ESTADO DE SANTA CATARINA PODER JUDICIÁRIO Comarca de São José do Cedro Vara Única

Transcrição

1 fls. 148 Autos n Ação: Recuperação Judicial/PROC Autor: K E C Ferragens e Máquinas Eireli Vistos. K & C Ferragens e Máquinas Ltda, ajuizou a presente ação de recuperação judicial, aduzindo, em síntese, que: i) é sociedade empresarial, em exercício na região desde janeiro de 2012; ii) o objeto social da empresa reside no comércio varejista de maquinários agrícolas para pequenos, médios e grandes agricultores da região; iii) a atuação agrícola e agropastoril necessita de fomento de crédito por bancos públicos e privados, os quais reduziram drasticamente os recursos, dificultando a aquisição de maquinários pelos agricultores; e iv) preenchem todos os requisitos formais da ação de recuperação judicial. Outrossim, expuseram as razões da crise econômico-financeira e, após outros considerandos, que por brevidade ficam fazendo parte integrante desta, requereu a dispensa da apresentação de certidões negativas para que a parte autora exerça suas atividades, exceto para contratação com o Poder Público ou para recebimento de benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios. Requereu também a suspensão legal de 180 dias de todas as ações ou execuções movidas contra a autora e coobrigados, bem como o prazo de 60 dias para apresentação do respectivo Plano de Recuperação Judicial. Postulou pela intimação do Ministério Público Estadual, assim como das fazendas públicas da União, Estado e Município. Valorou a causa, juntou procuração e documentos. Determinada a emenda da inicial (fl. 140), a parte autora peticionou à fl. 143, ocasião em que juntou os documentos de fls Vieram-me os autos conclusos. É o relatório. Decido.

2 fls. 149 Com efeito, "A recuperação judicial tem por objetivo viabilizar a superação da situação de crise econômico-financeira do devedor, a fim de permitir a manutenção da fonte produtora, do emprego dos trabalhadores e dos interesses dos credores, promovendo, assim, a preservação da empresa, sua função social e o estímulo à atividade econômica" (art. 47 da Lei n /2005). Nesse passo, colhe-se da lição de Amador Paes de Almeida (in Curso de Falência e Recuperação de Empresa. 22.ª edição. Editora Saraiva: 2006, p. 302) que "A Recuperação Judicial tem, a rigor, o mesmo objetivo da concordata, ou seja, recuperar, economicamente, o devedor, assegurando-lhe, outrossim, os meios indispensáveis à manutenção da empresa, considerando a função social desta". Na mesma obra, mencionado doutrinador leciona ainda que "O conceito põe em relevo a preocupação de preservar a empresa, vista esta como verdadeira instituição social para a qual se conjugam interesses diversos: o lucro do titular da empresa (empresário ou sociedade empresária); os salários (de manifesta natureza alimentar) dos trabalhadores; os créditos dos fornecedores; os tributos do Poder Público". Nesse cenário, acerca do procedimento da recuperação judicial, cabe destacar a lição de Fábio Ulhoa Coelho (in Comentários à Nova Lei de Falências e Recuperação de Empresas. 4ª edição. Editora Saraiva: 2007, p. 144): doutrinador assinala (Op. cit., p. 153): "O processo de recuperação judicial se divide em três fases bem distintas. Na primeira, que se pode chamar de fase postulatória, o empresário individual ou a sociedade empresária em crise apresenta seu requerimento do benefício. Ela se inicia com a petição inicial de recuperação judicial mandando processar o pedido (art. 52). Na segunda fase, a que se pode referir como deliberativa, após a verificação do crédito (arts. 7º a 20), discute-se e aprova-se um plano de reorganização (art. 53). Tem início com o despacho que manda processar a recuperação judicial e se conclui com a decisão concessiva do benefício (art. 58). A derradeira etapa do processo, chamada de fase de execução, compreende a fiscalização do cumprimento do plano aprovado. Começa com a decisão concessiva da recuperação judicial e termina com a sentença de encerramento do processo (art. 63)." Relativamente à decisão que inaugura a fase deliberativa, referido

