O PAPEL DO BANCO DE DENTES HUMANOS DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ NA VIVÊNCIA ACADÊMICA DO ESTUDANTE DE ODONTOLOGIA
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- João Vítor Maranhão Rico
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1 O PAPEL DO BANCO DE DENTES HUMANOS DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ NA VIVÊNCIA ACADÊMICA DO ESTUDANTE DE ODONTOLOGIA Idalina Marly da Luz 1 - UFPR Letícia Helena Kreutz Rosa 2 - UFPR Fernanda Harumi Oku Prochnow 3 - UFPR Jaqueline do Carmo Machado Lopes 4 - UFPR Yasmine Mendes Pupo 5 - UFPR Resumo Eixo Educação e Saúde Agência Financiadora: não contou com financiamento A utilização de dentes humanos extraídos em atividades didáticas e de pesquisa se reveste de importantes aspectos éticos, legais e sociais. O seguinte trabalho trata-se de um relato de experiência sobre o projeto de extensão da UFPR intitulado Novos conceitos e perspectivas futuras em Odontologia, cujo objetivo é proporcionar ao acadêmico de Odontologia da UFPR a vivência nas atividades desenvolvidas no Banco de Dentes Humanos (BDH/UFPR), com ações de conscientização da sociedade na importância da doação do órgão dental e seminários de discussão de artigos científicos relacionados as células-tronco na Odontologia. Para o aprimoramento das habilidades dos acadêmicos, são realizadas oficinas de treinamento de seleção de dentes, remoção de lesões de cárie e restaurações, raspagem e alisamento radicular, 1 Mestre em Distúrbios da Comunicação pela Universidade Tuiuti do Paraná (UTP). Especialista em enfermagem obstétrica pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Enfermeira graduada pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Servidora Técnica Administrativa do Curso de Odontologia da Universidade Federal do Paraná (UFPR) com atuação no Banco de Dentes Humanos. idalinaluz@ufpr.br 2 Acadêmica de Odontologia da Universidade Federal do Paraná (UFPR). leticiakreutz@ufpr.br 3 Acadêmica de Odontologia da Universidade Federal do Paraná (UFPR). fernandaprochnow@gmail.com 4 Mestre em Tecnologia em Saúde pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). Especialista em Cuidado ao Paciente em Estado Crítico pela Faculdade Evangélica do Paraná (FEPAR). Enfermeira graduada pela Universidade Tuiuti do Paraná (UTP). Servidora Técnica do Curso de Odontologia da Universidade Federal do Paraná (UFPR). jackemachado2007@yahoo.com.br 5 Doutora em Odontologia, área de concentração de Dentística Restauradora (UEPG). Especialista em Dentística e Prótese Dentária. Professora Adjunto do Departamento de Odontologia Restauradora da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Coordenadora do Banco de Dentes Humanos da UFPR. yasmine.pupo@ufpr.br ISSN
2 24099 tratamentos endodônticos e preparos protéticos. Procedimentos operacionais padrão para coleta, processamento e armazenamento do órgão dentário são realizados por profissional responsável com acompanhamento dos acadêmicos nas etapas envolvidas. Os principais temas discutidos nos seminários e apresentados pelos acadêmicos e professores são: Métodos de Coleta e Criopreservação de Dentes Extraídos; Aplicabilidade de Células-Tronco dentárias em testes de biocompatibilidade em materiais dentários; Diferentes Protocolos de Coleta, cultivo e preservação de células-tronco dentárias. Além disso, um subprojeto, denominado Dente Presente é desenvolvido com um quebra-cabeça elaborado pelos acadêmicos, objetivando o envolvimento de crianças atendidas nas Clínicas Odontológicas e Escolas Municipais e que, voluntariamente, possam doar seu dente para o armazenamento no BDH da UFPR. Por fim, destaca-se a importância do Banco de Dentes Humanos na vivência dos acadêmicos de Odontologia e conscientização sobre a importância da doação do órgão dentário, com essas ações educativas na sociedade e no meio acadêmico, além do aperfeiçoamento das habilidades manuais e conhecimento científico de temas relacionados. Palavras-chave: Células-tronco. Banco de dentes. Ética odontológica. Introdução A ciência odontológica não poderia, de forma alguma, omitir-se da responsabilidade face ao novo momento da pesquisa com células tronco, destacando-se as áreas da Odontologia e da Medicina (GRONTHOS et al., 2000; GRONTHOS et al., 2002). Nos últimos anos, a polpa dentária tem sido isolada e passou a ser utilizada por pesquisadores de áreas afins, devido às pesquisas com células tronco (CORDEIRO et al., 2008; EDWARDS e MASON, 2006; HUANG et al., 2009). Desta forma, surgiu grande interesse dos biólogos e biomédicos em estudar células tronco na polpa dentária em dentes decíduos e permanentes e então, caracterizá-las sob os aspectos morfológicos, genéticos e histológicos para contribuir na pesquisa clínica (SHI e GRONTHOS, 2003; SONOYAMA et al., 2007; NÖR, 2006; POLAK e BISHOP, 2006) e terapia de doenças (SELLHEYER e KRAL, 2010; WARNKE et al., 2006; PHILIPS et al., 2014). Os dentes permanentes e decíduos e suas respectivas polpas dentárias podem ser criopreservados por muitos anos (LINDEMANN et al., 2014). Estudos in vitro e in vivo evidenciam a capacidade de diferenciação de células tronco da polpa dentária em células neurais do sistema nervoso periférico e vasos sanguíneos (CARNEVALE et al., 2016; SANEN et al., 2017). Além da possibilidade de uso na Medicina, o uso de células tronco da polpa dentária também se faz muito promissor na área odontológica, trazendo possibilidades alternativas de tratamentos regenerativos da própria polpa dental. NAKASHIMA (et al., 2017) demonstraram o potencial terapêutico de células da polpa dentária mobilizadas na completa regeneração pulpar em pacientes com pulpite irreversível. Além disso,
3 24100 evidenciaram uma resposta positiva para regeneração pulpar e formação de dentina funcional em 3 dos 5 pacientes. A polpa dentária, possui células tronco pós-natais, as quais têm sido muito utilizadas nas pesquisas científicas relacionadas a Engenharia tecidual. Neste contexto, a Odontologia abrange ações que vão além dos procedimentos cirúrgicos por promover a saúde bucal, mas também pode contribuir para o restabelecimento da saúde geral, ao disponibilizar material biológico para o tratamento de doenças. Considerando tais afirmações, fica imprescindível a importância da disponibilidade de dentes humanos para alunos e pesquisadores construírem conhecimento, os quais são disponibilizados através de um Banco de Dentes Humanos (BDH) dentro da própria instituição. Desta forma, para que um BDH possa exercer suas funções regularmente, é necessário que esteja ligado a uma instituição de ensino, tendo prioridade as Universidades de Odontologia. As normas de implementação do BDH devem seguir as estabelecidas pela instituição de ensino para a instalação de laboratórios. A normatização deve seguir as definições propostas pela diretoria ou reitoria da instituição, e então é indicado um coordenador responsável que seja, preferencialmente, um docente qualificado. Este coordenador deverá representar o BDH em reuniões ou conselhos, sugerir uma equipe para gerenciar o BDH, responsabilizando-se pela mesma. As diretrizes do BDH são definidas através de regimento interno, em que cada membro tem uma função específica. O BDH não deve ter nenhum vínculo com departamentos dentro da faculdade, demonstrando assim, seu caráter de autonomia, atendendo todos os departamentos à medida de suas necessidades, sem que existam privilégios ou preferências. Deve existir uma infraestrutura adequada, através da aquisição de equipamentos próprios, contratação de técnicos e auxiliares, o estabelecimento de rotinas específicas que guiem todas as etapas referentes à captação, retirada, classificação, processamento, distribuição, conservação e registros (NASSIF et al., 2003; MIRANDA e BUENO, 2012). O seguinte trabalho trata-se de um relato de experiência sobre o projeto de extensão da UFPR intitulado Novos conceitos e perspectivas futuras em Odontologia, cujo objetivo é proporcionar ao acadêmico de Odontologia da UFPR a vivência nas atividades desenvolvidas no Banco de Dentes Humanos (BDH/UFPR), com ações de conscientização da sociedade na importância da doação do órgão dental, oficinas de treinamento nas diversas áreas da Odontologia e seminários de discussão de artigos científicos relacionados as células-tronco na Odontologia. Para tanto, será também detalhado no presente trabalho os aspectos legais e funcionalidade do BDH-UFPR, além das atividades que norteiam o projeto.
