CONHECIMENTO DOS ADOLESCENTES EM RELAÇÃO ÀS DOENÇAS SEXUALMENTE TRANSMISSÍVEIS
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- Laura Lemos de Lacerda
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1 CONHECIMENTO DOS ADOLESCENTES EM RELAÇÃO ÀS DOENÇAS SEXUALMENTE TRANSMISSÍVEIS Daiane Mateus; Emanuele Pereira De Melo; Maria Luciana Botti; Cesumar - Centro Universitário De Maringá. INTRODUÇÃO Destaca-se que os princípios da universalidade e da integralidade, definem o direito ao acesso de todos os brasileiros às ações e serviços para a promoção, proteção e recuperação da saúde, como base fundamental das diretrizes do Sistema Único de Saúde (SUS). Nesta perspectiva a promoção de forma integral à saúde de toda a população, deve levar em consideração a saúde dos adolescentes, que, apesar da existência de várias propostas e programas, ainda mantém certa ineficiência na implantação e implementação, de ações concretas. A adolescência é uma fase de transição, na qual o jovem ainda está por definir seus conceitos e a sua identidade, seu sistema biológico está em constante alteração, bem como os aspectos psicológicos e sociais. Nesta etapa do desenvolvimento, o adolescente está absorvendo informações de várias fontes que podem ser aceitas ou negligenciadas, e as suas atitudes, a partir de então, dependerão da transformação que este conhecimento lhe trouxer (BRASIL, 2006a). A possibilidade de informações inseguras, associada a pouca percepção de risco e fantasias que se deparam no início da prática sexual, tornam os adolescentes vulneráveis a muitas situações, tais como o uso de drogas, gravidez precoce, violência, Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST), entre outras. Atualmente, a prevalência de DST vem crescendo em ritmo acelerado. Para sua prevenção é necessário programas inovadores, que facilitem o processo de ensino-aprendizagem, com mudanças de comportamentos (BRASIL, 2006b). Para o incremento dessas práticas é preciso estabelecer vínculo entre os serviços de saúde, educação e a família. OBJETIVO Identificar o conhecimento dos adolescentes sobre as Doenças Sexualmente Transmissíveis, visando fornecer subsídios aos profissionais de saúde que objetivam prestar assistência, e criar projetos direcionados para esta população.
2 MÉTODO Este estudo foi desenvolvido com 172 adolescentes pertencentes à faixa etária de 15 a 19 anos, correspondendo a 100% dos estudantes de uma escola de ensino médio. A pesquisa foi realizada na única escola pública estadual de ensino médio, do município de Lobato localizado na região noroeste do Estado do Paraná. Como município de pequeno porte Lobato tem uma população de aproximadamente habitantes, dos quais 10,2% estão na faixa etária de 15 a 19 anos (IBGE, 2008). O estudo é de natureza descritiva exploratória, com abordagem quantitativa de análise. A escolha do tema foi possível graças à busca por material bibliográfico em artigos eletrônicos e manuais do Ministério da Saúde, os quais foram lidos e analisados com intuito de melhor embasamento científico. Com a análise dos materiais, elaborou-se um questionário que se enquadrasse aos objetivos do estudo. O instrumento passou por um teste piloto para verificar a eficiência do mesmo de acordo com o objetivo da pesquisa, a população do teste piloto foi a de 10 adolescentes, de conhecimento e contato comum com os autores da pesquisa, destaca-se também que os mesmos cuidados éticos foram tomados com a população que fez parte do teste piloto. Após recebimento do parecer favorável da coordenação do curso de Bacharelado em Enfermagem o projeto foi encaminhado ao Comitê Permanente de Ética e Pesquisa do Cesumar (COPEC), conforme a Lei 196/96 do Conselho Nacional de Saúde, garantindo que todos os preceitos éticos desta legislação vigente estejam esclarecidos no Termo de Consentimento Livre Esclarecido (TCLE), onde a pesquisa foi considerada viável e autorizado o início de coleta dos dados. Em seguida entrou-se em contato com a Diretora da escola na qual foi realizada a pesquisa, apresentando a proposta de estudo, combinando horários e datas de acordo com a disponibilidade e rotinas da Instituição. No primeiro encontro, para atingir os 172 adolescentes foi passado em todas as salas de aulas e nos dois turnos, matutino e noturno. Com a presença e permissão dos professores, o TCLE foi lido em voz alta e entregue aos adolescentes, para que pudessem solicitar a autorização e colher a assinatura de seus pais e/ou responsáveis. No segundo encontro com os sujeitos da pesquisa, foi recolhido o TCLE assinado pelos pais e
