Análise das religiões relativa à localidade, escolaridade e poder aquisitivo dos fiéis.
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- Geovane Bicalho Quintanilha
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1 Análise das religiões relativa à localidade, escolaridade e poder aquisitivo dos fiéis. Por James Mytho. Faltando pouco mais de 2 anos para o próximo Censo, o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) divulgou uma síntese dos Censos entre 1940 e Nesta análise, o órgão confirmou o que todos nós sabemos: que o Brasil mudou, enormemente, nas últimas décadas. Especialmente, nos últimos 20 anos, vários indicadores sociais foram alterados, dentre os quais os percentuais relativos à religiosidade do brasileiro. É sobre isso que vamos falar aqui. Tabela: Religiões declaradas nos censos do Brasil em 1980, 1991 e 2000 (população residente) Religião Católicos 89,2% 83,3% 73,8% Evangélicos 6,6% 9,0% 15,4% Espíritas 0,7% 1,1% 1,3% Afro-brasileiros 0,6% 0,4% 0,3% Outras religiões 1,3% 1,4% 1,8% Sem religião 1,6% 4,8% 7,4% Comparando os últimos três Censos, percebemos uma nítida diminuição dos católicos nominais. Essa queda do catolicismo representa que o Brasil não tem mais um pensamento religioso único. E se levarmos em consideração que apenas 18% dos brasileiros são católicos praticantes, então concluímos que o catolicismo, em termos práticos, não é mais predominante. Temos uma sociedade secular, e laica, onde o cidadão comum é cada vez menos apegado a crendices, mitos e tabus religiosos. Nossa proposta é desfazer mais alguns mitos: 1. Mostrar que essa mudança tende a se consolidar e até se ampliar; 2. Mostrar que a religião em si, não muda a qualidade de vida do indivíduo, ou seja, seus indicadores sociais (escolaridade, renda, etc...). O conteúdo deste texto foi escrito sem qualquer preconceito. Nosso intuito é simplesmente mostrar a verdade, através da realidade dos fatos e estatísticas. Não tomamos partido por religião nenhuma, portanto esta é uma análise de caráter imparcial. A demarcação do espaço religioso. Os brasileiros vivem, predominantemente, nas áreas urbanas, perfazendo 81,19% do total. O Brasil, há algumas décadas, deixou de ser aquele país rural, patriarcal e autoritário. Um país onde o analfabetismo predominava em muitas regiões, onde as pessoas eram presas a preconceitos mesquinhos, e se mantinham presas a padrões pré-estabelecidos. Um país opressor para a maioria da população, certamente. Dentro desse contexto, a religião era, talvez, a única esperança que o indivíduo tinha de vidas melhores, se não aqui, pelo menos em outras dimensões. Porém, isso tinha um preço: o servilismo religioso, se não integral, pelo menos parcial. As pessoas tinham suas vidas pautadas por valores religiosos. Contudo, como a maioria desconhecia os aspectos teológicos de sua
2 religião, pois a maioria mal sabia ler e escrever, esses valores acabaram se tornando mitos e tabus. Ora, existem três maneiras de um indivíduo constituir o seu código de ética: através do pensamento racional, através de dogmas religiosos, ou através de tabus e mitos. E a maioria formula a sua versão do que seria a sua verdade através de tabus e mitos. É aquela verdade que não tem explicação lógica, apenas é assim, porque sim! Mas, a partir dos anos 60, nossa sociedade experimentou grandes mudanças nos campos: social, político, econômico, ideológico e religioso. A partir de 1988, com a volta a normalidade democrática e todas as suas implicações, essas mudanças se tornaram irreversíveis. E uma boa parte desse povo que aceitara tudo, até então, passou a ser cada vez mais crítico. Porém, há vários Brasis dentro do Brasil. E, é claro que essas mudanças são mais acentuadas nas regiões metropolitanas das grandes cidades. Pois, nesses lugares, as pessoas são quase que forçadas a mudar, às vezes, até para garantirem a sua subsistência. Na cidade grande, o homem do campo se vê, constantemente, questionado sobre os por quês da vida. Ele se depara com uma diversidade de pensamentos, comportamentos, atitudes, e religiosidades que até então desconhecia. E ele se depara com a desigualdade em todas as sua nuances. A