Marcelo Kischinhevsky 2. Introdução

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1 Circulação de conteúdos radiofônicos em mídias sociais: o projeto UERJ no Ar O Rádio como Apoio à Inclusão Social e à Difusão do Conhecimento Científico e Tecnológico 1 Marcelo Kischinhevsky 2 Resumo: O presente trabalho busca sistematizar os primeiros resultados do projeto UERJ no Ar O Rádio como Apoio à Inclusão Social e à Difusão do Conhecimento Científico e Tecnológico. Desenvolvido no AudioLab Laboratório de Áudio da Faculdade de Comunicação Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (FCS/UERJ), o projeto envolve a formação de um núcleo de produção de conteúdos jornalísticos e educativos em áudio digital para distribuição entre rádios comunitárias, web rádios e emissoras educativas de todo o país, via internet. Serão discutidos os resultados obtidos ao longo de um ano e meio de atividades, bem como as estratégias de circulação dos conteúdos radiofônicos produzidos no AudioLab, através das chamadas mídias sociais, notadamente o portal Radiotube, o microblog Twitter e o site Facebook. Palavras-chave: Rádio, Comunicação, Educação, Internet, Convergência Introdução Em que medida as atividades laboratoriais num curso de Jornalismo devem servir apenas à formação profissional dos estudantes, sem interferir na realidade social, oferecendo contrapartidas à comunidade em que estamos inseridos? Esta pergunta ganhou contornos mais nítidos, do ponto de vista pessoal, nos últimos anos, após a transição definitiva do mercado, das redações (por onde transitei por 15 anos), para a academia. Leciono desde 1995, mas confesso que, começando muito jovem, estava muito mais preocupado com a inserção profissional dos meus alunos do que com a perspectiva utópica de mudar o real, de ajudar, com a atividade 1 O autor agradece ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e à Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ) pelo apoio às pesquisas que possibilitaram a elaboração do presente artigo, apresentado no Grupo de Trabalho (GT) Convergência Midiática, Jornalismo e Mercado de Trabalho, do 5º Encontro Rio-Espírito Santo de Professores de Jornalismo. Cumpre registrar ainda um agradecimento especial aos pesquisadores associados ao projeto, professores Fabio Mario Iorio (chefe do Departamento de Jornalismo da FCS/UERJ) e Sonia Virgínia Moreira, assim como a todos os estagiários e colaboradores que partilharam esse desafio com destaque para os funcionários Jorge Santo Spinassé e Renata Vargas e os estudantes de graduação Aldevan Jr., Pedro Paulo Spoletto, Carlos Oliveira, Honório Barítono, Tatiana Galdino, Karina Lima Cardoso, Luisa Caruso, Maycon Schimidt Santos e Beatriz Azevedo. 2 Professor do Departamento de Jornalismo e do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Faculdade de Comunicação Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (FCS/UERJ), doutor em Comunicação e Cultura pela UFRJ e autor de O rádio sem onda Convergência digital e novos desafios na radiodifusão (Ed. E-Papers). marcelok@uerj.br.

