PLANO DE CONTROLE DE ARMAS DA CIDADE DE SÃO PAULO
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- Ruth Dinis Figueira
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1 PLANO DE CONTROLE DE ARMAS DA CIDADE DE SÃO PAULO I. Contextualização Os dados da violência armada no Brasil são alarmantes. Segundo a Secretaria da Segurança Pública do Estado de São Paulo, a taxa de homicídios por 100 mil habitantes no país é 24.5, mais que o dobro do aceitável de acordo com a Organização Mundial de Saúde - que é de 10 homicídios para cada 100 mil habitantes. As grandes cidades concentram o problema e as principais vítimas são homens, jovens, negros, moradores das periferias. A mais recente pesquisa sobre o Índice de Homicídios na Adolescência estima que, se o ritmo da violência continuar como está, em torno de 33 mil jovens deverão morrer assassinados até deles só na cidade de São Paulo. De acordo com o estudo, na cidade, os meninos são 12 vezes mais vítimas de homicídios do que as meninas, e as armas de fogo são utilizadas em seis de cada sete casos de assassinatos de adolescentes. O Estado de São Paulo vem registrando queda em seus índices de homicídios na última década: de 35.2 homicídios por 100 mil habitantes em 1999, o Estado passou para 10.5 em 2010 o que equivale a uma redução de 70% nesse índice. A cidade de São Paulo registra queda ainda mais impressionante: 80% menos mortes entre 1999 e 2010, passando de 52.6 homicídios por 100 mil habitantes em 1999 para 10.6 em Essas quedas tão significativas dos índices fazem de São Paulo uma das referências mundiais em prevenção de homicídios. Vários fatores explicam esses resultados: o investimento em inteligência policial, tecnologia e policiamento comunitário, investimentos em prevenção, mudanças na demografia e, sobretudo, um bem sucedido programa de controle de armas implementado pelas polícias e pela Guarda Civil Metropolitana. Assim, é ilustrativo mencionar que, apenas entre 2002 e 2009, saíram de circulação na cidade pelo menos 75 mil armas. De acordo com estudo do pesquisador Daniel Cerqueira, do IPEA, a cada 18 armas retiradas de circulação, uma vida é salva. Entretanto, apesar dos bons resultados alcançados, milhões de pessoas ainda vivem em bairros que possuem índices de homicídios muito acima da média da cidade e, para reduzi-los, são necessárias ações focadas que envolvem medidas técnicas de controle e medidas de sensibilização da população. O bom relacionamento entre o Instituto Sou da Paz e os órgãos de segurança em São Paulo, os resultados positivos obtidos pelas políticas citadas acima e a necessidade de se realizar ações ainda mais focadas para se prevenir a violência na cidade como um todo, tornam a cidade de São Paulo candidata perfeita para a elaboração e implementação de um plano local de controle de armas, que incrementará a efetividade das ações de segurança pública em nível municipal, e terá como beneficiários os seus 11 milhões de habitantes. Assim sendo, o objetivo do Plano de Controle de Armas é reduzir os homicídios na cidade de São Paulo contribuindo, com ações técnicas e de sensibilização voltadas para o controle e para a desvalorização das armas de fogo, para que a cidade como um todo alcance níveis não epidêmicos de homicídios (que, segundo o padrão da OMS, é de 10 homicídios para cada habitantes). 1
