MÓDULO 2.

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1 MODULO 2. População, Migrações e desenvolvimento 2.1. População e desenvolvimento Fontes: Maura Graff And Jason Bremner (2014) A practical guide to population and development. Bo Malmberg (2008) Demography and the development potential of Sub-Saharan África. Current African issues ; no. 38. Uppsala: Nordiska Afrikainstitutet, document_singledocument/33e93ac cb3-aa0f e250/en/38.pdf The Demographic Dividend A New Perspective on the Economic Consequences of Population Change POPULATION MATTERS A RAND Program of Policy-Relevant Research Communication David E. Bloom David Canning Jaypee Sevilla Plano do módulo O aumento da população é uma ameaça ou uma oportunidade? Os movimentos populacionais: migrações e desenvolvimento Remessas e desenvolvimento 1 Introdução ao problema O crescimento da população mundial De 1.6 b para mais de 7 b Crescimento anual: 80 m A taxa de crescimento atingiu o pico nos anos 60: 2% Actualmente está em declínio: estima-se que atingirá menos de 1% em 2020 e menos de 0.5% em 2050 A maioria do crescimento dá-se nos países menos desenvolvidos E sobretudo no continente Africano Estima-se que possa dobrar até 2050 Como é que o crescimento populacional pode afectar o desenvolvimento? Este é um assunto que tem sido muito debatido Há 3 posições perante isto: Pessimistas: restringe Optimistas: promove, Mais recentemente há os neutralistas que defendem que o aumento da população não promove nem impede o crescimento A posição que se adopta vai ter um impacto nas políticas Por ex, a posição neutralista coincidiu com uma diminuição do interesse na contracepção (Bloom) 1

2 Mas vários autores defende que a população é mesmo importante sobretudo para a melhoria da qualidade de vida (rendimento per capita) Um dos estudos importante é de bloom Bloom, David E. The demographic dividend : a new perspective on the economic consequences of population change / David E. Bloom, David Canning, Jaypee Sevilla. Esta discussão é muito importante sobretudo em períodos de boom, que é o que assistimos agora, porque fornece informações importante para a definição de politicas: Como tirar partido deste boom populacional? O que fazer para gerir os desafios? Nota: a maioria da população concentra-se em poucos países Nigeria Etiópia Congo AS Tanzania Kenia Quase 50% da população 2 População e desenvolvimento: que questões? Porque é que a fertilidade a taxa de crescimento da população são importantes? Como olhar para o crescimento populacional em África? Perspetiva mathusiana vs transição demográfica? O que é o dividendo demográfico e em que medida é uma janela de oportunidade? Em que medida o aumento da população (jovem) representa oportunidades e desafios? Por um lado; Crescimento da população leva a um aumento da força de trabalho o que se pode reflectir em aumentos do crescimento do PIB Menor fertilidade leva a menor taxas de dependência, leva a mais poupança e acumulação de capital (Malmberg) 3 O crescimento demográfico em África: Crescimento África tem hoje cerca de 1.3. b de pessoas 54 países É o segundo continente mais populoso ( a seguir à Asia com mais de 4b) Atingiu 1 b em 2009 Isto significa que dobrou de tamanho em 27 anos (de 80 s até 2009) A taxa de crescimento da população continua elevado: 2% 2

3 Na maioria dos países, a taxa ultrapassa os 2% A previsão é que continue a crescer e possa atingir 1.9b em 2050 (se não forem tomadas medidas) Estrutura da população A proporção da população jovem é muito elevada A mortalidade infantil continua elevada A esperança de vida é baixa: menos de 50 anos e reduziu por causa do HIV sida 4 Como interpretar este crescimento? Há várias maneiras de olhar para a questão demográfica em África 1 : A interpretação malthusiana A interpretação da transição demográfica: A INTERPRETAÇÃO PESSIMISTAS (Malmberg) (Thomas Malthus, 1700) É que África tem taxas de crescimento muito elevadas e taxas de fertilidade muito elevadas Estas taxas de crescimento elevadas levam à pobreza porque são um entrave ao crescimento económico já que muitos recursos vão para cuidar dos mais jovens Levam à degradação ambiental E sobretudo exercem uma pressão muito forte sobre os recursos alimentares podendo causar insegurança alimentar e fome Mais grave, levam, desta perspetiva, à migração crescente. A acrescentar a isto o facto de Africa ser vista com uma região com mais problemas que outras, a chegada da epidemia de HIV sida que causou um crise de mortalidade Além do impacto nos recursos, Há ainda o impacto negativo na intensidade do capital Crescimento aumenta a necessidade de casas, fabricas, infraestruturas, emprego É bom no longo prazo 1 Malmberg, Bo. "Demography and the Development Potential of Sub-Saharan Africa." N.p., n.d. Web. 25 Oct