4 24101 Desenvolvimento - Banco de Dentes Humanos (BDH) da UFPR O BDH de Odontologia da UFPR foi inaugurado no dia 22 de junho de Desde então, é responsável por coletar e armazenar dentes humanos extraídos. Além disso, mantém registro que permite a rastreabilidade de dentes extraídos, desde a coleta até o uso pelos alunos para desenvolver suas habilidades e/ou para pesquisadores no desenvolvimento de projetos específicos de pesquisa. Aprimoramentos têm sido planejados e idealizados para configuração do BDH da UFPR em Biobanco, o qual tem como objetivos futuros: armazenar e criopreservar tecido pulpar e células tronco pós-natais provindas da polpa dentária. O Biobanco é responsável pela coleta e armazenamento a longo prazo, para fins de pesquisa, conforme regulamento ou normas técnicas, éticas e operacionais pré-definidas, sob a responsabilidade e o gerenciamento institucional dos materiais armazenados, sem fins comerciais. Além de instalações de armazenamento, o Biobanco pode incluir uma organização completa, com amostras biológicas, dados, políticas e procedimentos para manusear amostras e realização de outros serviços, tais como a gestão do banco de dados e planejamento de estudos científicos (HALLMANS e VAUGHT, 2011). Desde a criação dos Bancos de Dentes e de sua respectiva divulgação, a visão de um do dente como um órgão cresceu, aumentando o número de doações e, consequentemente, o número de atividades realizadas com os mesmos. O propósito principal de um Banco de Dentes é suprir as necessidades acadêmicas, fornecer dentes humanos para pesquisa ou para treinamento laboratorial pré-clínico dos alunos, eliminando o comércio ilegal de dentes que ainda existe nas Universidades (GOMES et al., 2013). No entanto, estudo demonstrou que mais de 80% dos entrevistados não sabiam sequer da existência de um Banco de Dentes (LEITE et al., 2017). O curso de Odontologia do Setor de Ciências da Saúde da UFPR conta com 440 alunos de Graduação, 62 alunos de Especialização e 31 alunos de Mestrado. Grande parte da atividade destes alunos se passa nas 3 clínicas odontológicas instaladas na sede Jardim Botânico. Cada clínica possui 48 equipamentos. Além destas clínicas existem nesta mesma sede um pronto atendimento e um centro cirúrgico com mais 6 equipamentos. O Curso de Odontologia da UFPR atua nas mais atuais práticas odontológicas e disponibiliza atendimento preventivo, curativo e reabilitador do meio bucal favorecendo a saúde em geral, disponível a toda
5 24102 comunidade. Mensalmente, atende-se em média 2500 consultas odontológicas, dentre essas o atendimento rotineiro de exodontias na Clínica 2, no Pronto Atendimento e no Centro Cirúrgico. Perdas dentárias são comuns e podem afetar a mastigação, a linguagem, a estética e a saúde. A Organização Mundial da Saúde (OMS) em 1997 mostra, por meio de banco de dados, que as doenças cárie e periodontal ainda ocorrem na maioria dos países em todo mundo. Os resultados do Projeto SB Brasil 2010 indicam que, segundo a classificação adotada pela OMS, o Brasil saiu de uma condição de média prevalência de cárie em 2003 (CPO entre 2,7 e 4,4) para uma condição de baixa prevalência em 2010 (CPO entre 1,2 e 2,6). No que diz respeito às condições periodontais, avaliadas pelo Índice Periodontal Comunitário (CPI), em termos populacionais, tais problemas aumentam, de modo geral, com a idade. Os resultados do Projeto SB Brasil 2010 (BRASIL, 2012) indicam que o percentual de indivíduos sem nenhum problema periodontal foi de 63% para a idade de 12 anos, 50,9% para a faixa de 15 a 19 anos, 17,8% para os adultos de 35 a 44 anos e somente 1,8% nos idosos de 65 a 74 anos. A presença de cálculo e sangramento é mais comum aos 12 anos e entre os adolescentes. As formas mais graves da doença periodontal aparecem de modo mais significativo nos adultos (de 35 a 44 anos), em que se observa uma prevalência de 19,4%. Nos idosos, os problemas gengivais têm pequena expressão em termos populacionais, em decorrência do reduzido número de dentes presentes. De maneira geral, a perda de dentes é relacionada à idade, não havendo influência do gênero (MARQUES et al., 2017). Apesar de