Ofício n. 142/2015-PNP. Brasília, 11de maio de 2015.

Transcrição

1 Ofício n. 142/2015-PNP. Brasília, 11de maio de Ao Exmo. Sr. Ministro Francisco Falcão Presidente do Superior Tribunal de Justiça Brasília - DF Assunto: Majoração de honorários advocatícios. Recentes decisões. Senhor Presidente. Cumprimentando-o cordialmente, dirigimo-nos à V.Exa. para informar que o Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil louva a acertada evolução da jurisprudência dessa E. Corte, que tem demonstrado sensibilidade ao tema concernente ao aviltamento de honorários sucumbenciais. A partir do final de 2013, o Superior Tribunal de Justiça passou a proferir diversas decisões que majoraram os honorários advocatícios de sucumbência para os percentuais de 20%, 15%, 10% e 5% sobre o valor do proveito econômico da parte, antes fixados na origem em valores aviltantes. Em outros julgados, a Corte manteve tais percentuais fixados pelos Tribunais a quo. Tais decisões estão sendo proferidas em processos que envolvem ou não a Fazenda Pública. OConselho Federal da OAB está envidando esforços para coibir o aviltamento dos honorários desucumbência, seja por meio do lançamento da Campanha Nacional pela Dignidade dos Honorários, seja por meio do protocolo de centenas de pedidos de assistência e de memoriais, bem como de despachoscom os Ministrosnas demandas individuais trazidas pelos advogados. A título exemplificativo, ilustramos que nas decisões que não envolvem a Fazenda Pública e, portanto, submetem-se ao percentual mínimo de 10% e máximo de 20% sobre a condenação(art. 20, 3º, do CPC), os eminentes Ministros majoraramou mantiveram os percentuais em 20%, 15% e 10% sobre o valor da condenação, em consonância com o preceito legal, de acordo com os paradigmas a seguir transcritos: 1

2 RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS E MATERIAIS. SEGURO DE VIDA. AUXÍLIO-FUNERAL. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. VALORES IRRISÓRIOS. MAJORAÇÃO. (...) 3. Ao reduzir a condenação ao pagamento de indenização por danos morais de R$ ,00 (dez mil reais) para R$ 650,00 (seiscentos e cinquenta reais) e dos honorários advocatícios de 20% (vinte por cento) para 10 % (dez por cento) sobre o valor da condenação, o Tribunal de origem dissentiu dos parâmetros adotados por esta Corte em casos análogos, justificando-se a intervenção excepcional a fim de, em observância aos princípios da proporcionalidade e da razoabilidade, restabelecer a sentença. 4. Recurso especial provido. (REsp /SP, Rel. Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, TERCEIRA TURMA, julgado em 24/02/2015, DJe 13/03/2015) 1 (grifamos) AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. HONORÁRIOS. IRRISORIEDADE. REVISÃO. NÃO CABIMENTO. REEXAME FÁTICO- PROBATÓRIO. ART. 20, 3º, DO CPC. AGRAVO NÃO PROVIDO. 1. Tendo sido os honorários advocatícios fixados com base na apreciação equitativa da prestação do serviço pelo advogado, sua revisão impõe incontornável reexame dos aspectos fáticos da lide. Incidência do enunciado 7 da Súmula do STJ. 2. A verba honorária foi estabelecida nos moldes do art. 20, 3º, do CPC (15% sobre o valor da condenação) não estando caracterizada, portanto, qualquer ilegalidade. 3. Agravo regimental a que se nega provimento. (AgRg no REsp /PR, Rel. Ministra MARIA ISABEL GALLOTTI, QUARTA TURMA, julgado em 25/03/2014, DJe 02/04/2014)2 (grifamos) PROCESSO CIVIL. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. CARÁTER IRRISÓRIO. MAJORAÇÃO. POSSIBILIDADE. RECURSO PROVIDO. (...) 1 Participaram do julgamento, os Srs. Ministros: Ricardo Villas Bôas Cueva, Marco Aurélio Bellizze, Moura Ribeiro, João Otávio de Noronha e Paulo de Tarso Sanseverino. 2 Participaram do julgamento, os Srs. Ministros: Maria Isabel Gallotti, Antônio Carlos Ferreira, Marco Buzzi, Luis Felipe Salomão e Raul Araújo. 2