percepção desse novo mundo pode fazer-lhe se tornar um nostálgico pessimista, ou seja, alguém que não aceita as mudanças. Ou pode gerar nele o desejo de também mudar. É nesta perspectiva que devemos analisar a mudança da maneira como o brasileiro encara a religião. Os católicos nominais são 71,39% nas áreas urbanas, e 82,96% nas áreas rurais, segundo o último Censo do IBGE. A redução do catolicismo se dá, especialmente, na periferia das grandes cidades, onde as igrejas pentecostais disputam, ferozmente, os fieis desgarrados do catolicismo. Estão obtendo sucesso, e até prestígio, junto às populações desses lugares. É no meio urbano que encontramos a maior diversidade religiosa, pois aí estão: 97,5% dos espíritas assumidos; 96,82% dos umbandistas e candomblecistas assumidos; 86,83% dos evangélicos 91,6% das outras religiões minoritárias; 87,22% das pessoas que não tem religião. Isso, só confirma a nossa tese anterior. As grandes mudanças sociais ocorreram, sobretudo, nas áreas urbanas, e justamente por isso é que há mais diversidade religiosa e ideológica nessas áreas. Um dado importante é que na população entre 15 e 64 anos, 73,7% são católicos nominais, porém a maior parte dos não-católicos se situa nessa fase etária. Na população, entre 15 e 64 anos, estão: 62,77% dos evangélicos; 75,26% dos espíritas assumidos; 64,72% dos sem-religião. Além disso, entre os jovens de 5 e 9 anos, 27,69% não nasceram em famílias católicas, e entre os de 10 e 24 anos, 26,3% não nasceram em família católicas. Isso prova que as mudanças ocorridas na religiosidade do povo brasileiro vieram para ficar.
3 O catolicismo precisa, urgentemente, rever as suas práticas, se quiser continuar a ser a maior religião. A escolaridade dos fiéis. O desenvolvimento de um religiosidade, e o exercício da fé, independem da classe social e da escolaridade. A capacidade de acreditar em algo está dentro de cada pessoa, e de uma forma geral, as pessoas continuam a acreditar em Deus. Porém, quanto menor a condição sócio-cultural, mais suscetível a pessoa está as crendices e dogmas irracionais. Quanto menor o grau de instrução de um povo, quanto menor o acesso a uma cidadania plena, maior será o fundamentalismo religioso, como uma válvula de escape para os problemas cotidianos. Ao analisarmos o indicador escolaridade ( anos de estudo ), percebemos que não existem mudanças significativas entre as religiões, especialmente entre católicos e evangélicos. Tomamos por base dois aspectos: A quantidade de analfabetos dentro de cada religião; A quantidade de fiéis com 15 ou mais anos de estudo, dentro de cada religião. Analfabetos dentre os fiéis de cada religião (Censo/IBGE 2000): 16,38% dos católicos são analfabetos; 11,99% dos evangélicos são analfabetos, (15,31% dos pentecostais, 8,67% dos não-pentecostais); 3,29% dos espíritas são analfabetos; 8,51% dos umbandistas e candomblecistas são analfabetos. Fiéis com 15 ou mais anos de estudo, em cada religião (Censo/IBGE 2000): 4,94% dos católicos; 3,08% dos evangélicos, (1,5% dos pentecostais, 6,42% dos não-pentecostais); 21,11% dos espíritas; 7,15% dos umbandistas e candomblecistas. * Ter 15 ou mais anos de estudo formal, significa ter acesso ao nível superior (completo ou incompleto). Apenas, uma pequena parcela da população brasileira (4,9% do total) consegue chegar a esse nível. Poderíamos dizer que, de certa forma, esses brasileiros pertencem a alguma elite (mesmo que não se considerem como tal). Analisando os dois conjuntos de dados, concluímos que os espíritas são os mais bem posicionados nesse quesito. Eles têm o menor percentual de fiéis no analfabetismo, e o maior percentual entre os mais letrados. Os evangélicos pentecostais são os que tem os piores índices, pois apenas 1,5% deles chegam a esse nível. Porém entre os analfabetos, os pentecostais são superados pelos católicos que tem o maior índice. Os católicos são sempre a maioria numérica em qualquer quesito, porém quando se mede o percentual de católicos nas classes mais altas, se verifica que apenas uma minoria, entre eles, é que se constituem como uma elite. Ou seja, não foi o catolicismo que fez com que o individuo estivesse na elite.
