INSPEÇÃO DENTÁRIA EQUINA: BEM-ESTAR ANIMAL ATRAVÉS DA CONSCIENTIZAÇÃO

Transcrição

1 INSPEÇÃO DENTÁRIA EQUINA: BEM-ESTAR ANIMAL ATRAVÉS DA CONSCIENTIZAÇÃO Patricia RODRIGUES 1 ; Vera Lúcia Freitas PANIZ 2 ; Renê ROPELATO 3 ; Silvana Cony QUINTEIRO 4 ; Milena Julia CHIROLLI 5. Identificação dos autores: 1 Bolsista Edital 015/2016,Turma 2B, Curso Técnico Agrícola com Habilitação em Agropecuária do IFC Campus Rio do Sul; 2 Mestre em Ciências da Computação pela UFSC, Professora orientadora do IFC Campus Rio do Sul; 3 Médico veterinário na CIDASC de Aurora, coorientador do IFC Campus Rio do Sul; 4 Mestre em Zootecnia pela UFSM, Professora do IFC - Campus Rio do Sul; 5 Bolsista Iniciação Científica Junior do CNPQ, Turma 3A, Curso Técnico Agrícola com Habilitação em Agropecuária do IFC Campus Rio do Sul. Resumo A inspeção dentária equina é imprescindível na garantia do bem-estar animal. Com o objetivo de conscientizar os proprietários de equinos do IFC Campus Rio do Sul/Sede para que melhorem suas práticas de manejo com relação á odontologia equina, foram enviados 80 questionários para equinocultores vinculados á instituição através da ferramenta Formulários Google e analisadas as respostas. Constatouse que embora os cuidados bucais equinos sejam considerados importantes, há um baixo índice de realização dessas práticas nos equinos. Realizaram-se duas palestras no Campus com veterinário especialista em odontologia equina com o intuito de conscientizar os equinocultores quanto a importância dessa prática. Introdução A odontologia equina é uma área da prática clínica veterinária que se encontra em ascensão e pesquisas referentes à importância da inspeção dentária, assim como a conscientização dos proprietários torna-se necessária para que sejam desenvolvidas práticas de manejo mais adequadas visando sempre melhorar o bemestar e a qualidade de vida desses animais. O tipo de alimentação dos equinos exerce papel importante no ciclo mastigatório. As forragens necessitam de maior trituração, estimulando, deste modo, a maior amplitude dos movimentos, enquanto a ingestão de grãos diminui essa amplitude. A duração do ciclo no período da mastigação de forragens é significativamente mais longa e consequentemente, a frequência é menor (CLAYTON, 2007). A má oclusão leva a uma mastigação ineficiente, desconforto, desgaste dental irregular, e, além disso, pode ocasionar a perda prematura de dentes. Cavalos com ponta excessiva de esmalte dentário trituram mal os alimentos, possuem digestão demorada, apresentam emagrecimento progressivo e também aptidão à alta incidência de quadros de cólicas (THOMAZIAN, 2005). A domesticação acompanhada do fornecimento cada vez maior de alimentos concentrados é fator relevante no desenvolvimento das alterações odontológicas dos equinos, uma vez que modifica o movimento de mastigação do animal. Este tipo de manejo vem modificando o hábito alimentar dessa espécie, diferenciando os animais estabulados daqueles de vida livre (DIXON, 2005). Bem Estar-Animal-BEA deve relacionar-se com conceitos de necessidades, liberdades, felicidade, adaptação, controle, capacidade de previsão, sentimentos, sofrimento, dor, ansiedade, medo, tédio, estresse e saúde (Broom e Molento, 2004). Segundo Dixon (1999) um dos pilares da qualidade e integridade física dos equinos é a nutrição, para a qual uma mastigação adequada é fundamental. Dentro deste

