Editorial. Expediente. Éramos 20...

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2 Expediente Éramos Editorial Editor-chefe Samilo Takara Diagramadores Camila Coelho Samilo Takara Revisores Débora Fuzimoto Rogério Camargo Repórteres dessa edição: Aline Fop; Camila Coelho; CamilaTsubauchi; Carla Abe Vicente; Débora Fuzimoto; Douglas Belan; Glarin Bif; Jéssica de Souza; Marcos Przygocki; Morgani Guzzo; Rogério Camargo e Samilo Takara. Tiragem: 200 exemplares Impressão: Gráfica Unicentro Todos os textos são de responsabilidade de seus autores e não refletem a opinião da Unicentro. O Jornal Laboratório Ágora é desenvolvido pelos estudantes do 4º ano de Jornalismo da Universidade Estadual do Centro-Oeste, sob a supervisão do professor Francismar Formentão. Para entrar em contato com a redação: (42) ou mande um para jornal_agora@ hotmail.com. Quando aconteceu parecia um acidente. De repente alguém, por descuido ou com toda intenção, bateu em uma caixa de tintas e derramou vinte cores em um momento pós-moderno. Contrastantes, iluminadas e cheias de vida, as cores eram totalmente desconexas para qualquer admirador de arte, até para os mais afinados. Essas cores não batiam em nada. Eram simplesmente 19 cores primárias. Uma delas, nunca foi vista entre as outras, mas por conveniência sempre esteve lá. E então, o tempo foi passando. Algumas cores foram desbotando como as lembranças de um velho amor ou de um amigo querido que viajou para longe. Outras foram ganhando destaque. Esse alguém, apenas olhava a dinâmica de tempo e espaço que não foi estabelecida para que essas cores se compreendessem ou decidissem se combinavam ou não. E não combinavam. Compunham. Dançavam a chamada valsa-vida. Uma fase que para todos pode ser experimentada de uma maneira particular, mas que vai apertar o coração de todos que a deixam. Essas cores-pessoas tiveram bons, maus, horríveis, perfeitos, amigáveis, fortes e intensos momentos juntas. Foram quatro anos. E o que parecia tão distante chegou à galope. E em 2010, a sexta turma de Comunicação Social Jornalismo já enfrentava tarefas de compor projetos, acompanhar disciplinas, desenvolver o temido TCC Trabalho de Conclusão de Curso. Foram quatro anos, que vivemos os meses de formas aleatórias, as semanas vencendo prazos, os dias perdendo-se na função de noticiar. As horas sempre foram deadlines e os minutos sempre foram contados em alguma locução daquele alguém que conta nossa história. Não será possível esquecer algumas cores, que ficam frescas na retina quando pensarmos em graduação. Será sempre possível ter o peito acalmado ao pensar que lutamos, que lutamos, que crescemos e decompomos um quadro que foi acidental. Essa obra de arte que está nas mãos do leitor é toda feita em cores. E a cada imagem em preto e branco, temos muito rosa, azul, verde, branco, roxo, vermelho, amarelo, laranja e tantas outras que essas escalas de cinza não podem contar. Alguns que ficam nesta instituição sentirão saudades, outros lembrarão com carinho e no ano que começa daqui a pouco, alguns só ouvirão histórias de cores-pessoas que queriam mudar o mundo. E não tem como dizer que não queríamos. A cada pauta, a cada entrevista, a cada trabalho, a cada discussão acalorada sobre teorias em sala, a cada bom ou mau gesto entre graduandos, nós sempre quisemos salvar o mundo. E nossa marca ficou no que disse sabiamente Regina de Oliveira, professora da disciplina de Redação Jornalística, no primeiro ano. Endureçam, mas não percam a ternura. Outras frases dela ficaram, mas não seria de bom tom citá-las. Ficaram outros grandes mestres e professores dedicados que nos instruíram na arte de contar histórias da vida real. Eram 19 cores e em quatro anos, apenas 12 delas ficaram. E talvez, menos delas amanhã se deparem com o desesperador mercado de trabalho. O futuro que parecia tão distante enquanto nossas pautas caiam no primeiro ano. E nessa hora, cabe citar a frase do professor Rodolfo Londero. Neste momento, já não me cabe falar mais nada. Agora nos resta seguir. Cada um a sua estrada, mas todos com um potencial que não será em momento algum questionado. Jornalistas. Cores-pessoas. Esta é nossa última edição. A sexta turma de Comunicação Social Jornalismo Elisa Roseira Ferreira Leonardi se despede da Universidade Estadual do Centro-Oeste com muita coragem para seguir, com algumas manchas coloridas pelo corpo e pela alma, pelas pessoas que conhecemos e pelo que elas nos tornaram. Nessa edição você encontrará as últimas matérias feitas por graduandos. E um dia, ainda lerá, ouvirá ou assistirá outras que foram feitas por estes jornalistas. Samilo Takara 02

3 por Rogério Camargo TOCA UM PARABÉNS AÍ! Banda Jovem completa 32 anos e tem muita história para contar Seguindo os olhares e gestos do maestro, cada músico se posiciona em seu devido lugar, de onde só sairá quando a apresentação houver terminado. Uma última conferida no uniforme e no instrumento. Basta um sinal do regente e todos os músicos se preparam: Atenção, banda, sentido!, é a ordem. Quando a batuta desce, o primeiro acorde ecoa. Forte ou fraco, depende do ambiente e da ocasião. Terminada a música, todos voltam à posição de sentido até que nova ordem seja proferida: Atenção, banda, descansar!. Essa é uma cena que se repete há mais de três décadas no cotidiano da banda que leva o nome do seu primeiro maestro e também fundador, Leonel Rossetim. Músico profissional, Rossetim deu início às atividades em 1978, na época com a então chamada Banda Pérola do Oeste. Esse nome foi herdado dos primeiros músicos que formavam a banda, um grupo de senhores que trabalhavam de dia e dedicavam-se à música durante a noite. A ideia de criar um grupo musical surgiu em parceria com a prefeitura, na época do então prefeito Cândido Pacheco Bastos, o Candinho, com o objetivo de incentivar e envolver os jovens no contato com a música. Como uma entidade que dava seus primeiros passos, a banda não deixou de enfrentar as dificuldades comuns a toda atividade ainda em fase inicial. Problemas com instrumentos e sede foram alguns dos muitos obstáculos que precisaram de muita paciência e perseverança para serem vencidos. No entanto, Leonel nunca desanimou, pelo contrário, sempre procurou incentivar os seus músicos mesmo em meio às adversidades. Era um misto de maestro e pai, assim o define o atual maestro, Celso Luiz Pinheiro, que está junto à banda desde o seu surgimento. A regência oficial da banda passou para as mãos de Celso em 1990, ano de falecimento de Leonel. Foi um choque para todos nós. Uma grande perda, principalmente porque era muito querido por todos, não só como músico mas também como pessoa, declara Celso, emocionado pela lembrança. A primeira sede da banda foi na rua Capitão Virmond, em frente à antiga churrascaria Costelão. Naquela época, Leonel era também regente da Banda Lira dos Campos, de Ponta Grossa, cidade onde morava. De lá, vinha ao menos três vezes por semana a Guarapuava para ministrar suas aulas. Depois disso, aconteceram outras mudanças de endereço. Da Capitão Virmond, para as salas da catedral Nossa Senhora de Belém, de lá, em 1993, para uma casa no parque de ex- 03