3 pelo próprio adolescente, com perda significativa dos participantes que não retornaram com o TCLE. Assim dos 172, apenas 51 responderam ao instrumento auto-aplicável. Com os dados em mãos, deu-se início a tabulação, organização em planilhas no programa de computador Excel, e cálculos de freqüência simples e porcentagem. Posteriormente os dados foram ilustrados em tabelas e gráficos. A finalização da presente pesquisa se deu com as discussões expostas pelos autores, confrontando e comparando os resultados encontrados, com opiniões e pontos de vista de diferentes pesquisadores e estudos encontrados e correlacionados dentro do mesmo assunto. RESULTADOS E DISCUSSÃO Conhecer a população adolescente em todos os seus âmbitos é imprescindível, pois está inserida em uma realidade que influencia em seu comportamento. Analisar a sondagem de conhecimentos remete também a identificar as características sócio-econômicas, culturais e comportamentais, verificando suas influências em relação à vulnerabilidade que o adolescente está exposto. Afirmado também pelo Manual do Ministério da Saúde Marco Teórico e Referencial, onde as ações de saúde devem considerar as desigualdades de gênero, baseadas na orientação sexual e na classe social, e contribuir para a sua superação. É preciso considerar, também, as diferenças culturais e as desigualdades sócio-econômicas entre as diferentes regiões do país e seu impacto na situação de saúde e na organização das ações (BRASIL, 2006c). Inicia-se a análise dos dados obtidos com a caracterização dos sujeitos envolvidos na pesquisa, conforme demonstrado na Tabela 1. Tabela 1: Adolescentes participantes do estudo, por faixa etária, sexo, religião, Lobato, Variáveis N % Faixa etária 15 A 16 ANOS A 19 ANOS 18 35
4 Sexo FEMININO MASCULINO Renda familiar (em salários mínimos) 1 a A > Série em que estuda (Ensino Médio) 1º ANO º ANO º ANO Reprovação escolar NÃO VEZ VEZES OU MAIS Tabela 2: Adolescentes participantes do estudo, por inicio da atividade sexual, tempo de namoro, uso do preservativo, Lobato, Variáveis N % Início da atividade sexual NEGOU A 14 ANOS A 16 ANOS A 19 ANOS Namoro (período de duração) ATÉ 4 MESES A 7 MESES A 10 MESES A 2 ANOS > 2 ANOS Uso do preservativo na primeira relação sexual SIM NÃO Uso do preservativo nas relações sexuais subseqüentes SIM NÃO No contexto das práticas sociais a informação é um elemento de fundamental importância, pois é por meio do intercâmbio informacional que os sujeitos sociais se
5 comunicam e tomam conhecimento de seus direitos e deveres e, a partir deste momento, tomam decisões sobre suas vidas, seja de forma individual, seja de forma coletiva (ARAUJO, 1999). Tabela 3: Adolescentes participantes do estudo, por fonte de informações, conversa sobre sexualidade e a quem recorreria em casos de DST, Lobato, Variáveis N % Fonte de informações sobre a prevenção das DST ESCOLA MÍDIA PROFISSIONAL DE SAÚDE Conversa sobre sexualidade com AMIGOS PROFISSIONAL DE SAÚDE PROFESSORES PAIS Em caso de suspeita de DST a quem recorreria UNIDADE BÁSICA DE SAÚDE AOS PAIS AMIGOS PARCEIRO SEXUAL FARMÁCIA Os adolescentes representam um grupo que requer uma atenção diferenciada, pois iniciam a vida sexual com pouca idade, apresentam baixo conhecimento sobre as DST e percepção equivocada sobre o seu risco pessoal de adquirir essas doenças, considerando a ausência de práticas efetivas de proteção (DORETO; VIEIRA, 2007). Correspondente às perguntas norteadoras da pesquisa constatou-se que grande parte dos entrevistados 57% acertaram de 41-70% sobre quais doenças são DST. E somente 8% tiveram uma margem de acerto de %. O conhecimento das DST pelos adolescentes é básico. Porém não é diferente do estudo de Marques; Mendes; Tornis; Lopes; Barbosa (2006) e Jeolás; Ferrari (2003), onde encontraram um grau de conhecimento restrito dos adolescentes entrevistados, pois há confusão de algumas DST com outras doenças, tais como: câncer de mama, hemorróidas e leucemia.