2 contexto, a inspeção dentária torna-se imprescindível para o bem-estar e a melhora na qualidade de vida dos equinos. Visto que na maioria das vezes distúrbios odontológicos não são visíveis aos proprietários e tratadores (ALVES, 2004). Freire (1989) cita que Ações em saúde voltadas para o BEA, onde a educação possa ser o cerne do processo, precisam ser incentivadas nos órgãos públicos, que detêm as verbas da população. Neste âmbito a presente pesquisa teve como objetivo conscientizar a comunidade escolar do IFC Campus Rio do Sul para que melhores suas práticas de manejo com relação á inspeção dentária equina com o intuito de proporcionar bem-estar á esses animais. Material e Métodos Os procedimentos desenvolvidos neste projeto foram aprovados pelo Comitê de Ética via Plataforma Brasil (CAAE: ). Trata-se de uma pesquisa dividida em duas etapas onde a primeira é classificada como qualitativa etnográfica que, segundo Merriam (1998) focaliza seus estudos na cultura de uma sociedade e procura descobrir e descrever crenças, valores e atitudes, estruturas sociais e comportamento de um grupo. O projeto foi desenvolvido no primeiro semestre de 2016 no IFC Campus Rio do Sul/Sede. Na primeira fase do projeto foram enviados 80 questionários elaborados através da ferramenta Formulários Google com perguntas fechadas e de múltipla escolha que foram utilizados na coleta de dados. Após receber as respostas, as mesmas foram tabeladas no aplicativo de planilha eletrônica da Microsoft Excel o qual gerou gráficos das respostas obtidas. Na segunda parte do projeto fez-se uso da pesquisa-ação, termo que se aplica a projetos em que os práticos buscam efetuar transformações em suas próprias práticas (BROWN; DOWLING, 2001). Realizaram-se duas palestras nas dependências do Campus com o objetivo de conscientizar a comunidade escolar com relação á prática da inspeção dentária em equinos. Resultados e discussão Dos 80 questionários enviados foram obtidas 46 respostas e, dentre essas, observou-se a opinião de estudantes dos Cursos Técnicos em Agropecuária e Agroecologia, bem como professores e acadêmicos do Bacharelado em Engenharia Agronômica. Percebeu-se que o questionário abrangeu participantes de 26 cidades catarinenses e duas cidades rio-grandenses. Observou-se que dos proprietários respondentes 56,5% afirmaram possuir apenas um animal e 30,4% afirmaram possuir de 1 a 5 equinos, dados que evidenciam serem equinocultores de pequena escala. No questionário as perguntas 2 a 5 referem-se ás características dos animais, informações essas que foram consideradas irrelevantes na pesquisa, uma vez que a diferença do número de machos e fêmeas que cada proprietário possui não interfere no resultado de outras perguntas. Quanto à finalidade dos animais, 34 respondentes afirmaram ter seus equinos para lazer, totalizando 73,9% das respostas; 23,9% dos participantes possuem equinos para o trabalho e 2,2% para a equoterapia. As atividades de comércio e reprodução apresentaram resultado nulo, indicando mais uma vez que os proprietários não utilizam seus animais comercialmente.

3 Notou-se que 21 proprietários, ou seja, 45,7% possuem equinos há mais de 10 anos; 12 possuem equinos há mais de 5 anos (26,1%); 7 afirmaram ser proprietários de equinos de 2 a 5 anos (15,2%), e 6 respondentes possuem equinos há menos de 2 anos (13%). Observou-se então, que 52,2% (24 respondentes) nunca observaram troca de dentes ou problema dentário em equinos. Os que informaram ter observado uma vez totalizaram 12 participantes (26,1%) e 09 participantes (19,6%) afirmaram ter observado várias vezes esses episódios. Embora 45,7% dos respondentes (21 proprietários) possuem equinos há mais de 10 anos, pode-se observar que dos demais proprietários apenas 19,6% relataram ter observado várias vezes trocas e/ou problemas dentários em seus animais. Esse fato é descrito por Alves (2004), que em sua bibliografia afirma que os problemas odontológicos em equinos muitas vezes passam despercebidos por criadores e tratadores. No que se refere o número de proprietários que conhecem o trabalho dos dentistas de cavalos (veterinários especializados em odontologia equina). Notou-se que 34 participantes (73,9%) responderam que já ouviram falar nesses profissionais e 12 respondentes (26,1%) afirmaram o contrário. Como já citado, a odontologia equina é uma área da prática clínica que se encontra em ascensão. Esta afirmação pode explicar o desconhecimento por parte dos proprietários com relação aos profissionais dessa área. Uma vez que no estado em que a pesquisa foi realizada não existem grandes centros odontológicos especializados em equinos. No que tange a importância dos cuidados bucais em equinos, 97,8% (45 participantes) afirmaram que esses cuidados são importantes, porém de acordo com o gráfico abaixo nota-se um baixo índice de proprietários que realizaram efetivamente a inspeção dentária em seus animais. Gráfico 1- Percentual da importância da Inspeção Dentária Equina (IDE) e sua efetiva realização Proprietários que consideram a IDE IMPORTANTE Proprietários que relizam IDE em ALGUNS dos seus Animais Proprietários que realizam IDE em TODOS os seus Animais 6,50% 97,80% 13% Fonte: Autores, Corroborando com as informações demonstradas anteriormente entende-se que, embora os proprietários não tenham realizado a inspeção dentária em seus animais, 41,3% deles (19 participantes) afirmam que pretendem contratar esse

