Vantagem dos incumbentes na Câmara dos Deputados

Transcrição

1 X Encontro da ABCP Vantagem dos incumbentes na Câmara dos Deputados Fernando Meireles Universidade Federal de Minas Gerais/DCP Setembro, 2016

2 ELEIÇÕES E CARREIRAS POLÍTICAS Vencer uma eleição pode trazer benefícios à carreira de um político, tais como: Acesso a recursos públicos, cargos e outros incentivos seletivos; Acesso a financiadores e à máquina pública; Influência sobre políticas públicas; Maior exposição na mídia; Maior visibilidade junto ao eleitorado; Entre outros. 2/24

8 ELEIÇÕES E CARREIRAS POLÍTICAS NA CÂMARA O mesmo pode ser dito sobre a Câmara dos Deputados: Acesso à verbas de divulgação e exercício do mandato; Possibilidade de emendar o orçamento; Capacidade de influenciar a produção legislativa; Acesso a um staff técnico; Maior acesso à burocracia ministerial; Entre outros. 3/24

14 CARREIRAS NA CÂMARA: INCENTIVOS CENTRÍFUGOS A literatura sobre este ponto enfatizava até recentemente que estes incentivos teriam efeitos centrífugos. O maior exemplo é Samuels: 1. [Samuels, 2003, p. 48] [...] deputies seek municipal and/or state-level positions, because the probability of attaining and maintaining political power at the national level is relatively slim while the opportunities are much greater and the positions also quite attractive at the municipal or state level. 4/24

15 CARREIRAS NA CÂMARA: UM MODELO INTEGRADO Estudos mais recentes, contudo, mostram que as carreiras na Câmara não são tão lineares por conta da estrutura de oportunidades do sistema político brasileiro: 1. [Santos and Pegurier, 2011, p. 167] [...] with no barriers to movement between the Legislative and the Executive at all three levels of government within the Brazilian federalism, plus an electoral system that poses great risks for candidates to municipal, state and federal legislatures, political careers are not limited to one branch of government or to one level within the system. 2. [Borges and Sanches Filho, 2016, Eggers and Spirling, 2014, De Magalhaes, 2015] 5/24

16 EXEMPLO: ELEIÇÃO DE 1998 NA BAHIA Nome Saulo Pedrosa de Almeida Nestor Neto Partido PSDB PSDB Margem de votos 7-7 Situação Eleito Suplente 6/24

17 EXEMPLO Saulo Pedrosa de Almeida vs. Nestor Neto Vice Governador Cargo Disputado Dep. Federal Prefeito Nenhum Eleição Eleito em 98? Não Sim 7/24

18 CARREIRAS POLÍTICA NA CÂMARA: VISÃO GERAL Trajetória dos candidatos a Dep. Federal em 1998 Governador Senador Cargo Disputado Dep. Federal Dep. Estadual Nenhum Eleição Eleito em 98? Não Sim 8/24

19 CARREIRAS POLÍTICA NA CÂMARA: VISÃO GERAL Trajetória resumida dos candidatos a Dep. Federal em Trajetória (scores) Eleição Eleito em 98? Não Sim 9/24

20 ELEIÇÕES E CARREIRAS POLÍTICAS NA CÂMARA Uma questão central ainda não foi investigada: quais são, especificamente, os efeitos que obter um mandato na Câmara têm na carreira de um político? 10/24

21 ELEIÇÕES E CARREIRAS POLÍTICAS NA CÂMARA Uma questão central ainda não foi investigada: quais são, especificamente, os efeitos que obter um mandato na Câmara têm na carreira de um político? Se deputados têm maiores ou menores incentivos para disputar e vencer a reeleição ou outros cargos, examinar as carreiras políticas dos candidatos que disputam as eleições para a Câmara é a forma natural de testar isto. 10/24

22 OBJETIVO Objetivo Analisar quais são os efeitos de obter um mandato na Câmara sobre a carreira futura de um político Objeto Todos os candidatos a Dep. Federal desde /24

23 PROBLEMA DE IDENTIFICAÇÃO Fazer isto pressupõe identificar o efeito causal de vencer uma eleição, o que envolve necessariamente lidar com a endogeneidade entre resultados eleitorais e carreira futura: Candidatos vencedores são diferentes dos derrotados em aspectos que podem ser correlacionados com suas carreiras futuras; O grupo de candidatos derrotados é maior e mais diverso. 12/24

24 PROBLEMA DE IDENTIFICAÇÃO Fazer isto pressupõe identificar o efeito causal de vencer uma eleição, o que envolve necessariamente lidar com a endogeneidade entre resultados eleitorais e carreira futura: Candidatos vencedores são diferentes dos derrotados em aspectos que podem ser correlacionados com suas carreiras futuras; O grupo de candidatos derrotados é maior e mais diverso. 12/24

25 ESTRATÉGIA DE IDENTIFICAÇÃO Uso um experimento natural para investigar o efeito das eleições nas carreiras: eleições apertadas para a Câmara. Basicamente, a estratégia consiste em comparar candidatos que quase perderam com outros que venceram por margens apertadas uma vaga na Câmara dentro das listas partidárias (e.g., exemplos iniciais). 13/24

26 EXEMPLO DE IDENTIFICAÇÃO 1 Atribuição do tratamento Efeito do tratamento Pr(Tratamento = 1 X) Y 0 0 Margem de votos 0 Margem de votos 14/24

