nº41 - janeiro 2012 POBREZA RURAL: UM FENÔMENO HISTÓRICO- ESTRUTURAL RELACIONADO À ESTRUTURA AGRÁRIA DO PAÍS
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- Isabel Back Farinha
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1 Observatório de Políticas Públicas para a Agricultura nº41 - janeiro 2012 POBREZA RURAL: UM FENÔMENO HISTÓRICO- ESTRUTURAL RELACIONADO À ESTRUTURA AGRÁRIA DO PAÍS Lauro Mattei* Oproblema da pobreza rural está no latifúndio e não nos pobres. Cândido Grzyboswki O Brasil apresenta marcas históricas que remontam ao processo colonizador, o qual des- los, apenas a função de produção e suprimento de bens primários necessários ao atendimento dos interesses da metrópole lusitana. Tal lógi- tes nos dias atuais. Dentre essas marcas, destacam-se a pobreza, a concentração de renda e a - quando crises econômicas afetaram a maioria - econômico regional, os problemas sociais tornaram-se obstáculos reais para conformação de sociedades mais justas e democráticas. - - per capita, que passou a apresentar uma trajetória de queda, e bem como o próprio mercado de trabalho, - mados ao histórico processo de concentração - 1
2 - como estimularam a continuidade dos desloca- das grandes metrópoles urbanas, que passaram a concentrar a maior parte da população do nas cidades e especialmente nas áreas metropolitanas su- A pobreza rural não é um especialmente nas áreas de saúde, educação, alimentação, nutrição, habitação e saneamento número de pessoas pobres Mas, em termos rela- fenômeno natural, mas sim um processo históricoestrutural construído pelo homem. Decorre daí que a solução para esse problema precisa ser buscada nas causas que determinam nômeno seja discutido para mente monetárias, mesmo sua existência. milhões de pessoas que faziam parte per capita per capita mente pobres. Os determinantes histórico-estruturais de geração da pobreza rural o fenômeno da pobreza sugerem que ele não - - breza a partir de um único indicador monetário: a renda per capita mais adiante. Por isso, falar da pobreza rural e de sua relação com a questão agrária requer situar o de- põe entender a conformação histórica e social mar que a pobreza rural não pode ser conce-
3 bida como um fenômeno natural, pois se trata pobreza tem seus determinantes centrais de ordem estrutural. Historicamente, nota-se, desde os primór- tório. Se no passado colonial o caráter dessa - - propriedades, na monocultura e nas commodi- ties - Caio Prado Júnior resumiu este processo somos hoje o que nós éramos ontem tia a formação histórica da economia rural bra- elementos que podemos encontrar grande parte nos dias atuais. - - da região Centro-Oeste mostraram que naquele - ces de concentração da terra. Da mesma forma, estudos da região amazônica mostraram que os determinantes da pobreza naquela região di- - - antigos proprietários autônomos agora estão e submetidos a relações de trabalho precárias, especialmente em termos da renda recebida. minoria de empresas e grandes produtores que possuem capital para dar sustentação a esta ló- - de pobreza, porque ela não altera as questões histórico-estruturais, como a concentração da terra, as relações seculares de dominação e de 3
4 Vimos anteriormente que a grande maio- - cia sistemática das secas, fenômeno que acaba mente em termos de acesso a trabalho. De- - - trabalho degradantes. Mesmo que temporariamente esses migrantes consigam participar do mercado de trabalho, as relações de trabalho precários, conforme está amplamente documentado pela literatura especializada. Para se ter uma ideia da dimensão do problema, basta rais era a assinatura da carteira de trabalho, o que garantiria a esses trabalhadores o acesso a - nam os latifúndios, destacando-se os campos de um fenômeno correlacionado: as microrregiões - ces de pobreza rural. - problema da pobreza rural como um mero indi- per capita - - -estrutural marcado pelas contradições sociais ainda presentes na sociedade rural brasileira, ao no multidimensional, que poderá ser mais bem compreendido quando se utiliza a abordagem - rápido processo de industrialização e de urba- - micas, mas, por outro, foram estabelecidos mecanismos que restringiram o acesso a esse conjunto de bens produzidos, o que proporcionou De uma maneira geral, pode-se dizer que lizou a pobreza rural pelos seguintes mecanis- gias modernas, que desempregou muita gen- 4
5 cação da pobreza rural. Por mais que as teses o problema da produção agropecuária sem precisar fazer qualquer reforma em sua estrutura - leira não pode ser relegada a um segundo pla- que se queira utilizar. tantemente, entendemos que a busca de soluções para a questão da pobreza rural brasileira não pode ser dissociada dos marcos da estrutura minantes da própria pobreza a ser erradicada. - - Segundo os defensores dessas ideias, para estes pulação rural? * Professor dos cursos de Graduação e Pós-Graduação em Economia e de Pós-Graduação em Administração, ambos da UFSC, e Pesquisador do OPPA- CPDA-UFRRJ. l.mattei@ufsc.br O autor agradece os comentários e sugestões dos membros do OPPA. Coordenador Sergio Leite Pesquisadores Ademir A. Cazella, Andrey Cordeiro Ferreira, Claudia Job Schmitt, Fábio Luiz Búrigo, Georges Flexor, Jorge Romano, Lauro Mattei, Leonilde Medeiros, Nelson Delgado, Philippe Bonnal, Renato S. Maluf Assistentes de Pesquisa Catia Grisa, Karina Kato, Silvia Zimmermann, Valdemar João Wesz Junior Secretária Diva de Faria Observatório de Políticas Públicas para a Agricultura Endereço: Av. Presidente Vargas, 417 / 8º andar Centro Rio de Janeiro - RJ CEP Telefone: r. 214 Fax: r. 217 Correio eletrônico: oppa@ufrrj.br Sítio eletrônico: 5
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