DESEMPENHO AGRONÔMICO E ANÁLISE ECONÔMICA DE GENÓTIPOS DE MILHO SAFRINHA EM DUAS ÉPOCAS DE SEMEADURA

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1 DESEMPENHO AGRONÔMICO E ANÁLISE ECONÔMICA DE GENÓTIPOS DE MILHO SAFRINHA EM DUAS ÉPOCAS DE SEMEADURA Fernando Bessa Araújo 1, Alessandro Guerra da Silva 2, Vagner Alves da Silva 3, Ivan Barboza 1, Juliano Graciano Brito 1, Liliane da Silva Costa 1 1. INTRODUÇÃO O cultivo de milho após a colheita da soja, semeada na época de verão, iniciou na década de 80 no Estado do Paraná. Com o passar dos anos, a importância dessa modalidade de cultivo foi crescendo e se estendeu para outros Estados (Corrêa et al., 1997), principalmente no Brasil Central, como no Mato Grosso (Duarte et al., 2007). Nos últimos anos, o milho safrinha se consolidou, tendo registrado aumento expressivo em área cultivada e produtividade (Tsunechiro & Ferreira, 2005). Este sistema de cultivo permitiu também a consolidação do sistema de plantio direto em sucessão a cultura da soja (Possamai et al., 2001). No entanto, para se ter êxito no cultivo do milho safrinha, é necessário o posicionamento adequado de cultivares. Em virtude da grande quantidade de cultivares comerciais de milho, da rapidez de sua substituição no mercado e da variabilidade das características agronômicas, técnicos e agricultores necessitam de informações para a correta escolha dos materiais a fim de selecionar aqueles mais adequados às condições edafoclimáticas da região de cultivo (Farinelli et al., 2003). As condições climáticas prevalecentes durante o desenvolvimento do milho safrinha influenciam o rendimento final da lavoura. Diante disto, o aumento de rendimento é 1 Acadêmicos de Agronomia, Fesurv-Universidade de Rio Verde, CP 104, CEP , Rio Verde-GO, fbearaujo@hotmail.com 2 Professor da Faculdade de Agronomia, Fesurv-Universidade de Rio Verde, Rio Verde-GO, silvaag@yahoo.com.br 3 Engenheiro Agrônomo da Secretaria de Agricultura, Pecuária e Abastecimento-SEAGRO, Rio Verde- GO. vasilva09@brturbo.com.br 319

2 atribuído não só as melhorias das práticas culturais, mas também ao posicionamento correto de cultivares e as condições climáticas favoráveis ao desenvolvimento das plantas, sendo que estes fatores interagem em condições de campo (Lopes et al., 2007). Resultados expressivos de produtividade têm sido apresentados em trabalhos de pesquisa com milho safrinha no Paraná (Gonçalves & Costa, 2007; Shioga et al., 2007), atingindo, em algumas situações, valores maiores que kg ha -1. Em Goiás, especialmente na região Sudoeste, são realizadas várias atividades de difusão de tecnologias que auxiliam os produtores, agrônomos e técnicos agrícolas a tomarem decisões no manejo da cultura. Porém, os resultados científicos da performance dos genótipos de milho cultivados na região são escassos, necessitando de trabalhos para fornecer ao produtor rural informações sobre a produtividade e a viabilidade econômica do cultivo de milho safrinha. Portanto o objetivo deste trabalho foi o de comparar o desempenho agronômico de híbridos simples, triplo, duplo e de uma variedade de milho cultivados em três épocas de semeadura na safrinha no município de Montividiu (GO), além da viabilidade econômica do uso de híbridos de milho em relação à variedade. 2. MATERIAIS E MÉTODOS O ensaio foi instalado na Fazenda 2J1, na safrinha de 2008, localizada no município de Montividiu-GO, em solo classificado como Latossolo Vermelho escuro cultivado no sistema plantio direto. Os dados de precipitação durante o período de condução do ensaio encontram-se apresentados na Figura 1. Figura 1. Dados médios de precipitação (mm) no ano de 2008 na Fazenda 2J1 durante a condução do ensaio, Montividiu-GO. 320