4 Rogério Camargo posições Lacerda Werneck e então, finalmente, no início deste ano, para a sede definitiva no Parque das Crianças. A primeira apresentação aconteceu no mesmo ano de sua fundação, 1978, no desfile cívico de 7 de setembro. Desde então, vem mantendo a tradição de tocar antes, durante e depois do evento. Contudo, a arte da banda jovem, como é mais conhecida, não se limita apenas à cidade. O primeiro concurso foi em 1982, na cidade de Antonina, onde representou o município de Guarapuava em uma competição estadual. Depois disso, vem participando de inúmeros eventos dessa natureza e coleciona vários títulos, medalhas e troféus. Entre eles estão os de bicampeã paranaense, e vice- campeã nacional, em 1994, na categoria juvenil na cidade de Socorro, SP. Estava à toa na vida, o meu amor me chamou pra ver a banda passar tocando coisas de amor Com o passar do tempo, muitas mudanças foram acontecendo na formação da banda. Alguns dos músicos saem para trabalhar em outras áreas, ou mesmo na música, mas em outros locais. Há casos, inclusive de alguns que foram embora para outras cidades e lá montaram as suas próprias bandas. Para compensar as saídas, novos aprendizes são admitidos para fazer parte do grupo. Em geral, isso acontece a cada dois ou três anos, dependendo da necessidade. E é nesse sentido que a banda desempenha um dos seus papéis mais importantes. Além do cunho cultural, ela também exerce uma função social, já que trabalha com jovens em idade entre 10 e 14 anos. Dessa forma, eles ocupam o tempo que fica livre depois da escola em uma atividade artística e ainda têm a oportunidade de aprender uma profissão. O tom de disciplina herdado da herança militar do fundador, o Sub-Tenente reformado Leonel Rossetim não assusta os jovens. Pelo contrário, a disciplina aprendida é uma das coisas que eles mais prezam. Rodrigo Lima Pires, 20, integrante da banda há nove anos, reconhece o valor de tudo o quanto tem aprendido. No começo, para mim, a banda era como uma distração. Mas com o tempo, eu fui percebendo a seriedade da coisa e hoje eu não me vejo sem a banda. É uma questão de amor., diz o músico, cuja especialidade é o trombone. Allan, dedicação e amor pela música fazem parte do cotidiano dos integrantes 04

5 Rogério Camargo Ensaios diários garantem a afinação há mais de 30 anos Até o ano 2000 a banda admitia apenas meninos em sua formação. Mas desde então devido à grande insistência, passou também a abrir espaço para a participação das meninas. Segundo o maestro Celso, a ideia foi recebida com grande entusiasmo pelas jovens interessadas na arte musical. A cobrança era muito grande por parte delas, logo, nada mais justo que pudessem também ter a oportunidade de participar, confirma. Foi assim que Mirella de Lima, 12, aprendiz desde 2009, pode entrar no grupo. Para ela, a banda sempre causou muita admiração, o que foi um grande estímulo para que quisesse aprender música. Eu sempre achei muito bonito. E também queria seguir o mesmo caminho do meu pai, que já participou da banda, afirma a aprendiz de saxofone. Junto com os aprendizes estão também aqueles que, de um jeito ou de outro, ainda conseguem conciliar as atividades da banda com empregos em outras áreas. Geferson Pereira, 37, músico há 24 anos, é um desses exemplos. Trabalhando em uma empresa da cidade, diz que mesmo com o corre-corre não consegue se imaginar sem a banda. Ela já faz parte da minha vida, né? Se um dia eu tiver que sair vai ser muito triste. Eu não vivo sem a banda, diz o trompetista, que hoje é o mais antigo músico da formação. Sabe aquela? A banda sempre tocou nos lugares mais diversificados, indo desde apresentações em eventos promovidos pela prefeitura, eventos particulares, até recepções a governadores, ministros de Estado, candidatos à presidência e generais. Dentre as apresentações mais marcantes, o maestro Celso ressalta a que aconteceu no Teatro Guaíra em Curitiba, em comemoração ao seu centenário, onde a banda fez uma das apresentações mais significativas de toda a sua história, dada a importância do lugar e da circunstância. O repertório também sempre variou muito, procurando atender a todos os gostos e situações, desde a música clássica, passando pela música popular brasileira e indo até as músicas que estão na boca do povo, de acordo com o sucesso do momento. A gente tem sempre que estar estudando, se atualizando, aprendendo. Temos sempre que ter músicas novas. A banda não sobrevive tocando apenas músicas dos anos 40. Esses dias mesmo fomos a um colégio e quando tocamos a música Thriller, de Michael Jackson, a criançada foi à loucura., confirma o maestro. ALGUMAS CURIOSIDADES - A banda já chegou a fazer em média 120 apresentações por ano, o que dá quase 4000 desde a sua fundação, há 32 anos. - A banda já tocou até em um velório. Segundo os familiares esse era o grande sonho do falecido. - Certa vez no município de Goioxim, um músico, depois das apresentações, se retirou a um canto para cochilar, e quando acordou percebeu que o haviam esquecido. Quando a banda já estava na metade do caminho de volta, alguém lembrou-se que, dentre todos, faltava um. Quando o maestro deu ordem para que voltassem, o mesmo músico que ficara para trás passou por eles na estrada, de carona com um deputado que estava passando pela cidade. - Em uma das viagens, de volta de Curitiba, quando o ônibus fazia uma curva, o bagageiro do ônibus se abriu ocorrendo a perda de vários instrumentos - Muitos dos músicos que começaram na banda como aprendizes, hoje atuam como músicos profissionais em bandas militares em várias partes do país, e outros são maestros de bandas em outros municípios paranaenses. 05

