MULHERES NO PARLAMENTO NO BRASIL E NO MUNDO
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- Iasmin Almada de Almeida
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1 MULHERES NO PARLAMENTO NO BRASIL E NO MUNDO José Eustáquio Diniz Alves 1 INTRODUÇÃO Desde tempos imemoráveis a política tem sido uma atividade monopolizada pelos homens. Na maior parte da história da humanidade as mulheres foram excluídas das diversas formas de representação política. Somente no início do século XX as mulheres começaram a romper o isolamento e iniciaram uma tímida entrada no mundo da representação parlamentar. Porém, apenas uma dezena de países chegou a contar com representação parlamentar até os anos de A situação começou a mudar com o novo ambiente internacional surgido com o fim da Segunda Guerra Mundial. Um marco do crescimento da representação parlamentar aconteceu com a criação da Organização das Nações Unidas (ONU), em 1945, e a aprovação da Declaração Universal dos Direitos Humanos, em A Declaração Universal dos Direitos Humanos introduz a concepção contemporânea de direitos humanos marcada pela universalidade e indivisibilidade destes direitos, resgatando a idéia de que a condição de pessoa é o atributo único e exclusivo para a titularidade de direitos, sendo proibida qualquer discriminação que tenha por base a raça, a etnia, a nacionalidade, a idade e gênero. Embora o início do século XXI apresente uma situação muito mais favorável à participação política feminina nas atividades parlamentares, a representação das mulheres ainda é baixa e as desigualdades de gênero ainda são grandes, especialmente entre as diversas regiões e países do mundo. 1 Professor do mestrado em Estudos Populacionais e Pesquisas Sociais da Escola Nacional de Ciências Estatísticas (ENCE) do IBGE. 1
2 A EVOLUÇÃO DA PARTICIPAÇÃO FEMININA NO PARLAMENTO Segundo dados da organização Inter-Parliamentary Union (IPU), o número de países que contam com atividades parlamentares aumentou muito desde o fim da Segunda Guerra Mundial. A tabela 1 mostra que, em 1945, haviam 26 parlamentos, sendo que este número cresceu continuamente até atingir 187 parlamentos no ano de Paralelamente cresceu a participação feminina. As mulheres representavam apenas 3% dos deputados em 1945 nos diversos parlamentos em funcionamento no mundo, subindo para 7,5% em 1955 e para 10,9% em Nos 20 anos seguintes, a representação parlamentar feminina ficou praticamente estagnada no mundo, embora tenha havido uma retomada do movimento feminista com a realização das Conferências Mundiais sobre a Mulher: México, 1975, Copenhague, 1980 e Nairóbi, 1985, além da aprovação em 1979, da Convenção para Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra a Mulher (CEDAW). Entre 1995 e 2005 a representação parlamentar feminina no mundo cresceu de 11,6% para 16,2%. Em parte, este crescimento ocorreu após a realização da IV Conferência Mundial sobre a mulher, realizada em Pequim, em 1995, que colocou a questão do empoderamento das mulheres no centro de sua Plataforma de Ação. Tabela 1 Mulheres no Parlamento no Brasil e no Mundo Número de parlamentos % de mulheres nos parla- 3 7,5 8,1 10, ,6 16,2 mentos do mundo % de mulheres no parlamento do Brasil * 0,0 0,9 0,5 0,3 1,7 6,3 8,3 Fonte: Women in Politics: 60 years in retrospect, IPU - Inter-Parliamentary Union, Information kit. * TSE Tribunal Superior Eleitoral < Nota: são considerados os dados para as Câmaras dos deputados (Single house or lower house) 2
3 Nota-se que o Brasil tem um nível de exclusão das mulheres das atividades parlamentares muito maior do que a média mundial. Segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral TSE o Brasil tinha uma taxa de participação abaixo de 1% até o ano de Após esta data, a participação política das mulheres na Câmara dos Deputados tem crescido passando de 1,7% em 1985 para 8,3% em A representação feminina no parlamento tem crescido desde a realização da primeira Conferência Mundial sobre as Mulheres. Contudo, o nível de representação das mulheres brasileiras alcança apenas a metade da taxa mundial. A SITUAÇÃO MUNDIAL EM 2006 Segundo dados da organização Inter-Parliamentary Union (IPU), referentes a 31 de março de 2006, a percentagem de mulheres no parlamento no mundo varia muito conforme as regiões consideradas. Destacam-se os países Nórdicos que possuem uma representação média de gênero no parlamento de 40%, conforme mostra o gráfico 1. Em seguida, os conjuntos dos países das Américas e da Europa possuíam uma representação próxima a 20%, ou seja, metade da representação dos Países Nórdicos. Em quarto e quinto lugar, os países da África Sub-Saara e da Ásia apresentavam uma taxa de participação das mulheres no parlamento de 17.5% e 16,3%, respectivamente. Bem abaixo da média mundial, de 16,8%, vinham os países Árabes, com 8,2% e o Brasil com 8,6%. 3