4 serviço para seus equinos. No entanto, 37% (17 participantes) afirma que não contratará esse serviço. Percebe-se uma relutância por parte dos proprietários em contratar o serviço de inspeção dentária em equinos. Essa resistência pode ser consequência da falta de informações e divulgações sobre a importância e as mudanças que essa prática traz aos animais. Percebeu-se que 73,9% (34 respondentes) afirmaram nunca ter entrado em contato com um veterinário especializado em odontologia de equinos, fato que também pode justificar o baixo índice de inspeções realizadas. Quanto á não realização da inspeção, a alternativa mais escolhida totalizou 42,1% (16 respondentes) sendo a que afirma que os proprietários não conhecem o serviço de inspeção dentária em equinos. Fato que demonstra a importância da conscientização e divulgação desse trabalho, uma vez que o conhecimento sobre esse assunto indiretamente melhorará a qualidade de vida dos equinos. Nota-se que 31,6% dos respondentes afirmaram desconhecer os médicos veterinários especializados em odontologia equina, sendo esse um fator que impediu a realização da inspeção. A terceira alternativa mais assinalada foi a que se refere ao custo financeiro que a inspeção dentária trará ao proprietário. Como visto anteriormente os participantes da pesquisa não possuem equinos para fim comercial e alto desempenho, circunstância que interfere na escolha do investimento feito nos animais. Quanto à pergunta referente à realização da inspeção dentária apenas quem contratou esse serviço respondeu-a. Obtiveram-se 16 respostas das quais 50% dos respondentes afirmaram que essa prática teve como objetivo apenas avaliar os animais; 18,8% indicaram que a extração do primeiro molar (dente de lobo) foi efetuada; 6,3% assinalaram a opção pertencente à correção de pontas excessivas de esmalte dentário (PEED) e 25% afirmaram ser por outros motivos. Dos respondentes do questionário 95,7% (44 pessoas) afirmaram que gostariam de receber mais informações sobre odontologia de equinos, caso que foi atendido, através das palestras relacionadas a esse tema que foram efetivamente realizadas no local da pesquisa levando assim maior conhecimento aos participantes. Conclusão Verificou-se que a amostra participante da pesquisa considera os cuidados bucais equinos importantes, no entanto há um baixo índice de realização da inspeção dentária nesses animais. Através da análise da opinião dos equinocultores percebeu-se que os maiores indicativos da não realização da inspeção dentária em seus animais são: que os proprietários não conhecem o serviço de inspeção dentária em equinos; desconhecimento dos médicos veterinários especializados em odontologia equina e o custo financeiro que a inspeção dentária trará ao proprietário. Os questionários utilizados na coleta de dados possibilitaram a análise da opinião dos participantes e as palestras realizadas foram de fundamental importância na conscientização, pois propiciou um adequado momento de explanação sobre os assuntos da odontologia equina.

5 Sugere-se que ações de conscientização sejam desenvolvidas com maior abrangência de equinocultores, pois a conscientização e a apresentação dos assuntos voltados á odontologia de equinos ainda se fazem necessários. Referências ALVES, G. E. S. Odontologia como parte da gastroenterologia - sanidade dentária e digestibilidade. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE CIRURGIA E ANTESTESIOLOGIA VETERINÁRIA 6, 2004, Indaiatuba, SP. [Anais ] Indaiatuba: Faculdade de Jaguariúna, p Minicurso de Odontologia Equina. BROOM, D.M.; MOLENTO, C.F.M. Bem-estar animal: conceito e questões relacionadas Revisão. Archives of Veterinary Science, v.9, n.2, p.1-11, BROWN, A; DOWLING, P. Doing research/reading research: a mode of interrogation for teaching. Londres: Routledge Falmer, CLAYTONH. M. & BONIN S. J. Motion of the temporomandibular joint in horses chewing hay and pellets. In: ANNUAL CONVENTION OF THE AMERICAN ASSOCIATION OF EQUINE PRACTITIONERS, 53, Orlando, International Veterinary Information Service., Disponível em: < Acesso em 27 mai DIXON, P. M. Dental anatomy. In: BAKER, G. J.; EASLEY, K. J. Equine Dentistry 2. Ed London. W. B. Saunders, p DIXON, P.M.; TREMAINE, W.H. PICKLES, K.; KUHNS, L.; HAWE, C.; MCCANN, J. Equine Dental Disease Part 1: A long-term study of 400 cases: disorders of incisor, canine first premolar teeth. Equine Veterinary Journal. v.31, n.5, p , FREIRE, Paulo. Extensão ou comunicação? (Extención o comunicación?).v.24.8ed. Ed. Paz e Terra. Rio de Janeiro MERRIAM, S. B. Qualitative research and case study apllications in education. São Francisco (CA): Jossey-Bass, THOMAZIAN, A. Enfermidade dos cavalos. 4ª ed. São Paulo: Varela. 385 p, 2005.