6 Para as situações mais formais a banda também garante um repertório variado, que inclui desde os clássicos como Mozart e Strauss, assim como tangos e boleros. Em sua maioria, esses arranjos vêm de amigos de outras bandas e também dos próprios músicos, que constantemente estão de olho nas estantes de partituras para que estejam sempre atualizadas. Aliás, esse é um dos motivos da popularidade da banda municipal, que consegue atingir os mais variados públicos. Luana Borchardt, 20, é estudante de pedagogia e admira o trabalho cultural realizado pelo grupo. São músicas muito boas e variadas. Além do mais, acredito que ela exerça uma importante função cultural na sociedade, já que suas apresentações são um meio de levar cultura para a população, complementa a jovem, para quem a música é também uma bela forma de educação. Maria Iolanda Brasil, 57, funcionária pública, é outra fã da banda. Iolanda acompanha o trabalho há muitos anos e destaca a importância para os aprendizes. Eu acho muito bonitas as apresentações deles. Eu assisto desde quando ainda se chamavam Pérola do Oeste. Acho muito importante o incentivo. Não adianta apenas a pessoa ter o talento, se não tiver incentivo, destaca. Para os jovens iniciados na música, o maestro Celso arremata: A música é a arte de expressar um sentimento através do som. E é preciso acima de tudo gostar. Depois, com muito esforço e dedicação, com certeza, a seu tempo, os frutos virão, conclui. Rogério Camargo Meninas também garantem seu lugar num espaço que era só de meninos 06

7 por Douglas Belan Jogo de mente que rende dinheiro Apesar do preconceito quanto à pratica do Poker, a modalidade tem federações, campeonatos oficiais e jogadores profissionais A legislação brasileira é clara quanto à proibição da prática de qualquer jogo de azar no país. Aos jogadores de poker, um alento: a modalidade foi reconhecida como esporte de inteligência pela Associação Internacional de Esportes da Mente, em março deste ano. Agora, o esporte pode ser comparado a modalidades como xadrez, dama e bridge. Com a falta de regulamentação para apostas, entretanto, o jogo on-line tem ganhado adeptos em todas as partes do mundo, incluindo Guarapuava. De apenas passatempo, o game virtual virou sinônimo de profissão para vários internautas. João Carlos Marcon é um desses que dedicam boa parte de seu tempo ao Texas Hold em. Empresário e professor, ele joga no site Full Tilt Poker, e também ministra aulas para iniciantes. Já chegou a ganhar US$ 1.780,00 em um único torneio pelo computador. Apesar de não se considerar profissional, admite que o esporte pode render uma boa quantia financeira. O poker é rentável na medida em que o praticante se especialize em um segmento, e jogue limites de valores nos quais a inscrição não afete sua forma de jogar. Conheço várias pessoas que já se profissionalizaram, como o Léo Bello, por exemplo, que é médico e hoje se dedica exclusivamente ao Texas Hold em, contou. Formado em Engenharia Ambiental pela Unicentro, Lessa encontrou no Poker o seu sustento financeiro. Ele conheceu o jogo ainda na época da faculdade e, pouco depois de conhecer as regras, já lucrava pela Internet. No mesmo dia em que aprendi, comentei com os meus amigos que era possível ganhar sem precisar de sorte, usando apenas técnica. Eles riram de mim e eu fui imediatamente pesquisar sobre [o jogo] na Internet. Nesse momento, já percebi que poderia ser um vencedor. No meio deste ano, um terceiro lugar em uma série mundial de poker on-line lhe rendeu o valor de US$ 140 mil. Com vários títulos e boas colocações em grandes torneios, ele conseguiu patrocínios, e agora pensa em investir em novos talentos. Investir em jovens valores é uma maneira muito interessante de se obter um rendimento maior. Outra forma é dando os chamados coach, que são aulas ministradas para jogadores que desejam melhorar seu desempenho. Os valores cobrados por essas aulas são consideravelmente altos, tendo em vista o bom retorno que o investidor terá em curto e médio prazo. Além das plataformas que oferecem o jogo virtual, há também os clubes de recreação, onde os jogadores pagam determinada quantia para inscrição e recebem premiação de acordo com a posição no torneio. Sócio de um clube de Guarapuava, Anderson ajudou a organizar o Campeonato Paranaense de Texas Hold em, em julho deste ano. Pouco antes disso, os torneios que realizava eram apenas entre amigos. Começamos com um grupo de poucas pessoas, jogando apenas por prazer. Montamos um clube pequeno e, com o dinheiro que arrecadamos, 07

8 Jogadores sentem falta de regulamentação pudemos nos mudar para um lugar maior, depois para outro, maior ainda. Atualmente, recebemos cerca de 30 pessoas por dia, isso quando não há torneios grandes. Entre os amigos que jogavam com Anderson de Lima estava Marcos Paulo Vieira, que hoje também é sócio do clube. Eu era vendedor de uma loja, e decidi abandonar a profissão para me dedicar ao jogo, algo que gosto de fazer. Depois disso, ganhei alguns campeonatos e hoje tenho uma renda maior do que tinha antes, falou. Jogo exige disciplina e equilíbrio emocional Para alcançar uma renda bem maior que a de engenheiro ambiental bem empregado, Lessa teve de se dedicar integralmente ao jogo. Atualmente, pratica de oito a 12 horas por dia, cinco dias por semana. Para ser um jogador vencedor é necessário que esteja apoiado em dois pilares principais: dedicação e equilíbrio emocional. Quando se tem essas duas características principais, facilmente pode-se suprir todas as outras que são necessárias para ser um profissional, opinou ele. Marcon também considera as duas características fundamentais, e confessa que perde um pouco seu tino para o esporte quando está abalado emocionalmente. O poker é um esporte mental, e como tal o praticante deve estar preparado para ter equilíbrio emocional nos altos e baixos de um torneio, que pode durar de dez a 12 horas. Deve ter frieza para perceber as informações corporais dos adversários. Sempre digo que a vida é um jogo de poker: no cotidiano, você se depara com situações em que precisa olhar para o vendedor na loja e ver o que está por tras daquela fala. De uma forma ou de outra, sempre tem alguém blefando, brincou. Apesar da popularização do poker em nível mundial, os jogadores profissionais ainda enfrentam preconceito da sociedade. Relacionado constantemente aos jogos de azar, a modalidade é praticada, muitas vezes, de forma escondida. Lessa, que hoje diz estar mais à vontade quanto à profissão, relatou que, antes, era repugnado. Só deixou de haver preconceito quando mostrei meu verdadeiro valor, brincou. De acordo com o delegado adjunto da 14ª SDP (Subdivisão Policial) de Guarapuava, Augusto Quincas dos Santos, não existe uma regulamentação clara quanto ao jogo. Não sabemos ao certo se é proibido ou não, e isso pode ficar a cargo até da Polícia Federal, confessou Santos. Segundo o delegado, só há fiscalização quando há algum tipo de denúncia e quando o jogo está atrelado a outros crimes. Geralmente, prendemos quando há caçaníqueis ou quando o proprietário utiliza o local para lavagem de dinheiro, tráfico de drogas, etc, falou. Algumas ocasiões em outros Estados podem servir de indício de que o jogo é legal. Numa liminar concedida no dia 30 de julho, a desembargadora Sônia Maria Schmitz, do Tribunal de Justiça de Santa Catarina, reconheceu o poker como jogo de habilidade. A decisão foi a favor da Overbet Eventos, empresa responsável pela organização do LAPT Florianópolis. A princípio, a Overbet Eventos tinha autorização para realizar o evento, mas essa foi subitamente negada pelo Secretário de Estado da Segurança Pública e Defesa do Cidadão, que considerou o poker ilegal, dizendo ser um jogo de azar. Com isso, a empresa recorreu ao Tribunal de Justiça, munida de laudos técnicos, decisões judiciais anteriores, e até mesmo uma carta do governador do Estado, expressando sua vontade, enquanto representante do Estado de Santa Catarina, em receber o evento. Após analisar a documentação, a desembargadora Sônia Maria Schmitz concedeu então um mandato de segurança para a realização do evento, considerando o poker como jogo de habilidade. 08

