GREBLER ADVOGADOS INSTITUTO DOS ADVOGADOS BRASILEIROS COMISSÃO PERMANENTE DE DIREITO INTERNACIONAL

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1 INSTITUTO DOS BRASILEIROS COMISSÃO PERMANENTE DE DIREITO INTERNACIONAL Indicação n. 34/2012 Parecer acerca da Convenção da Haia sobre a Obtenção de Provas no Estrangeiro em Matéria Civil ou Comercial, de 18 de março de 1970 Ementa: Convenção da Haia sobre a Obtenção de Provas no Estrangeiro em Matéria Civil ou Comercial. Decreto Legislativo n". 137/2013. Compatibilidade do texto convencional com a legislação vigente. Compatibilidade com as Convenções Interamericanas de Direito Internacional Privado sobre a matéria. Pela aprovação do texto como sugerido pelo Congresso e adoção pelo Brasil da Convenção da Haia sobre a Obtenção de Provas no Estrangeiro em Matéria Civil ou Comercial. L Considerações preliminares 1. Em 2/1 0/2013, o Presidente da Comissão Permanente de Direito Internacional do Instituto dos Advogados Brasileiros, Dr. Luiz Dilermando de Castello Cruz, por meio da Carta SC-204/2013-CPDINT, nos solicitou parecer sobre o texto da Convenção da Haia sobre a Obtenção de Provas no Estrangeiro em Matéria Civil ou Comercial, de 18 de março de 1970 ("Convenção da Haia"), aprovado com ressalvas pelo Congresso Nacional em 20/2/2013, pelo Decreto Legislativo n , de A solicitação do parecer decorreu de o Presidente do Instituto dos Advogados Brasileiros ter submetido à Comissão Permanente de Direito Internacional a Indicação n. 34/2012, sobre Projeto de Decreto Legislativo de autoria da Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional, que "[a]prova, com ressalvas, o texto Avenida Álvares Cabral, 1777 _14 0 andar Belo Horizonte - MG Te! Fax Rua Fidêncio Ramos, andar - Conj. 82/ São Paulo - SP Te! Fax

2 da Convenção sobre a Obtenção de Provas no Estrangeiro em Matéria Civil ou Comercial, assinada na Haia, em 18 de março de 1970". 3. Feitas estas considerações preliminares, passa-se a um breve relatório dos antecedentes do referido Decreto Legislativo, ao qual se segue a análise da Convenção da Haia sob o prisma do direito internacional. li. Relatório 4. Em 6/7/2009, por meio da Mensagem n. 535, de 2009, o Presidente da República enviou ao Congresso Nacional, nos termos do art. 49, I combinado com o art. 84, inciso VIII da Constituição Federal, o texto da Convenção da Haia sobre a Obtenção de Provas no Estrangeiro em Matéria Civil ou Comercial, de 18 de março de 1970, acompanhado da Exposição de Motivos do Ministro de Estado interino das Relações Exteriores, com vistas à adesão do Brasil à referida Convenção. 5. Após regular tramitação por ambas as Casas do Congresso Nacional, bem como de pareceres das respectivas Comissões pertinentes à matéria, o texto da Convenção da Haia foi adotado, com ressalvas, nos termos do Decreto Legislativo n. 137, de 2013: "O Congresso Nacional decreta: Art. 10. Fica aprovado o texto da Convenção sobre Obtenção de Provas no Estrangeiro em Matéria Civil ou Comercial, assinada em Haia, em 18 de março de 1970, com reserva ao parágrafo 2 do artigo 4 e ao Capítulo li, nos termos do artigo 33, e com as declarações previstas nos artigos 8 e 23. Parágrafo Único. Ficam sujeitos à aprovação do Congresso Nacional quaisquer atos que possam resultar em revisão da referente Convenção, bem como quaisquer ajustes complementares que, nos termos do inciso I do art. 49 da Constituição Federal, acarretem encargos ou compromissos gravosos ao patrimônio nacional. Art. 2. Este Decreto Legislativo entra em vigor na data de sua pubticação.?' 6. Em vista da aprovação da Convenção da Haia pelo Congresso Nacional, passase a analisar o seu texto final adotado no referido Decreto Legislativo, bem como os dispositivos afastados pelo Poder Legislativo. 1 Diário Oficial da União, 20 de fevereiro de

3 rn. Fundamentação 7. A Convenção da Haia é, hoje, instrumento multilateral de maior alcance versando a obtenção de provas no estrangeiro. Existente desde 1970, tem o propósito de facilitar o trânsito de solicitações judiciais entre os países signatários, para obtenção de evidências destinadas à instrução de processos judiciais cíveis. Os procedimentos nele contidos contemplam tanto as práticas processuais adotadas em países de tradição romano-germânica ("civil law") como as de países de direito consuetudinário ("common law "), com vistas a facilitar a obtenção de provas no exterior. 8. A Convenção da Haia conta hoje com 57 Estados contratantes e, a despeito de seus mais de 40 anos de existência, permanece bastante atual - o que se deve, principalmente, ao fato de seu texto ser genérico e abrangente, possibilitando a utilização de meios contemporâneos para a transmissão de cartas rogatórias, a exemplo do que prevê o Código de Processo Civil brasileiro, em seu artigo 202, No que respeita especificamente ao contexto brasileiro, merece ser ressaltado que o expressivo número de brasileiros que atualmente mantêm vínculos pessoais ou de negócios com países estrangeiros recomenda a adoção de mecanismos que simplifiquem a circulação de atos judiciais a ser realizados no exterior. Além disto, a existência de uma convenção de abrangência ampla como a Convenção da Haia dificulta a celebração de acordos bilaterais sobre a mesma matéria, entre o Brasil e outros países. 10. Cabe registrar, no entanto, a existência de duas outras convenções com propósitos semelhantes aos da Convenção da Haia, celebradas no âmbito das Conferências Interamericanas sobre Direito Internacional Privado (CIDIP's). Tratase da Convenção Interamericana sobre Obtenção de Provas no Estrangeiro e da Convenção Interamericana sobre Cartas Rogatórias, ambas elaboradas na CIDIP-I, realizada na cidade do Panamá, em A Convenção sobre Cartas Rogatórias foi ratificada pelo Brasil, por meio do Decreto n" , de 9 de maio de 1996, e seu Protocolo Adicional, concluído em Montevidéu em 8 de maio de 1979, foi também 3