27 OPERACIONALIZAÇÃO Forcing variable Margem percentual de votos do candidato i em relação ao último eleito/primeio suplente dentro da lista j numa eleição t Tratamento Ter sido (1) ou não (0) eleito na eleição em t 0 Variáveis dependentes Dummies indicando se o candidato i disputou ou disputou e venceu outros cargos eletivos no futuro 15/24

28 MODELOS Um OLS permitindo que o termo linear da forcing variable varie ao redor da descontinuidade (local-linear): Y ijt = α + βt ijt + γm ijt + δt ijt M ijt + ɛ ijt O segundo, um OLS sem termo linear (não-paramétrico): Y ijt = α + βt ijt + ɛ ijt β é o efeito estimado do tratamento médio local [Lee, 2008, Dunning, 2012]. 16/24

29 VALIDAÇÃO Candidatos que perderam ou venceram por margens de 1% são semelhantes, em média (ocupação profissional, escolaridade, idade, sexo, cargos eletivos prévios, gastos de campanha, bens declarados, entre outros); O teste proposto por [McCrary, 2008], que examina a hipótese nula de que a densidade das margens de votos nos dois lados da descontinuidade é semelhante, retorna p = 0.61; Outras operacionalizações do desenho (uso de outras forcing variables, polinômios, janelas e kernels) não alteram os resultados que seguem. 17/24

32 OUTRAS FORCING VARIABLES MARGEM DE VOTOS BRUTA Margem percentual Margem bruta Candidatos na amostra (%) Candidatos na amostra (%) /24

33 EFEITOS DE OBTER UM MANDATO NA CÂMARA: REELEIÇÃO Prob. de concorrer em t Concorrer em t Margem de votos Efeito médio local do tratamento Sensibilidade dos resultados Janela 19/24

34 EFEITOS DE OBTER UM MANDATO NA CÂMARA: REELEIÇÃO Prob. de vencer em t Vencer em t Margem de votos Efeito médio local do tratamento Sensibilidade dos resultados Janela 19/24

35 EFEITOS DE OBTER UM MANDATO NA CÂMARA: 8 E 12 ANOS DEPOIS Prob. de vencer em t Vencer em t Margem de votos Efeito médio local do tratamento Sensibilidade dos resultados Janela 20/24

36 EFEITOS DE OBTER UM MANDATO NA CÂMARA: 8 E 12 ANOS DEPOIS Prob. de vencer em t Vencer em t Margem de votos Efeito médio local do tratamento Sensibilidade dos resultados Janela 20/24

37 EFEITOS DE OBTER UM MANDATO NA CÂMARA: OUTROS CARGOS Variável Dependente β Erro-padrão Margem (%) N Concorrer em t Concorrer a dep. estadual t Vencer em t Vencer no executivo t Vencer no legislativo em t Vencer no leg. estadual em t Eleger-se gov. ou sen. t Aposentar-se /24

38 DISCUSSÃO Uma única derrota, mesmo que por poucos votos, pode significar a morte política de um candidato. 22/24

39 DISCUSSÃO Obter uma vaga na Câmara afeta drasticamente as perspectivas de carreira de político no Brasil, alçando uns à política em nível nacional e, outros, ao âmbito local e à aposentadoria. Neste sentido, a Câmara dos Deputados funciona como uma grande porta de entrada para a política em âmbito nacional. 22/24

40 OUTROS PROBLEMAS A SEREM INVESTIGADOS 1 Investigar se incumbentes têm vantagens em suas carreiras ocupando outros cargos (e.g., senador); 2 Investigar a heterogeneidade do tratamento: quais são os políticos que obtêm maiores vantagens? E por quê? Pista: concentração de votos e tamanho dos distritos; 3 Investigar a heterogeneidade do tratamento: ideologia e sexo importam? Pista: sim. 23/24

43 REFERÊNCIAS BORGES, A. AND SANCHES FILHO, A. O. (2016). FEDERALISMO, COALIZÕES DE GOVERNO E ESCOLHAS DE CARREIRA DOS DEPUTADOS FEDERAIS. Opinião Pública, 22(1):1 27. DE MAGALHAES, L. (2015). INCUMBENCY EFFECTS IN A COMPARATIVE PERSPECTIVE: EVIDENCE FROM BRAZILIAN MAYORAL ELECTIONS. Political Analysis, 23(1): DUNNING, T. (2012). Natural experiments in the social sciences: A design-based approach. CAMBRIDGE UNIVERSITY PRESS. EGGERS, A. AND SPIRLING, A. (2014). A FRAMEWORK FOR INTERPRETING PARTY INCUMBENCY EFFECTS WITH APPLICATION TO THE UNITED KINGDOM, TECHNICAL REPORT, WORKING PAPER. LEE, D. S. (2008). RANDOMIZED EXPERIMENTS FROM NON-RANDOM SELECTION IN US HOUSE ELECTIONS. Journal of Econometrics, 142(2): MCCRARY, J. (2008). MANIPULATION OF THE RUNNING VARIABLE IN THE REGRESSION DISCONTINUITY DESIGN: A DENSITY TEST. Journal of Econometrics, 142(2): SAMUELS, D. (2003). Ambition, federalism, and legislative politics in Brazil. CAMBRIDGE UNIVERSITY PRESS. SANTOS, F. G. AND PEGURIER, F. J. (2011). POLITICAL CAREERS IN BRAZIL: LONG-TERM TRENDS AND CROSS-SECTIONAL VARIATION. Regional and Federal Studies, 21(2): /24