certas melhorias dos índices demonstrados, é visível que muitos problemas ainda persistem. O desafio e a responsabilidade que se coloca diante da Universidade na formação de um cirurgião dentista levam a refletir sobre a prática de ensino educacional, que inclui metodologia e didática de ensino, comunicação, pesquisa, avaliação e utilização de novas tecnologias para as demandas sociais. Um futuro muito próximo exigirá mudanças significativas nas grades curriculares dos Cursos de Odontologia, visto os avanços da bioengenharia contribuindo para o aperfeiçoamento, a reformulação e a implementação de novos conceitos. - Aspectos legais que norteiam o BDH da UFPR Considerado como um órgão, a utilização de dentes humanos segue a Lei de Transplantes no Brasil (BRASIL, 1997) que não permite a remoção, ainda post-mortem, de tecidos, órgãos ou partes corpo de pessoas não identificadas e prevê pena de 3 a 8 anos de
6 24103 reclusão e multa para quem compra ou vende e incorre na mesma pena quem promove, intermedeia, facilita ou aufere qualquer vantagem com a transação. Segundo o Código Penal Brasileiro, no artigo 210 do Capítulo II - Dos Crimes Contra o Respeito aos Mortos, quem violar ou profanar sepultura ou urna funerária pode pagar com pena de 1 a 3 anos de reclusão e multa (BRASIL, 2009). No Brasil, as Resoluções no 347/05, no 196/96, no 441/2011 do Conselho Nacional de Saúde (CNS) estabelecem normatização mínima para o uso e armazenamento de materiais biológicos. A Portaria no 2.201/2011 estabelece as Diretrizes Nacionais para Biorrepositório e Biobanco de Material Biológico Humano com finalidade de pesquisa. A UFPR, por meio da Resolução n 40/12 do Comitê de ética em Pesquisa (CEP) estabelece normas para o armazenamento e utilização de materiais biológicos humanos e informações associadas em pesquisa. Dessa forma, todos os dentes que se encontram no BDH da UFPR foram recebidos através de doações, sejam pelos próprios pacientes, alunos, cirurgiões dentistas e pela população em geral. A maior parte das doações acontece dentro da Clínica 2, Centro Cirúrgico e Pronto Atendimento da própria UFPR. No caso dos pacientes, após a extração, caso aceite doar os dentes, deve assinar o Termo de Consentimento Livre Esclarecido (TCLE). Quando o dente é proveniente de cirurgiões dentistas que possuam suas coleções particulares, utiliza-se o Termo de Doação de Dentes Humanos de Cirurgiões Dentistas. Há também os dentes doados pela população em geral, onde é utilizado um terceiro termo, o Termo de Doação de Dentes Humanos. O BDH está estruturado para atender a legislação vigente no país e pode ser um instrumento para adicionar à base de conhecimento deste campo crescente, aos alunos de graduação e pós-graduação, englobando a comunidade, sobre o impacto científico, legal e ético e direções futuras da pesquisa com células tronco. A Universidade oportuniza ao aluno para essa nova realidade reconstruindo o conhecimento e assim, oferece à comunidade novas técnicas e conceitos baseados em conhecimento atualizado. -Funcionalidade do Banco de Dentes da UFPR O BDH de Odontologia da UFPR conscientiza a comunidade universitária e leiga através promoção de campanha institucionalizada sobre a importância de ceder órgãos dentários extraídos por indicação profissional, e para que os setores da sociedade tomem conhecimento do BDH, além da qualificação e atualização dos alunos de graduação e pós-graduação do Curso
7 24104 de Odontologia. Por meio dessa conscientização contínua, foi elaborado um folder (Figura 1) a fim de facilitar a compreensão pelo profissional e paciente da doação do dente. Figura 1 - Folder elaborado pelo BDH da UFPR sobre como proceder após a extração dentária para armazenamento do órgão dental. Fonte: autores Para o desenvolvimento de uma atividade segura, principalmente quando se trata de material biológico com risco de contaminação, um procedimento padronizado deve ser seguido. Dessa forma, foram criados os POPs (Procedimentos Operacionais Padrão) do BDH, de Coleta, processamento e armazenamento de dentes humanos (POP nº 1) e Transferência de material biológico do BDH (POP nº 2), os quais são