6 Para Doreto; Vieira (2007), as mudanças ocorridas nas últimas décadas têm alterado o perfil das DST, transformando seu controle em um problema de saúde pública, não apenas por sua alta incidência e prevalência, mas por suas conseqüências, como as complicações psicossociais e econômicas, pois acometem a grande parcela da sociedade em idade produtiva e reprodutiva. Pois a maior parte desse conhecimento é proveniente da televisão e consiste em um conhecimento, às vezes superficial sem conseguir sensibilizá-los sobre o risco das inúmeras DST e de adoção de um comportamento seguro (HOLANDA et al., 2006). A Figura 01 representa o acerto dos adolescentes em relação ao conhecimento de quais doenças eram uma DST: 8% 35% 57% % % Figura 01: Conhecimentos sobre quais doenças são DST (n=51) Os resultados mostraram que 68% tiveram acerto de 41-70% sobre as medidas de prevenção, novamente a minoria com 6% tiveram acerto de %. Thiengo; Oliveira; Rodigues (2005) tiveram como destaque em seu trabalho a respeito das formas de prevenção: evitar grupos de risco, o uso de preservativos, realização de exame periódico, o uso de seringas descartáveis. No trabalho realizado por Marques et al. (2006) as respostas encontradas sobre as medidas de prevenção foram variadas e o método mais citado foi a orientação, seguido do acesso a métodos seguros e alguns responderam que seria evitando o contato sexual. O conhecimento das medidas de prevenção é fundamental para a redução das DST. Não basta apenas conhecê-las, é necessário que o adolescente as
7 incorpore em seu comportamento. No entanto, é necessário reconhecer que as condições de construção da autonomia estão mais ou menos colocadas conforme as relações e estruturas sociais em que adolescentes e jovens estão inseridos, marcadas por muitas formas de desigualdades (BRASIL, 2006c). Os dados encontrados na questão realizada sobre o conhecimento das medidas de prevenção de DSTS estão representados na Figura % 6% 68% % % Figura 02: Conhecimentos sobre medidas de prevenção (n=51) Interrogou-se, ainda, sobre o conhecimento deles acerca dos sinais e sintomas relacionados às DST (Figura 03). Houve uma correspondência dos resultados, 45% acertaram de 41-70%, e 45% acertaram de %. A análise dos dados permitiu chegar à percepção de que mesmo sendo a minoria que conhece mais quais doenças são DST, a grande maioria soube identificar os sinais e sintomas relacionados a elas.
8 10% 45% 45% % % Figura 03: Conhecimentos sobre sinais e sintomas de uma DST (n=51) Na aplicação de uma questão para os adolescentes relacionarem a seqüência correta do uso do preservativo através de figuras, observou-se que 63% não acertaram a questão. Este dado é preocupante, em se tratando que o preservativo é o método mais eficaz e utilizado para a prevenção das DST. Isto pode ser afirmado por Thiengo; Oliveira; Rodigues (2005), pois destacam que o uso da camisinha é o principal método para evitar um DST. Há uma expectativa por parte dos adolescentes de encontrarem em seus respectivos parceiros a reciprocidade na confiança que depositam neles, o que parece possibilitar não se comprometer com o uso do preservativo, aumentando sua vulnerabilidade (GELUDA et al., 2006). Uma pessoa pode tornar-se menos vulnerável se for capaz de reinterpretar criticamente mensagens sociais que a colocam em situações de desvantagem ou desproteção, mas a sua vulnerabilidade pode aumentar se a mesma não tem oportunidades de ressignificar às mensagens emitidas no seu entorno (DORETO; VILELA, 2007). A Figura 04 representa os dados encontrados em relação à seqüência correta do uso do preservativo.
9 Sim 37% Não 63% Figura 04: Seqüência correta do uso de preservativo CONSIDERAÇÕES FINAIS Escrever sobre a temática desta pesquisa foi uma tarefa desafiadora, pois as questões envolvidas no conhecimento dos adolescentes em relação às DST são extremamente complexas, porém identificou-se que o conhecimento dos adolescentes por meio da análise proposta pelo trabalho estabelece-se como mediano. Os adolescentes estudados têm perfil homogêneo, ou seja, pertencem à mesma classe social. A grande maioria dos adolescentes negou o início da atividade sexual e a existência de um namorado. Os que iniciaram a atividade sexual, afirmaram ter usado preservativo. As práticas sexuais destes adolescentes podem estar relacionadas às características de uma cidade de pequeno porte, onde os locais de lazer são geralmente em família. A estrutura familiar é composta por mãe e pai, os quais são os principais transmissores de informações sobre sexualidade aos adolescentes. A escola também tem papel importante, pois através dela os adolescentes também recebem informações. Percebe-se uma resistência por parte destes adolescentes em procurar os serviços de saúde em questões relacionadas à sexualidade, procurando-os somente em casos de uma DST instalada.
