COMERCIALIZAÇÃO DE PRODUTOS ORGÂNICOS EM BOTUCATU 1

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1 COMERCIALIZAÇÃO DE PRODUTOS ORGÂNICOS EM BOTUCATU 1 Cibele Ribeiro Arnaldi José Matheus Yalenti Perosa Resumo: Recentemente tem-se observado um aumento significativo de tecnologias objetivando agregar valor aos produtos, incorporando ao mesmo tempo conceitos ambientais e de proteção à saúde humana. A agricultura orgânica se insere nesse contexto. O município de Botucatu SP é referência na disseminação da agricultura orgânica, seja com a fundação da Estância Demétria, que trabalha com os princípios da agricultura biodinâmica, seja com a criação do Instituto Biodinâmico (IBD) em 1984, uma das maiores certificadoras do país, cujo selo tem aceitação internacional. Apesar do ambiente institucional favorável, o desenvolvimento da agricultura orgânica em Botucatu tem se verificado aquém de outras regiões no estado de São Paulo. Este trabalho objetivou descrever e analisar a estrutura dos principais canais de comercialização dos produtos orgânicos na cidade de Botucatu/SP, assim como discutir os gargalos nas transações comerciais que interferem no desenvolvimento dessa atividade. Os resultados apontam para uma postura entre os agentes econômicos semelhante àquela observada na comercialização de produtos convencionais. Dada às diferenças do sistema produtivo da agricultura orgânica frente à convencional, inúmeros gargalos se apresentam. Destaca-se a ausência de planejamento da produção, influenciando na diversidade e regularidade de oferta. Palavras-chaves: produtos orgânicos; canais de comercialização; agentes econômicos. I. INTRODUÇÃO Histórico A agricultura no pós-guerra se caracterizou por um padrão voltado à redução de custos e produção em escala. Tecnologicamente esse padrão era altamente 1 Este trabalho faz parte de pesquisa em andamento sobre o processo de comercialização de produtos orgânicos na cidade de Botucatu SP. O levantamento e análise de preços e quantidade dos diferentes canais de comercialização estão em fase final de elaboração.

2 dependente de insumos químicos, plantas melhoradas geneticamente e elevado emprego da mecanização. A adoção desse padrão tecnológico estava fortemente relacionada com conjuntura mundial no período pós-segunda guerra, onde a preocupação maior era produzir alimentos em grande escala para uma população faminta. Esse período é também marcado pelo grande desenvolvimento das indústrias à montante e à jusante da agricultura. À montante tem-se a especialização das indústrias que fornecem ao produtor os produtos ligados à produção, como insumos químicos, fertilizantes. À jusante surgem as agroindústrias que absorvem os produtos primários da agricultura, transformando-os em produtos para atender as exigências cada vez maiores dos mercados consumidores. Nas últimas décadas do século passado observou-se um aumento significativo de tecnologias objetivando agregar mais valor aos produtos, e oferecer ao consumidor produtos diferenciados (SOUZA e ALCÂNTARA, 2003). Assim, ao mesmo tempo em que se procurava atender uma demanda alimentar, ocorre uma tendência em incorporar a esse padrão de produção outros conceitos, entre os quais o de respeito ao meio ambiente e das conseqüências de utilização de produtos agroquímicos na saúde humana (KHATOUNIAN, 2001). A partir do princípio de agricultura ecológica, surgem pelo mundo diferentes doutrinas que irão disseminar os conceitos básicos da utilização de práticas agricultáveis mais naturais com menos impactos ambientais, como a Agricultura Orgânica, Agricultura Natural, Agricultura Biológica, Agricultura Biodinâmica e Agroecológica (PENTEADO, 2000). No Brasil, a agricultura orgânica se destaca no Estado de São Paulo no início da década de 70, auge do consumo de insumos químicos. Em meados da década de 80 o movimento orgânico ganhou força com a criação da Associação de Agricultura Orgânica (AAO), intensificando as normas de regularização e da produção, dos produtores e colaboradores envolvidos no sistema. A procura por parte dos consumidores por produtos mais saudáveis, com menos resíduos químicos, com certificados de procedência, aliado às propostas de justiça social, fazem da agricultura orgânica uma opção muito viável à agricultura familiar e ao movimento ambientalista (KHATOUNIAN, 2001). A proposta orgânica ganhou força com o desenvolvimento de dois empreendimentos no interior do Estado de São Paulo: a fundação no município de Botucatu da

