Situação do Controle da Verminose de Pequenos Ruminantes no Estado da Paraíba, Brasil

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1 Situação do Controle da Verminose de Pequenos Ruminantes no Estado da Paraíba, Brasil Ana Célia Rodrigues Athayde 1, Vinícius Longo Ribeiro Vilela 2, Thais Ferreira Feitosa 3, Wilson Wouflan Silva 1 1 Prof(a). Associado da Unidade Acadêmica de Ciências Biológicas, Centro de Saúde e Tecnologia Rural, Universidade Federal de Campina Grande, Campus de Patos - PB, , Brasil. athayde@cstr.ufcg.edu.br 2 Aluno(a) Programa de Pós-Graduação em Medicina Veterinária, Centro de Saúde e Tecnologia Rural, Universidade Federal de Campina Grande, Campus de Patos PB, , Brasil. 3 Aluno(a) do Curso de Medicina Veterinária, Centro de Saúde e Tecnologia Rural, Universidade Federal de Campina Grande, Campus de Patos PB, , Brasil. 1. INTRODUÇÃO O efetivo caprino no Brasil concentra-se principalmente na Região Nordeste, onde anteriormente predominava as explorações extensivas, voltadas para a produção de carne e pele. Nos últimos anos vem se incrementando a produção de leite, com a introdução de raças especializadas, criadas em regime semi-intensivo ou intensivo. A caprinocultura é uma atividade de grande importância socioeconômica para o Nordeste, em particular para a região semiárida. No entanto, existem diversos fatores que limitam a produção e produtividade desses animais, dentre eles, problemas nutricionais, de manejo e sanitários, especificamente as doenças parasitárias. As helmintoses gastrintestinais representam diretamente a maior parcela de prejuízos para o setor produtivo, sendo responsabilizadas por elevadas perdas econômicas, as quais chegam a atingir 75% do custo de produção, em decorrência de crescimento retardado, perda de peso, redução no consumo de alimentos, queda na produção de leite, baixa fertilidade e nos casos de infecções maciças, altas taxas de mortalidade. Os principais gêneros de helmintos parasitos de caprinos na região semiárida da Paraíba são: Haemonchus, Trichostrongylus, Strongyloides, Moniezia, Cooperia, Oesophagostomum, Skrjabinema, Trichuris e Cysticercus.

2 O controle do parasitismo ainda é feito utilizando-se, apenas, fármacos anti-helmínticos, que além de serem os responsáveis pelos elevados custos de produção, comprometem o ecossistema através de seus resíduos, provocando graus de intoxicação variados nos animais e indiretamente, no homem (consumidores) dificultando, desta forma, o escoamento da produção. E ainda contribuem para a persistência de parasitos, pelo aparecimento de cepas resistentes. Muitas pesquisas têm buscado desenvolver produtos baseados em substâncias naturais, que tenham a capacidade de interferir nos processos biológicos dos parasitas. No entanto, acredita-se que a aplicação de extratos vegetais possa além de diminuir a carga parasitária, causar um desenvolvimento bem mais lento da resistência, além de normalmente atingir somente espécies alvo, serem biodegradáveis, não causarem poluição ambiental e diminuírem drasticamente o problema dos resíduos. Tudo isso demonstra uma conscientização, onde a ação imediata do produto passa a não ser tão importante. Objetiva-se então fazer algumas considerações a cerca das helmintoses gastrintestinais de pequenos ruminantes no Estado da Paraíba, enfatizando-se as alternativas para o seu controle 2. CONTROLE DA VERMINOSE DE PEQUENOS RUMINANTES NO ESTADO DA PARAÍBA O Sertão paraibano apresenta grandes áreas de características geoclimáticas dos tipos árida e semiárida. Estas características limitam as criações de animais com fins de produção. Os ovinos e em especial os caprinos pela sua rusticidade e adaptação a essas regiões, tornaram-se a principal fonte alternativa de produção para a população de baixa renda. Dentre as doenças parasitárias que acometem ovinos e caprinos, os helmintos gastrintestinais são considerados como os principais agentes limitantes na ovinocaprinocultura nordestina causando queda na produção e mortalidade principalmente nos animais jovens. As helmintoses de caprinos são causadas por parasitos pertencentes às classes Nematoda, Cestoda e Trematoda, tendo como os principais gêneros parasitas: Haemonchus, Trichostrongylus, Strongyloides, Moniezia, Cooperia, Oesophagostomum, Skrjabinema, Trichuris e Cysticercus (SANTOS, 1994). Surtos epizoóticos de Haemoncose e Strongiloidose