4 Mas no curto prazo levam a uma redução do capital por trabalhador e uma diminuição dos níveis de vida Esta descrição, embora não seja completamente incorrecta, é uma má representação do que se passa Representar o crescimento africano assim implica que o continente é visto como um exemplo tipo de malthusianismo Esta descrição NÃO É POLITICAMENTE INOCENTE: Porque implica que os problemas de África são causados por uma população muito grande E que portanto a mortalidade elevada é o resultado disso Da mesma forma a migração é vista como uma tentativa desesperada para escapar de uma situação intolerável Por vezes até a SIDA é vista como um remédio para a população sobre elevada Esta perpectiva, aliás foi abandonada nos anos 80 para os países em desenvolvimento No entanto continua a persistir para Africa É aqui que surgem os optimistas Começou-se a focar-se mais nos benefícios a longo prazo Nos últimos 30 anos, nos quais a população duplicou, o rendimento per capita aumentou A maioria das fomes foram causadas por falta de capidade de adquirir bens mais do que falta de alimentos O progresso na agricultura e indústria foram muito rápidos E também houve grandes mudanças a nível social, educação e instituições A INTERPRETAÇÃO OPTIMISTA: Promoveram a ideia que o aumento populacional promove o crescimento económico O aumento da população aumenta a criatividade Sociedades maiores com a capacidade de aproveitaram economias de escala, estão mais bem posicionadas para desenvolver, explorar e disseminar o conhecimento que recebem Assim, crescimento pop leva a crescimento económico Ester Boserup ( ) foi uma das autores que questionou a visão mathusiana do mundo. O aumento da população levou ao fim dos caçadores recolectores, e ao advento da agricultura slash and burn A revolução verde quadruplicou a produção de alimentos do mundo Mas os optimistas, apesar de refutarem as teses alarmistas dos pessimistas, também sugeriam que uma multiplicidade de factores podiam afectar o resultado Este debate evolui para o neutralismo. O neutralismo foi a teoria dominante nos últimos 30 anos A interpretação da transição demográfica: 4

5 A outra perspectiva é a da transição demográfica Esta perspectiva é baseada na análise histórica e comparativa com outros continentes Diz nos que a situação de África não é única e que tem precedentes na história recente da Europa, Ásia e América. Os desenvolvimentos em África são muito semelhantes ao observado noutros países que experienciaram tendências demográficas semelhantes. Atenção: no entanto isto não significa que África vá passar necessariamente pelos mesmas fases de outros continentes! Dá nos outra forma de analisar Mas, ainda assim, temos de ter em atenção as particularidades e ver a evolução recente A interpretação da transição demográfica: O que é? A transição demográfica é o processo de passagem de taxas elevadas de Natalidade e Mortalidade para taxas baixas de N e M A transição demográfica começa com a diminuição das taxas de mortalidade E só depois as taxas de natalidade começa a descer Fase 1 Fase 2 Fase 3 Fase 4 E mais útil a interpretação de África como um exemplo de uma região que está a passar por uma transição demográfica Esta perspectiva mostra-nos que a situação da ASS não é um situação única Mas os desenvolvimentos são em muito semelhantes aos que já ocorreram noutros países 5 Como foi a transacção demográfica no resto do mundo? 5