9 REGRAS DO POKER Assim como em muitos outros jogos, o objetivo do jogador de poker é vencer. Quer você jogue para se divertir ou para ganhar dinheiro, o poker vai testar o seu talento para táticas e a sua capacidade estratégica. Existem muitas variedades de poker, mas todas seguem o mesmo formato básico: - Os jogadores contribuem para a mesa (o prêmio) que contém fichas de brinquedo ou fichas que representam dinheiro de verdade. - São dadas cartas (mãos) a cada jogador, sendo que algumas dessas cartas ou todas elas são ocultadas dos outros jogadores. - São feitas rodadas de apostas, com base na qualidade das mãos. - Quando as rodadas de apostas acabam, o jogador com a melhor mão ou o único a continuar no jogo depois dos adversários terem desistido vence! Seja qual for o tipo de poker que você pretenda jogar, é fundamental que você conheça o baralho e que você compreenda bem o ranking de mãos. Em resumo, uma mão de poker consiste em cinco cartas. As mãos são classificadas em várias categorias, como flush, sequências ou dois pares. O jogador com a melhor mão ganha o jogo. Veja quais são os jogos possíveis, em ordem decrescente de valor. Royal Flush: Sequência de 10 ao ás do mesmo naipe: 10, J, Q, K, A. Sequência (Straight): Cinco cartas de valor consecutivo, independente do naipe. Straight Flush: Sequência de cinco cartas, todas do mesmo naipe. Trinca (Three of a Kind) Mão que contém três cartas iguais, independente do naipe. Quadra (Four of a Kind): Quatro cartas iguais, independente do naipe. Dois Pares: Mão com dois pares de cartas, independente do naipe. Full House: Mão formada por uma trinca e um par, independente do naipe. Um Par: Mão contendo um par de cartas independente do naipe. Flush: Conjunto de cinco cartas, todas do mesmo naipe. Carta Mais Alta (High Card):Cinco cartas completamente não-relacionadas. Em caso de empate, quem tiver a carta mais alta ganha. FONTE: 09

10 por Camila Coelho Venenos para emagrecer? O uso indiscriminado e irresponsável de medicamentos emagrecedores causa inúmeros efeitos colaterais, e as pílulas da felicidade que poderiam ser a solução de um problema tornam-se a fonte para muitos outros A primeira vez que tomei um remédio para emagrecer tinha 10 anos de idade. Hoje tenho 22, e desde a primeira vez, eu nunca parei. Já perdi a conta de quantas vezes eu busquei essas soluções rápidas. Muitas vezes, acho que a pressa e a preguiça, me levaram a procurar soluções momentâneas. Na última busca desses resultados, fiz uso de medicamentos derivados de anfetaminas, e ainda estou sentindo o prejuízo em minha saúde. As anfetaminas são drogas sintéticas produzidas em laboratório, possuem efeito estimulante na atividade mental. O grupo mais comum dos medicamentos comercializados compostos por seus derivados são: fenproporex, metanfetamina e dietilpropiona. Um outro tipo de anfetamina, porém não encontrado em farmácias e de uso ilícito, é a metilenodioximetanfetamina, conhecida popularmente como êxtase. O farmacêutico, pesquisador dos derivados anfetamínicos e professor da UEPG (Universidade Estadual de Ponta Grossa), Edmar Miyoshi, explica que os medicamentos para emagrecer possuem vários tipos de ações, alguns inibem o apetite, outros diminuem a absorção dos nutrientes do alimento pelo organismo, e outros, ainda, atuam na queima de caloria, sendo que os mais usados são os derivados anfetamínicos, e esses atuam na diminuição do apetite da pessoa diz Edmar. 10

11 O Brasil é o terceiro maior consumidor do mundo de medicamentos anorexígenos (inibidores de apetite) a base de anfetaminas. Sendo que a maioria dos usuários são mulheres que os utilizam para o emagrecimento. Uma pesquisa, realizada no sul do país, pelo Observatório Brasileiro de Informações sobre Drogas, revelou que cerca de 4,1% da população dessa região fez uso dessas drogas. Segundo o médico endocrinologista Osmário Edson Góes, a anfetamina é um medicamento que deveria ser usado com muita cautela, porque tem uma capacidade muito alta para gerar dependência química e seu uso possui muitos efeitos colaterais. Os remédios são um grande problema, porque o Brasil não é um país sério quanto à fiscalização enfatiza o médico. Ele explica que alguns desses medicamentos que eram comercializados e causavam danos a saúde das pessoas foram retirados do mercado, O Rimonabanto ajudava a emagrecer mas em compensação começou a provocar doenças psiquiátricas em quem fazia seu uso, também havia um medicamento chamado Dexfluramina, que começou a provocar problema na válvula cardíaca. Miyoshi afirma que um outro medicamento emagrecedor que também tem efeitos colaterais é a sibutramina. Já esta sendo retirada do mercado na Europa e nos Estados Unidos, completa. Ele relata que alguns dos efeitos colaterais mais comuns do uso indiscriminado e irresponsável dos emagrecedores são problemas cardíacos, alteração na visão, aumento da pressão arterial e alucinações. Para o psicólogo Angelo Bonateli Neto, esses medicamentos são importantes, mas é essencial que haja orientação em seu uso. Tenho percebido na prática profissional, que a medicação para emag- recer é útil se usada de maneira correta. Pois tem efeitos muito rápidos, que muita gente gostaria, o problema é que tem muita gente esta comprando por conta própria ou em médicos de não confiáveis diz o psicólogo. Segundo ele a dependência química, sintomas de delírios desagradáveis e principalmente a depressão são as piores consequências de uma utilização inadequada. Ele ainda alerta que quando o usuário para de usar a medicação, muitas vezes, volta a engordar, causando o efeito sanfona, e para tentar resolver o problema, as pessoas voltam a tomar os medicamentos para tentar emagrecer de novo, causando dependência. O poder destrutivo dessas drogas é grande, pois possuem potencial de gerar dependência química semelhante ao da cocaína. Seu uso indevido e prolongado pode provocar alterações psíquicas e lesões cerebrais, aumentando o risco de convulsões e overdose, os derivados anfetamínicos causam dependência, alerta o farmacêutico. As anfetaminas são estimulantes capazes de atuar desde como anorexígenos, gerar quadros de euforia, e até mesmo provocar vigília. Sua ação provoca aceleração do funcionamento mental, aumentando a liberação e o tempo de atuação dos neurotransmissores dopamina e noradrenalina no cérebro. Causa ainda uma alteração nas funções de raciocínio, Os remédios são um grande problema, e isso porque o Brasil não é um país sério quanto à fiscalização, Osmário Edson Góes - médico endocrinologista. Os medicamentos além de fazerem mal para saúde, ainda podem causar danos irreversíveis, portanto o adequado é uma reeducação alimentar, Marcela Brecailo - Nutricionista emoções, visão e audição, o que provoca sensação de satisfação e euforia. O usuário dessa droga tem insônia, perde o apetite, fica eufórico e com uma fala acelerada, sendo que os piores efeitos são irritabilidade, prejuízo do julgamento, suor, calafrios, dilatação das pupilas e convulsões. No Brasil, hoje, segundo o IBGE, quase 50% da população 11