3 caprina vêm aumentando os índices de morbidade e mortalidade do efetivo caprino na região semi-árida (ATHAYDE, 1996). Trabalhos desenvolvidos no Núcleo de Pesquisa para Desenvolvimento do Trópico Semi- Árido/CSTR/UFCG, através da determinação da freqüência mensal da fauna de helmintos relacionada com fatores climáticos, concluíram que o Haemonchus contortus foi o parasita mais prevalente no abomaso; o Strongyloides papillosus e Cooperia curticei no intestino delgado; o Oesophagostomum columbianum e o Trichuris globulosa no intestino grosso e que estas espécies estão presentes no decorrer do ano, apesar das variações climáticas (SANTOS, 1994). O principal parasito encontrado e com uma taxa de persistência em coprocultutras foi o H. contortus, que é um parasito hematófago e seu efeito patogênico resulta na incapacidade do hospedeiro de compensar as perdas sanguíneas. O animal com elevado nível de infecção parasitária pode perder até 145 ml de sangue por dia, desenvolvendo um quadro de anemia grave em um curto período de tempo. As respostas imunológicas contra a reinfecção se desenvolvem de maneira lenta e incompleta, deixando os rebanhos sujeitos à reincidência das formas clínicas e subclínicas dessa parasitose (URQUHART et al., 1990). O controle desses helmintos, na região, baseia-se amplamente no uso de anti-helmínticos. O uso indiscriminado desses fármacos teve como conseqüência a seleção de populações de helmintos com resistência aos diferentes grupos químicos utilizados no tratamento dos animais. Os trabalhos realizados para se determinar a resistência a esses princípios revelaram a situação preocupante por que passa o sistema produtivo, mais especificamente o da caprinocultura. No Cariri paraibano, Lima et al., (2010) testaram em alguns rebanhos de caprinos a eficácia de anti-helmínticos e obtiveram, após 14 dias da vermifugação, reduções de 14%, 34% e 69%, respectivamente para Albendazole, Ivermectina e Levamisole. No Curimataú paraibano, Dantas (2007) testou anti-helmínticos em cabras e obteve após 14 dias da vermifugação, redução de 78,4%, 78,7%, 96% e 94,2%, para o Albendazole, Levamisole, Moxidectina e Ivermectina, respectivamente. No Sertão paraibano, Rodrigues et al., (2007) administraram em caprinos os fármacos Moxidectina, Levamisole, Albendazole e Ivermectina, avaliaram após 14 dias e obtiveram reduções de 88,7%, 94,2%, 60,3% e 68,6%, respectivamente. Porto-Filho (2008) avaliou a eficácia do Albendazole, Levamisole, Moxidectina e Ivermectina, em caprinos de leite, e obteve reduções de 98,8%, 96%, 95,2% e 86%, respectivamente, após 14 dias da vermifugação.

4 O resíduo de compostos químicos eliminados com as excreções dos animais provoca sérios efeitos ao meio ambiente. Em algumas situações, os resíduos poderão entrar na cadeia alimentar humana, ocasionando problemas de saúde pública. Considerando a importância dos helmintos gastrintestinais (HGI) na produção de caprinos e ovinos, bem como os problemas da resistência anti-helmíntica, a presença de resíduos químicos nos alimentos e no meio ambiente, além dos aspectos econômicos referentes aos custos dos vermífugos; os pesquisadores do PPGZ CSTR UFCG desenvolvem estudos que visam buscar alternativas complementares aos métodos tradicionais de controle dos HGI, baixando os custos e minimizando os prejuízos à saúde humana e ao desequilíbrio ambiental. Nesse sentido as pesquisas apontam para um controle integrado utilizando-se como alternativa o uso de plantas medicinais da caatinga, especialmente. Brito-Júnior et al., (2011) compararam a ação anti-helmíntica in vivo das plantas Operculina hamiltonii (batata de purga), Marmodica charantia (Melão de São Caetano) e do moxidectin a 0,2% sobre as infecções helmínticas naturais de caprinos e utilizaram para avaliar o efeito dos tratamentos o teste de redução na contagem de ovos por grama de fezes (RCOF). A RCOF dos grupos tratados com a batata, o melão e o fármaco, para os dias 30 e 60 póstratamento foram de 63 e 90; 40 e 40; 100 e 100%, respectivamente. Durante o período de estudo, observou-se que todas as amostras coletadas estavam positivas para larvas de helmintos da superfamília Trichostrongyloidea, com exceção para os animais tratados com o fármaco. O Haemonchus foi o parasita mais prevalente nas coproculturas. Gomes et al., (2010), avaliaram o efeito in vitro do Meão de São Caetano (Momordica charantia) e da Batata de purga (Operculina hamiltonii) sobre ovos e larvas de HGI de caprinos após 24, 48 e 72 horas de incubação. O extrato etanólico da folha do Melão de São Caetano reduziu 37,4% a quantidade de ovos viáveis e 29,8% a quantidade de larvas viáveis. O extrato etanólico da Batata de purga reduziu 78,7% os ovos viáveis e 33,4% as larvas viáveis. Constatando assim, a ação anti-helmíntica dos extratos botânicos com redução das formas de parasitos nos testes in vitro. Silva et al., (2010) avaliaram o efeito da Batata de Purga (Operculina hamiltonii) em caprinos naturalmente infectados e obtiveram redução de 70% na carga parasitária dos animais após 25 dias da administração. Vilela et al., (2009) avaliaram em ovelhas Santa Inês a eficácia do farelo da raiz da Jurubeba (Solanum paniculatum L.) em administrações de 4,5g/10Kg de peso vivo, por três dias