2 II. O Plano O Plano de Controle de Armas da cidade de São Paulo é uma iniciativa do Instituto Sou da Paz e está sendo construído em parceria com dois grupos que têm se reunido mensalmente desde junho de 2010: o Grupo Técnico (composto pelos órgãos responsáveis pelo controle de armas na cidade) e o Grupo de Sensibilização (composto por organizações da sociedade civil e outros órgãos públicos estaduais e municipais). Parceiros do Grupo Técnico incluem, mas não se limitam a: Exército: Comando do Exército e Serviço de Fiscalização de Produtos Controlados (SFPC) da Segunda Região Militar; Guarda Civil Metropolitana de São Paulo; Ministério da Justiça: Pronasci; Polícia Civil: Delegacia Geral de Polícia (DGP); Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP); Departamento de Polícia Judiciária da Capital (DECAP); Divisão de Produtos Controlados (DPC) do Departamento de Identificação e Registros Diversos (DIRD); Polícia Federal do Estado de São Paulo: Delegacia de Repressão ao Tráfico Ilícito de Armas (DELEARM) e Serviço Nacional de Armas (SENARM); Polícia Militar: Comando de Policiamento da Capital (CPC); Polícia Técnico-Científica: Instituto de Criminalística; Secretaria da Justiça e da Defesa da Cidadania, do Estado de São Paulo; Secretaria da Segurança Pública do Estado de São Paulo; Secretaria Municipal de Segurança Urbana, da cidade de São Paulo. Parceiros do Grupo de Sensibilização incluem, mas não se limitam a: A Banca; Arquidiocese de São Paulo; Associação Monte Azul/Aliança pela Infância; Casa das Religiões Unidas; Centro de Políticas Públicas do Instituto de Ensino e Pesquisa Insper; Comissão Justiça e Paz; Comissão Municipal de Direitos Humanos; Conselho Tutelar; Diretoria de Polícia Comunitária e de Direitos Humanos da Polícia Militar do Estado de São Paulo; Fórum Brasileiro de Segurança Pública; Guarda Civil Metropolitana Inspetoria do Jardim São Luís; Instituto Esporte Educação; Instituto Latino-Americano das Nações Unidas para Prevenção do Delito e Tratamento do Delinqüente ILANUD; Instituto de Ortopedia e Traumatologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP; Instituto Pólis; 2
3 Instituto São Paulo Contra a Violência; Palas Athena; Secretaria da Educação do Estado de São Paulo; Secretaria da Justiça e da Defesa da Cidadania, do Estado de São Paulo: Centros de Integração da Cidadania (CICs) e CRAVI: Centro de Referência e Apoio à Vítima; Secretaria de Relações Institucionais do Estado de São Paulo: Coordenadoria de Programas para a Juventude; Secretaria Municipal do Verde e do Meio Ambiente; Secretaria Municipal de Esportes, Lazer e Recreação; Secretaria Municipal de Participação e Parceria; Sociedade Santos Mártires; Subprefeitura do M Boi Mirim; UNICEF. O Grupo Técnico e o de Sensibilização contribuíram enormemente para a construção das metas a serem buscadas e ações a serem priorizadas no âmbito do Plano. Essas entidades seguirão ativamente envolvidas no âmbito do Plano ao longo de 2011, implementando as atividades e monitorando seus resultados. A primeira etapa do Plano de Controle de Armas da cidade de São Paulo, acontecida entre junho e outubro de 2010, foi a construção de um diagnóstico participativo sobre o controle de armas na cidade 1. Este levantamento, em nível municipal, é inédito. Foram coletados dados com a Polícia Federal, Polícia Civil, Polícia Militar, Guarda Civil Metropolitana, Secretaria da Segurança Pública, Departamento de Inquéritos Policiais e Polícia Judiciária (DIPO) e, ainda, dados de pesquisas relevantes realizadas por outras instituições (como as pesquisas de vitimização do INSPER). Além dos dados, foram realizadas reuniões mensais com as instituições parceiras - oportunidades nas quais foram registradas informações que enriqueceram o diagnóstico. Os pontos centrais do diagnóstico encontram-se no Anexo I. A segunda etapa consistiu na elaboração do Plano de Controle de Armas, na construção de suas metas e identificação de atividades prioritárias. Os atores dos Grupos Técnico e de Sensibilização estarão envolvidos na implementação das atividades, que serão implementadas ao longo de O Plano foi oficialmente lançado dia 16 de dezembro de 2010, no Espaço da Cidadania da Secretaria da Justiça e da Defesa da Cidadania 2. A terceira etapa consistirá na implementação das ações priorizadas no âmbito do Plano, assim como no monitoramento dos resultados alcançados, por parte de