2 jornalística, a construir uma sociedade mais bem informada, mais crítica e, sobretudo, mais plural razão maior que me levou a optar pela carreira de jornalista, nos anos A chegada ao quadro docente da Faculdade de Comunicação Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (FCS/UERJ), em 2009, intensificou esse incômodo, esse desejo de arregaçar as mangas e fazer algo diferente, que transbordasse da sala de aula. Nesse sentido, a universidade tinha história: nos anos 1990, foi pioneira no desenvolvimento de iniciativas de inclusão social por meio do rádio, com a constituição da Rede UERJ de Comunicação Popular. A rede promoveu oficinas de qualificação de moradores de comunidades de baixa renda, como Vila São Luiz, em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, fomentando a produção de conteúdo informativo em rádios comunitárias da região (MOREIRA, 2001). Esta e outras iniciativas inspiraram as atividades que tive oportunidade de passar a desenvolver no AudioLab (Laboratório de Áudio da FCS/UERJ). O presente trabalho busca sistematizar os primeiros resultados do projeto de pesquisa UERJ no Ar O Rádio como Apoio à Inclusão Social e à Difusão do Conhecimento Científico e Tecnológico, liderado pelo autor e contemplado pelo Edital Universal 2009, do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), e pelo Programa de Apoio às Universidades Estaduais do Rio de Janeiro 2010, da Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj). O projeto obteve ainda apoio da Universidade, por meio da concessão de bolsa de Estágio Interno Complementar (EIC), e também do CNPq, por meio da concessão de bolsa de Apoio Técnico Nível Médio (AT-NM). O UERJ no Ar envolve a formação de um núcleo de produção de conteúdos jornalísticos e educativos em áudio digital para distribuição entre rádios comunitárias, web rádios e emissoras educativas de todo o país, via internet. Balizado pela necessidade de democratização do acesso à comunicação e à informação, o noticiário vem sendo produzido desde 2009 por estudantes de Radiojornalismo da FCS/UERJ. O foco recai sobre temas como inclusão social e digital, combate à discriminação étnica e de gênero, pesquisa e desenvolvimento científico e tecnológico, acessibilidade, soluções em transportes públicos, economia popular, direitos do trabalhador, saúde e educação, empreendedorismo e terceiro setor. Serão discutidos neste trabalho os resultados obtidos ao longo de um ano e meio de atividades e, principalmente, as estratégias de circulação dos conteúdos radiofônicos produzidos

3 no AudioLab, através das chamadas mídias sociais, em especial o portal Radiotube, o serviço de microblogging Twitter e o site Facebook. O projeto visa não apenas a prática laboratorial, auxiliando na formação dos estudantes de Jornalismo, num cenário de crescente convergência, mas também a criação de um espaço para a reflexão acadêmica sobre a mídia sonora nesta nova etapa, em que plataformas digitais emergem como novas intermediárias nas indústrias midiáticas, proporcionando nova arena de embates pela democratização da comunicação. Circulação jornalística em mídias sociais e rádio expandido A circulação jornalística até poucas décadas era entendida, de modo geral, em sentido estrito. Ou seja, falava-se especificamente da característica dos jornais impressos de passar de mão em mão ao longo de um dia de vida útil, bem como de sua presença nas bancas e (sobretudo) de sua vendagem. Com o avanço das tecnologias de informação e comunicação e das plataformas digitais, no entanto, a ideia de circulação passa a ganhar novos sentidos. Para Elias Machado (2008), a falta de estudos sobre a circulação de informações prejudica a compreensão da dinâmica do jornalismo como um complexo de sistemas integrados, que abrange ainda a apuração, a produção e o financiamento. Segundo o autor, a disseminação de informações no ciberespaço depende cada vez mais de sistemas dinâmicos, múltiplos e inteligentes de circulação, em contraposição aos sistemas estáticos e centralizados, adotados nos primeiros anos pelos ciberjornalistas. Na radiodifusão sonora, dentro da lógica do broadcasting semear aos quatro ventos, segundo tradução livre (FERRARETTO, 2007, p. 22), as mensagens jornalísticas eram difundidas para o maior número possível de ouvintes na área de cobertura do sinal da emissora. A partir dos anos , no entanto, com a exploração da Frequência Modulada (FM), de menor alcance geográfico, multiplicam-se as estações de rádio voltadas para o público local e, consequentemente, a oferta de bens simbólicos no dial. Hoje, no entanto, o rádio encontra-se redesenhado pela digitalização da criação, da produção, da distribuição e do consumo apenas a transmissão permanecia analógica, em meados de 2011, devido ao impasse em torno da escolha do padrão brasileiro de radiodifusão sonora digital. Na internet, o rádio ganha alcance planetário e se pulveriza, com a oferta de