5 consecutivos, com repetição a cada OPG acima de 500, obtendo redução de 72,2% na contagem de ovos fecais após 28 dias do tratamento. Ainda na busca de controle ecologicamente viável, o grupo de pesquisa da UFCG, desenvolve estudos para a validação do Método FAMACHA para ambientes semiáridos paraibano. Nesse sentido Vilela et al., (2008) realizaram estudos preliminares com o Método FAMACHA em rebanho caprino Moxotó no Sertão paraibano e observaram que este método requer algumas adaptações para melhorar sua aplicabilidade em caprinos nas condições estudadas. Vilela (2010) ainda, em estudos com o Método FAMACHA em caprinos leiteiros no Sertão paraibano e obteve média de acerto de 78,5% na utilização do método após o primeiro trimestre, eficácia no controle da verminose e economia de 79,2% na aplicação de antihelmínticos. Qualquer que seja o tipo de controle adotado ele deverá se pautar em estudos epidemiológicos regionais, que permitam o conhecimento da dinâmica populacional dos parasitos, no hospedeiro e no meio ambiente. Desta forma, deve ser orientado que o tratamento seja realizado em épocas pouco favoráveis à sobrevivência das larvas de nematódeos gastrintestinais no ambiente, favorecendo desta forma menor risco de infecção dos animais após o tratamento. Assemelhando-se a orientação de pesquisadores do Ceará, mas respaldado em estudos realizados na mesoregião do Sertão paraibano, pode-se adotar o modelo de controle de helmintos em caprinos, baseado nos meses secos: Primeira medicação início do período seco junho ou julho Segunda medicação 90 dias após a primeira outubro ou novembro Terceira medicação meados do período chuvoso março ou abril

6 Os mesmos pesquisadores ainda recomendam as seguintes medidas profiláticas adicionais: limpar e desinfetar as instalações; manter as fezes em locais distantes dos animais, se possível construir esterqueiras na propriedade; evitar superlotação nas pastagens; separar os animais por faixa etária; vermifugar os animais ao trocar de área; incorporar ao rebanho animais vermifugados; manter os animais no aprisco por no mínimo 12 horas após a vermifugação; os animais jovens, após serem vermifugados, devem ser colocados em pastagem descontaminada; o descanso da pastagem em épocas chuvosas deve ser superior a 50 dias; promover a rotação da área de pastejo com restolhos de culturas; e preferir administrar anti-helmínticos por via oral, pelo menor risco de intoxicação. 3. CONSIDERAÇÕES FINAIS Atualmente, a caprinovinocultura no Brasil apresenta-se em expansão, contando com o incentivo de ações conjuntas de governos estaduais, instituições de pesquisa e criadores. Entretanto, ainda verifica-se uma produção incipiente, principalmente quando se compara o efetivo caprino brasileiro com o de outros países, estando esta baixa produção diretamente relacionada com precariedade da tecnologia aplicada, aliada a não utilização de padrões de qualidade para os produtos caprinos, entre outros. Vários são os fatores que limitam a produção de caprinos no Brasil. Devido ao preconceito que ainda existe em relação a essa espécie animal, os seus criadores não oferecem boas condições de sobrevivência e mantença. Os caprinos são tidos como animais rústicos, de fácil adaptação ambiental e pouca exigência nutricional, por esse motivo sofrem com péssimas dietas nutricionais, manejo sanitário inadequado e controle de verminose ineficiente. As conseqüências desses erros são rebanhos com pouca produtividade e altos índices de morbidade e mortalidade. Dentre esses fatores, o que mais se destaca são as doenças parasitárias causadas principalmente por helmintos gastrintestinais. O trabalho desenvolvido por pesquisadores do PPZ/CSTR/UFCG servirá de base para vários outros estudos a cerca da utilização da flora nativa da caatinga, para controle de diversas parasitoses. Os estudos nessa linha continuam com o desenvolvimento de um concentrado adequadamente eficaz e prático na sua produção, assim como testes de eficácia sob várias épocas do ano e sobre diversos estádios de vida de parasitos de pequenos ruminantes.