10 O conhecimento demonstrado pelos adolescentes participantes do estudo tem ênfase nos sinais e sintomas, e formas de prevenção. Para a identificação do nome das DST, este conhecimento é menor. Esta característica do conhecimento do adolescente sobre as DST pode estar relacionada ao aumento do acesso aos insumos de prevenção como: material de divulgação (folders, cartazes, entre outros) e o preservativo masculino na rede de atenção básica, fomentado pela política de prevenção brasileira, como também sofre constante influência da disseminação das informações pela mídia, principalmente televisão e internet. Também é importante considerar a situação de vulnerabilidade que os adolescentes podem estar vivenciando quando a grande maioria desconhece a forma correta de utilização do preservativo masculino. Saber como se utiliza o principal meio de prevenção é o primeiro passo para que a teoria passe a ser a prática dos adolescentes, diminuindo sua vulnerabilidade. A este respeito pode-se inferir que o conhecimento dos adolescentes ainda é superficial, pois sua fonte é muito mais informativa (mídia) do que educativa (escola e família). Após identificar como se estabelece o conhecimento dos adolescentes a respeito das DST, considera-se que programas de educação em saúde poderão ser realizados de forma mais próxima a real necessidade desta população. Os setores de saúde em parceria com a educação e com a família podem implantar projetos que busquem dar ao adolescente suporte para o desenvolvimento de seus conceitos com responsabilidade. REFERÊNCIAS ARAUJO, Eliany A. Informação, sociedade e cidadania: gestão da informação no contexto de organizações não-governamentais (ONG) brasileiras. Brasília, Brasil. Ci. Inf., V.29, n. 2, p , 1999.
11 BRASIL. Ministério da Saúde. Secretária de Vigilância em Saúde. Programa Nacional de DST e Aids. Diretrizes para implantação do Projeto Saúde e prevenção nas Escolas. Brasília: MS, 2006a. BRASIL. Ministério da Saúde. Coordenação Nacional de DST e Aids. Prevenir é sempre melhor 99. Brasília: MS, 2006b. BRASIL, Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção a Saúde. Marco teórico e referencial: saúde sexual e saúde reprodutiva de adolescentes e jovens. Brasília: MS, 2006c. DORETO, Daniella T.; VIEIRA, Elisabeth M. O conhecimento sobre doenças sexualmente transmissíveis entre adolescentes de baixa renda em Ribeirão Preto, São Paulo, Brasil. Caderno de Saúde Pública. Rio de janeiro, v. 23, n. 10, p , DORETO, Daniella T.; VILLELA, Wilza V. Sobre a experiência sexual dos jovens. Caderno de saúde Pública. Rio de Janeiro, v. 22, n. 11, p , GELUDA, Kátia; BOSI, Maria L. M.; CUNHA, Antonio J. L. A.; TRAJMAN, Anete. Quando um não quer, dois não brigam: um estudo sobre o não uso constante de preservativos masculino por adolescentes do Município do Rio de Janeiro, Brasil. Caderno de Saúde Pública. V, 22, n. 8, p , HOLANDA, Marília L.; MACHADO, Maria F. A. S.; VIEIRA, Neiva F. C.; BARROSO, Maria G. T; Compreensão dos pais sobre a exposição dos filhos aos riscos das IST/AIDS. Revista da Rede de Enfermagem do Nordeste. Fortaleza, v. 7 n. 1, p , IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Obtido via Internet, JEOLÁS, Leila S.; FERRARI, Rosângela A. Oficinas de prevenção em um serviço de saúde para adolescentes: espaço de reflexão e de conhecimento compartilhado. Ciências e Saúde Coletiva. Londrina, v. 8 n. 2, p , MARQUES, Elisângela S.; MENDES, Dione A.; TORNIS, Nicolly H. M.; LOPES, Carmem, L. R.; BARBOSA, Maria A. O conhecimento dos escolares adolescentes sobre as doenças sexualmente transmissíveis/aids. Revista Eletrônica de Enfermagem. V. 8 n. 1, p , THIENGO, Maria A.; OLIVEIRA, Denize C.; RODRIGUES, Benedita M. R. D. Representações sociais do HIV/AIDS entre adolescentes: implicações para os
12 cuidados de enfermagem. Revista Escola de Enfermagem da USP. V. 39, n. 1, p , 2005.
EDUCAÇÃO EM SAÚDE NA ESCOLA COMO ESTRATÉGIA DE PREVENÇÃO DE ISTS E GRAVIDEZ NA ADOLESCÊNCIA
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