12 Rebites As anfetaminas também são usadas, ilicitamente, por alguns caminhoneiros, pois alguns desses profissionais precisam dirigir horas sem descansar, utilizadas, nesses casos, para inibição do sono. São conhecidas pelos motoristas como Rebite. esta acima do peso e na maioria das vezes são essas pessoas que fazem o uso de tais medicamentos, porém antes de utilizar essas drogas é necessário conhecer o funcionamento do organismo humano e também compreender como e porque existe um acumulo de gordura. O médico endocrinologista Osmário Edson Góes explica porque as pessoas engordam, e segundo ele, isso é uma coisa bem complexa, às vezes você vem de uma família que já é mais gordinha, então seria a parte mais genética. Aí também tem o meio ambiente O problema é que tem muita gente comprando por conta própria ou em médicos não confiáveis, Angelo Bonateli Neto - Psicólogo em que a pessoa vive, e atualmente temos tendência a comer alimentos mais gordurosos e que engordam mais, por exemplo: lanches rápidos, fala o endocrinologista. Segundo ele, ainda existe outra causa de acúmulo de gordura que seria o fato de que nos exercitamos menos, hoje em dia, devido a modernidade, antes você tinha que levantar para mudar o canal da sua TV, hoje você só aperta o botãozinho diz o médico. Góes ainda explica que também existem as doenças que fazem com que as pessoas engordem, como problema de tireóide ou nas glândulas supra-renais, ou até mesmo doenças psiquiátricas em que a ansiedade aumenta e as pessoas começam a comer mais finaliza o endocrinologista. Por isso, é importante que os hábitos se tornem saudáveis e o emagrecimento ocorra de uma maneira saudável como explica a nutricionista Marcela Brecailo. Os medicamentos além de fazerem mal para saúde, ainda podem causar danos irreversíveis. Portanto o adequado é uma reeducação alimentar e que o peso não seja perdido rapidamente de uma vez só, mas sim de maneira gradativa por meio de uma mudança de hábitos. Ainda, segundo a nutricionista, o emagrecimento não acontece de maneira igual para todos, mas na maioria das vezes é preciso aumentar o consumo de frutas e verduras e diminuir açúcares e gorduras, quanto mais colorido for o prato melhor e o ideal é que se consumam 3 porções de frutas por dia, completa Marcela. Que esse processo não é fácil e nem simples todos sabemos, mas o importante é realizar escolhas que façam bem para nossa saúde física e mental. Sempre com apoio de vários profissionais responsáveis da área, que façam as melhores indicações para cada tipo de organismo. 12

13 por Jéssica de Souza Em inglês: TO WORK Cada vez mais jovens trocam as férias da universidade pelo trabalho nos Estados Unidos oferecido por agências de intercâmbio Arquivo pessoal Carlos trabalhou como pedcab em San Diego, estado da Califórnia, por um ano O que era para ser um intercâmbio de três meses virou uma experiência de um ano para o publicitário Carlos Marochi, 23 anos. Em 2007, ele decidiu que iria para os Estados Unidos trabalhar durante as férias da universidade. Por vários motivos ele trocou o Natal com a família e a virada de ano na praia com os amigos, para trabalhar como pedcab em San Diego, no estado da Califórnia. Pedcabs são muito comuns por lá, são bicicletas que fazem o papel de um táxi e o motorista ganha por corrida. Foram três motivos que me levaram a fazer o intercâmbio: melhorar meu inglês, que não era muito bom, ganhar dinheiro e me divertir,conta Carlos, que depois de três meses, quando já era hora de voltar para o último ano da faculdade, decidiu ficar. Eu já estava lá mesmo e o mais difícil eu já tinha feito, que era pagar a viagem, encontrar um emprego e um lugar pra morar, então por que não ficar mais?. Depois de muita burocracia, ele conseguiu mudar o visto de trabalhador temporário para estudante, se matriculou em uma escola de inglês e só voltou para casa em dezembro de 2008, um ano depois de ter pousado em uma das cidades mais agitadas da costa oeste norte-americana. A modalidade de intercâmbio que Carlos escolheu foi aquela em que um universitário, obrigatoriamente, trabalha nos Estados Unidos 13