todos os parceiros. As ações técnicas e de conscientização do Plano acontecerão na cidade de São Paulo como um todo. Entretanto, foi sugerido que as ações de sensibilização fossem ainda mais focadas em uma região da cidade que ainda apresentasse maior concentração de homicídios, mas que também já contasse com uma boa articulação social condição fundamental para que as ações de sensibilização contassem com legitimidade e apropriação local. Assim sendo, foi sugerido que as ações acontecessem no distrito do Jardim São Luís, na zona sul de São Paulo. A subprefeitura do 1 As informações centrais do Diagnóstico encontram-se na seção III. 2 As metas e ações do Plano de Controle de Armas da Cidade de São Paulo encontram-se na seção IV. 3
4 M Boi Mirim região que engloba o Jardim São Luís e o Jardim Ângela abraçou a iniciativa e, assim, as ações de sensibilização acontecerão também no Jardim Ângela. A quarta etapa consistirá na avaliação e sistematização do Plano, de forma que sua metodologia possa inspirar ações locais voltadas para a prevenção dos homicídios em outras localidades. III. Principais aspectos do diagnóstico do Plano de Controle de Armas da cidade de São Paulo Aspectos gerais: Taxa de homicídios na cidade de São Paulo em 2010: 10,6 por 100 mil habitantes 3. Do total dos homicídios na cidade, 65,8% é cometido com arma de fogo 4. Quem mais mata e quem mais morre na cidade? Quem mais mata? Quem mais morre? Homens Homens Jovens (18 a 30 anos) Jovens ( 18 a 30 anos) Baixa escolaridade Baixa escolaridade Não usam drogas Não usam drogas 49% não têm antecedentes criminais 70% não têm antecedentes criminais Dados: DHPP/ Secretaria de Segurança Pública Estado de São Paulo (2010) 7 em cada 10 assassinatos na cidade acontecem por razões banais. Drogas, dívidas e assaltos motivam menos de 2 em cada 10 homicídios. A cidade de São Paulo tem 28 lojas de armas e munições 5. Armas roubadas, furtadas e desviadas na cidade em 2009: Armas entregues na cidade de São Paulo de outubro de 2009 a dezembro de 2010: Armas apreendidas na cidade de São Paulo em 2009: Características das armas apreendidas pela polícia em 2007 (dados estaduais) 9 : 93,5%: armas de fogo 4,4%: simulacros 1%: explosivos A maioria das armas apreendidas pela polícia no Estado de São Paulo é de fabricação nacional: Taurus (54,9%) e Rossi (12,8%) são as armas mais freqüentes; 79% das armas apreendidas são revólveres e pistolas; em cerca de 65% dos casos, as armas foram apreendidas após a realização de algum crime. 3 Fonte: SSP/SP (2011). 4 Fonte: DHPP/Secretaria de Segurança Pública Estado de São Paulo (2010). 5 Fonte: Aniam (2010). 6 Fonte: SSP/SP Sistema Infocrim (2010). 7 Fonte: Guarda Civil Metropolitana (2010). 8 Fonte: SSP/SP Sistema Infocrim (2010). 9 Fonte: SSP/SP. 4
5 Estes dados mostram que a imensa maioria das armas utilizadas por criminosos na cidade de São Paulo tem origem legal: foram fabricadas e vendidas legalmente no Brasil, e em algum momento migraram para a ilegalidade. Isso corrobora a importância de se controlar efetivamente o mercado legal. A vulnerabilidade dos depósitos A cidade de São Paulo conta com três depósitos de armas: o cofre do 1º Tribunal do Juri, a Divisão de Produtos Controlados da Polícia Civil (DPC) e o cofre do DIPO. Os dois últimos recebem a imensa maioria das armas apreendidas em São Paulo. Nos últimos dois anos pelo menos armas foram encaminhadas ao DPC e ao DIPO. A este volume somam-se as armas que já estavam estocadas nestes depósitos e que aguardam encaminhamento para destruição ou restituição aos seus donos. O DIPO vem empreendendo um esforço enorme para reduzir este arsenal e, apenas entre 2009 e 2010, o depósito encaminhou mais de 43 mil armas para destruição no Exército mas ainda há muitas armas a serem encaminhadas para a destruição. Recentemente, os depósitos vêm implementando medidas de segurança e