Uma análise prática do PLC 186/2015

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1 Estudos Técnicos/CNM Dezembro de 2015 Uma análise prática do PLC 186/2015 O mérito do Projeto de Lei da Câmara 186/2015, que regulariza a repatriação de recursos e ativos brasileiros remetidos ao exterior de forma não declarada, foi aprovado no Plenário do Senado Federal na última terça-feira, 15 de dezembro. O inicialmente PL 2.960/2015 foi enviado pelo Governo Federal à Câmara dos Deputados em setembro passado, como alternativa ao PLS 298/15 do senador Randolfe Rodrigues, sobre o mesmo assunto. Houve a necessidade do envio por parte do Governo dada a sinalização do presidente da Câmara de que não analisaria proposta não apresentada diretamente pelo Governo. Essa matéria constitui uma das medidas sugeridas para o ajuste fiscal, na busca de receitas para equilibrar as contas públicas. Tal PL dispõe sobre o Regime Especial de Regularização Cambial e Tributária (RERCT). O RERCT é uma declaração voluntária de recursos, bens ou direitos de origem lícita não declarados ou declarados com omissão, remetidos, mantidos no exterior ou repatriados por pessoas físicas ou jurídicas residentes ou domiciliadas no país. Poderão aderir ao regime aqueles que tenham sido proprietários desses recursos em períodos anteriores a 31 de dezembro de 2014 e terão 210 dias para aderir ao mesmo, contados a partir da publicação da futura lei. O montante que seria arrecadado com tal projeto ainda é um número desconhecido, pois é difícil mensurar o quanto de dinheiro lícito está fora do país. A ideia deste texto é compreender de forma prática o que é efetivamente proposto pelo PLC, as polêmicas que levanta e como se daria a repartição da arrecadação do tributo e multa incidentes sobre os valores repatriados. 1. Quanto a licitude do dinheiro: A versão inicial do projeto, encaminhada pelo Governo Federal à Câmara, previa alguns crimes que poderiam ser anistiados não havendo condenação em última instância. Falsidade ideológica, lavagem de dinheiro, sonegação fiscal e crimes contra a ordem tributária são exemplos de possíveis anistias. Os recursos provenientes dos crimes listados no projeto não eram considerados de origem lícita, mas ainda sim poderiam ser repatriados.

2 A nova versão do projeto anistia também, além dos crimes anteriormente inseridos pela União, o contrabando ou descaminho. Além disso, os recursos oriundos destes crimes passam a ter origem lícita segundo o projeto. A anistia de tais crimes só terá valor se o contribuinte não tiver sido condenado em definitivo pela Justiça em relação a esses crimes até o início da vigência da lei, mesmo que tal ação não diga respeito ao bem a ser repatriado. Ponto principal da discussão entre os parlamentares, a anistia a crimes cometidos pelos contribuintes que aderirem à regularização provoca o medo de que esse projeto possibilite a legalização de dinheiro vinculado ao crime. Esse temor deve-se também ao fato de a repatriação se dar com base na declaração do contribuinte. A bancada contrária ao projeto critica a previsão do contribuinte em dizer se o dinheiro é ou não legal, sem outra comprovação, assumindo que pedir a um criminoso que declare ser ilícito o seu recurso é pedir demais. Visando reduzir a possibilidade de recursos oriundos de corrupção serem repatriados, os deputados aprovaram emenda do deputado Bruno Covas (PSDB-SP) que visa proibir que políticos e detentores de cargos, além de seus parentes até o segundo grau, se beneficiem com o regime de regularização. Tal emenda não foi derrubada pelo Senado. 2. Quanto a tributação das divisas: Quanto a tributação dos recursos a serem regularizados o projeto também sofreu alterações. Inicialmente o Governo Federal propôs que o contribuinte que aderisse ao regime de regularização pagaria 17,5% sobre o valor repatriado a título de Imposto de Renda (IR). Além do IR, seria recolhido 100% do valor do imposto em forma de multa. Somados, a tributação total sobre os recursos repatriados seria de 35%. Nessa proposta original, parte do dinheiro apurado como multa seguiria para um fundo criado para compensar os estados com perdas provocadas pela reforma do Imposto sobre Circulação de Mercadoria e Serviços (ICMS). Valores disponíveis em contas no exterior até o limite de R$ 10 mil por pessoa, convertidos em dólar, estariam isentos da multa. Segundo o parecer do deputado relator do PL na Câmara, Manoel Junior, a tributação sobre o montante dos ativos objeto de regularização incidiria com alíquota de IR inferior: apenas 15%. Além disso, sobre o valor do imposto apurado incidiria uma multa de 100%, cuja arrecadação seguiria a mesma destinação do IR. A arrecadação de tal multa, portanto, seria compartilhada com Estados e Municípios nos moldes do Fundo