3 Estância Demétria, que trabalha com os princípios da agricultura biodinâmica e, no município de Cotia, com a implantação de uma granja orgânica pelo engenheiro agrônomo Yoshio Tsuzuki (DAROLT (a) s/d). Em 1984 concretiza-se um importante passo para a normatização e legislação do setor, com a criação do Instituto Biodinâmico (IBD) no município de Botucatu -SP, uma das maiores certificadoras do país, cujo selo tem aceitação internacional. DAROLT (2003) estima que o Brasil tem uma área aproximada de ha certificados (contabilizando ha de pastagens recém certificadas no estado do Mato Grosso), e produtores. Os estados de São Paulo, Paraná, Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Espírito Santo são responsáveis por 70% da produção orgânica brasileira. O abastecimento do mercado interno é mantido principalmente por produtos in natura, como verduras, legumes e frutas, com crescimento da oferta de produtos processados, produtos de panificação, sucos, grãos, produtos lácteos e seus derivados. O mercado de produtos orgânicos é considerado um nicho de mercado, representando de 1% a 2% do mercado total de alimentos (DAROLT, 2003). Estrutura do mercado de produtos orgânicos O processo de comercialização constitui um dos principais entraves ao desenvolvimento da agricultura orgânica. A criação e manutenção dos canais de comercialização dependem da diversificação, padronização de produtos e regularidade na oferta da produção. DAROLT (2001), concluiu em pesquisa realizada em Curitiba/PR que os consumidores estariam dispostos a comprar produtos orgânicos se houvesse maior regularidade, diversidade e quantidades dos produtos. E que para atender a demanda nos supermercados (Curitiba/PR), seria necessário uma oferta de 20 produtos o ano todo, entre legumes, verduras e frutas. Outro fator que dificulta a comercialização diz respeito à disponibilidade dos produtos nos grandes centros varejistas, como supermercados. Para DAROLT (b) e PENTEADO (2000), a comercialização de produtos orgânicos apresenta três canais bem definidos: Venda Direta ao consumidor: cestas em domicílio, restaurantes, lojas locais, feiras verdes, no próprio local de produção. Varejo: supermercados, quitandas, varejões.

4 Atacado: hipermercados, ceasas, distribuidoras e atacadistas. Observa-se uma significativa estrutura de comercialização nos grandes centros urbanos do país, com vendas de cestas a domicílio, pontos de vendas em lojas especializadas, supermercados e feiras. O setor de supermercados vem apresentando crescimento significativo, chegando a 40% de vendas de produtos orgânicos, sendo os legumes, verduras e frutas os principais produtos comercializados, com uma crescente procura por produtos processados. O preço do produto orgânico constitui um limite ao desenvolvimento do setor. Fatores como custo de certificação e produção, referentes à mão-de-obra e menor rendimento contribuem para o diferencial de preços em relação ao convencional. Como a comercialização de produtos orgânicos é caracterizada pela oferta de produtos de diferentes procedências, a definição de padrões de certificação e cadastramento dos produtores é fundamental para que se tenha a autenticidade e qualidade asseguradas do produto. Comercialização de produtos orgânicos no município de Botucatu - SP A cidade de Botucatu se destaca no estado de São Paulo no desenvolvimento da agricultura orgânica, com a agricultura biodinâmica no bairro Demétria e pela localização da sede do Instituto Biodinâmico- IBD. Os produtos encontrados na região variam de verduras a produtos de panificação, com isso a região apresenta uma diversidade grande de produtos como: verduras: alface, chicória, couve, rúcula, brócolis, repolho, couve-flor,etc.; legumes: abobrinha, cenoura, chuchu, beterraba, quiabo, vagem; tubérculos: batata, inhame, cará, mandioca; cereais: arroz, feijão, milho. frutas: banana, limão, abacate, morango, laranja, carambola, etc.; produtos de panificação: farinha, pães, bolos, bolachas; produtos lácteos: leite, manteiga, queijos; produtos processados: geléias, produtos congelados (pratos prontos); tortas; outros: palmito, milho verde. Apesar das características históricas e da variedade de produtos oferecidos, a região apresenta uma produção ainda restrita, com dificuldades de abastecer os diferentes canais de comercialização existentes.