3 2. Na espécie, mesmo considerando a simplicidade da demanda, o valor de R$ 20,00 (vinte reais) não é suficiente para remunerar condignamente o profissional da causa, que atuou com zelo na defesa dos direitos por ele patrocinados. 3. Em ação cujo valor da causa foi de R$ 1.000,00 (mil reais), apresenta-se razoável a fixação da verba honorária em 15% (quinze por cento) para cada uma das rés. 4. Recurso especial provido. (REsp /PR, Rel. Ministro CASTRO MEIRA, SEGUNDA TURMA, julgado em 07/05/2013, DJe 16/05/2013) 3 (grifamos) AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO. DANO MORAL. QUANTUM INDENIZATÓRIO. RAZOABILIDADE. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. FIXAÇÃO NOS TERMOS DO ART. 20, 3º, DO CPC. DECISÃO AGRAVADA MANTIDA. IMPROVIMENTO. (...)3. O entendimento do Tribunal de origem, ao arbitrar os honorários em 10% sobre o valor da condenação, está em consonância com a jurisprudência desta Corte no sentido de que quando o Acórdão proferido é de cunho condenatório, devem os honorários advocatícios ser fixados entre o mínimo de 10% e o máximo de 20% sobre o valor da condenação, nos termos do artigo 20, 3º, do Código de Processo Civil.4. Os agravantes não trouxeram nenhum argumento capaz de modificar a conclusão do julgado, a qual se mantém por seus próprios fundamentos. 5. Agravo Regimental improvido. (AgRg nos EDcl no AREsp /SP, Rel. Ministro Sidnei Beneti, Terceira Turma, julgado em 19/08/2014, DJe 02/09/2014) 4 (grifamos) Como se vêda transcrição dos julgados acima, oentendimento disciplinado no art. 20, 3º, do CPC vem sendo adotado pelos eminentes Ministros Ricardo Villas Bôas Cueva, Marco Aurélio Bellizze, Moura Ribeiro, João Otávio de Noronha, Paulo de Tarso Sanseverino, Maria Isabel Gallotti, Antônio Carlos Ferreira, Marco Buzzi, Luis Felipe Salomão,Raul Araújo, Castro Meira, Humberto Martins, Herman Benjamin, Mauro Campbell Marques, Eliana Calmon, Sidnei Beneti e Nancy Andrighi. Já nos processos que envolvem a Fazenda Pública, nos quaissedeverespeitar, dentre outros, o princípio da equidade e o princípio da razoabilidade, o STJ, acertadamente, está mantendo as decisões que fixaram os honorários nopercentual mínimo de 10% do valor da condenação, ou até mesmo acima deste, conforme se evidencia a seguir: 3 Participaram do julgamento, os Srs. Ministros: Castro Meira, Humberto Martins, Herman Benjamin, Mauro Campbell Marques e Eliana Calmon. 4 Participaram do Julgamento, os Srs. Ministros: Sidnei Beneti, Paulo de Tarso Sanseverino, Ricardo Villas Bôas Cueva, Nancy Andrighi e João Otávio de Noronha. 3

4 PROCESSUAL CIVIL AGRAVOS REGIMENTAIS DE AMBAS AS PARTES SUPERVENIÊNCIA DE PAGAMENTO ADMINISTRATIVO A ALGUNS DOS EXEQUENTES PROSSEGUIMENTO DA EXECUÇÃO EM RELAÇÃO AOS DEMAIS CONDENAÇÃO EM HONORÁRIOS NÃO CABIMENTO NESTE MOMENTO PROCESSUAL PREQUESTIONAMENTO IMPLÍCITO NÃO VERIFICAÇÃO MATÉRIA NÃO ABORDADA NO ACÓRDÃO RECORRIDO REDUÇÃO DOS HONORÁRIOS SUCUMBENCIAIS VALOR QUE REMUNERA CONDIGNAMENTE O PROFISSIONAL SEM DESRESPEITAR A REGRA DE EQUIDADE PREVISTA NO ART. 20, 4º, DO CPC RECURSOS NÃO PROVIDOS. (...) 3. Mesmo na hipótese de a sucumbente ser a União, a fixação de honorários no percentual de 15% (quinze por cento) do valor da condenação é admissível por se mostrar adequada à condigna remuneração do trabalho desenvolvido pelo patrono da parte vencedora. 4. Agravo regimental não provido. (EDcl no AgRg nos EDcl nos EDcl no REsp /PR, Rel. Ministro Moura Ribeiro, julgado em 05 de agosto de 2014) 5 (grifamos) PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL.PROCURADORES DO ESTADO. AÇÃO DE COBRANÇA. VERBA HONORARIA. CONDENAÇÃO DENTRO DOS LIMITES ESTABELECIDOS. EXORBITÂNCIA.AFASTAMENTO. 1. Caso em que o Tribunal local, ao condenar a Fazenda Pública, fixou a verba honorária em 15% sobre a condenação, "considerando a relevância da matéria e o trabalho do advogado dos autores bem como a tenacidade do procurador da ré". Assim, por estar dentro dos limites estabelecidos no art. 20, 4º, do CPC, não comporta a redução pretendida. 2. Agravo regimental não provido. (AgRg no REsp /SP, Rel. Ministro BENEDITO GONÇALVES, PRIMEIRA TURMA, julgado em 18/09/2014, DJe 29/09/2014) 6 (grifamos) AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. POLICIAIS MILITARES DO 5 Participaram do julgamento, os Srs. Ministros: Moura Ribeiro, Regina Helena Costa, Laurita Vaz, Jorge Mussi e Marco Aurélio Bellizze. 6 Participaram do julgamento, os Srs. Ministros: Benedito Gonçalves, Sérgio Kukina, Regina Helena Costa, Marga Barth Tessler e Napoleão Nunes Maia Filho. 4