controle para proteger este arsenal e evitar desvios e roubos. Estas medidas são um grande avanço, mas não há padrões mínimos a serem seguidos e elas precisam ser aprimoradas e monitoradas constantemente. Além disso, para que se possa desafogar os depósitos e se eliminar, definitivamente, a possibilidade de desvios, é crucial que a destruição das armas seja agilizada junto ao Exército. A demanda por armas de fogo De acordo com a última pesquisa de vitimização do Instituto de Ensino e Pesquisa INSPER em 2008 apenas 2.3% da população da cidade afirma ter uma arma em casa, sendo que este percentual diminuiu se comparado com a pesquisa anterior, de A maior razão que as pessoas afirmam para ter uma arma é proteção pessoal em 2008, 33.8% das pessoas alegou esta motivação. Em comparação a 2003, também houve queda neste indicador, que na ocasião era 42.3%. Chama a atenção, no entanto, o aumento do percentual de pessoas que disseram ter uma arma para coleção de 10% em 2003 para 22.1% em Uma hipótese para este fato, é a possível menor dificuldade para obter o registro como colecionador. O Instituto Sou da Paz já havia chamado a atenção para este ponto em sua pesquisa Implementação do Estatuto do Desarmamento: do papel para a prática, lançada em abril deste ano. A pesquisa na íntegra e o Resumo Executivo estão disponíveis no site A grande maioria da população 83.9% - afirma que não gostaria de ter uma arma de fogo mesmo se pudesse, comprovando a tese apontada por inúmeras pesquisas de que o brasileiro tem aversão às armas de fogo. Apenas uma em cada dez pessoas acha que tendo uma arma de fogo estaria mais segura. 5
6 IV. Metas e ações do Plano de Controle de Armas da cidade de São Paulo Meta 1. Melhorar a gestão do controle de armas e munições Realizar reuniões mensais com o Grupo Técnico. Informar Grupo de Gestão Integrada da Secretaria Municipal de Segurança Urbana sobre o andamento do Plano. Meta 2. Melhorar a qualidade e a transparência das informações sobre o controle de armas e munições Estruturar e manter um blog que mostrará dados do controle de armas na cidade, dará apoio às ações de sensibilização e disseminará informações sobre o dia a dia do Plano. Articular a inclusão de dados relevantes sobre o controle de armas no Observatório da Secretaria Municipal de Segurança Urbana. Articular a disseminação de informações relevantes sobre a causa pelos veículos de comunicação. Meta 3. Reduzir estoques de armas de fogo e munições Focar busca e apreensão de armas nos locais com mais homicídios. Encaminhar todas as armas que estão nos depósitos (DIPO e DPC) para a destruição. Ampliar o número de postos de entrega de armas. Melhorar processos de recolhimento de armas. Meta 4. Garantir a proteção dos arsenais Criar e implementar Standard Paulistano de Segurança de Arsenais, com regras mínimas para a segurança e o controle de todos os arsenais na cidade. Meta 5. Maior rigor na fiscalização Fiscalizar com maior rigor grupos vulneráveis ao desvio de armas (Empresas de Segurança Privada, Colecionadores, Atiradores Desportivos, Caçadores, Clubes de Tiro, Fábricas e lojas de armas, armeiros). Meta 6. Articular demandas com outros níveis de governo Fortalecer articulação governamental no que tange ao controle de armas. Meta 7. Estimular que as pessoas não tenham armas de fogo Realizar ações de sensibilização sobre os perigos das armas de fogo e da existência da campanha de entrega voluntária de armas. Conceder incentivos extras para quem entregar armas. Produzir e/ou disseminar materiais de apoio. Meta 8. Reduzir fatores de risco relativos à violência armada Disseminar formas alternativas de resolução de conflitos. Sensibilizar bares para os perigos da relação álcool-armas. Disseminar informações sobre regularização e armazenamento de armas. Avaliar e sistematizar o Plano 6
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