CITAÇÃO 2. APLICAÇÃO DO NOVO CPC Hipóteses em que não se procede à citação

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2 CITAÇÃO 1. O CÓDIGO DE PROCESSO PENAL O Código de Processo Penal não estipula limitações quanto ao local, data e horário em que se deva efetivar a citação, dispondo apenas, em seu art. 351, que a citação inicial far-se-á por mandado, quando o réu estiver no território sujeito à jurisdição do juiz que a houver ordenado. O ato, com efeito, pode ser praticado, segundo o art. 797 do CPP, em período de férias, em domingos e dias feriados. A urgência, outrossim, que é típica do processo penal, também não recomendaria qualquer espécie de restrição. Deve-se, porém, atentar ao princípio constitucional que assegura a inviolabilidade do domicílio (art. 5º., inc. XI da Constituição), a impedir o ingresso do meirinho na casa do acusado durante a noite, salvo se ele a consentir. 2. APLICAÇÃO DO NOVO CPC 2.1. Hipóteses em que não se procede à citação O novo CPC, em seu art. 244, elenca situações nas quais não se deve efetuar a citação, salvo para evitar o perecimento do direito. São elas: a) quando o citando estiver participando de ato de culto religioso; b) nos sete dias seguintes à morte de cônjuge, de companheiro ou de qualquer parente do morto, consanguíneo ou afim, em linha reta ou na linha colateral em segundo grau do citando; c) nos três dias seguintes ao 75 Ricardo Silvares-Ronaldo-NCPC e seus reflexos ambito do Proc Penal-1ed.indd 75 24/03/ :11:15

3 NOVO CPC E SEUS REFLEXOS NO ÂMBITO DO PROCESSO PENAL Ricardo Silvares e Ronaldo B. Pinto casamento do acusado; d) de doente em estado grave. Reconhecida a capacidade mental do réu, ser-lhe-á nomeado curador (art. 255, 4º, do CPC). Pensamos que, não se verificando urgência e ausente qualquer suspeita de que o acusado, uma vez não citado nessas situações, procurará se esquivar do ato, tais orientações do processo civil podem se estender ao processo penal, de resto autorizadas pelo art. 3º., do CPP. Ora, por qual motivo se citaria um réu durante o enterro de seu pai? Ou em plena lua de mel? Ensina Câmara Leal que os dispositivos [do processo civil] devem ter aplicação também em relação à citação criminal, pois obedecem a motivos de ordem especial, cujas razões devem prevalecer também no crime. Afinal, completa, onde há a mesma razão deve haver a mesma disposição ubi eadem ratio ibi eadem dispositio é o princípio hermenêutico que rege a interpretação analógica. Claro que não se estende esse raciocínio às hipóteses de mandado de prisão, onde a urgência da ordem impõe seja ela cumprida de imediato, quaisquer que sejam as circunstâncias Réu incapaz por doença mental Pode ocorrer, no entanto, do réu apresentar algum problema mental, incapacitando-o de entender os termos do mandado e da acusação que lhe é atribuída. Nesse caso, possuindo um curador (porque interditado judicialmente), caberá a este receber a citação. Caso não tenha sido interditado, cabe a deflagração do incidente de insanidade mental, previsto nos arts. 149 a 154 do CPP, com a suspensão do processo e demais consequências previstas em lei, entre as quais, justamente a nomeação de curador. O novo CPC, em seu art. 245, determina que não se fará citação quando se verificar que o citando é mentalmente incapaz ou está impossibilitado de recebê-la, quando será 76 Ricardo Silvares-Ronaldo-NCPC e seus reflexos ambito do Proc Penal-1ed.indd 76 24/03/ :11:15