4 conteúdos sob demanda e a integração a plataformas digitais que possibilitam a veiculação de texto, áudio e imagens. O atual momento do rádio pode ser mais bem compreendido à luz de dois conceitoschave: a remediação (BOLTER e GRUSIN, 1999), muito popular na virada do século entre os pesquisadores de mídias digitais, e a midiamorfose (FIDLER, 1997). Resumidamente, a remediação opera com duas estratégias representacionais: a imediação transparente, que busca tornar o meio de comunicação invisível (portais que reproduzem conteúdos gerados por outros veículos do mesmo grupo econômico, como jornais e revistas), e a hipermediação, que chama a atenção para o processo de remediação em si (emissoras de TV que apelam para uma identidade visual característica da internet, por exemplo). Tanto as mídias eletrônicas ditas tradicionais e a imprensa escrita quanto as novas mídias eletrônicas estariam recorrendo a estas estratégias, na tentativa de se reposicionarem num mercado altamente competitivo. Já a midiamorfose expressa a transformação da mediação comunicativa, entendida como um processo contínuo, fruto de pressões econômicas e políticas, de inovações tecnológicas e de reconfigurações do tecido social, que engendram novas necessidades e práticas interacionais. Nessa perspectiva, os meios não devem ser analisados separadamente, mas como integrantes de um sistema interdependente. Quando novas formas de mediação surgem, as preexistentes não desaparecem, pura e simplesmente, mas sim evoluem, adaptam-se. A remediação ou a midiamorfose do rádio podem ser exemplificadas pelo surgimento de duas novas modalidades de mediação sonora: o podcasting e as mídias sociais de base radiofônica, ou simplesmente o rádio social. Em outros trabalhos (respectivamente, HERSCHMANN e KISCHINHEVSKY, 2008, e KISCHINHEVSKY, 2011), buscou-se desenvolver estes conceitos, como novas modalidades de radiofonia a primeira, de caráter assíncrona, possibilitando o acesso permanente a conteúdos que de outra forma seriam perdidos após a veiculação; e a segunda, por sua vez, potencializando a circulação de arquivos digitais de áudio, que vão sendo consumidos e redistribuídos por um intrincado circuito de redes sociais on-line fenômeno que já é chamado de recirculação, uma possível nova etapa do processo jornalístico (ZAGO, 2011). Ambas complementam-se e ao rádio analógico, em Ondas Médias e Frequência Modulada. Mas não são apenas novas estratégias da indústria midiática de aumentar o alcance de suas emissões. O podcasting e o rádio social

5 também propiciam a novos atores como universidades, movimentos sociais, organizações nãogovernamentais e mesmo pessoas físicas, antes privados da propriedade de emissoras de rádio ferramentas abertas para criação, produção e distribuição de conteúdos radiofônicos. O rádio social se apresenta como uma modalidade de radiofonia remediada pelos sites de relacionamento e serviços de microblogging, que apresentaram forte desenvolvimento na primeira década do século. Nos interessam particularmente neste trabalho o serviço Radiotube 3, escolhido para abrigar a página do AudioLab da FCS/UERJ, o site de relacionamentos Facebook 4 e o serviço de microblogging Twitter 5. No Radiotube, universidades, movimentos sociais, rádios comunitárias, educativas e web oferecem sob demanda programas radiofônicos, que podem ser ouvidos no site ou baixados, eventualmente sendo inclusive veiculados em emissoras AM e FM. Nesse rádio expandido, à veiculação em broadcasting somam-se novas modalidades de difusão, engendrando novos canais de distribuição de conteúdos radiofônicos, através de redes de amizades e comunidades on-line, alimentadas pela circulação de arquivos digitais em múltiplas mídias sociais e microblogs. Um mesmo áudio, de reportagem, comentário, entrevista ou programa radiofônico, pode ser veiculado hoje em ondas hertzianas (AM/FM), ficando disponível sob demanda no site da emissora e sendo distribuído na forma de podcast ou ainda 3 Site colaborativo que tem como bordão A cidadania por todas as ondas, reúne aficionados por rádio, ativistas de rádios comunitárias e organizações ligadas a movimentos sociais e pessoas físicas e tem como objetivo formar uma rede social que produza conhecimento coletivo e informação