5 ESTADO DE PERNAMBUCO. VENCIMENTO BÁSICO DE REFERÊNCIA. RELAÇÃO DE TRATO SUCESSIVO. SÚMULA 85/STJ. A ANÁLISE DA OCORRÊNCIA DA PRESCRIÇÃO DO FUNDO DE DIREITO DEPENDE DO EXAME DE NORMAS DE DIREITO LOCAL. SÚMULA 280/STF. AGRAVO REGIMENTAL DO ESTADO DE PERNAMBUCO DESPROVIDO. (...) 2. A revisão dos honorários advocatícios são admitidos nesta Corte quando o seu arbitramento se mostrar exorbitante ou irrisório, o que não é caso dos autos (10% sobre o valor da condenação). 3. Agravo Regimental do ESTADO DE PERNAMBUCO desprovido. (AgRg no AREsp /PE, Rel. Ministro Napoleão Nunes Maia Filho, Primeira Turma, julgado em 05/08/2014, DJe 18/08/2014) 7 (grifamos) Pode-se notar que o entendimento constante nos aludidos julgados foi proferido pelos ilustres Ministros Moura Ribeiro, Regina Helena Costa, Laurita Vaz, Jorge Mussi, Marco Aurélio Bellizze, Benedito Gonçalves, Sérgio Kukina, Marga Barth Tessler, Napoleão Nunes Maia Filho e Ari Pargendler. Erigido à condição de elemento indispensável à administração da Justiça pela Constituição Federal de 1988, o advogado exerce serviço público dotado de relevância social ao atuar na defesa e promoção dos direitos e interesses dos seus clientes, contribuindo substancialmente para a promoção de uma sociedade livre, justa e solidária. A atividade advocatícia exige que o próprio causídico suporte os custos decorrentes da remuneração e qualificação de seus funcionários, manutenção do local de trabalho, reposição tecnológica, bem como a própria subsistência e a de sua família, sem a certeza de que o resultado a ser obtido seja favorável ao seu cliente e, portanto, que receba os honorários que lhe caberão nessa hipótese. Assim, merece destaque o ônus imposto aos advogados, sobretudo aos que atuam em causas cujo valor é inestimável ou de grande vulto, de responder integralmente pelos prejuízos cuja atuação eventualmente dê causa no curso da demanda. A fixação dos honorários de forma ínfima sujeita o advogado à situação de constrangimento quando o cliente temseu direito integralmente atendido,à medida que se vê forçado a interpor recurso somente para discutir a verba honorária, postergando a fruição do direito pela parte. Em última análise, tais decisões vêm também em prejuízo do Estado, que se vê obrigado a dar andamento a um recurso específico sobre a matéria. 7 Participaram do Julgamento, os Srs. Ministros: Napoleão Nunes Maia Filho, Benedito Gonçalves, Sérgio Kukina e Ari Pargendler. 5

6 Imperioso, portanto, que os honorários atribuídos quando da prolação da decisão remunerem adequadamente o trabalho prestado e não representem um completo desprestígio ou um incentivo às lides temerárias, que se multiplicam em ambientes onde inexiste o risco de sucumbência proporcional aos pedidos que carecem de fundamentação. Nesse contexto, o Conselho Federal da OAB sugere que os entendimentos manifestadosnas decisões referidas acima sejam adotados em todos os julgados para que, nos casos em que não envolvem a Fazenda Pública, o percentual fixado a título de honorários advocatícios observe os limites mínimo de 10% e máximo de 20% sobre o valor da condenação,e, nos casos em que envolvem a Fazenda Públicao percentual mínimo seja de 10% sobre o valor da condenação, unificando o entendimento desse e. Tribunal, em consonância com o disposto no art. 20, 3º e 4º,do Código de Processo Civil, como forma de prestigiar o princípio da legalidade. Outrossim, cumpre registrarque os Ministros do STJ, no ano passado, estavam julgando como desertos inúmeros recursos sob o fundamento de ausência de renovação do pedido de gratuidade de justiça já concedida na origem. Posteriormente, em fevereiro deste ano, a e. Corte Especial, nos autos do EAREsp n /SP, sob a relatoria do eminente Ministro Raul Araújo, por unanimidade, reconheceu que essa nova exigência afrontava o princípio da legalidade, razão pela qual afastou a deserção, prevalecendo o disposto em lei. Desse modo, pedimos que esse Tribunal de Cidadania adote, nos casos de aviltamento de honorários, o mesmo entendimento do caso de renovação do pedido de gratuidade, no sentido de prestigiar oprincípio da legalidade, fazendo prevalecer odisposto no art. 20, 3º e 4º, do CPC. Ao parabenizarmos o Superior Tribunal de Justiça pelos julgados que majoraram os honorários advocatícios de sucumbência para os percentuais de 10 a 20%, colhemos o ensejo para renovar os protestos de elevada estima e distinta consideração. Atenciosamente, Marcus Vinicius Furtado Coêlho Presidente Nacional da OAB José Luis Wagner Procurador Nacional de Defesa das Prerrogativas Conselheiro Federal OAB/AP 6