14 Arquivo pessoal Nos dias de folga, Sttenio praticava snowboard na estação em que trabalhava Au Pair Programa de trabalho remunerado que une estudo, trabalho e turismo. A forma de intercâmbio mais barata oferecida pelas agências leva os participantes para países como Estados Unidos, França, Holanda, Áustria e Alemanha para cuidarem de crianças e morarem na casa dessas famílias. Mas as babás precisam estudar e, além de receberem para isso, sempre sobra tempo para conhecer o país em que estão. Em geral, o programa tem duração de um ano. durante as férias da faculdade. No entanto, essa é apenas uma das diversas opções que as agências de intercâmbio oferecem, mas é de longe uma das mais procuradas. Em 2007, foram estudantes, de uma única agência, que optaram por essa modalidade. Nosso programa para universitários trabalharem nos Estados Unidos é o trabalho de férias, onde o estudante universitário pode trabalhar nas férias aqui do Brasil, indo para os Estados Unidos e acaba voltando com dinheiro no bolso, além da experiência adquirida, explica Mônica Oliveira, diretora educacional de uma das maiores agências de intercâmbio do Brasil. Sttenio Costa, 21 anos, também decidiu ficar longe de casa e fez o mesmo programa que Carlos. Ele partiu para o estado americano de Connecticut em novembro de 2008 e voltou em abril de O Work Experience se apresentou como melhor opção pelo prazo do programa e pelo fato do trabalho ser uma boa forma de eu me manter em um país diferente, ressalta Sttenio. Durante o tempo longe do Brasil, o intercambista tem que se acostumar com a cultura diferente, comida e aguentar a saudade de casa e dos amigos, mas, segundo Sttenio, vale à pena. Eu aprendi a conviver com pessoas muito diferentes de mim e respeitar a opinião dos outros. O contato com a cultura americana também ajudou a ampliar minha visão de mundo e conhecer o Brasil de um ponto de vista inédito. Mas nem só de bons momentos é feito um intercâmbio. Muitos estudantes enfrentam diversos problemas antes, durante ou depois da viagem. A estudante de terapia ocupacional, Taiuani Marquine, ao chegar na estação de ski em que iria trabalhar, não se acostumou com o clima frio e nem com o trabalho. O empregador tinha contratado muitas pessoas para trabalhar lá, então quando eu cheguei não tinha muito o que fazer e como lá se ganha por hora, quanto menos horas eu trabalhasse, menos dinheiro iria ter para me sustentar diz Taiuani. Cursos de Idiomas Um dos programas mais flexíveis, e mais procurados, que as agências de intercâmbio ofertam. Nele o participante viaja para outro país para aprender ou aprimorar um idioma e tem a opção de ficar em casa de família, hotel ou até mesmo residências estudantis. Os idiomas mais procurados são: alemão, espanhol, francês, inglês e italiano. Além disso, os destinos são variados também: Austrália, Nova Zelândia, França, Itália, Espanha, Inglaterra, Bélgica, Estados Unidos, Canadá, entre outros. Um curso de francês, em Paris, com duração de 4 semanas e acomodações em casa de família - em quarto duplo e com café da manhã - sai por, aproximadamente, 4 mil reais, sem contar as passagens de ida e volta. Arquivo pessoal 14 Como trabalhava próximo a Nova York, Sttenio ia sempre passear na cidade

15 Arquivo pessoal Taiuni teve que viajar mais mil km para encontrar um novo emprego Ela conta que chegou a entrar em contato com a agência de intercâmbio no Brasil, mas que não obteve resposta, por isso teve que procurar outro emprego sozinha. Por sorte eu tinha um amigo na Flórida, que trabalhava em um posto de gasolina na cidade de Orlando, falei com ele e ele disse que eu poderia ir trabalhar lá. Ela viajou mais de mil quilômetros entre Nova York e Flórida em busca de um novo emprego. Já a estudante de odontologia, Thais Manhães, enfrentou outro tipo de problema. Todos os trabalhadores temporários ao chegarem nos Estados Unidos precisam tirar o Social Security Card, uma espécie de CPF norte-americano, que lhe permite trabalhar lá. Quem não tem esse documento é considerado um trabalhador ilegal. Mas, mesmo Thais tendo ido viajar por meio de uma agência de intercâmbio, ter tirado o visto de trabalhador temporário, ou seja, ter feito tudo certo, por algum motivo a imigração não concedeu o seu Social Security Card e ela não pode trabalhar. Foi bem difícil, já que eu tinha ido pra lá pensando em me manter com dinheiro que receberia em meu emprego, por sorte uma amiga estava em Reno, no estado de Nevada e eu fui pra lá passar um tempo com ela, mas nunca consegui um emprego. Thais assim, como Taiuani, também entrou em contato com a agência de intercâmbio aqui no Brasil, mas também não obteve nenhuma resposta. Segundo Mônica Oliveira, é importante que as agências deixem claro no pré-embarque que o intercâmbio é um programa de relacionamento e de aprendizado e não um pacote turístico. Portanto, quem for fazer intercâmbio deve ser uma pessoa com uma mentalidade mais aberta para aceitar diferenças culturais e uma certa maturidade para conseguir enfrentar dificuldade relacionadas à cultura. Além disso, ela ainda fala que a empresa utiliza ferramentas como skype, telefones e s, que ficam à disposição do cliente em caso de necessidade. Colegial/High School Nesta opção o participante deve estar cursando o ensino médio no Brasil e viaja para outro país para continuar lá seus estudos, durante 6 meses ou um ano. São mais de dez destinos, entre eles Holanda, Suíça e Irlanda e os alunos ficam em casa de família. Trabalho Voluntário Neste programa o participante trabalha voluntariamente em projetos sociais ajudando pessoas ou animais e nas taxas do programa já estão incluídas alimentação e acomodação. O programa pode ser feito na África, na Índia ou no Peru. Trabalho nos EUA Mesmo programa feito por Carlos, Sttenio, Taiuani e Thais. Um universitário vai aos Estados Unidos para trabalhar durante as férias da faculdade e recebe por isso. O programa custa cerca de 7 mil reais, sem alimentação e acomodação, mas já com as passagens áreas inclusas. 15

16 por Camila Tsubauchi Atuação sindical ainda existe O sindicalismo brasileiro está entre os mais ativos do mundo e o Sindijor-PR é um dos exemplos no Estado Quando se pensa em sindicalismo no Brasil logo vem à cabeça a palavra greve. Foi assim que as principais classes de trabalhadores, como os metalúrgicos, petroleiros e bancários, conquistaram seus direitos e contribuíram para a consolidação das leis trabalhistas no país. Hoje, a situação mudou e a atuação sindical perdeu ritmo. Segundo Armando Boito, autor do livro Política neoliberal e sindicalismo no Brasil (Editora Xamã), essa queda está ligada à expansão industrial. As centrais sindicais foram instaladas em áreas de grande produção, como o ABC paulista, e limitavam sua atuação àquela região. Depois que as empresas começaram a ocupar o país, buscando cidades nas quais impostos e mão-de-obra fossem mais favoráveis, essa centralização foi negativa. Veja-se o caso do Brasil, onde as montadoras estão abrindo ou ampliando instalações em regiões de pouca ou nenhuma tradição sindical. No curto prazo, isso debilita o sindicalismo. Atemoriza os metalúrgicos organizados do ABC e não cria focos novos de sindicalismo operário no Brasil, afirmou Boito. Existe também um comodismo por parte dos trabalhadores. Parece que a garantia de alguns direitos básicos conquistados lá atrás, ainda na Era Vargas, já são suficientes para a manutenção da rotina. No entanto, aqueles que não se contentam com pouco e querem negociar salários, participar dos lucros e serem valorizados pelo serviço que prestam ainda lutam. Os bancários são os mais ativos hoje em dia. Em 2009, a greve durou quase um mês e complicou a vida de milhões de pessoas. Este ano, foram duas semanas de portas fechadas gerando a conquista de 7,5% de reajuste salarial. Mas alguns perderam credibilidade ao longo do tempo ou foram repreendidos pelo governo federal. Os funcionários públicos, por exemplo, foram pintados como marajás devido à estabilidade de seus empregos e salários, sendo vistos com maus olhos pela população que depende de seus serviços. Mesmo assim, são os que causam maior impacto na sociedade quando decidem entrar em greve. Mesmo desacreditado, o sindicalismo brasileiro ainda está entre os mais participativos do mundo. Segundo Eduardo Nogueira, autor do livro Entre a lei e a arbitrariedade: Mercado e relações de trabalho (Editora LPR), hoje os sindicatos estão em seu grau de atividade normal. O sindicalismo fica frágil se comparado ao período de seu intenso crescimento, que é uma lente que distorce sua compreensão e que produz a concepção de que a perda Divulgação 16