4 Gráfico 1 Percentagem de mulheres no parlamento: regiões do mundo e no Brasil Países Nórdicos 40 Américas Europa África Sub-Saara Ásia 20,2 19,6 17,5 16,3 Países Árabes 8,2 Mundo 16,8 Brasil 8, Fonte: Inter-Parliamentary Union < Situação em 31 de março de 2006 (Single house or lower house) % O gráfico 2 mostra a situação do Brasil e dos onze países com maior percentagem de mulheres no parlamento tendo como referência a data de 31 de março de Em primeiro lugar, quase atingindo a paridade, aparece a Ruanda com uma percentagem de 48,8% de mulheres no parlamento. Em segundo lugar, aparece a Suécia com 45,3%. A Costa Rica, com 38,6% de mulheres no parlamento, aparece em terceiro lugar, surgindo na frente de outros Países Nórdicos que são destaque neste ranking: Noruega (37,9%), Finlândia (37,5%) e Dinamarca (36,9%). Outros dois países europeus, a Holanda com 36,7% e a Espanha com 36%, aparecem em sétimo e nono lugares, respectivamente. Os países mais bem colocados do continente americano são Cuba, com 36% e a Argentina com 35% de participação feminina nos parlamentos dos seus países. Moçambique, país de língua portuguesa, com 34,8% de representação feminina, aparece em décimo primeiro lugar no ranking mundial e em segundo lugar entre os países africanos. Em distante colocação o Brasil aparece em centésimo trigésimo segundo lugar com uma representação feminina de apenas 8,6% no total de deputados federais. Em 2002 foram eleitas 42 deputadas para a Câmara Federal (representando 8,3% do total). Em 2006, após 4
5 algumas alterações na composição da legislatura, as mulheres passaram a ocupar 44 cadeiras, representado 8,6% do total de deputados. Observa-se que embora as mulheres brasileiras tenham aumentado sua participação parlamentar ainda se encontram muito distantes da média mundial. Gráfico 2 Percentagem de mulheres no parlamento: os 11 países com maior participação e o Brasil 2006 Ruanda (1) Suécia (2) Costa Rica (3) Noruega (4) Finlândia (5) Dinamarca (6) Holanda (7) Cuba (8) Espanha (9) Argentina (10) Moçambique (11) ~~ 38,6 37,9 37,5 36,9 36, ,8 45,3 48,8 Brasil (132) 8,6 0 % 50 Fonte: Inter-Parliamentary Union < Situação em 31 de março de 2006 (Single house or lower house) A tabela 2 mostra a evolução da representação feminina nos parlamentos dos 11 países com maior participação e o Brasil, entre 1995 e Estes 10 anos podem servir de referência para avaliar os efeitos da Plataforma de Ação da quarta Conferência Mundial sobre a Mulher, realizada em Pequim e que propôs que os países signatários adotassem políticas de ação afirmativa (e/ou de cotas) para aumentar a participação feminina na política. 5
6 Nota-se que dos 12 países apresentados na tabela 2 apenas a Noruega apresentou um pequeno declínio na percentagem de mulheres no parlamento. Todos os demais países selecionados apresentaram progresso, sendo que Ruanda, Costa Rica e Espanha tiveram os maiores créscimos de 31,4%, 24,56% e 20%, respectivamente. Cuba e Argentina também apresentaram um acréscimo considerável, cerca de 13%. Mesmo Suécia, Finlândia e Dinamarca que já tinham alta participação feminina apresentaram acréscimo entre 4 e 5%. O Brasil, mesmo tendo um alto déficit democrático de gênero, apresentou um ganho de apenas 1,58% na participação feminina no parlamento, nestes dez anos em questão. O fraco desempenho brasileiro rumo à uma participação mais igualitária entre homens e mulheres na política parlamentar não tem sido favorecido pela política de cotas adotada desde O Brasil tem a pior performance entre os países da América do Sul e perde inclusive para vários países que não possuem políticas afirmativas. Resta saber se alguma coisa vai mudar nas eleições gerais de outubro de Um aspecto importante a ser analisado é a percentagem de mulheres candidatas em 2006, o que faremos em um próximo texto, a partir da divulgação dos dados do TSE em julho. Tabela 2 Percentagem de mulheres no parlamento e diferença no período Os 11 países com maior participação e o Brasil: 1995 e 2005 Países 1/7/ /3/2006 Diferença Ruanda (1) 17,4 48,8 31,4 Suécia (2) 40,4 45,3 4,9 Costa Rica (3) 14,04 38,6 24,56 Noruega (4) 39,39 37,9-1,49 Finlândia (5) 33,5 37,5 4 Dinamarca (6) 32,96 36,9 3,94 Holanda (7) 31,33 36,7 5,37 Cuba (8) 22, ,25 Espanha (9) Argentina (10) 21, ,21 Moçambique (11) 25,2 34,8 9,6 ~~ Brasil (132) 7,02 8,6 1,58 Fonte: Women in Politics: 60 years in retrospect, IPU - Inter-Parliamentary Union, Information kit. 6
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