5 II. OBJETIVOS Este trabalho teve por objetivo descrever e analisar a estrutura dos principais canais de comercialização dos produtos orgânicos na cidade de Botucatu/SP, assim como discutir os gargalos nas transações comerciais que interferem no desenvolvimento dessa atividade. III. REFERÊNCIAS METODOLÓGICAS A pesquisa tem como universo os produtores orgânicos da Associação de Produtores Orgânicos da Região de Botucatu, sediada no Bairro Demétria/Botucatu, composta por 30 associados. Destes, foram selecionados 19 produtores que comercializam sua produção em 5 canais de comercialização conhecidos. A produção principal dos produtores é o cultivo de verduras, legumes e frutas. Há também a produção de produtos congelados, produtos de panificação, lácteos e seus derivados. A maioria dos produtores é certificada e vistoriada pelo Instituto Biodinâmico IBD/Botucatu. Para o levantamento dos dados dos diferentes canais de comercialização elaborouse questionário para entrevistas com produtores, agentes comerciais e técnicos ligados ao setor, além de revisão de trabalhos anteriores. Para análise das principais características das transações econômicas verificadas entre os diferentes segmentos pesquisados, utilizou-se como referencial teórico a Economia dos Custos de Transação - ECT. IV ESTRUTURA DOS CANAIS DE COMERCIALIZAÇÃO EM BOTUCATU Existem cinco principais canais de comercialização estabelecidos em Botucatu, onde 19 produtores da Associação realizam a comercialização de seus produtos. Cada canal tem sua forma organizacional relacionada à variedade, quantidade, oferta e demanda, tipo de contrato, número de produtores envolvidos e características do consumidor final. Portanto, as transações ocorridas em cada sistema são diferentes, com uma estrutura de organização própria. O esquema da figura 1 mostra os canais de comercialização existentes e o total de produtores envolvidos em cada segmento. 1.Feira Verde Consumidor local Consumidor São Paulo

6 TI 2 TI 1 TII 3 TII 5 TII 1 TII 2 TII 4 TIII 1 TIII 2 TIII 3 TIV 1 TIV 2 TIII 4 TV 1 TV 2 Figura 1. Esquema geral dos canais de comercialização existentes na cidade de Botucatu. As transações estão classificadas por segmento : TI 1 transporte dos produtos da propriedade para a feira, realizado pelo próprio produtor; TI 2 venda realizada diretamente na feira entre o produtor e o consumidor local; TII 1 transporte dos produtos do produtor para o local de recebimento (galpão) do intermediário; TII 2 transporte dos produtos, pelo intermediário, para a loja especializada em São Paulo; TII 3 venda ao consumidor, podendo ser realizada na própria loja ou através de cestas em domicílio; TII 4 venda dos produtos para um distribuidor; TII 5 venda das cestas, pelo distribuidor, em domicílio; TIII 1 entrega dos produtos na quitanda Terra Viva, para que o transporte seja feito até a empresa distribuidora; TIII 2 recebimento dos produtos na empresa; TIII 3 distribuição dos produtos nas grandes redes de supermercados em São Paulo;

7 TIII 4 venda nas grandes redes de supermercados aos consumidores de São Paulo; TIV 1 entrega dos produtos na quitanda pelos produtores; TIV 2 venda direta para os consumidores locais; TV 1 transporte dos produtos até o local da feira (galpão do intermediário); TV 2 venda direta entre produtor e consumidor local. 1. Feira Verde É realizada semanalmente (aos sábados) num local denominado Espaço Cultural na cidade de Botucatu, com boa localização (próximo ao centro). A estrutura da feira é semelhante a uma feira convencional, onde os produtos são expostos em barracas e vendidos a granel. A comercialização é feita diretamente entre produtor e consumidor. Os produtores são responsáveis pela produção, pelo transporte dos produtos da propriedade para a feira que também realizam a comercialização. Os principais produtos ofertados na feira são: verduras (alface, rúcula, couves, espinafre, etc.), legumes (abobrinhas, chuchu, beterraba, cenoura, etc.), frutas (banana, limão, manga, abacate, etc.), sendo que esta oferta está diretamente ligada com a época de plantio. Há também produtos lácteos e seus derivados (queijos, iogurtes, manteiga, doces, etc.), produtos de panificação (pães, bolos), feijão, produtos congelados (pratos prontos) e alguns grãos embalados provenientes de outras localidades. O preço é estabelecido por cada produtor, porém não há variação de preços de um mesmo produto entre os produtores. A primeira transação (TI 1) está ligada ao transporte do produto à feira e a forma organizacional da feira verde, onde as características são muito parecidas com uma feira convencional. Embora tenha melhorado ao longo do tempo, o grande problema deste segmento está relacionado com a pouca diversidade e quantidade de produtos ofertados (TII 2 ). 2. Atacadista / intermediário Esse tipo de comercialização é realizado diretamente entre produtor e o intermediário. O produtor é responsável pela entrega dos produtos no posto de recebimento localizado na propriedade do intermediário (TII 1 ). O intermediário compra semanalmente (às segundas-feiras) os produtos para serem levados para um ponto de revenda, loja especializada, na cidade de São Paulo (TII 2 ), de onde são

