COMUNICAÇÃO COORDENADA O USO DA PLATAFORMA MULTIMÍDIA PELO RÁDIOJORNALISMO NA INTERNET BRASILEIRA

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1 II ENCONTRO NACIONAL DE PESQUISADORES EM JORNALISMO SOCIEDADE BRASILEIRA DE PESQUISADORES EM JORNALISMO SBPJor FACULDADE DE COMUNICAÇÃO - UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA 26 E 27 DE NOVEMBRO DE 2004 SALVADOR BAHIA BRASIL COMUNICAÇÃO COORDENADA O USO DA PLATAFORMA MULTIMÍDIA PELO RÁDIOJORNALISMO NA INTERNET BRASILEIRA Álvaro Bufarah Junior (FAAP e Centro Universitário 9 de Julho) 1 Resumo: Quando pensamos no rádio na Internet fazemos uma série de indicações sobre os tipos de emissoras (on line e off line) sobre utilizarem a rede ou não como mais um canal de comunicação. Com base nesses tópicos acabamos diferenciando esta nova modalidade de rádio em função das possibilidades contidas na plataforma multimídia da Internet. Enfim, focamos nos conceitos e alguns estudos de casos, mas pouco falamos dos reais produtos e serviços disponíveis na plataforma da Internet que favoreçam um novo relacionamento dos ouvintes/usuários, dos profissionais e das próprias emissoras com este formado de rádio que ainda foi pouco explorado. Dessa forma, proponho uma leitura sobre as possibilidades de utilização dos recursos multimídia do rádio na rede. Com isto, acredito chegar em um modelo do que seria possível utilizar nas emissoras de rádio na Internet, com baixo custo e muita criatividade. Nesse contexto incluo o radiojornalismo que pode ser muito mais ágil e vivo, contrariando a forma sisuda ou popular que é feito em muitas emissoras (abertas) do Brasil. Por fim, volto à linha que defende a necessidade de uma melhor capacitação profissional que gere uma melhor programação, que por sua vez atrai a atenção dos ouvintes/usuários. Palavras-chave: rádio; multimídia; Internet; 1) O rádio digitalizado: um caminho sem volta

2 O rádio na Internet é resultado direto do processo de digitalização das emissoras e do processo de popularização da rede mundial de computadores, ambos ocorridos nos anos 90. O ponto de referência está na conversão das informações sonoras em linguagem binária (zeros e uns), apresentando três variáveis tecnológicas segundo seus canais de emissão: o rádio digital via satélite, o digital via terrestre e o radio digital na Internet, sendo este último o formato mais recente que esta estabelecendo novas fronteiras para comunicação permitindo o acesso a áudio, textos, vídeos e fotos, além de possibilitar a audição de programas arquivados após as emissões ao vivo, facilitando a interatividade com os ouvintes que passam a ter status de usuários (CAMPOS e PESTANO, 2004: 1). Ao analisarmos a história do desenvolvimento da comunicação humana percebemos que até o início das comunicações de massa, o processo estava baseado no contato de um para um. Com os veículos eletrônicos (rádio e mais tarde a TV) passamos a ter a relação de um para muitos. Já dentro da plataforma multimídia da rede esta comunicação se faz de muitos para muitos, simultaneamente indicando um novo formato diferenciado aberto ao publico geral da Internet (um site ou portal) ou para segmentos específicos (grupos e chats). Para NEGROPONTE, pensar multimídia implica em ter uma noção de movimento e interação entre as linguagens, de um meio para outro, levando ao mesmo conteúdo em formas diferentes, invocando vários sentidos humanos, envolvendo a tradução de uma dimensão (tempo) para outra (espaço) (1996:73-75). A base para este processo esta no hipertexto que para FIDLER, possibilita ir além da bidimensionalidade de uma página impressa (largura e altura), agregando uma terceira dimensão: a profundidade, identificada pela vinculação de conteúdos de forma seqüencial. Conseqüentemente, a hipermídia revela a quarta dimensão: o tempo, incorporando vínculos de áudio e vídeo (1997:86). BOONE afirma que as ações propostas pela hipermídia e por quem a experimenta é que vão determinar a interatividade, sendo o mouse a interface mais utilizada pelos usuários, podendo ser comparado a um prolongamento da mente e um guia da nossa curiosidade, proporcionando a interação entre o leitor e a máquina (2000:11). As novas formas de linguagem baseadas em plataformas multimídias, que possibilitam uma maior interatividade entre os usuários e o conteúdo na Internet, criam a