cidadã. Surgiu a partir da Rede de Cidadania nas Ondas do Rádio, desenvolvida em 2007, com apoio da Petrobras, mobilizando jovens colaboradores e uma rede de 635 emissoras de rádio de todo o país. Conta com mais de 2,4 mil usuários cadastrados e 188 comunidades on-line. É possível postar áudios, textos e vídeos, todos com licença Creative Commons, fazer o download de arquivos publicados, enviá-los para 343 outras mídias sociais e serviços de microblogging, como Twitter, Facebook e Orkut, fazer comentários e navegar por listas de destaques, distribuídos por temas que se revezam na capa (inclusão, acessibilidade, transportes, educação, diversidade etc.) há duas listas deste tipo, uma de conteúdos eleitos pelos editores do Radiotube e outra, automatizada, com os arquivos mais visitados, mais comentados e últimas postagens. Endereço: Última consulta: 30/6/ Com mais de 500 milhões de usuários cadastrados em todo o mundo, o site de relacionamentos Facebook foi criado em 2004 e começou como uma rede social on-line para universitários dos EUA. Por meio do serviço, pode-se localizar amigos do mundo off-line, selar novas amizades, construir comunidades, divulgar eventos e partilhar links para textos, áudios, vídeos e fotos, além de trocar mensagens instantâneas, compartilhar e curtir conteúdos. É a segunda mídia social mais acessada no Brasil, atrás apenas do Orkut, pertencente ao Google. Endereço: Última visita: 30/6/ Serviço que permite ler, escrever e compartilhar mensagens de até 140 caracteres, em que é possível linkar conteúdos disponíveis em outros sites. Conta com mais de 200 milhões de usuários cadastrados em todo o mundo e, em junho de 2011, recebia 460 mil novos cadastros por dia. As curtas mensagens daí a noção de microblog, mais conhecidas como tweets, chegam a 155 milhões diariamente. O mote é responder o que está acontecendo agora? e acumular seguidores, que passam a acompanhar suas postagens. Mensagens podem também ser repassadas a outras redes de seguidores prática do retweet, o que alimenta a recirculação de conteúdos na web. Endereço: Última visita: 30/6/2011.

6 circulando na forma de chamada de texto, em mídias sociais, com link que leva o ouvinte para a página da rádio. O mais fascinante, no entanto, é que não apenas as emissoras estabelecidas no dial podem recorrer a estas ferramentas, mas também web rádios e podcasters, sejam eles pessoas físicas ou organizações não-governamentais, movimentos sociais, empresas, universidades etc. Neste processo, instituições e indivíduos sem vínculos com a tradicional indústria da radiodifusão sonora podem também produzir conteúdos radiofônicos que sejam veiculados posteriormente em emissoras AM/FM, comerciais, educativas e/ou comunitárias, alterando a lógica estabelecida do broadcasting, das emissões um-todos alimentadas exclusivamente pelas indústrias midiáticas. Foi esta percepção que levou à estratégia atual do AudioLab da FCS/UERJ: produzir conteúdo para distribuição via internet, tanto para ouvintes individuais quanto para emissoras interessadas em reportagens com temáticas diferenciadas, em geral não contempladas pela mídia de referência (no caso, as grandes redes de emissoras comerciais). O projeto UERJ no Ar Criado em 1992, o AudioLab da FCS/UERJ funciona atualmente na sala , 10º andar Bloco A, do campus Maracanã. O desafio inicial para implementação do projeto era a precariedade das instalações físicas: o espaço carecia de tratamento acústico adequado, até mesmo para a gravação de reportagens e programas radiofônicos como parte das atividades curriculares. O AudioLab (antes chamado LA) atendia apenas aos alunos da disciplina de Radiojornalismo, oferecida no 5º período do curso de Jornalismo, além de ser utilizado esporadicamente para gravação de spots de alunos do curso de Relações Públicas outra habilitação oferecida pela FCS/UERJ. Quando assumi a coordenação do AudioLab, os equipamentos estavam obsoletos e não é exagero afirmar que o estúdio só permanecia operacional pelo empenho do funcionário Jorge Santo Spinassé, que dedicava-se a consertar, por conta própria, tudo que apresentasse problemas técnicos em geral, pelo longo tempo de uso. O único programa produzido regularmente ali era o Radioatividade, radiojornal com duração de 5 minutos veiculado na Rádio CBN AM e FM desde 2005, sempre no terceiro sábado de cada mês, por volta das 10h30. O programa vai ao ar em rede local, como parte do projeto