4 Outro dado interessante é que umbandistas e candomblecistas quando se assumem, apresentam escolaridade acima da média. Eles têm menos fiéis analfabetos que católicos e evangélicos, e mais fiéis no nível superior, embora sejam uma minoria numérica. Apenas 4,9% de brasileiros têm 15 anos ou mais de instrução. Nesse grupo, as religiões se representam da seguinte maneira: 74,0% são católicos; 9,33% são evangélicos 6,72% são espíritas; 0,53% são umbandistas ou candomblecistas; 2,66% são de outras religiões; 6,65% não tem religião; 0,11% indefinido. Os católicos, numericamente, são a maioria nesse quesito. Porém, só chega a esse nível uma pequena minoria de católicos, pois esses 74% de brasileiros, com 15 ou mais anos de estudo, correspondem a apenas 4,94% de todos os brasileiros católicos. E eles são a maioria entre os analfabetos. É interessante notar que nesse grupo, temos 2,66% de brasileiros que professam outras religiões, o que mostra que quanto maior o acesso a informação, maior se torna a diversidade religiosa. Poder aquisitivo dos fiéis. Nesse quesito, consideramos o extrato social mais favorecido, ou seja, aquele que tem rendimento mensal acima de 30 salários mínimos. Esse grupo representa 1,5% da população economicamente ativa, e com mais de 10 anos de idade. Percentagem de fiéis de cada religião que chegam a esse nível (Censo/IBGE 2000): 1,44% dos católicos; 0,84% dos evangélicos, (0,47% dos pentecostais, 1,51% dos não-pentecostais); 4,41% dos espíritas; 1,37% dos umbandistas e candomblecistas; 2,58% dos fiéis de outras religiões; 1,59% dos sem-religião. O percentual de fiéis, em cada religião, que são empregadores é: 2,94% dos católicos; 2,32% dos evangélicos (1,7% dos pentecostais, e 3,53% dos não-pentecostais); 6,53% dos espíritas; 2,73% dos umbandistas e candomblecistas; 4,3% dos fiéis de outras religiões; 2,32% dos sem religião.
5 Agora, dentre os que ganham menos de 1/2 salário mínimo, o percentual, em cada religião, é: 5,82% dos católicos; 4,79% dos evangélicos (5,34% dos pentecostais, e 3,83% dos não-pentecostais); 1,14% dos espíritas; 2,63% dos umbandistas e candomblecistas; 3,79% dos fiéis de outras religiões; 4,82% dos sem religião. É interessante dizer que os católicos são 79,5% daqueles que ganham menos de 1/2 salário mínimo. Isso confirma, a tese de que quanto melhor a condição sócio-econômica, maior a diversidade religiosa e filosófica. Todavia, os pentecostais têm o menor percentual de fiéis que são empregadores (ou empreendedores), o que desmascara o mito da teologia da prosperidade. Contra fatos (e dados), não há argumentos. Então, o que muda a vida do ser humano? É a pergunta que devemos fazer a nós mesmos... Fazendo o cruzamento de dados, está provado que não existe relação direta entre religião e melhora nas condições de vida do indivíduo. Até umbandistas e candomblecistas, que são, freqüentemente, rotulados como pobres ignorantes, podem chegar ao nível sócioeconômico mais elevado. E mais uma vez os espíritas (kardecistas) se destacam, pois eles têm o maior percentual de fiéis que conseguem chegar ao nível mais alto. Isso desmistifica a tese de alguns grupos que enfatizam a teologia da prosperidade, ou a preservação de dogmas tradicionais. Para católicos, e evangélicos, resta aceitar o fato de que não são melhores, mas apenas iguais. A religião em si, não melhora a vida do indivíduo, pois brasileiros de religiões distintas tem padrão de vida similar. A chance de uma vida melhor pode surgir para todos, independente da religião.
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