4 CITAÇÃO cabível, então, a nomeação de um curador (art. 245, 4º., do CPC). Este dispositivo poderá ser aplicado ao regime do CPP? Vale lembrar que, no sistema do processo penal, a doença mental pode ter se iniciado já ao tempo do crime ou pode ter sobrevido a este. Nos dois casos, haverá necessidade de instauração do incidente de insanidade mental e nomeação de curador ao réu, com a suspensão do processo. Se o incidente já foi instaurado na fase do inquérito, já terá sido nomeado curador e a citação deve ser feita na pessoa deste; se o incidente não tiver sido instaurado, mas tiver o réu curador, em razão de processo de interdição, a citação, a nosso ver, poderá ser feita na pessoa do curador; se não tiver curador e o incidente for instaurado apenas na fase processual, ser-lhe-á nomeado um. Então, pergunta-se, nesse último caso, pode o réu ser citado pessoalmente? Pensamos que sim, pois a regra é a da citação pessoal, devendo o oficial de justiça certificar tudo o que ocorrer durante o ato, inclusive a suspeita da incapacidade do acusado de entender seu significado. Então, deverá o juiz instaurar o incidente e nomear curador. Porém, se no ato de oferecimento da denúncia, o Ministério Público apontar a suspeita de doença mental que torne o acusado incapaz de entender o significado de eventual citação, poderá requerer a instauração do incidente, antes mesmo da citação, que não se realizará, por ora, podendo nesse caso, sim ser invocada a regra do novo CPC vista acima Pessoa jurídica A Constituição, em seu art. 225, 3º, prevê a possibilidade da pessoa jurídica responder pela prática de crimes contra o meio ambiente, em dispositivo que foi reforçado pelo art. 3º, da Lei n /1998. Nessas hipóteses, quando o réu não se trata de pessoa física, quem deverá ser citado? 77 Ricardo Silvares-Ronaldo-NCPC e seus reflexos ambito do Proc Penal-1ed.indd 77 24/03/ :11:15

5 NOVO CPC E SEUS REFLEXOS NO ÂMBITO DO PROCESSO PENAL Ricardo Silvares e Ronaldo B. Pinto Entendemos que a resposta pode ser buscada no novo CPC, que, em seu art. 75, elenca as pessoas físicas legitimadas a representar em juízo as pessoas jurídicas, ativa e passivamente. Assim, a pessoa jurídica deve ser representada por quem os respectivos atos constitutivos designarem ou, não havendo essa designação, por seus diretores (inc. VIII). A massa falida pelo administrador judicial (inc. V), o município pelo prefeito, etc Citação com hora certa Prevista no art. 362 do Código de Processo Penal, a citação com hora certa foi introduzida pela Lei n /2008. Com efeito, até então, o réu que se ocultasse era citado por edital, com o prazo de cinco dias, nos termos da redação primitiva do art. 362 do CPP. É verdade que, na prática, raramente se deparava com essa espécie de citação ficta. Os réus, via de regra, eram citados por edital em virtude de não serem encontrados (art. 363, 1 do CPP), e não porque se ocultavam à ação do oficial de justiça. De qualquer sorte, tomando de empréstimo regra do processo civil, a citação com hora certa está incorporada ao processo penal. Dispõe, assim, o art. 362, que verificando que o réu se oculta para não ser citado, o oficial de justiça certificará a ocorrência e procederá à citação com hora certa, na forma estabelecida nos arts. 227 a 229 da Lei n o 5.869, de 11 de janeiro de Código de Processo Civil. Óbvio que, a partir da entrada em vigor do novo CPC, não mais tem aplicação a parte final do art. 362, que faz referência ao código anterior. A citação com hora certa deverá, agora, atentar ao regramento dos arts. 252 e 253 do novo Código de Processo Civil, que indica a conduta a ser adotada pelo meirinho no cumprimento da diligência. Vale, por isso, que se reproduza a redação do novo Código: 78 Ricardo Silvares-Ronaldo-NCPC e seus reflexos ambito do Proc Penal-1ed.indd 78 24/03/ :11:15

6 CITAÇÃO Art Quando, por 2 (duas) vezes, o oficial de justiça houver procurado o citando em seu domicílio ou residência sem o encontrar, deverá, havendo suspeita de ocultação, intimar qualquer pessoa da família ou, em sua falta, qualquer vizinho de que, no dia útil imediato, voltará a fim de efetuar a citação, na hora que designar. Parágrafo único. Nos condomínios edilícios ou nos loteamentos com controle de acesso, será válida a intimação a que se refere o caput feita a funcionário da portaria responsável pelo recebimento de correspondência. Art No dia e na hora designados, o oficial de justiça, independentemente de novo despacho, comparecerá ao domicílio ou à residência do citando a fim de realizar a diligência. 1 o Se o citando não estiver presente, o oficial de justiça procurará informar-se das razões da ausência, dando por feita a citação, ainda que o citando se tenha ocultado em outra comarca, seção ou subseção judiciárias. 2 o A citação com hora certa será efetivada mesmo que a pessoa da família ou o vizinho que houver sido intimado esteja ausente, ou se, embora presente, a pessoa da família ou o vizinho se recusar a receber o mandado. 3 o Da certidão da ocorrência, o oficial de justiça deixará contrafé com qualquer pessoa da família ou vizinho, conforme o caso, declarando-lhe o nome. Pende no STF, da relatoria do Ministro Marco Aurélio, o Recurso Extraordinário nº , no qual se discute a constitucionalidade da citação por hora certa, sob fundamento de violação dos princípios constitucionais do contraditório e da ampla defesa, uma vez que, segundo o recorrente, o acusado tem o direito de ser pessoalmente informado da acusação que lhe é imputada para, assim, poder exercer plenamente sua defesa. O Ministro reconheceu a existência de repercussão geral, remetendo o debate, por isso, ao plenário da mais alta Corte do país, onde aguarda julgamento. 79 Ricardo Silvares-Ronaldo-NCPC e seus reflexos ambito do Proc Penal-1ed.indd 79 24/03/ :11:15