17 de ação sindical parece ser muito maior do que realmente é, completou Nogueira. Na verdade, segundo sua pesquisa, essa perda está ligada à diminuição de greves ocorrida nas últimas décadas. É preciso entender que as greves eram a maneira encontrada pelos sindicatos para entrar em negociação. Atualmente, ela é o último recurso adotado após as negociações. Um sindicato não tão tradicional Fugindo um pouco do comum, deixando de lado bancários, metalúrgicos, professores, surge o Sindijor-Paraná (Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Paraná). Apesar de pouco conhecido entre a população, ele existe há mais de 50 anos e representa cerca de 4 mil sindicalizados no Estado. Criado durante a instalação do primeiro curso superior de jornalismo no país, sempre se mostrou atuante. Já em 1957, poucos anos depois de sua consolidação, o primeiro acordo coletivo foi assinado delimitando o piso salarial da categoria. Alguns anos depois, em 1963, uma greve geral foi liderada pelo Sindijor, parando grande parte dos profissionais da capital. Em Curitiba, o Sindijor não faz vista grossa às ações dos patrões, garantindo o piso salarial e todos os direitos garantidos pela convenção coletiva. No interior do Estado, a história é outra e a vida de jornalistas não é tão fácil de se levar. Paula de Assis Fernandes terminou sua graduação há três anos, e, como todo bom jornalista, deu a cara a tapa no mercado. Depois de um ano trabalhando na Bahia voltou ao Paraná com proposta de emprego em Campo Mourão, região Noroeste do Estado. Há um ano e seis meses, ela contribui com a cobertura jornalística da cidade sem ganhar o piso salarial, hora extra ou anuênio e cumprindo uma jornada de trabalho maior do que a prevista. Eu trabalho em um jornal bi-semanal que em janeiro vai virar diário e mesmo assim não existe proposta de aumento de salário, disse Paula. Isso é coisa de empregador picareta, porque o acordo deve ser respeitado, Márcio de Oliveira Rodrigues, presidente do Sindijor-PR. Jornalistas do Jornal do Estado mobilizados contra a redução do piso salarial Divulgação 17

18 Arquivo pessoal Eu e uma colega entramos em contato pra trazer o Sindicato pra cá, mas parece que não existe interesse, Paula de Assis Fernandes, jornalista. Em Campo Mourão, os únicos que possuem seus direitos garantidos são os repórteres de TV, cuja a emissora tem Curitiba como sede. Para Márcio de Oliveira Rodrigues, presidente do Sindijor-PR, isso é um desrespeito ao profissional e à convenção coletiva entre patrões e sindicato. Isso é coisa de empregador picareta, porque o acordo deve ser respeitado, completou. Mas os responsáveis por cobrar esse respeito não possuem representatividade no interior do Estado. O problema é que o sindicato mais próximo fica em Londrina, há 200km de distância, e representa apenas a microrregião da cidade. Nesse caso é preciso ir até a capital, há 450km, para ser ouvido. Segundo Paula, s e telefonemas não surtem efeito. Em um ano e meio eu já liguei, pelo menos, três vezes e mandei zilhões de s, mas até agora nada (sic.). Para que o Sindicato realmente funcione é preciso uma contrapartida. Dos 4 mil membros, apenas 2500 mil estão em dia com o Sindijor e participam ativamente dos eventos e manifestações promovidos. Paula ainda não é sindicalizada e acredita que seja esse o motivo da falta de atenção às suas reclamações. Segundo Márcio, não é esse o discurso da organização. O Sindijor não existe pra defender somente os sindicalizados, e sim a categoria profissional. Nós representamos 25% da força de trabalho jornalística do Estado, mas lutamos pelos direitos coletivos, defendeu. Christian Miguel da Silva é formado pela Universidade Estadual de Ponta Grossa, mas atualmente trabalha no Estado de São Paulo. Ele admite que falta engajamento por parte dos trabalhadores, mas acredita ser resultado da dissonância entre os patrões e os sindicatos. Segundo ele, é preciso atuar de forma mais prática e não tão ideológica. Não adianta se prender a discussões corparativistas, se exige diploma ou não, se precisa de uma agência reguladora ou não. O que os jornalistas precisam é de uma pauta concreta na mesa. Vamos lutar pra caçar o registro dos jornais que contratam abaixo do piso ou lançar uma diretriz a ser seguida pelas ementas de todas as universidades, argumentou. O jornalista admite a importância da organização, mas desconfia das intenções políticas dos sindicatos. O problema é a utilização política dos sindicatos, quando os dirigentes acabam legislando em causa própria em vez de defender os interesses da classe. Eu sou sindicalizado, mas não por interesse, e sim, porque é obrigatório no veículo onde eu trabalho, finalizou Christian. Paula compõe o grupo que ainda acredita nas intenções sindicais. Em busca de um pouco de atenção, a jornalista vai até Curitiba durante essa semana para tratar de sua sindicalização. Eu acho importante e é muito barato, só 1% do piso pra ter seus direitos garantidos e nunca mais ter dor de cabeça com patrão por causa de salário. Mas, pra isso, eu preciso viajar até a capital, diz. E realmente é impossível efetuar o registro sem se deslocar até a sede, o que acaba contribuindo para o baixo número de membros atuantes. É longe, demanda tempo e dinheiro, finalizou Paula. Segundo Márcio, existe uma alternativa que pode agilizar o processo, mas ainda assim é indispensável o comparecimento na sede. Se todos os documentos forem enviados antes nós damos entrada na sindicalização. Depois é só passar aqui rapidinho e assinar, argumentou. Para Paula, se o Sindijor estivesse mais presente no interior e descentralizasse o processo de registro mais pessoas participariam. Eu e uma colega entramos em contato pra trazer o Sindicato pra cá, mas parece que não existe interesse. O presidente afirma que fundar a sub-seção regional de Campo Mourão é uma das metas do Sindicato, mas para isso são necessários pelo menos 20 membros. Não adianta querer fazer a revolução sozinho, concluiu Márcio. Paula trabalha há um ano e meio e não recebe o piso salarial, anuênio ou horas-extra 18