3 Foi utilizado o delineamento de blocos casualizados em esquema fatorial 15x2, correspondendo aos quinze genótipos de milho (Tabela 1) e a duas épocas de semeadura (15 e 23 de fevereiro), com três repetições. As parcelas eram constituídas de cinco linhas de semeadura, espaçadas de 0,45 m entre si, com 5,0 metros de comprimento. Para a obtenção da área útil considerou-se as duas linhas centrais, eliminando 0,5 m de cada extremidade, perfazendo assim área útil de 3,6 m². Tabela 1. Características dos genótipos de milho (ciclo, cor, textura e valor do saco com sementes, em reais), Montividiu-GO, Genótipos Ciclo* 1 Cor Textura R$ Híbridos simples AG9040 SP Alaranjado Duro 230,00 DOW 2A525 P Laranja Semiduro 230,00 AGN30A06 SP Alaranjado Semiduro 246,71 P30K73 P Am.-alaranjado Semiduro 198,00 DKB390 P Am.-alaranjado Semiduro 270,00 BRS1031 P Alaranjado Semiduro 155,33 Híbridos triplos P3027 SMP Alaranjado Duro 160,00 AG5020 P Alaranjado Semiduro 230,00 AGN20A06 P Alaranjado Semiduro 219,14 DKB350 P Alaranjado Semiduro 220,00 P30F87 P Alaranjado Duro 174,00 Híbridos duplos A4454 P Laranja Semiduro 145,00 Cargo P Alaranjado Duro 147,00 DKB789 P Am.-alaranjado Semiduro 150,00 Variedade AL Bandeirante SMP Alaranjado Semiduro 40,00 * 1 SP-super precoce; P-precoce; SMP-semiprecoce. Antes da implantação do ensaio, foi realizada a dessecação das plantas daninhas, empregando o equivalente a 2,0 l ha -1 de glyphosate sal de potássio e 3,0 l ha -1 de atrazina com volume de calda de 150 L ha -1. As sementes de milho foram tratadas com imidacloprido + tiodicarbe na dose de 0,35 L ha -1. No dia da semeadura, foi realizada, com emprego de uma semeadora, a abertura dos sulcos e realizada a adubação equivalente a 400 kg ha -1 da formulação

4 A semeadura foi realizada manualmente, sendo o desbaste feito aos quatorze dias após a emergência das plântulas, deixando o equivalente a plantas por hectare em ambas épocas de semeaduras. A adubação nitrogenada de cobertura foi realizada com 200 kg ha -1 de uréia aos vinte e sete dias após a emergência. O manejo de ervas daninhas, em pós-emergência, foi realizado com uso de 0,3 L ha -1 de nicosulfurom, em volume de calda de 200 L ha -1. Para o controle de Spodoptera frugiperda, foram realizadas aplicações de endossulfam e metomil (0,6 L ha -1 ) e lufenurom + profenofós (0,3 L ha -1 ) empregando volume de calda de 200 L ha -1. Não foram feitas aplicações de fungicidas. A colheita foi realizada manualmente após a maturidade fisiológica. Foram avaliados o rendimento de grão (padronização da umidade para 13%), a viabilidade econômica do uso da variedade (diferença do valor de venda da produção do híbrido em relação a variedade, decrescido da diferença do valor da aquisição das sementes do híbrido em relação a variedade) e a relação benefício/custo (relação do valor de venda da produção pelo valor de aquisição do saco de sementes, ambos em reais). Considerouse R$ 18,00 o valor a saca de grãos de milho em julho de 2008 em Rio Verde-GO. Os dados de rendimento de grãos e relação benefício/custo foram submetidos a análise de variância, empregando o teste de Scott-Knott a 5% de probabilidade. 3. Resultados e Discussão Os resultados obtidos para rendimento de grãos permitiram constar interação entre genótipos e épocas de semeadura (Tabela 2). Em ambas as épocas o híbrido duplo DKB789 e o triplo P30F87 se destacaram dos demais, demonstrando excelente potencial produtivo quando semeados a partir de meados de fevereiro na região de Montividiu (GO). Duarte et al. (2007) também verificaram desempenho superior dos híbridos triplos e duplos em relação as variedades, principalmente a AL Bandeirante. Por outro lado menores rendimentos foram obtidos com AG9040 e A4454 em ambas épocas de semeadura, com o P3027 e AG5020 na semeadura de 15 de fevereiro e com o DOW2A525, AGN30A06 e Cargo na semeadura de 23 de fevereiro, cujos resultados assemelharam com a variedade AL Bandeirante (Tabela 2). Apesar dos resultados obtidos, os valores médios são considerados superiores ao milho safrinha cultivado em Goiás (Silva et al. 2005) e no Estado de Mato Grosso (Souza, 2007). Quando se analisa o desempenho de cada genótipo nas diferentes épocas de semeadura, observou-se que não houve diferenças expressivas para o rendimento de grãos entre as épocas de semeadura, exceto para o DOW2A525 e o P3027 (Tabela 2). Neste caso o primeiro apresentou maior rendimento na semeadura de 15 de fevereiro e o segundo na semeadura de 23 de fevereiro. Em geral os rendimentos obtidos nas semeaduras de 15 e 23 de fevereiro em Montividiu-GO demonstraram o bom potencial produtivo do milho safrinha, gerando uma importante renda para o produtor rural. 322