3 de Participação dos Municípios (FPM) e do Fundo de Participação dos Estados (FPE). Ou seja, seriam arrecadados 30% do total de ativos objeto de regularização e estes seriam compartilhados com todos os entes. O fundo de compensação para o ICMS deixou de fazer parte do projeto na nova versão. 3. Quanto a repartição da possível arrecadação: O governo federal estimou que, caso o projeto seja aprovado, seriam arrecadados de R$ 40 bilhões a R$ 100 bilhões. É importante frisar que essa estimativa diz respeito ao máximo e mínimo previstos a serem arrecadados, ou seja, 30% do montante efetivamente repatriado. Com isso o montante mínimo que o governo espera repatriar é de R$ 133 bilhões e, o máximo, R$ 333 bilhões. A CNM, visando estimar possíveis ganhos aos entes subnacionais com a medida adotada, mensurou baseando nas informações previamente elencadas quanto os Municípios receberiam com a aprovação do PLC. Em uma ótica pessimista, onde fossem repatriados R$ 133 bilhões, os Estados receberiam 21,5% deste, consequência da metodologia adotada ser a mesma do FPE. Ou seja, os Estados receberiam R$ 8,6 bilhões. Os Municípios, por sua vez, receberiam R$ 9,8 bilhões que correspondem a 24,5% da arrecadação prevista. Caso a análise seja feita por um ângulo otimista, os Estados receberiam R$ 21,5 bilhões e os Municípios R$ 24,5 bilhões. A arrecadação, neste caso, seria de R$ 333 bilhões. Esses dados podem ser vistos na tabela abaixo: Estimativa do Governo Federal Tabela 1 Estimativas de ganhos dos entes com PLC 186/2015 Repatriado Arrecadado União Estados (FPE 21,5%) em bilhões (R$) Municípios (FPM 24,5%) Mínimo ,6 8,6 9,8 Máximo ,5 24,5 Fonte: Governo Federal / Elaboração própria Considerando o valor máximo estimado pelo governo federal, R$ 100 bilhões arrecadados, e o valor mínimo R$ 40 bilhões, a CNM calculou quanto seria destinado aos municípios brasileiros com a futura lei e os dois cenários. Esses números podem ser observados nas tabelas abaixo.

4 Valores referentes ao estado do Acre/AC 0, , ,87 0, , ,83 1, , ,78 1, , ,74 1, , , ,65 1, , ,61 2, , , , , ,43 2, , , , , Total do Estado , ,24

5 Valores referentes ao estado de Alagoas/AL 0, , ,86 0, , ,48 1, , ,10 1, , ,72 1, , ,34 1, , ,96 1, , ,58 2, , ,20 2, , ,82 2, , ,44 2, , ,06 2, , , , , , ,75 Total do Estado , ,66

6 Valores referentes ao estado do Amazonas/AM 0, , ,20 0, , ,60 1, , ,00 1, , ,40 1, , ,80 1, , ,20 1, , ,60 2, , ,00 2, , ,40 2, , ,80 2, , , ,60 3, , ,00 3, , ,40 3, , Total do Estado , ,86