8 vendidos diretamente na loja aos consumidores (TII 3 ) e fornecidos para a um distribuidor (TII 4 ) que efetua a venda através de cestas a domicílio (TII 5 ). Os produtos comercializados nesse sistema são verduras, legumes, frutas, produtos lácteos e seus derivados, mel, produtos de panificação e alguns produtos congelados. Não há nenhum tipo de contrato formal entre o produtor e o intermediário no sentido de assegurar as vendas totais da produção. O planejamento da produção não é exclusivo deste canal. O preço de compra dos produtos é estabelecido pelo intermediário, sendo o pagamento realizado mensalmente. 3. Empresa distribuidora É uma empresa de distribuição de produtos orgânicos com sede em São Roque/SP. A empresa compra dos produtores os produtos com planejamento prévio das quantidades a serem comercializadas. Neste canal apenas três produtores têm o planejamento da produção, entregando principalmente legumes. Os produtos são levados da propriedade até um ponto comum, quitanda Terra Viva (TIII 1 ), de onde são transportados até a empresa (TIII 2 ). O transporte é feito com veículo da empresa, o frete é descontado 10% do produtor em valor do volume transportado. Os produtos chegam à empresa, são descarregados na plataforma de recebimento, e avaliados quanto à qualidade e padronização. Os produtos que não passarem pelo controle de qualidade na recepção são devolvidos para o produtor no ato de descarregamento. Após o recebimento, os produtos qualificados são armazenados em containers para serem distribuídos conforme os pedidos das grandes redes de supermercados em São Paulo (TIII 3 ), onde ocorre a venda aos consumidores de São Paulo (TIII 4 ). A empresa recebe os produtos já embalados pelos produtores em bandejas de isopor plastificadas, com peso, identificação do produtor e da empresa e com o selo da certificadora. Porém os produtores de Botucatu entregam os produtos a granel, para serem embalados na própria empresa. Os preços são estabelecidos pela empresa, o pagamento é realizado em média 42 dias após o recebimento do produto. 4. Quitanda Terra Viva Esse canal foi criado em 2002 pelos próprios produtores da Associação como alternativa de escoamento da produção. Está localizada na região central da cidade de Botucatu. Os produtos vendidos na quitanda são verduras em geral, legumes, frutas, mel, doces em compotas, palmito, produtos congelados (pratos prontos), tofu,

9 produtos lácteos e derivados, produtos de panificação, ervas medicinais, temperos, grãos, cereais. Os produtores levam os produtos até a quitanda (TIV 1 ), onde são comercializados de forma semelhante a uma quitanda convencional (TIV2), com os produtos em sua maioria vendidos a granel, por quilo, maço ou unidade. Os produtos são colocados nas bancadas sem diferenciação entre produtores. Os preços são estabelecidos pelos produtores. A gerência da quitanda é realizada por terceiros que não são produtores. Todo o montante comercializado é distribuído parcialmente pelo valor entregue. Deste total 25% é destinado para pagar despesas fixas (água, luz, etc.) e administrativas (propaganda, salário dos responsáveis pela gerência, etc.). A gerência da quitanda compra de outras localidades, produtos que não são produzidos na região, como arroz, farinhas, óleos e alguns produtos processados. Porém, mesmo produtos que são produzidos com freqüência na região não estão atendendo a demanda, prejudicando a oferta de produtos na quitanda, sendo necessário a compra em outras localidades. 5. Feira Bairro Demétria Esta feira foi criada em 2001/2002 como alternativa de escoamento da produção e de atendimento da demanda do Bairro Demétria/Botucatu, local de referência da agricultura biodinâmica no estado de São Paulo. A feira é realizada às terças-feiras num galpão (intermediário). A organização de feira é semelhante à estrutura da feira verde, com produtos expostos em barracas e vendidos a granel (TV 1 ). Neste canal são vendidos legumes, verduras, frutas, produtos de panificação, produtos congelados, produtos lácteos e seus derivados. A feira vende principalmente produtos orgânicos, porém como se trata de um bairro afastado da cidade, há a comercialização de produtos convencionais, no sentido de suprir a falta do produto orgânico. Esses produtos convencionais estão sempre bem identificados e separados dos produtos orgânicos. A comercialização é feita diretamente entre produtor e consumidor (TV 2 ). Os preços dos produtos são estabelecidos pelos produtores. V. CONSIDERAÇÕES FINAIS