19 Uma tradição de censura Não adianta se prender a discussões corparativistas, se exige diploma ou não, se precisa de uma agência reguladora ou não. O que os jornalistas precisam é de uma pauta concreta na mesa. Vamos lutar pra caçar o registro dos jornais que contratam abaixo do piso ou lançar uma diretriz a ser seguida pelas ementas de todas as universidades Christian Miguel da Silva, jornalista. Em agosto deste ano os jornalistas paranaenses aprovaram uma nova pauta, com reajustes e melhorias trabalhistas, para compor a nova convenção coletiva entre Sindicato e patrões. O ponto principal era o aumento real de 5,58% sobre o piso de R$2049,11, aliado à outras propostas de avanço. A pauta foi recusada pelos sindicatos patronais. Segundo o presidente do Sindijor-PR isso já era esperado. Há 10 ou 12 anos que os patrões desconsideram nossas propostas e vem com perda de direitos. O sindicato acaba negociando e conseguindo a renovação do acordo, reposição e abono. Agora queremos um aumento real, completou Márcio. Mas esse ano as negociações foram mais longe e os patrões apresentaram uma contraproposta absurda, na visão sindical. O piso salarial seria mantido apenas na capital e reduzido para R$1200 no interior do Estado. Para Márcio isso é um retrocesso. Nós temos que lutar por melhorias e não voltar atrás do que já foi conquistado. Para que os patrões percebessem o descontentamento dos jornalistas paranaenses, o sindicato entrou em assembléia permanente e aprovou o indicativo de greve. Caso os donos de veículos de comunicação não recuassem os jornalistas do Estado parariam de trabalhar. A adesão ao movimento foi grande, agregando não só sindicalizados, mas profissionais como Paula também. Eu ainda não faço parte do sindicato, mas acho importante defender os interesses da nossa classe, diz. Na quintafeira, dia 11 de novembro, os jornalistas do Estado se vestiram de preto e roxo em forma de protesto pelos 14 anos sem aumento real de salários. As cores tomaram as redações de Curitiba tingindo grandes veículos de comunicação, como o Jornal do Estado. Franklin de Freitas é repórter fotográfico do JE e confirma a participação. Algumas pessoas ainda têm medo de perder seus empregos, mas aqui no jornal até a chefe de redação participa da mobilização, completou. O apoio popular é indispensável para que uma manifestação tenha sucesso. Foi o que aconteceu com os bancários. Mas para se ter apoio da população é preciso visibilidade e a maneira mais eficiente de alcançá-la é pela mídia. Então se a eficiência de uma greve depende da atuação da mídia o que fazer A Pauta Sindical dos Jornalistas A nova pauta discutida pelo Sindijor-PR e os sindicatos patronais inclui: - Reposição integral de 4,68%; - Aumento real de 5,58%; - Plano de saúde de 90%; - Vale alimentação 25 dias por mês, com valor diário de R$9,50; - Aumento da licença maternidade para 180 dias; - Pré-aposentadoria de 5 anos; - Adicional noturno de 50% - Adicional de 55% para editores; - Adicional de 75% para cargos de chefia; - Registro obrigatório de cartão-ponto; - No mínimo 70% de produção jornalística local; - Obrigatoriedade de autoria das reportagens; - E um jornalista responsável em todo e qualquer veículo de comunicação; 19

20 Se um jornalista noticia alguma coisa sobre greve da classe ou que diga respeito aos patrões é possível que no outro dia alguém peça a cabeça dele, afirmou Márcio. quando a greve envolve a própria mídia? Essa é a realidade dos jornalistas brasileiros. Desde setembro um indicativo de greve está em negociação e, no entanto, a população não tem conhecimento. Segundo Márcio, isso ainda é comum no Brasil. Se um jornalista noticia alguma coisa sobre greve da classe ou que diga respeito aos patrões é possível que no outro dia alguém peça a cabeça dele, afirmou Márcio. A solução é apelar para as mídias alternativas e para a confrontação direta com os patrões. A Internet tem sido uma grande aliada. Os barões da comunicação estão se deparando facilmente com a mobilização, principalmente pela Internet, nas reuniões de negociações e até mesmo nas redações. O mais importante é mostrar que os jornalistas estão descontentes, diz Franklin. Apesar do receio em serem repreendidos alguns jornalistas, como Franklin, foram mais longe e participaram de protestos durante as reuniões dos sindicatos patronais. Éramos cerca de 30 pessoas, mas fizemos diferença. Não digo que conseguimos pressioná-los, mas eles nunca passaram por algo parecido. Surtiu algum efeito, defendeu. As reivindicações do Sindicato dos Jornalistas são baseadas em pesquisas de mercado realizadas pelo DIEESE (Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos) que comprovam o crescimento de 40% acima da inflação nos lucros dos veículos de comunicação do país. Nós só queremos um reajuste equivalente ao crescimento conquistado com o nosso trabalho. E o que pedimos é totalmente viável no momento econômico vivido, finalizou Márcio. Um exemplo de sindicalismo Falta engajamento dos trabalhadores na luta por seus direitos. O comodismo ou até mesmo um certo egoísmo (se eu estou empregado e tenho meus direitos não me importo com o resto) contribuem com a perda de força dos sindicatos brasileiros. É preciso incentivar essa mobilização política e social desde o início da vida acadêmica, fortalecendo a formação de CAs (Centro Acadêmico) e DCEs (Diretório Central de Estudantes) nas universidades. O próprio presidente do Sindijor-PR é um exemplo. Márcio participou de movimentos estudantis desde que entrou na faculdade, em No ano seguinte já fazia parte do CA e do DCE, e só deixou de participar quando se formou. Você precisa tomar a iniciativa, fazer sem ser convidado, só assim consegue espaço para reivindicar seus direitos, diz Márcio. Seguindo o mesmo caminho está Cleber Moletta, calouro de jornalismo da Unicentro. No finalzinho de seu primeiro ano de faculdade ele foi eleito assessor de comunicação do DCE da universidade. Acho importante participar de movimentos estudantis porque você se torna responsável pelo que acontece e não fica julgando ou culpando os outros pela falta de estrutura, argumentou. A pretensão é continuar contribuindo com o desenvolvimento da instituição, mas dar espaço para outros. Eu pretendo ficar apenas uma gestão no DCE porque eu acho importante a rotatividade de cargos. Só assim você faz com que outras pessoas se mexam, completou Cleber. O problema é que muitos profissionais que participavam de movimentos estudantis saem decepcionados da faculdade. Eles acabam entrando no mercado de trabalho sem aderir efetivamente à busca por direitos trabalhistas com base em suas experiências anteriores. É o caso de Renata Caleffi, jornalista formada e ex-integrante do Centro Acadêmico de Comunicação Social da Unicentro. As pessoas não davam muita bola pro que a gente encarava como problema e muito menos para as nossas soluções. Nem os alunos demonstravam interesse. Essa falta de incentivo e de valorização dos movimentos estudantis pode ser a raiz do problema sindical. Se a mão-de-obra não for qualificada desde o início, não haverá profissionais motivados no mercado de trabalho. Eu perdi a crença no movimento estudantil e acabei trazendo isso comigo. Me conformei que as coisas são assim e não vão mudar, diz Renata. 20