7 Universidade no Ar, que reúne os principais cursos de Jornalismo do Rio de Janeiro. Representa espaço importante para a divulgação da produção científica gerada em instituições de ensino e pesquisa do Estado do Rio e para o aprimoramento das atividades práticas de Radiojornalismo da FCS/UERJ. Com o apoio do Departamento de Jornalismo, tomou-se a iniciativa de desenvolver o projeto UERJ no AR, o que possibilitaria não só a otimização do uso do AudioLab, mas também sua recuperação, por meio da captação de recursos junto às agências de fomento. O primeiro apoio veio do CNPq, via Edital Universal, o que viabilizou a compra de equipamentos de primeira necessidade (um computador, uma mesa de som, quatro microfones, entre outros equipamentos), na virada de 2009 para Em seguida, ao fim de 2010, veio o apoio da FAPERJ, por meio do Programa de Apoio às Universidades Estaduais do Rio de Janeiro, que permitirá, até 2012, a remodelação completa do AudioLab no momento em que este artigo é finalizado, as obras de reforma física do estúdio estão sendo iniciadas. A preocupação, desde o começo do projeto, era capacitar os estudantes para atuar na radiodifusão sonora. O curso, na FCS/UERJ, é carente neste aspecto: apenas uma disciplina integrava a grade de Jornalismo situação que será modificada com a reforma curricular planejada pelo departamento. Considerou-se ainda que há outros projetos em andamento no Rio para capacitação de moradores de áreas carentes para atuar como comunicadores em rádios comunitárias. O gargalo nestas emissoras é outro: a falta de conteúdo jornalístico próprio para veiculação, o que leva à dependência de programação musical e à proliferação de programas de variedades, debates, como nas emissoras AM do segmento conhecido como talk programas calcados no comunicador, mais baratos e que dispensam maiores esforços de apuração e produção. A opção foi, então, produzir reportagens para veiculação principalmente em rádios comunitárias, que, ao fim de 2010, chegavam a em todo o país, segundo dados da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) 6. 6 Ver Última consulta: 20/6/2010.

8 Mas como atingir estas emissoras? O setor é extremamente pulverizado e há diversas entidades representativas, com orientações políticas e ideológicas diversas, muitas vezes francamente rivais. Num primeiro momento, partimos para uma parceria com a Pulsar Brasil Agência Informativa de Rádios Comunitárias, vinculada à Associação Mundial das Rádios Comunitárias (Amarc Região América Latina e Caribe). A percepção era de que, como a Pulsar mantém um portal com distribuição de texto e áudio para emissoras comunitárias, seria um bom canal para divulgação do material produzido pelos estudantes no AudioLab. Logo, no entanto, percebemos que o material não estava ganhando, no site da Pulsar, a visibilidade que pretendíamos. A partir daí, decidimos que poderíamos publicar diretamente os conteúdos na internet, e a escolha recaiu sobre o portal Radiotube, pela sua característica de aglutinar militantes de rádios comunitárias e movimentos sociais, além de instituições públicas, privadas e do terceiro setor e aficionados pelo rádio em geral. Uma primeira versão da página do AudioLab foi criada e começou a ser alimentada, mas a migração de sistema do portal desconfigurou títulos de reportagens (letras com acentos e cedilhas foram trocados por símbolos) e acabou-se optando por eliminar este perfil e recomeçar do zero 7. Na página atual do AudioLab no Radiotube 8, entre 17 de dezembro de 2010 e 30 junho de 2011, foram postados 97 áudios, dos quais 74 reportagens destinadas à livre veiculação em rádios comunitárias, educativas e emissoras web, sempre mediante crédito dos autores, e 23 programas Radioatividade veiculados na CBN. As reportagens vinham sendo produzidas por estudantes, bolsistas e colaboradores do laboratório desde o segundo semestre de Têm duração média de 1min30 a 2min30 podendo em casos excepcionais chegar a 5min e cobrem temas como combate à discriminação étnica e de gênero, inclusão social e digital, direitos do trabalhador, pesquisa e desenvolvimento científico e tecnológico, acessibilidade, soluções em transportes públicos, economia popular, democratização dos meios de comunicação, saúde, educação, empreendedorismo e terceiro setor. As mais populares, no entanto, são aquelas relacionadas a temas como ciência e saúde ( Vacina contra a esquistossomose, de 12 de maio 7 Infelizmente, com isso foram perdidas estatísticas importantes, como os mais de 80 acessos à notícia sobre o fim da edição impressa do Jornal do Brasil, em agosto de De todo modo, os áudios foram publicados na nova página e havia cópia de segurança de tudo produzido no AudioLab no período. 8 Disponível em: Última consulta: 30/6/2011.