7 Valores referentes ao estado do Amapá/AP 0, , ,56 0, , ,08 1, , ,59 1, , ,11 1, , , , , ,19 2, , , , , , , ,30 3, , Total do Estado , ,22

8 Valores referentes ao estado da Bahia/BA 0, , ,81 0, , ,74 1, , ,68 1, , ,62 1, , ,55 1, , ,49 1, , ,42 2, , ,36 2, , ,30 2, , ,23 2, , ,17 2, , ,10 3, , ,04 3, , ,98 3, , ,91 3, , ,85 3, , ,47 4, , ,41 Total do Estado , ,93

9 Valores referentes ao estado do Ceará/CE 0, , ,96 0, , ,28 1, , ,60 1, , ,91 1, , ,23 1, , ,55 1, , ,87 2, , ,19 2, , ,51 2, , ,83 2, , ,15 2, , ,47 3, , ,79 3, , , ,43 4, , ,07 Total do Estado , ,43

10 Valores referentes ao estado do Espírito Santo/ES 0, , ,11 0, , ,15 1, , ,18 1, , ,22 1, , ,26 1, , ,29 1, , ,33 2, , ,36 2, , , , ,47 2, , , ,55 3, , , ,62 4, , ,81 Total do Estado , ,48

11 Valores referentes ao estado de Goiás/GO 0, , ,33 0, , ,44 1, , ,55 1, , ,66 1, , ,78 1, , ,89 1, , ,00 2, , ,11 2, , ,22 2, , ,33 2, , ,44 2, , ,55 3, , ,66 3, , ,77 3, , ,88 3, , ,72 4, , ,83 Total do Estado , ,92

12 Valores referentes ao estado do Maranhão/MA 0, , ,94 0, , ,59 1, , ,24 1, , ,89 1, , ,53 1, , ,18 1, , ,83 2, , ,48 2, , ,12 2, , ,77 2, , ,42 2, , ,07 3, , , ,36 3, , ,01 4, , ,31 Total do Estado , ,74

13 0, , ,61 0, , ,48 1, , ,35 1, , ,22 1, , ,09 1, , ,96 1, , ,83 2, , ,70 2, , ,57 2, , ,44 2, , ,32 2, , ,19 3, , ,06 3, , ,93 3, , ,80 3, , ,67 3, , ,15 4, , ,02 Total do Estado , ,60 Valores referentes ao estado de Minas Gerais/MG

14 0, , ,00 0, , ,00 1, , ,00 1, , ,00 1, , ,00 1, , ,00 1, , ,00 2, , ,00 2, , , , , ,00 3, , , ,00 3, , , ,34 Total do Estado , ,48 Valores referentes ao estado do Mato Grosso do Sul/MS

15 Valores referentes ao estado do Mato Grosso/MT 0, , ,58 0, , ,11 1, , ,64 1, , ,17 1, , ,70 1, , ,22 1, , ,75 2, , ,28 2, , ,81 2, , , ,86 2, , ,39 3, , ,92 3, , , ,97 4, , ,77 Total do Estado , ,04

16 Valores referentes ao estado do Pará/PA 0, , ,55 0, , ,07 1, , ,59 1, , ,10 1, , ,62 1, , ,14 1, , ,66 2, , ,17 2, , ,69 2, , ,21 2, , ,72 2, , , ,76 3, , ,28 3, , ,79 3, , ,31 3, , ,52 4, , ,03 Total do Estado , ,53

17 Valores referentes ao estado da Paraíba/PB 0, , ,01 0, , ,01 1, , ,02 1, , ,02 1, , ,02 1, , ,03 1, , ,03 2, , , ,03 2, , ,04 2, , , , ,05 3, , ,05 3, , , ,06 4, , ,42 Total do Estado , ,20