3 necessidade de uma reavaliação dos processos comunicacionais por vários ângulos, sejam econômicos, políticos ou culturais, levando os veículos de comunicação a um reordenamento de suas funções. O rádio não ficou imune a este processo, nesse contexto CAMPOS e PESTANO citam CEBRIAN afirmando que havia dois modelos de rádio: o generalista (modelo tradicional de programação de informações, opiniões e entretenimento) e o temático (que compreende as emissoras com programação monotemáticas como informações, música, economia, deporte, educação). A esses formatos somamos o convergente (onde se integram os serviços sonoros, visuais, e escritos) efetivamente o modelo de rádio multimídia baseado na Internet (2004: 6). Os mesmos autores indicam que a entrada de uma emissora aberta na rede tem dois objetivos básicos: ter uma presença institucional e utilizar a web como mais um canal de distribuição da programação, ampliando a cobertura para um novo mercado ainda não explorado (2004:08). As emissoras de rádio na rede passam por um processo de desenvolvimento para se integrar ao novo suporte com todas as suas vantagens. Quatro fases marcam este caminho: 1º Existência: onde marcam sua presença na rede apenas com um site e algumas ferramentas; 2º Demonstração: onde já disponibiliza arquivos de áudio, porém não ao vivo; 3º Radioweb: quando emite ao vivo sua programação; 4º Radioweb interativa: transmitindo e interagindo em tempo real com os ouvintes (CAMPOS e PESTANO, 2004: 13). 2) O radiojornalismo na Internet brasileira O surgimento da Internet e as possibilidades de utilização de seus recursos geraram um grande impacto, não só nos meios de comunicação, dando novos caminhos para a transmissão de informação e entretenimento ao público. A forma de trabalhar nestes veículos também foi alterada. Uma emissora de rádio jornalística, por exemplo, teve em um prazo muito curto a passagem das edições no formato analógico para o digital. Mais que isto, buscar e checar informações passou a ser mais rápido e prático com o auxílio da Internet, facilitando o acesso a diversos tipos de fontes nas mais variadas partes do mundo.

4 Um estudo desenvolvido pela professora Nelia Del Bianco indica que o uso da Internet é uma realidade inserida em todas as partes do processo produtivo de uma redação de uma emissora jornalística, desde a coleta de informações até a veiculação passando pela edição e a produção dos textos....a rede local trouxe para a redação um aspecto importante da interatividade ao dispor de instrumentos de navegação para armazenar e recuperar a informação em tempo real. Para o rádio, significou uma ruptura radical com os sistemas analógicos de armazenagem do som em suporte magnético, CDs ou MDs considerados dispendiosos. A substituição pelo sistema de armazenamento no computador representou um enorme ganho de tempo no processamento do áudio e maior flexibilidade no tráfego interno da informação.a grande vantagem da rede local foi criar uma ambiência ou meio ambiente onde os jornalistas se movem e agem sobre a informação, no sentido de ampliá-la, transformá-la no processo produtivo. Em boa parte, o potencial de transformação dessa rede esta relacionado a conexão com a Internet (DEL BIANCO: 2004, 07). Podemos assim, afirmar que o rádiojornalismo brasileiro entrou definitivamente no que FIDLER chama de processo de midiamorfosis, definido como a transformação dos meios de comunicação, em geral, provocada pelas complexas interrelações entre as necessidades percebidas, pressões políticas e econômicas e inovações sociais e tecnológicas (1997:57). Porém, no caso das emissoras de radiojornalismo no Brasil nenhuma conseguiu um bom nível de interação com seus ouvintes/usuários. Como afirma D AQUINO:...as emissoras de radiojornalismo presentes na web pouco aproveitam as ferramentas disponíveis na plataforma multimídia mantendo a mesma base de interação contida nas programações de emissoras de rádios convencionais (por ondas) (2004:10). Assim, podemos definir que os sites das emissoras são muito parecidos e poucos arriscam na criação de novos formatos de interação com os ouvintes. Limitando o desenvolvimento do próprio veículo na plataforma multimídia da rede. A interatividade é o elemento diferenciador do rádio na Internet. Com ela o internauta pode sentir-se um co-autor ou co-produtor do que esta sendo veiculado na emissora, possibilitando uma nova concepção de programação mais aberta e flexível diferente do formato unidirecional do rádio convencional, onde o usuário poderá organizar a sua programação (CAMPOS e PESTANO, 2004: 13).