4 incorporado ao ordenamento jurídico pátrio pelo Decreto n" , de 7 de outubro de A Convenção Interamericana sobre Obtenção de Provas no Estrangeiro não foi até o momento subscrita pelo Brasil. 11. A pré-existência de convenções sobre obtenção de provas no âmbito da Organização dos Estados Americanos, no entanto, não obsta a adesão do Brasil à Convenção da Haia com igual finalidade, uma vez que não se verificam conflitos entre os dispositivos desses dois instrumentos internacionais. As convenções interamericanas supracitadas, em conjunto, possuem âmbito de aplicação semelhante ao da Convenção da Haia; contudo, por ser esta um instrumento de maior alcance multilateral, sua adoção pelo Brasil resultará mais eficaz do que as convenções de âmbito regional. Além disto, os mencionados instrumentos se mostram compatíveis entre si e com o restante do ordenamento jurídico brasileiro. 12. Passa-se a analisar as ressalvas contidas no Decreto Legislativo por meio do qual o Congresso Nacional aprovou a Convenção da Haia. 13. O Decreto Legislativo n". 137, de 2013, aprovou o texto da Convenção da Haia com duas reservas e duas declarações, que se referem ao parágrafo 2 do artigo 4 e ao Capítulo li. As reservas são autorizadas pelo artigo 33 da própria Convenção da Haia, ao passo que as declarações, se referem a seuss artigos 8 e A reserva referente ao parágrafo 2 do artigo 4 exclui a obrigatoriedade de aceitação de cartas rogatórias traduzi das para o idioma inglês ou francês, tornando necessário que, para ser cumprida por autoridade brasileira a carta rogatória venha acompanhada de sua tradução para o idioma português. Esta reserva, proposta pelo Congresso Nacional, se mostra em consonância com a legislação pátria, em especial os artigos 156 e 157 do Código de Processo Civil, que exigem o uso do vernáculo para os atos processuais e a juntada de documentos estrangeiros com a respectiva tradução juramentada. 15. A reserva ao Capítulo II exclui a possibilidade de obtenção de provas por agentes diplomáticos ou consulares e por comissários. Tal reserva mostra-se igualmente em consonância com os preceitos do ordenamento processual brasileiro, 4

5 segundo o qual as cartas rogatórias e os atos processuais em geral, mesmo quando digam respeito a nacionais de outros países, como prevê o texto da Convenção da Haia, devem ser executados no Brasil pelo Poder Judiciário nacional. Com efeito, a Resolução n. 9, de 4 de maio de 2005, do Superior Tribunal de Justiça, determina em seu artigo 13 que as cartas rogatórias às quais for concedido exequatur pelo Presidente do STJ serão cumpridas "pelo Juiz Federal competente". Por seu turno, o Código de Processo Civil prevê, como requisito essencial da carta rogatória, a indicação do juiz de cumprimento do ato. Com isto, a exclusão do Capítulo II da Convenção da Haia, permitida por seu artigo 33, harmoniza o texto aprovado pelo Congresso com o ordenamento jurídico-processual nacional. 16. A declaração ao artigo 8 possibilita a magistrados de outros Estados contratantes assistir ao cumprimento das cartas rogatórias no Brasil, desde que devidamente autorizados pela autoridade nacional que as executa. 17. Conforme a declaração inseri da pelo Congresso Nacional ao artigo 23 da Convenção da Haia, o Brasil não aceitará cartas rogatórias que tenham por objeto atos processuais a ser praticados na chamada fase de "discovery ", Essa fase processual, própria do sistema processual civil estadunidense, consiste na investigação e obtenção de provas pelas partes litigantes antes de o processo ser levado à autoridade judiciária. lnexistindo fase semelhante no ordenamento processual brasileiro, mostra-se sensata a proposição do Congresso Nacional, ao excluir do escopo de aplicação da Convenção da Haia o cumprimento de cartas rogatórias que digam respeito a essa fase processual. Portanto, a referida declaração compatibiliza o texto da Convenção com a sistemática processual brasileira. IV. Conclusões 18. Ante o exposto, somos de parecer que a Convenção da Haia, com as declarações e reservas propostas pelo Congresso Nacional, se concilia com o sistema jurídico brasileiro e atende ao interesse de cidadãos e agentes econômicos brasileiros com interesses no exterior. Além disto, tratando-se de instrumento normativo que resulta da vontade coletiva de diferentes nações, é desejável que o Brasil passe a 5

6 fazer parte do mesmo, demonstrando assim seu apreço pela cooperação jurídica internacional. 19. A coexistência da Convenção da Haia com as Convenções Interamericanas de Direito Internacional Privado sobre matéria semelhante não afronta nenhum dos referidos instrumentos e se harmoniza o espirito de ambos, possibilitando a coexistência desses mecanismos de cooperação jurídica internacional. 20. Por tais razões, nosso parecer é favorável à promulgação da Convenção da Haia pelo Poder Executivo brasileiro, com o texto sugerido pelo Decreto Legislativo n. 137, de É o nosso parecer, sub censura. Belo Horizonte, 25 de novembro de