3 fls. 150 "Estando em termos a documentação exigida para a instrução da petição inicial, o juiz proferirá o despacho mandando processar a recuperação judicial. Note-se que esse despacho, cujos efeitos são mais amplos que os da distribuição do pedido, não se confunde com a ordem de autuação ou outros despachos de mero expediente. Normalmente, quando a instrução não está completa e a requerente solicita prazo para emendá-la, a petição inicial inicial recebe despacho com ordem de autuação e deferimento do pedido. Estes atos judiciais não produzem nenhum efeito além do à tramitação do processo. Não se confundem com o despacho de processamento do pedido, que o juiz somente está em condições de proferir quando adequadamente instruída a petição inicial. O despacho de processamento não se confunde também com a decisão concessiva da recuperação judicial. O pedido de tramitação é acolhido no despacho de processamento, em vista apenas de dois fatores a legitimidade ativa da parte requerente e a instrução nos termos da lei. Ainda não está definido, porém, que a empresa do devedor é viável e, portanto, ele tem direito ao benefício. Só a tramitação do processo, ao longo da fase deliberativa, fornecerá os elementos para a concessão da recuperação judicial. O conteúdo e efeitos do despacho de processamento da recuperação judicial estão previsto em lei. São os seguintes: a) nomeação do administrador judicial; b) dispensa do recorrente da exibição de certidões negativas para o exercício de suas atividades econômicas, exceto no caso de contrato com o Poder Público ou outorga de benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios; c) suspensão de todas as ações e execuções contra o devedor com atenção às exceções da lei; d) determinação à devedora de apresentação de contas demonstrativas mensais; e) intimação do Ministério Público e comunicação por carta às Fazendas Públicas Federal e de todos os Estados e Municípios em que a requerente estiver estabelecida. Proferida a decisão, será feita a publicação de edital na imprensa oficial, contendo um resumo do pedido, a relação dos credores, o despacho de processamento, advertência acerca da fluência de prazos processuais do interesse dos credores." Desta feita, o deferimento do processamento da recuperação judicial é condicionado à verificação de dois pressupostos, quais sejam, a legitimidade ativa e a apresentação dos documentos indicados pela lei de regência, não cabendo qualquer análise da viabilidade ou eficácia da medida postulada neste momento processual. In casu, percebo que a autora comprovou sua legitimidade, que deve ser aferida à luz dos critérios previstos no artigo 48 da Lei n /2005. Nesse caminho, está demonstrado que a empresa exerce

4 fls. 151 regularmente suas atividades, desde 30/01/2012 (Comprovante de Inscrição e de Situação Cadastral, fl. 69) - ou seja, há mais de dois anos, bem como que não são falidas e não obtiveram anteriormente o mesmo benefício (fls. 144), além de não terem em seus quadros sociais pessoa(s) com condenação definitiva por crime falimentar (fls ). Além disso, a petição inicial contém intrinsecamente os requisitos do art. 282 do CPC e cumpriu as exigências contidas no art. 51 da Lei n /2005. Cumpre registrar, outrossim, o evidente interesse e a necessidade do processamento da recuperação judicial, tendo em vista que a empresa está em delicada situação financeira, possuindo inúmeras obrigações inadimplidas. impõe ao caso concreto. Destarte, o deferimento da recuperação judicial é a medida que se Ante do exposto: a) Nos termos dos arts. 47 e 52, ambos da Lei n /2005, defiro o processamento da recuperação judicial da empresa K & C Ferragens e Máquinas Eireli (cadastrada no CNPJ sob n / ) e, em consequência: I - Nomeio Maurício Colle de Figueiredo (OAB/SC ), com escritório profissional localizado na Rua Travessa Germano Magrin, nº 100, Condomínio Ed. Parthenon, sala 407, Centro, Criciúma/SC, CEP , telefone: (48) , e- mail: para funcionar como Administrador Judicial da empresa, a quem competirá exercer os misteres previstos no artigo 22 da Lei n /2005. Friso que os honorários do administrador judicial devem ser fixados nos termos do que dispõe o art. 24 da Lei n /2005. Assim, atento ao 1º do referido artigo, fixo os honorários do administrador judicial em 1% (um por cento) do valor total devido aos credores e submetido à recuperação judicial, tendo como parâmetro a quantia contida no total geral da relação nominal completa de credores, em vista da capacidade de pagamento da devedora e o grau de complexidade dos trabalhos. Ressalto que a fixação leva em conta o prazo de dois anos previsto no art. 61 da Lei n /2005, de modo que, caso o trabalho do administrador ultrapasse tal prazo, poderão ser majorados os honorários.