demonstrados a seguir (Figuras 2 e 3). Cada amostra recebida ou transferida do BDH é rastreada e atualizada. Seus usos são diversos, portanto, é necessário que sejam feitos registros. Deve existir um registro de embarque, destinatário, data de recebimento, descrição da amostra, número da amostra enviada/emprestada, nome do estudo ou projeto de pesquisa que fará parte, nome do pesquisador responsável, assinatura de recebimento da amostra, seu armazenamento ou descarte. Dentro do Procedimento Operacional Padrão número 1, existem critérios a serem seguidos. Se o dente é doado de dentro das clínicas da UFPR, é obrigatório que esteja acompanhado do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Ele será então transportado em
8 24105 solução adequada até o BDH para a chamada coleção de dentes rastreáveis. Na coleção de dentes rastreáveis, existem os dentes secos e rastreáveis e os dentes imersos e rastreáveis. Nos casos onde o material não é acompanhado do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, a coleção de dentes secos não rastreáveis é o local de armazenamento. Figura 2. Procedimento Operacional Padrão do Banco de Dentes Humanos de Odontologia da UFPR POP nº 1 - Entrada de material biológico: Coleta, processamento e armazenamento de dentes humanos. Fonte: autores O Procedimento Operacional Padrão número 2 refere-se à padronização da transferência de material dentro do BDH. Os dentes rastreáveis (secos ou imersos) são utilizados em projetos de pesquisa, seguindo modelos do Conselho Setorial de Pesquisa em Saúde e modelos conforme orientação do CONEP/Plataforma Brasil. Através desse rastreamento, seu uso é aprovado pelo comitê de ética. A coleção de dentes secos não rastreáveis tem a finalidade de proporcionar aos alunos material para uso nas disciplinas práticas e oficinas de treinamento.
9 24106 Figura 3. Procedimento Operacional Padrão do Banco de Dentes Humanos de Odontologia da UFPR POP nº 2 - Transferência de material biológico do BDH: Padroniza a transferência de material biológico para projetos de pesquisa na UFPR e outras Instituições. Fonte: autores Para registro dos dentes coletados e armazenados no Banco de Dentes da UFPR foi desenvolvida uma planilha em Excel para classificação e disponibilidade das informações do doador e da situação dente armazenado no BDH. Nesta planilha estão disponíveis informações referente aos dentes extraídos: situação clínica do dente (hígidos, fraturados e/ ou cariados), origem da doação (cedidos por voluntários atendidos no Curso de Odontologia da UFPR, em clínicas externas ou por cirurgiões dentistas em geral), indicação clínica de extração (fratura, cárie, doença periodontal, pericoronarite, impactação dentária, mal posicionamento, ortodontia); e também contém informações referente ao doador do órgão (no caso dos dentes rastreáveis acompanhados pelo TCLE). O dente doado é acompanhado do Termo de Cessão de Dentes Humanos Extraídos - (TCLE), o qual deverá estar devidamente identificado, preenchido e assinado pelo voluntário e/ou responsável. O termo é então arquivado em pasta própria e numerado de acordo com a sequência dentro de um livro de registro de entrada da amostra conforme identificação do TCLE. Esta identificação servirá para controle do acervo de dentes rastreáveis, e as informações presentes serão registradas em planilha digital de dados em computador no BDH de Odontologia da UFPR, salvo em nuvem virtual.
10 Oficinas de treinamento do Banco de Dentes da UFPR Existe uma funcionalidade do BDH de Odontologia da UFPR, com procedimentos voltados ao desenvolvimento de habilidades acadêmicas no processo de aprendizagem. É primordial o desenvolvimento dessas habilidades, para futuros tratamentos odontológicos como: Dentística Restauradora, Endodontia, Prótese Dentária, Periodontia, Cirurgia, ou outras disciplinas, como também para o desenvolvimento de pesquisas in vitro. Nesse contexto estão inseridas as oficinas de treinamento fornecidas pelo BDH da UFPR. São oficinas práticas que permitem desenvolvimento de conhecimento anatômico, habilidades manuais, capacitação e aprimoramento de técnicas utilizadas na clínica da