10 Foram identificados importantes gargalos relacionados à produção e a forma como o produtor se comporta em cada segmento estudado. Uma característica importante é que apesar do alto grau de especificidade de ativos, as transações realizadas com a empresa distribuidora e com o intermediário acontecem mediante contratos informais. Essa informalidade nas transações tem propiciado a ocorrência da incerteza entre os agentes envolvidos. Apesar das diferentes formas de comercialização que o produtor orgânico participa, existem características comuns no processo que dificultam o desenvolvimento da cadeia produtiva. Uma delas está relacionada à falta de planejamento dos produtores em atender todas as demandas existentes, impossibilitando uma oferta constante de produtos. Da mesma forma, a falta de padrão dos produtos oferecidos compromete a viabilização e manutenção em alguns segmentos, como no caso da empresa distribuidora. O planejamento da produção na região ainda é individualizado, dificultando que cada produtor tenha um mix de produtos, abrangendo um máximo de produtos de acordo com seus recursos disponíveis (terra, capital e trabalho). Um mesmo produto é produzido por vários produtores para serem entregues no mesmo canal de comercialização. O principal problema levantado nos segmentos estabelecidos com o intermediário atacadista e a empresa distribuidora é a falta de um contrato formal. É importante ressaltar que as exigências da empresa distribuidora (padronização e embalagem) não foram cumpridas pelos produtores. Diante destes entraves, um contrato formal seria importante para que produtor e empresas se assegurassem dos seus direitos e deveres. Na feira verde pode-se considerar dois principais gargalos: um deles é a falta de diversidade de produtos (o mesmo produto é encontrado na maioria das barracas); outro é a forma organizacional muito semelhante a uma feira convencional, não havendo uma preocupação com a disposição das barracas para atrair o consumidor. Em relação à quitanda Terra Viva, o principal problema está na baixa oferta e diversidade de produtos, comprometendo as vendas. Como as transações ocorridas em todos os segmentos são caracterizadas como recorrentes, é justificado a formação de um mecanismo econômico de controle para que se diminua a ação oportunista e os custos relativos aos contratos.

11 Em cada canal o produto orgânico é diferenciado do produto convencional, através de embalagens, selo, propagandas conceituais e informações ao consumidor. Esta propaganda é importante para que o produto orgânico seja destacado e conhecido dos consumidores. Dessa maneira, é fundamental que a forma de comercialização seja diferenciada, apresentando características próprias deste segmento, tal como o contato direto entre produtor e consumidor. A assimetria de informações ao longo desse segmento de mercado está relacionada à existência de atributos como credibilidade, de qualidade visual, nutricional, sabor e aroma, dentre outros. Uma característica fundamental a ser considerada é a de que o crescimento da demanda por produtos orgânicos tem se verificado com a incorporação de consumidores que enxergam esse segmento de mercado da mesma forma que o fazem para o segmento convencional, exigindo atributos como disponibilidade, diversidade, regularidade e preço, dentre outros, semelhantes. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CARVALHO, Y.M.C. & SILVA,P.F. Agricultura ecológica e organização. Revista Agricultura Biodinâmica. 2000, ano 17 n. 83 p.2-8. Botucatu/SP. DAROLT, M.R. (a) A Evolução da Agricultura Orgânica no Contexto Brasileiro. S/d. DAROLT, M.R. O papel do consumidor no mercado de produtos orgânicos. Revista Agroecologia Hoje, ano II n. 7, p Botucatu/SP. DAROLT, M.R. (b) Vantagens e Desvantagens dos Principais Canais de Comercialização de Produtos Orgânicos. Disponível em: s/d. DAROLT, M.R. Cenário Internacional: situação da agricultura orgânica em Disponível em: KHATOUNIAN, C.A. A reconstrução ecológica da agricultura. Botucatu/SP. Agroecológica, 2001, p Mercado interno: existe disposição do consumidor, porém o mercado ainda terá que ser criado. In: Agroecologia Hoje, ano II n.13 p.14. Botucatu/SP. PENTEADO, S.R. Introdução à Agricultura Orgânica Normas e Técnicas de Cultivo. Campinas/SP. 2000, 110p.

12 SOUZA, A.P.O. & ALCÂNTARA, R.L.C. Produtos Orgânicos: um exploratório sobre as possibilidades do Brasil no mercado internacional Disponível em: WORKSHOP Documento Provocativo: Estudo do Sistema Agroindustrial de Produtos Orgânicos no Estado de São Paulo. São Paulo Disponibilizado pelo SEBRAE ER - Botucatu.