5 fls. 152 Ademais, destaco que a recuperanda deverá realizar o adiantamento mensal de R$ 2.000,00 (dois mil reais) ao administrador judicial (valor que incidirá desde a aceitação do encargo), até o dia 05 de cada mês. Gizo que tais parcelas serão abatidas do total devido ao término da demanda. Outrossim, existindo saldo quando encerrada a recuperação, o valor remanescente deverá ser pago de uma só vez. Anoto, por oportuno, que os adiantamentos deverão ser realizados mediante depósito em juízo, devendo o Chefe de Cartório promover a expedição dos competentes alvarás em favor do administrador judicial, independentemente de nova determinação. II - Determino a dispensa da apresentação de certidões negativas para que a empresa em recuperação exerça sua atividade, exceto para contratação com o Poder Público ou para recebimento de benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios (art. 52, inciso II, da Lei n /2005); III - Determino que a empresa em recuperação, em todos os atos, contratos e documentos que celebre, anote, após o nome empresarial, a expressão "Em Recuperação Judicial" (art. 69 da Lei n /2005); IV - Ordeno a suspensão de todas as ações e execuções que tramitem ou venham a ser ajuizadas em face da empresa em recuperação, na forma do art. 6º, caput e 4º, da Lei n /2005, pelo prazo de 180 (cento e oitenta) dias, contados desta decisão, bem como dos prazos prescricionais das obrigações, excetuadas: a) ações que demandarem quantias ilíquidas; b) ações trabalhistas de conhecimento; c) execuções fiscais; d) ações fundadas em direito de alienação fiduciária, arrendamento mercantil, propostas por vendedor ou promitente-vendedor de imóvel cujo contrato contenha cláusula de irrevogabilidade ou irretratabilidade, ações de proprietário em contrato de compra e venda com reserva de domínio; Caberá à parte autora comunicar o teor desta decisão diretamente aos juízos competentes (art. 52, 3º, da Lei n /2005); V - Determino que a empresa em recuperação apresente contas demonstrativas mensais enquanto perdurar a recuperação (art. 51, inciso IV, da Lei n /2005) e comuniquem neste feito as ações em que forem demandadas (art. 6º, 6º, inciso II, da Lei n /2005);

6 fls. 153 VI - Intimem-se a parte autora para que, no prazo improrrogável de 60 (sessenta) dias, apresente o plano de recuperação judicial em juízo, sob pena de convolação em falência (art. 53 da Lei n /2005); VII - Cientifique-se o Ministério Público; VIII - Comuniquem-se por carta às Fazendas Públicas da União e dos Estados e Municípios em que as empresas em recuperação têm filial (art. 52, inciso V, da Lei n /2005); IX - Expeça-se edital para publicação no Diário da Justiça Eletrônico, o qual deverá ser elaborado em observância ao art. 52, 1º, da Lei n /2005; X - Promova-se a juntada de cópia desta decisão em todas as ações em trâmite nesta unidade que forem objeto da suspensão determinada por esta decisão; XI - Oficie-se ao Administrador Judicial para ciência sobre a nomeação e, em caso de aceite, comparecer em cartório em 5 (cinco) dias para firmar termo de compromisso; XII - Oficie-se à JUCESC ordenando-se a anotação, no cadastro das empresas, do deferimento da recuperação judicial (art. 69, parágrafo único, da Lei n /2005); XIII - As prestações mensais de contas deverão ser depositadas em autos próprios, que deverão ser apensados aos presentes, para facilitar o ulterior exame. XIV - Diante da retirada da empresa A.M.K. Comercial Eireli EPP do polo ativo da demanda, retifique-se o valor da causa. São José do Cedro (SC), 15 de dezembro de Luiz Carlos Cittadin da Silva Juiz de Direito