5 A análise da viabilidade econômica do uso de híbridos de milho em relação a variedade encontra-se apresentada na Tabela 3. Pelos resultados obtidos, a variedade proporcionou maior retorno financeiro em relação ao AG9040 e A4454 em ambas épocas de semeadura, e também em relação aos híbridos P3027 e AG5020, semeados em 15 de fevereiro, e DOW2A525 e AGN30A06 semeados em 23 de fevereiro. Porém, para as demais situações, os híbridos de milho apresentaram maiores retornos econômicos quando comparados com a variedade, com destaque para o DKB789 e P30F87 nas duas épocas de semeadura. Na avaliação da relação benefício/custo (Tabela 3), a variedade AL Bandeirante proporcionou maiores valores em relação aos híbridos de milho, devido ao menor custo de sementes. Destacam-se também os valores obtidos para os híbridos DKB789, P30F87 e BRS1031 em ambas épocas de semeadura e do Cargo e P3027 semeados em 15 e 23 de fevereiro, respectivamente. Estes resultados demonstram a importância da escolha adequada de genótipos proporcionando ao produtor rural maior retorno econômico por unidade de investimento na compra de sementes. Tabela 2. Valores médios de rendimentos de grãos, em kg ha -1, na safrinha de 2008 em Montividiu-GO. Genótipos 15 de FEV 23 de FEV Médias AG A c A c d AL BANDEIRANTE A c A c d A A c A c d DOW2A A b B c c P B c A b c AGN30A A b A c c CARGO A b A c b AG A c A b b AGN20A A b A b b P30K A b A b b DKB A b A b b DKB A b A b b BRS A b A b b P30F A a A a a DKB A a A a a Médias A A * Médias seguidas pela mesma letra maiúscula na linha e minúscula na coluna não diferem entre si pelo teste de Scott-Knott a 5%. 323

6 Tabela 3. Valores médios da viabilidade econômica do uso de híbridos em relação a variedade e da relação benefício/custo, em R$ ha -1, de genótipos de milho cultivados na safrinha de 2008, Montividiu-GO. Genótipos Viabilidade econômica (R$) Relação benefício/custo (R$) 15 de FEV 23 de FEV 15 de FEV 23 de FEV AG ,40-226,79 6,86 A e 7,03 A d DOW2A ,81-249,00 8,50 A e 6,93 A d A ,77-105,73 11,39 A d 11,40 A c AL BANDEIR. 0,00 0,00 39,28 A a 41,33 A a P ,58 362,71 10,48 B d 13,35 A b AGN30A06 145,09-246,39 7,79 A e 6,54 A d AG ,64 131,31 7,50 A e 8,59 A d AGN20A06 382,84 146,61 9,73 A d 9,03 A d DKB ,76 234,60 7,40 A e 7,84 A d CARGO 412,86 99,56 14,23 A c 12,65 A c P30K73 293,04 358,47 10,21 A d 10,96 A c DKB ,51 261,61 9,43 A d 9,52 A d BRS ,36 459,95 13,09 A c 14,35 A b P30F87 645,31 686,59 13,51 A c 14,22 A b DKB ,85 624,93 16,51 A b 15,92 A b Médias 169,23 23,19 12,39 2,64 * Médias seguidas pela mesma letra maiúscula na linha e minúscula na coluna não diferem entre si pelo teste de Scott-Knott a 5%. 4. Conclusões Os híbridos DKB789 e P30F87 apresentaram maior rendimento de grãos nas semeaduras de 15 e 23 de fevereiro. A variedade AL Bandeirante proporcionou maior relação benefício/custo, seguido dos híbridos DKB789, P30F87 e BRS1031 em ambas épocas de semeadura e Cargo e P3027 nas semeaduras de 15 e 23 de fevereiro, respectivamente. 5. Agradecimentos Ao proprietário e funcionários da Fazenda 2J1, pelo apoio na realização do ensaio. 324