18 Valores referentes ao estado de Pernambuco/PE 0, , ,58 0, , ,45 1, , ,31 1, , ,17 1, , ,03 1, , ,89 1, , ,75 2, , ,62 2, , ,48 2, , ,34 2, , ,20 2, , ,06 3, , ,92 3, , ,78 3, , , ,51 3, , ,79 4, , ,65 Total do Estado , ,61

19 Valores referentes ao estado do Piauí/PI 0, , ,83 0, , ,77 1, , ,72 1, , ,66 1, , ,61 1, , ,55 1, , ,49 2, , ,44 2, , ,38 2, , ,32 2, , ,27 2, , , , , , ,29 4, Total do Estado , ,66

20 Valores referentes ao estado do Paraná/PR 0, , ,73 0, , ,31 1, , ,89 1, , ,47 1, , ,05 1, , ,62 1, , ,20 2, , ,78 2, , ,36 2, , ,94 2, , ,52 2, , ,09 3, , ,67 3, , ,25 3, , ,83 3, , ,41 3, , ,19 4, , ,77 Total do Estado , ,13

21 0, , ,53 0, , ,37 1, , ,21 1, , ,05 1, , ,89 1, , ,74 1, , ,58 2, , ,42 2, , ,26 2, , , ,95 2, , ,79 3, , ,63 3, , , ,31 3, , ,94 4, , ,78 Total do Estado , ,24 Valores referentes ao estado do Rio de Janeiro/RJ

22 0, , ,10 0, , ,80 1, , ,50 1, , ,20 1, , ,90 1, , ,59 1, , ,29 2, , ,99 2, , ,69 2, , ,39 2, , ,09 2, , , ,49 3, , , , ,41 Total do Estado , ,08 Valores referentes ao estado do Rio Grande do Norte/RN

23 Valores referentes ao estado de Rondônia/RO 0, , ,93 0, , ,24 1, , ,55 1, , ,86 1, , ,17 1, , ,48 1, , ,79 2, , ,09 2, , ,40 2, , , , ,33 3, , , ,95 3, , , ,57 4, Total do Estado , ,16

24 Valores referentes ao estado de Roraima/RR 0, , ,97 0, , ,62 1, , ,28 1, , ,93 1, , ,59 1, , , , , , , , , , , Total do Estado , ,84

25 0, , ,08 0, , ,78 1, , ,47 1, , ,17 1, , ,86 1, , ,55 1, , ,25 2, , ,94 2, , ,64 2, , ,33 2, , ,03 2, , ,72 3, , ,41 3, , ,11 3, , ,80 3, , ,50 4, , ,09 Total do Estado , ,14 Valores referentes ao estado do Rio Grande do Sul/RS

26 0, , ,96 0, , ,62 1, , ,27 1, , ,92 1, , ,58 1, , ,23 1, , ,89 2, , ,54 2, , ,19 2, , ,85 2, , ,50 2, , , , ,46 3, , ,12 3, , ,50 4, , ,16 Total do Estado , ,78 Valores referentes ao estado de Santa Catarina/SC

27 Valores referentes ao estado de Sergipe/SE 0, , ,10 0, , ,14 1, , ,17 1, , ,20 1, , ,24 1, , ,27 1, , ,31 2, , , ,37 2, , ,41 2, , , ,47 3, , ,51 3, , , , ,10 Total do Estado , ,66

28 Valores referentes ao estado de São Paulo/SP 0, , ,56 0, , ,75 1, , ,93 1, , ,12 1, , ,31 1, , ,49 1, , ,68 2, , ,87 2, , ,05 2, , ,24 2, , ,43 2, , ,62 3, , ,80 3, , ,99 3, , ,18 3, , ,36 3, , ,49 4, , ,68 Total do Estado , ,87

29 Valores referentes ao estado de Tocantins/TO 0, , ,31 0, , ,08 1, , ,84 1, , ,61 1, , ,38 1, , ,15 1, , , ,69 2, , ,46 2, , , , ,76 3, , , , , ,53 Total do Estado , ,37