9 de 2011, com 62 acessos, incluindo três downloads), adoção ( Dúvidas sobre adoção, de 31 de maio de 2011, com 49 acessos, incluindo três downloads) e educação ( Pré-vestibular comunitário, de 18 de maio de 2011, com 33 acessos, incluindo dois downloads). O número de acessos é modesto se considerarmos ouvintes individuais, mas parte dos downloads é efetuado por emissoras, que põem os arquivos de áudio no ar, atingindo por vezes milhares de ouvintes. É preciso ressaltar também o fato de que o perfil do AudioLab ainda não foi divulgado, exceto pelos próprios alunos que tiveram programas e reportagens veiculados no portal. Optou-se por adiar a divulgação da página devido à necessidade de obras de infraestrutura no estúdio que deixarão a produção de conteúdos paralisada por cerca de dois meses. Rádio é hábito. Se divulgássemos um espaço para oferta de conteúdos radiojornalísticos gratuitos, produzidos por estudantes de Jornalismo, e depois ficássemos fora do ar por um longo período, estas emissoras iriam buscar informações em outros serviços. Dentro desta estratégia de ampliar o alcance dos conteúdos postados, foram criados também perfis do AudioLab no Facebook e no Twitter, o que, esperamos, aumentará a circulação (e a recirculação) dos áudios produzidos no AudioLab, contribuindo mesmo que de forma modesta para a inclusão do público de emissoras comunitárias, tão carentes de informação qualificada e de prestação de serviços. Considerações finais Estas são apenas algumas reflexões iniciais sobre o projeto UERJ no Ar, que está em sua primeira fase de desenvolvimento. Esperamos ter ferramentas mais confiáveis de medição de acesso e circulação dos conteúdos postados no Radiotube para poder aferir, no futuro, os efetivos usos destes áudios produzidos por estudantes de Jornalismo da FCS/UERJ. Buscaremos também novas parcerias com movimentos sociais e entidades ligadas à luta pela democratização da comunicação, visando potencializar a difusão das reportagens. Na atual fase de convergência midiática, de um rádio expandido, plural, metamorfoseado e remediado pelas mídias sociais, outras vozes que não as da mídia de referência buscam se colocar no dial. As rádios comunitárias, bem como emissoras educativas e web que dispõem de poucos recursos, devem recorrer cada vez mais a fontes independentes de informação, ampliando a prestação de serviços e a oferta de conteúdos jornalísticos a seus públicos.

10 Este é o diferencial da comunicação comunitária: o potencial de contribuir para a diversidade informativa. E neste sentido crescem de importância iniciativas como as do AudioLab, que, esperamos, possa se firmar como um núcleo de produção radiojornalística, trabalhando pela inclusão social e digital e pela divulgação científica e tecnológica. Futuros estudos deverão contemplar os desafios que ainda virão durante o desenvolvimento da segunda fase do projeto. Referências bibliográficas FERRARETTO, Luiz Artur. Rádio: o veículo, a história e a técnica. Porto Alegre: Doravante, FERRARETTO, Luiz Artur, KISCHINHEVSKY, Marcelo. Rádio e convergência Uma abordagem pela economia política da comunicação. Revista Famecos, vol. 17, n. 3, set.-dez HERSCHMANN, Micael. KISCHINHEVSKY, Marcelo. A geração podcasting e os novos usos do rádio na sociedade do espetáculo e do entretenimento. Revista Famecos, n. 37, pp , dez KISCHINHEVSKY, Marcelo. Rádio social Mapeando novas práticas interacionais sonoras, Anais do XX Encontro Anual da Compós. Porto Alegre: UFRGS, O rádio sem onda Convergência digital e novos desafios na radiodifusão. Rio de Janeiro: E- Papers, MACHADO, Elias. Sistemas de circulação no ciberjornalismo, in ECO-Pós, v. 11, n. 2, pp Rio de Janeiro: ago.-dez MOREIRA, Sônia Virgínia. Elementos para a criação de oficinas de rádio para comunidades A proposta da Rede Uerj de Comunicação Popular. Anais do XXIV Congresso Brasileiro da Comunicação, promovido pela Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação (Intercom), Campo Grande (MS), setembro de ZAGO, Gabriela. Recirculação jornalística no twitter: filtro e comentário de notícias por interagentes como uma forma de potencialização da circulação. Dissertação de mestrado. Porto Alegre: Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Informação, Fabico/UFRGS, 2011.