7 6. Referências CORRÊA, L.A.; CRUZ,J. C. FILHO, I.A.P. Avaliação de cultivares de milho para a safrinha na Região Centro-Sul em In: SEMINÁRIO SOBRE A CULTURA DO MILHO SAFRINHA, 4., 1997, Assis. Resumos... Assis: IAC/CDV, p DUARTE, A.P.; CRUZ, F.A.; SAWAZAKI, E.; RAMOS JUNIOR, E.U.; RAMOS, V.J.; FANTIN, G.M.; PATERNIANI, M.E.A.G.Z.; PÂNTANO, A.P.; DENUCCI, S.; RECO, P.C.; KANTHACK, R.A.D.; LAGO, A.A. Desempenho de cultivares de milho safrinha na região paulista do vale do Paranapanema em 2006 e In: SEMINÁRIO DE MILHO SAFRINHA, 9., 2007, Dourados. Anais... Dourados: Embrapa Agropecuária Oeste, p DUARTE, J.de.O..; CRUZ, J.C.; GARCIA, J.C.. Evolução da produção de milho safrinha no Estado de Mato Grosso. In: SEMINÁRIO DE MILHO SAFRINHA, 9., 2007, Dourados. Anais... Dourados: Embrapa Agropecuária Oeste, p FARINELLI, R.; PENARIOL,F. G.; BORDIN, L.; COICEV, L.; FORNASIERI FILHO, D. Desempenho Agronômico de cultivares de milho nos períodos de safra e safrinha. Bragantina, Campinas, v.62, n.2, p , GONÇALVES, M.L.; COSTA, A.C.T.da. Avaliação de híbridos de milho safrinha no estado do Paraná, safra In: SEMINÁRIO DE MILHO SAFRINHA, 9., 2007, Dourados. Anais... Dourados: Embrapa Agropecuária Oeste, p LOPES, S.J. et al. Relações de causa e efeito em espigas de milho relacionadas aos tipos de híbridos. Ciência Rural, Santa Maria, v.37, n.6, p , POSSAMAI, J.M.; SOUZA,M. C. de; GALVÃO, J.C.C. Sistemas de preparo do solo para o cultivo do milho safrinha. Bragantia, Campinas, v.60, n.2, p.79-82, SILVA, V.A.da.; CAMPOS, M.C.C.; HERBERT, Í.; CAVALCANTE, L.; BECKMANN, M.Z.; PAZETO, R.J. Características agronômicas de cultivares de milho safrinha sob plantio direto em cinco municípios do Estado de Goiás. In: SEMINÁRIO DE MILHO SAFRINHA, 7., 2005, Assis. Anais... Campinas: Instituto Agronômico, p SHIOGA, P.S.; GERAGE, A.C. GARBUGLIO, D.D. Comportamneteo dde cultivares de milho avaliado em oito ambientes do estado do Paraná na segunda safra de In: SEMINÁRIO DE MILHO SAFRINHA, 9., 2007, Dourados. Anais... Dourados: Embrapa Agropecuária Oeste, p SOUZA, E.D. Ensaio estadual de milho safrinha 2007, em Mato Grosso. In: 325

8 SEMINÁRIO DE MILHO SAFRINHA, 9., 2007, Dourados. Anais... Dourados: Embrapa Agropecuária Oeste, p TSUNECHIRO, A.; FERREIRA, C.R.R.P.T. Fontes de crescimento da produção de milho safrinha no Brasil, In: SEMINÁRIO DE MILHO SAFRINHA, 8., 2005, Assis. Anais... Campinas: Instituto Agronômico, p