graduação. São sempre orientadas por professores da graduação. As oficinas acontecem semanalmente ou mensalmente, com seleção de dentes; remoção de lesões de cárie e restaurações; raspagem e alisamento radicular. Para tanto, é realizada uma demonstração pelo professor orientador dessas oficinas. Em seguida, os alunos podem realizá-las em seus períodos livres, desde que haja algum colaborador/tutor do BDH presente no local. Outras oficinas como a de tratamento endodôntico e preparos protéticos são realizadas mediante divulgação e preenchimento de vagas, já que para estas faz-se necessário uso de instrumental do próprio aluno. - Seminários de discussão de artigos Dentro das atividades do BDH da UFPR, existem encontros periódicos que envolvem alunos, professores, cirurgiões dentistas, biólogos, enfermeiros e médicos. Nestes encontros são apresentados seminários sobre artigos com temas relacionados à utilização de células-tronco na odontologia, em seguida, são realizadas discussões sobre o assunto abordado. Há desenvolvimento e aprimoramento por parte dos alunos nas habilidades em pesquisa, conhecimento científico e oratória. -Ação Dente Presente A ação Dente Presente tem como finalidade incentivar a doação de dentes decíduos. Nos últimos anos, as pesquisas com dentes decíduos têm aumentado, tendo em vista uma capacidade maior de proliferação e diferenciação celular das células tronco de dentes decíduos quando comparadas com células tronco da polpa dental de dentes permanentes (WANG et al., 2012). Nesse projeto, são realizadas visitas em escolas da região onde são feitas atividades interativas
11 24108 e educativas com os alunos, enfatizando a importância da doação do órgão dentário. A criança é presenteada com um quebra cabeça desenvolvido pelo BDH em troca dos dentes decíduos esfoliados e o material doado é acompanhado do TCLE assinado pelo responsável. A ação também vem sendo realizado em parceria com a disciplina de Odontopediatria da UFPR. - Coleta de dentes humanos nas Unidades de Saúde de Curitiba e região Desenvolveu-se uma parceria com as unidades saúde de Curitiba e região, com a finalidade de coletar dentes extraídos, evitar o descarte indevido do material biológico e de contaminação cruzada. Para devidos fins, foram distribuídos nas US de Curitiba e região o TCLE para doação de dentes, embalagens para descarte dos dentes e folders explicativos de conscientização e incentivo da população abordando a importância da doação. - Projetos de pesquisa em desenvolvimento no BDH da UFPR A partir de estudos revisados na literatura, acadêmicos vinculados à iniciação científica da UFPR estão estudando e desenvolvendo um protocolo de obtenção e caracterização de matriz dentinária desmineralizada e liofilizada particulada em diferentes granulometrias, validado por meio de estudos das propriedades físico-químicas e biológicas. O processo de obtenção e validação da matriz dentinária foi submetido e aprovado na Plataforma Brasil e estão em andamento trabalhos de pesquisa incluindo caracterização, cultivo celular e microscopia. Existe uma grande variedade de estudos que têm buscado compreender as propriedades dos biomateriais e suas variáveis comportamentais dependendo das condições as quais são submetidos. Porém, até a presente data, são poucos os estudos que comparam congruentemente a matriz dentinária desmineralizada a biomateriais sintéticos. Um dos mais recentes, (LEE et al., 2017) comparou o potencial osteogênico da matriz dentinária desmineralizada e liofilizada com uma mistura sintética de osso bovino (Bio-Oss Colagen ). Em seus resultados, a matriz dentinária provou ter melhores propriedades de aderência, crescimento e diferenciação celular, quando comparados ao material sintético, provando ser um melhor substituto ósseo para procedimentos de aumento ósseo nos campos médico e odontológico. Já para PANG (et al., 2017), os resultados do uso da matriz dentinária desmineralizada e liofilizada foi tão efetiva quanto o uso do material Bio-Oss (Geistlich, Switzerland), considerando ambos viáveis para uso, sendo a matriz dentinária autógena uma opção viável para aumento ósseo alveolar.