6 A transição demográfica começou a ser observada nos sec 18, 19 e 20 nos países do Norte e Oeste da Europa Nos anos 60, começou a observa-se um declínio das taxas de mortalidades em quase todos os países em desenvolvimento mas as taxas de fertilidade ainda eram elevadas Pensou-se nessa altura que o mundo caminhava para uma catástrofe Mas este desfasamento entre diminuição da fertilidade e da mortalidade já se tinha verificado na Europa E de facto, nos anos 70, 80, 90 as taxas de fertilidade começaram a baixar na Ásia, AL e Norte de africa 6 O que aconteceu em África? Malmberg, Bo. "Demography and the Development Potential of Sub- Saharan Africa." N.p., n.d. Web. 25 Oct ADB Africa s demographic trends África também faz parte deste processo Taxas de mortalidade Devido à falta de dados não se sabe exactamente quando as taxas de mortalidade começaram a diminuir mas diminuíram Provavelmente começou depois de 45 É o que sugerem os dados da UN Pode ter sido devido à difusão do DDT para controlar a malária NOS anos 50 era claro que África entrou numa fase de declínio de mortalidade que corresponde à fase 2 da transição Como a natalidade não diminuiu, Isto corresponde a taxas de crescimento da população de 2.2% A taxa máxima foi atingida em com 3% ao ano Taxas de fertilidade A segunda fase da transição inicia-se quando as taxas de fertilidade começam a baixar 6

7 Mas só nos últimos 25 anos começaram a haver sinais de declínio da fertilidade (anos 80): Na altura cada mulher tinha em média 7 filhos Desde então diminui 25% Mas continua muito alta: mais de 5 filhos por mulher É mais do que a taxa de fertilidade da Suécia no sec 19 E este declínio foi lento e por vezes parou (stalled) Isto significa que há um aumento da população dependente e um aumento rápido da população jovem Fase da transição A ASS estão a meio caminho da transição demográfica. Os países africanos estão ainda nos estado iniciais ou intermédios da transição (fase 2 e 3) com taxas N+M a decrescer mas ainda altas comparadas com o resto do mundo A ESTRUTURA DA POPULAÇÃO Mas há aqui um factor muito importante que estrutura da população e o dividendo demográfico Antes o debate colocava-se exclusivamente no tamanho da população e crescimento Em anos mais recentes no inicio do sec, entrou um novo dado para o debate : a estrutura da população: como é que a população se distribui ao longo de diferentes faixas etárias Esta estrutura pode mudar drasticamente com as mudanças da F e M. O que é o dividendo demográfico? [slide ex Tailândia] a importância da estrutura da população O conceito de dividendo demográfico é considerado o missing link na explicação da relação entre população e crescimento O que é? O dividendo demográfico é o crescimento económico acelerado que pode resultar do rápido declínio da fertilidade de um pais e a consequente mudança na estrutura da pirâmide da idade da população No início da transição demográfica, quando um pais experienciou elevados níveis de fertilidade e crescimento rápido da população, há mais pessoas no grupo dos jovens do que na população em idade activa Um declínio da fertilidade vai fazer que, a dada altura, haja um declínio do número de jovens dependentes em relação aos adultos em idade activa. Esse período em que há mais trabalhadores que adultos dependentes É a janela de oportunidade para acelerar o crescimento económico de um país. Diz-se que a taxa de dependência das crianças diminuiu Nos países em que há uma parte maior da pop a trabalhar, a produção acrescentada deste grupo pode produzir o dividendo demográfico do crescimento económico Se há muitas crianças, muitos dos recursos são dispendidos no cuidado dessas crianças 7

8 Isto foi o que aconteceu na maioria dos tigres asiáticos: a redução das taxas de dependência e o aceleramento do rendimento per capita estão interligados Mas Será que África vai seguir o padrão dos outros países? Os peritos debatem se estes países vão seguir este modelo de transição clássico como outros países Mas isto não é automático e não se deve assumir que vai ser assim Taxas de fertilidade em Africa baixam devagar (comparação Africa/europa) Embora muitos países estejam a experienciar taxas de fertilidade mais baixas, estes níveis de fertilidade têm de diminuir mais rápido senão não passarão para a próxima fase Por outro lado há muitas diferentes entre regiões de África e países Em alguns houve decréscimos significativos, Noutros a taxas de fertilidade estagnaram (ver graf STALL) Causas do decréscimo lento da fertilidade são muito debatidas Mas condições de vulnerabilidade nas zonas rurais explicam a manutenção da fertilidade elevada : filhos são segurança para o futuro Mortalidade elevada devido a Malaria, TB e SIDA; nomeadamente elevada mortalidade infantil contribui para a manutenção de fertilidade elevada Taxas de usos de contracepetivos muito baixas Taxas de dependência elevadas (graf) Hoje em dia só África tem taxas de dependência tão elevadas E esta característica é mais ou menos comum a todos os países africanos (enquanto que por ex a taxas de mortalidade variam muito) HIV/Sida pioraram a situação ao dizimar população em idade activa Em que medida o aumento da população jovem activa representa um desafio em Africa? Impactos do crescimento populacional em Africa O crescimento populacional teve várias consequências: Uma transformação radical da agricultura A criação dos sistemas urbanos africanos O dividendo demográfico não é automático: Problemas ampliados Esta população tanto pode ser uma oportunidade como um desafio devido à procura de emprego Mais de 75 milhões de jovens no mundo estão desempregados Desafios a todos os níveis Nos países com taxas de crescimento populacionais muito elevadas, os desafios de manter sistemas de saúde e educação são ampliados 8