5 3) Formas de interação com a programação Uma das formas mais comuns de interação de um ouvinte na programação de uma emissora que esta na web é através do envio de mensagens via , onde na realidade acabam substituindo o antigo hábito de enviar cartas às redações ou aos apresentadores. No caso da rádio CBN, por exemplo os âncoras lêem e comentam as mensagens recebidas e algumas chegam a ser encaminhadas a pauta para a geração de matérias. Com isto, os ouvintes podem participar mais ativamente da programação, porém dependem da triagem dos produtores para serem levados ao ar. Uma possibilidade interessante seria dar aos usuários a chance de postar suas mensagens e escolherem além do , a criação de pequenos fóruns sobre os temas mais polêmicos. Os portais de conteúdo como Terra e UOL produzem semanalmente uma série de entrevistas ao vivo via Chat onde os internautas participam diretamente fazendo perguntas aos entrevistados (personalidades das mais diversas áreas). As emissoras via rede deveriam explorar mais este recurso proporcionando aos ouvintes, por exemplo, continuarem o papo via rede com um entrevistado, mesmo após já ter terminado a entrevista. Nesse formato os usuários poderiam aprofundar e ampliar discussões que muitas vezes não são possíveis no ar. No caso de enquetes e fóruns, um exemplo a ser seguido é do portal Comunique-se ( voltado a uma comunidade de mais de 60 mil jornalistas no Brasil e no exterior. Nele os artigos ficam expostos tendo logo abaixo uma caixa de texto que permite aos leitores dar sua opinião. Imaginemos que os articulistas da emissora de rádio na web disponibilizem seus artigos (tanto em texto como áudio), dando aos usuários a oportunidade de tecerem seus comentários. Indo um pouco mais longe, a tecnologia permite que um internauta envie uma mensagem em MP3 para complementar o artigo dando a ele (usuário) um espaço igual ao do comentarista. Para comunicações diretas em entrevistas no ar, uma boa ferramenta são os programas Messenger e ICQ, onde os usuários que estão on line podem trocar mensagens de textos e mais recentemente de áudio em tempo real. Podendo também trocarem arquivos multimídia durante as conversas. Uma emissora jornalística poderia utilizar este recurso para facilitar a conversa entre dois ou mais jornalistas (âncoras,

6 repórteres, produtores) em locais diferentes, enquanto produzem ou geram um programa ao vivo. Para os ouvintes a ferramenta também é válida dando a possibilidade de participarem em tempo real de entrevistas e da montagem da grade de programação. Os articulistas do Jornal Folha de São Paulo dispõem de um blog cada, onde contam suas carreiras, disponibilizam fotos, textos e áudio. Este recurso se melhor utilizado pelas emissoras de rádio, pode promover uma grande aproximação dos usuários com cada um dos profissionais que estiverem no ar. Neles os internautas poderiam saciar algumas curiosidades sobre as personalidades dos profissionais, além de darem sugestões e fazerem críticas. Outro serviço pouco explorado são as fonotecas, onde os ouvintes podem acessar programas, matérias e entrevistas já veiculadas. As emissoras que já disponibilizam este recurso poderiam melhorá-lo com ferramentas de busca, um maior acervo de conteúdos e a possibilidade de links (entre textos, fotos, áudios e vídeos) que complementem o conteúdo do arquivo acessado. Com isso, os usuários poderiam utilizar os arquivos das emissoras como bancos de dados para pesquisas rápidas e bem mais completas do que atualmente. Nesse contexto, é importante lembrar que os celulares e computadores de mão estão cada vez mais compactos e com mais recursos. Vários aparelhos já disponíveis no mercado brasileiro baixam arquivos diretamente da Internet. Assim, seria possível que um usuário com um destes modelos acessasse o site da sua emissora de rádio favorita e baixasse arquivos com as principais informações do dia, as entrevistas com as personalidades mais interessantes, e até comprasse as músicas mais tocadas. Além de gerar receita para a emissora o usuário participaria montando sua programação própria que poderia levar onde quisesse. A melhor utilização destes recursos poderiam facilitar a geração de receitas para a emissora, uma vez que teria no seu site um maior fluxo de ouvintes/usuários que poderiam participar de programas de fidelização. Por exemplo, os usuários de uma determinada bandeira de cartão de crédito, ao ouvirem ou verem na tela de seus computadores uma determinada peça publicitária teriam descontos na compra via rede do produto ou serviço anunciado. Além disso, é possível desenvolver promoções via Internet onde os usuários do site possam ganhar livros, ingressos para shows, cd s, como em uma emissora aberta normal, só que utilizando o suporte da rede para isto.