7 NOVO CPC E SEUS REFLEXOS NO ÂMBITO DO PROCESSO PENAL Ricardo Silvares e Ronaldo B. Pinto Parece-nos equivocada a tese sustentada no recurso. Ninguém coloca em dúvida o direito do acusado em ser citado pessoalmente, desde que, por óbvio, propicie, ele mesmo, condições para a efetivação do ato. Se, por malícia e má-fé, insiste em se ocultar, a fim de evitar a citação in facien, cumpre ao legislador apresentar uma alternativa a tão vil comportamento. O que não se pode tolerar é o acusado se beneficiar da própria torpeza, insistindo-se em uma citação pessoal que somente não se concretiza em vista de sua conduta. Muita mais grave, aliás, era a situação anterior, acima mencionada, quando não prevista a citação com hora certa no processo penal, em que o réu que se ocultava acabava sendo citado por edital, reduzindo, aí, sim, sua possibilidade de amplo conhecimento da acusação. Agora, a possibilidade de realização do ato na pessoa de um familiar ou vizinho, corresponde quase que a uma citação pessoal, por parecer evidente que o acusado, que procurou se esquivar da citação, certamente terá acesso a todos os seus termos Juizados Especiais Criminais A citação por edital não é cabível nos Juizados Especiais Criminais, por força de expressa vedação legal (art. 66, parágrafo único da Lei n /95). E a citação por hora certa? Não vislumbramos ilegalidade em sua adoção no procedimento das infrações penais de menor potencial ofensivo. Com efeito, o principal argumento para impedir a citação por edital é sua incompatibilidade com a celeridade que se espera dos Juizados. Ora, cuidando-se de citação por hora certa, não se vislumbra nenhum percalço que venha a acarretar grande delonga, exceto um número maior de diligências a serem efetuadas pelo oficial de justiça, sem qualquer prejuízo ao andamento regular do processo. Acarretaria demora bem mais elástica, decerto, o envio dos autos ao juízo comum. 80 Ricardo Silvares-Ronaldo-NCPC e seus reflexos ambito do Proc Penal-1ed.indd 80 24/03/ :11:15

8 CITAÇÃO Alguém dirá que a Lei nº 9.099/1995 não prevê, expressamente, essa espécie de citação. Mas nem poderia fazê-lo. Com efeito, a citação por hora certa era desconhecida em nosso processo penal até o advento da Lei nº /2008. Ora, sendo a lei dos juizados de 1995, não poderia mesmo contemplar esse tipo de chamamento. Em reforço a nosso entendimento, vale observar que o art. 92 da Lei nº prevê a aplicação subsidiária do Código de Processo Penal, naquilo que não for incompatível com os Juizados. E incompatibilidade não há. Essa foi a conclusão, aliás, do XXV Fórum Nacional de Juizados Especiais (FONAJE), realizado em São Luiz do Maranhão, entre 27 e 29 de maio de 2009, quando se aprovou o Enunciado n. 110, com a seguinte redação: No Juizado Especial Criminal é cabível a citação com hora certa. Validade da citação JURISPRUDÊNCIA Tem-se por válida a citação por hora certa realizada nos autos, diante da informação de que foram empreendidas as diligências necessárias à localização do denunciado, bem assim de que havia indícios da sua ocultação para não ser citado. Precedentes (STJ RHC n SP, Rel. Laurita Vaz, j , DJe ). 81 Ricardo Silvares-Ronaldo-NCPC e seus reflexos ambito do Proc Penal-1ed.indd 81 24/03/ :11:15