7 4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ATHAYDE, A. C. R. Surto epizoótico de Haemoncose e Strogiloidose caprina no semiárido paraibano. In: CONGRESSO PANAMERICANO DE CIÊNCIAS VETERINÁRIAS, 15., 1996, Campo Grande. Anais... Campo Grande: Universidade Federal do Mato Grosso do Sul, p. 264, BRITO-JÚNIOR, L., SILVA, M. L.C.R, LIMA, F.H., ATHAYDE, A.C.R., SILVA, W.W., RODRIGUES, O.G. Estudo comparativo da ação anti-helmíntica da batata de purga (Operculina hamiltonii) e do melão de São Caetano (Mormodica charantia) em caprinos (Capra hircus) naturalmente infectados. Ciência e Agrotecnologia, v.35, n.4, p , DANTAS, Valdir dos Santos. Estudo da resistência anti-helmíntica em rebanhos caprinos na mesorregião do Curimataú paraibano f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) Curso de Medicina Veterinária, Universidade Federal de Campina Grande, Patos- PB, GOMES, R.V.R.S., ARAÚJO, M.M., GOMES, E.N., VILELA, V.L.R. ATHAYDE, A.C.R. Ação antiparasitária in vitro dos extratos etanólicos de Operculina hamiltonii (Batata de purga) e Momordica charantia (Melão de São Caetano) sobre ovos e larvas de nematóides gastrintestinais de caprinos do semi-árido paraibano. Acta Veterinaria Brasilica, v. 4, n. 2, p , LIMA, W.C., ATHAYDE, A.C.R., MEDEIROS, G.R., LIMA, D.A.S.D., BORBUREMA, J.B., SANTOS, E.M., VILELA, V.L.R., AZEVEDO, S.S. Nematóides resistentes a alguns antihelmínticos em rebanhos caprinos no Cariri Paraibano. Pesquisa Veterinária Brasileira, v. 30, n. 12, p , PORTO-FILHO, José Mathias. Sensibilidade dos nematóides gastrintestinais de caprinos leiteiros à anti-helmínticos no município de Passagem, Paraíba, Brasil f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) Curso de Medicina Veterinária, Universidade Federal de Campina Grande, Patos-PB, RODRIGUES A.B., ATHAYDE A.C.R., RODRIGUES O.G., SILVA W.W., FARIA E.B. Sensibilidade dos nematóides gastrintestinais de caprinos a anti-helmínticos na mesorregião do Sertão Paraibano. Pesquisa Veterinária Brasileira, v. 27, n. 4, p , SANTOS, A. C. G. Fauna helmíntica no abomaso em caprinos moxotó no semiárido paraibano. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE MEDICINA VETERINÁRIA. 23., Recife, PE. Anais... Recife: Universidade Federal Rural do Pernambuco, p. 263, SILVA, C.F., ATHAYDE, A.C.R., SILVA, W.W., RODRIGUES, O.G., VILELA, V.L.R., MARINHO, P.V.T. Avaliação da eficácia de taboa (Typha domingensis Pers.) e batata-de-purga [Operculina hamiltonii (G. Don) D.F. Austin & Staples] in natura sobre nematóides gastrintestinais de caprinos, naturalmente infectados, em clima semi-árido. Revista Brasileira de Plantas Medicinais, v. 12, n. 4, p , 2010.

8 URQUHART, G. M. et al. Parasitologia Veterinária. 6. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, p. VILELA, V. L. R., SOLANO, G. B., ARAÚJO, M. M., SOUSA, R. V. R., SILVA, W. A. S., FEITOSA, T. F., ATHAYDE, A. C. R. Ensaios preliminares para a validação do Método FAMACHA em condições de semiárido paraibano. Revista Brasileira de Parasitologia Veterinária. v. 17, supl. 1, p , VILELA, V. L. R., FEITOSA, T. F., LOBO, K. M. S., BEZERRA, D. A. C., ATHAYDE, A. C. R. Potencial anti-helmíntico da raiz de Solanum panicuatum Linnaeus (1762) em ovelhas do semiárido paraibano. Acta Veterinaria Brasilica. v. 3, n. 1, p , VILELA, Vinícius Longo Ribeiro. Validacão do Método FAMACHA em cabras leiteiras do semiárido paraibano f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) Curso de Medicina Veterinária, Universidade Federal de Campina Grande, Patos-PB