7 A webcam é um recurso já explorado por algumas emissoras, mas pode passar de mero artifício para um canal de informação dentro do site, onde se pode apresentar um novo formato de programação explorando mais o suporte da imagem dos apresentadores e repórteres (CAMPOS e PESTANO, 2004: 12). 4) Conclusão Finalizo este texto afirmando que todas estas possibilidades necessitam de investimentos por parte das emissoras de rádio. Mas os empresários e instituições do setor estão aguardando um sinal de que o rádio na Internet possa gerar lucro para poderem investir. Com isto, os ouvintes/usuários buscando sites e emissoras mais completas para poderem fixar seus dials digitais. É importante destacar que a nova plataforma multimídia requer novas formas de fazer rádio, para um usuário que necessita de um maior poder sobre o que será veiculado. Para que os veículos passem a ser realmente interativos, os profissionais deverão ser melhor treinados para atuarem diante de um conjunto de ferramentas mais dinâmicas, que permitem ao usuário interferir diretamente no que está sendo veiculado. Os empresários de comunicação, os publicitários, os jornalistas precisam ter sensibilidade para perceberem que o rádio na Internet não é um veiculo unidirecional podendo agregar aos sites das emissoras uma gama enorme de produtos e serviços que diferenciarão a programação das concorrentes. O rádio digital é uma realidade e, portanto é imprescindível que as emissoras e as instituições de ensino desenvolvam parcerias para criarem e testarem novos caminhos e capacitarem os profissionais para este novo formato de rádio que esta surgindo diante de todos. Quanto à geração de audiência e conseqüente renda para a emissora, é preciso deixar claro que os padrões da publicidade também foram afetados pelas possibilidades da plataforma multimídia. Evidente que é preciso re-avaliar os conceitos de publicidade para buscarem novas formulas de veicular as peças publicitárias levando-se em consideração que os usuários devem e querem interagir mais com toda a programação, incluindo as propagandas. Por isto, cabe aos pesquisadores ajudarem a dar transparência a este processo tendo sensibilidade para entender o que os usuários querem e o que os

8 veículos podem fazer a curto e médio prazo, com uma margem de segurança em seus investimentos. 5) Bibliografia : BOONE, Silvana. Hipermídia: criação e produção do CDROM. A arte do século XXI a humanização das tecnologías. Dissertação de Mestrado em Comunicação e Semiótica no convenio interinstitucional PUC de São Paulo e Universidade Caxias do Sul, Disponível em: CAMPOS, MARÍA A. GABINO e PESTANO, JOSE MANUEL PESTANO. La rádio digital: análisis de la difusión web. Artigo publicado no site: Disponível em : CEBRIÁN, Juan Luis. A Rede Como nossas vidas serão transformadas pelos novos meios de comunicação. Tradução: Lauro Machado Coelho. São Paulo: Summuns, DEL BIANCO, Nélia R.. Radiojornalismo em mutação na era digital. In: XXVII CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO NÚCLEO DE MÍDIA SONORA, Porto Alegre, Intercom: CD-ROM D AQUINO, S. B. Radiojornalismo na Internet o uso da interatividade em site de emissora brasileiras. In: XXVII CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO NÚCLEO DE MÍDIA SONORA, Porto Alegre, Intercom: CD-ROM. FIDLER, R. Mediamorfosis - comprender los nuevos medios. Buenos Aires, Granica, 1 ª edição, NEGROPONTE, N. A Vida Digital. Tradução: Sérgio Tellaroli. São Paulo, Companhia das Letras, 2 ª edição, Mestre em Comunicação e Mercado Fundação Cásper Libero SP