12 24109 A matriz dentinária tem sido amplamente divulgada devido a sua capacidade osteopromotora, a qual favorece a liberação de um número importante de proteínas relacionadas com a dentinogênese e que são críticas para a regeneração dentinária (JIAO et al., 2014). Tais proteínas associadas promovem papéis de sinalização nos eventos iniciais de processos reparativos (SMITH et al., 2012). A matriz ainda possui as propriedades desejadas em defeitos ósseos nos maxilares, uma vez que é bem tolerada, facilmente obtida e exibe capacidade osteocondutora e osteoindutora (BANG et al., 1972; CANZARO-GUIMARÃES et al., 1986; CARVALHO et al., 2004; JIAO et al., 2014). Há evidência de que a dentina, como o osso, contém proteínas morfogenéticas (BMPs) que são moléculas que atuam sobre as células mesenquimais indiferenciadas levando à diferenciação de células secretoras de matriz óssea (HOTZ e HERR, 1994). Considerações finais A partir do relato de experiência descrito, ressalta-se o papel do Banco de Dentes Humanos na vivência dos acadêmicos de Odontologia e conscientização sobre a importância da doação do órgão dentário, com essas ações educativas na sociedade e no meio acadêmico, além do aperfeiçoamento das habilidades manuais e conhecimento científico de temas relacionados. Diante disso, o envolvimento de professores, colaboradores, acadêmicos e cirurgiões-dentistas externos para o desenvolvimento das atividades inerentes ao BDH- UFPR, especialmente na conscientização e captação dos dentes humanos são indispensáveis. Os seminários realizados pelos acadêmicos proporcionam o aprimoramento dos conhecimentos na área e desenvoltura diante das apresentações e debates, despertando o interesse pela leitura científica e consequentemente pela pesquisa. REFERÊNCIAS BANG, G.; NORDENRAM, A.; ANNEROTH, G. Allogenic demineralized dentin implants in jaw defects of Java monkeys. Int J Oral Surg, v. 1, n. 3,p , BRASIL. Código Penal e Constituição Federal. 47. ed. São Paulo: Saraiva, 2009 BRASIL. Lei nº 9.434, de 4 de fevereiro de Dispõe sobre remoção de órgãos, tecidos e partes do corpo humano para fins de transplante e tratamento e dá outras providências. DOU. 18 ago. 2000; 138(160-E): Seção 1:116-7 BRASIL. Portaria no 2.201, de 14 de Setembro de 2011.
13 24110 BRASIL. Resolução n 196/96, de 14 de Janeiro de BRASIL. Resolução n 347, de 13 de Janeiro de BRASIL. Resolução no 441, de 12 de Maio de BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. SB Brasil 2010: Pesquisa Nacional de Saúde Bucal: resultados principais / Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Brasília: Ministério da Saúde, p.: il. CARNEVALE, G.; PISCIOTTA, A.; RICCIO, M.; BERTONI, L.; DE BIASI, S.; GIBELLINI, L.; ZORDANI, A.; CAVALLINI, G.M.; LA SALA, G.B.; BRUZZESI, G.; FERRARI, A.; COSSARIZZA, A.; DE POL, A. Human dental pulp stem cells expressing STRO-1, c-kit and CD34 markers in peripheral nerve regeneration. J Tissue Eng Regen Med, 2016 Dec 11. doi: /term CARVALHO, V.A.; TOSELLO, D.D.E.O.; GOMES, M.F. Histomorphometric analysis of homogenous demineralized dentin matrix as osteopromotive material in rabbit mandibules. Int J Oral Maxillofac, v.19, n. 5, p , CORDEIRO, M.M.; DONG, Z.; KANEKO, T.; ZHANG, Z.; MIYAZAWA, M.; SHI, S.; SMITH, A.J.; NÖR, J.E. Dental pulp tissue engineering with stem cells from exfoliated deciduous teeth. J Endod, v.34, n.8, p , 2008.doi: /j.joen EDWARDS, P.C.; MASON, J.M. Gene-enhanced tissue engineering for dental hard tissue regeneration:(2) dentin-pulp and periodontal regeneration. Head Face Med, v. 2, n. 1, p. 16, GRONTHOS, S.; BRAHIM, J.; LI, W.; FISHER, L.W.; CHERMAN,N.; BOYDE, A.; DENBESTEN, P.; ROBEY, P.G.; SHI, S. Stem cell properties of human dental pulp stem cells. J Dent Res, v. 81, n. 8, p , GRONTHOS, S.; MANKANI, M.; BRAHIM, J.; ROBEY, P.G.; SHI, S. Postnatal human dental pulp stem cells (DPSCs) in vitro and in vivo. Proc Natl Acad Sci USA, v. 97, n. 25, p , GOMES, G.M.; GOMES, G.M.; PUPO, Y.M.; GOMES, O.M.M.; SCHMIDT, L.M.; KOZLOWSKI JUNIOR, V.A. Utilização de dentes humanos: aspectos éticos e legais. RGO, v. 61, p , HALLMANS, G.; VAUGHT, J.B. Best practices for establishing a biobank. Methods MolBiol, v. 675, p , 2011.doi: / _13. HOTZ, G.; HERR G. Bone substitute with osteoinductive biomaterials--current and future clinical applications. Int J Oral Maxillofac Surg, v. 23, n. 6 Pt 2, p , 1994.
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