9 As taxas de frequência do ensino secundário em África são muito mais baixos que no resto do mundo [slide] A pobreza e a insegurança alimentar também pode aumentar como resultado do aumento populacional Por ex ver gráfico do aumento do número de crianças com carências nutricionais Urbanização O que caracteriza estes jovens adultos é a necessidade de arranjar forma de sustento para que se possam sustentar e forma uma família Um aumento do jovem de adultos leva a um aumento da procura por terras e deslocação para áreas onde tenham acesso a empregos Isso leva ao crescimento urbano foi muito maior Migração A expansão constitui um risco se os adultos não conseguirem empregos Isso pode levar à necessidade de migração externa O trabalho de alguns historiadores permitiu demonstrar que os aumentos dos movimentos migratórios no sec 19 estavam relacionados com o aumento rápido das populações de adultos Usando dados recentes demonstraram que com a transição demográfica e a diminuição deste grupo, há tb um declínio da migração A exceção seria Africa SS em que o aumento continuo da população de adultos continuará a exercer pressão migratória O dividendo demográfico não é automático: a importância das políticas Se a ASS conseguisse completar a transição demográfica poderia ter os mesmo efeitos económicos positivos que a Ásia, Índia, AL Mas o que é preciso para que isto aconteça? O dividendo demográfico não é automático para os países que hoje tem populações jovens muito grandes É preciso portanto que é um série de condições estejam reunidas para que isso seja possível o Contexto, politicas, dinâmicas globais, dinâmicas locais Politicas publicas adequadas As áreas cruciais são Saúde publica Planeamento familiar Educação Politicas económicas Politicas para acelarar a trsnsição demográfica criando as condições para a populaçõ em idade activa ser integrada no mercado de trabalho Porquê? São necessários investimentos para favorecer o declínio da fertilidade e criar as condições para o dividendo demográfico. Estes passam por Planeamento familiar, 9

10 Educação, Mortalidade infantil Também são necessários investimentos em educação, políticas económicas e infraestruturas para converter a oportunidade criada pelo declínio da fertilidade em crescimento económico acelerado. Nomeadamente os governos têm de levar a cabo reformas, e fazer investimentos infrastruturais para atraem níveis elevados de investimento, criar emprego e ter uma força de trabalho mais bem preparada Um exemplo de um país que consegui capitalizar na janela de oportunidade é a Tailândia: foram feitos uma serie de investimentos em saúde, educação e criadas oportunidades para esta força de trabalho contribuir para o crescimento económico Estas mudanças agora requerem novas políticas para expandir as oportunidades de educação e emprego NOTAS 7 Porque é que a fertilidade e a taxa de crescimento da população são importantes para o crescimento económico? Por um lado; Crescimento da população leva a um aumento da força de trabalho o que se pode reflectir em aumentos do crescimento do PIB Por outro: Menor fertilidade leva a menor taxas de dependência, leva a mais poupança e acumulação de capital (Malmberg) Aumento populacional leva ainda a: Um aumento da procura por recursos naturais, serviços, emprego, expectativas O aumento populacional põe em causa os investimentos que já foram feitos Aumenta a pressão sobre os problemas de pobreza e saúde, e criação de emprego Aumenta a pressão sobre os recursos Estes factores constituem grandes desafios e são precisos recursos para os gerir Para haver progresso resultante do crescimento demográfico é necessário políticas adequadas: investimento na saúde, educação, emprego 10