J.J.; HEALD, C.M. Management of phytoparasitic nematodes by soil solarization. In: KATAN, J. & DEVAY, J.A. Soil solarization, Boca Raton Fl, p

6 ZEN, A.C. & ALVES, L.J. Efeito de diferentes práticas sobre as populações de Radopholus similis. Anais da VII Reunião Brasileira de Nematologia, p , Tabela 1. Percentual de controle de M. xenoplax, Helicotylenchus sp. e nematóides de vida-livre em solo submetido à solarização, biofumigação com torta de mamona e repolho, e, mantido sob alqueive (testemunha), por um período de 50 dias. Embrapa Clima Temperado, Pelotas/RS, TRATAMENTOS CONTROLE (%) Mesocriconema xenoplax Helicotylenchus sp. Nematóides vida-livre Biofumig. repolho 93,6a 86,9ab 78,7ab Solarização 87,7a 88,8ab 89,2a Biof.TM + repolho 86,0a 93,2a 79,14ab Biofumig. TM 84,9a 93,8a 80,5a Alqueive 73,0 b 76,8 b 73,0b CV(%) 19,87 18,46 29,72 TM- torta de mamona; *valores com letras distintas, na mesma coluna, diferem entre si pelo Teste de Duncan a 5%. Controle (%) ,98a 88,82b 69,08c 0-5cm 5-10cm 15-25cm Profundidade (cm ) a Controle (%) ,33a 93,75a 72,12b 0-5cm 5-10cm 15-25cm Profundidade (cm ) b Controle (%) ,8a 81,97b 56,7c 0-5cm 5-10cm 15-25cm Profundidade (cm ) c

7 Figura 1. Controle de M. xenoplax (a), Helicotylenchus sp. (b) e nematóides vida-livre (c) em três diferentes perfis de solo submetido à solarização, biofumigação com torta de mamona e repolho, e, mantido sob alqueive, por um período de 50 dias. Embrapa Clima Temperado, Pelotas/RS, 2006.