Parousia uma publicação semestral do Seminário Adventista Latino-Americano de Teologia (Brasil-Sul)
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- Milena Gama das Neves
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2 Editor Amin A. Rodor Editor associado Vanderlei Dorneles Programação visual e revisão Renato Groger Capa Geyvison Souto Parousia uma publicação semestral do Seminário Adventista Latino-Americano de Teologia (Brasil-Sul) Endereço para contato: Parousia (Salt) Caixa Postal 11, Engenheiro Coelho, SP, CEP Tel.: (19) parousia@unasp.edu.br Preços Assinatura anual de Parousia para 2008 Assinantes regulares... R$16,00 Instituições... R$16,00 Estudantes... R$14,00 Aposentados... R$14,00 Exemplar avulso... R$10,00 Todos os artigos deste periódico sem Copyright dos autores possuem Copyright 2008 do Seminário Adventista Latino-Americano de Teologia (Salt) As opiniões expressas nos artigos deste periódico refletem a compreensão dos autores, que individualmente não representam necessariamente o ponto de vista dos editores ou do Salt A validade e precisão dos materiais citados nos artigos são de total responsabilidade de seus autores Impressão Privilégio Artes Gráficas Tiragem exemplares
3 1 o Semestre de 2008 Editorial 5 Artigos A encarnação e o Filho do Homem Fonte: Seventh-day Adventists Answer Questions on Doctrine A natureza de Cristo: a questão soteriológica Kuabena Donkor, Ph.D. Que natureza humana Jesus assumiu? Não caída Benjamin Rand (pseudônimo) Cristo e os cristãos Amin A. Rodor, Th.D. Uma avaliação da atitude de alguns ministérios independentes contra a Igreja Divisão Norte-Americana da IASD Relatório sobre a organização Hope International e grupos associados Comissão Administrativa da Associação Geral da IASD Resenha do livro Tocado por Nossos Sentimentos Denis Fortin, Ph.D
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5 Editorial / 5 Editorial Desde a publicação do livro Seventh-day Adventists Answer Questions on Doctrine, 1 há 50 anos, os adventistas têm debatido se a natureza assumida por Cristo na encarnação era idêntica à de Adão antes da queda (pré-lapsarianismo), depois da queda (pós-lapsarianismo), ou mesmo outra posição intermediária. Contrariamente à idéia em geral divulgada por pós-lapsarianos como Jean Zurcher, em seu Tocado por Nossos Sentimentos, 2 a década de 1950, com o surgimento de Questions of Doctrine, não testemunhou nenhuma mudança na posição mantida pela Igreja quanto à natureza de Cristo, ou o aparecimento de uma nova cristologia. Houve, neste período, pela atitude reacionária de alguns estudiosos como M. L. Andreasen, 3 apenas a polarização das duas posições já encontradas no período anterior. A idéia de que Cristo assumiu a natureza humana caída pode ser traçada, no adventismo, a partir de dois nomes principais: J. E. Waggoner, e A. T. Jones. Como demonstrado por George Knight provavelmente o autor que melhor tem estudado a questão, o tema da natureza humana pecaminosa de Cristo não foi discutido na histórica assembléia de Minneápolis, em No entanto, os pós-lapsarianos sustentam a tese contrária, na tentativa de capitalizar o endosso de Ellen G. White à posição dos dois jovens mensageiros de Minneápolis em relação ao debate sobre justificação pela fé. Knight observa que foi apenas ao redor de 1895 que Jones passou a apregoar a total semelhança de Cristo com os outros seres humanos como central à sua apresentação do tema da justificação pela fé. 4 Realmente, foi na assembléia da Associação Geral de 1895 que Jones disse em um dos seus sermões: A natureza de Cristo é precisamente a nossa natureza. Em sua natureza humana não há nem uma partícula de diferença entre Ele e vós. 5 É claro que para defender a teoria pós-lapsariana, representantes do alegado adventismo histórico omitem completamente a reação de muitos delegados da Assembléia de 1895 contra a teoria de Jones. Este foi confrontado por alguns delegados com um texto claríssimo de Ellen G. White: Ele [Cristo]... é um irmão em nossas fraquezas, mas não em possuir idênticas paixões. Sendo sem pecado, sua natureza recuava do mal. 6 É quase inacreditável o fato de que Jones buscou então se evadir à força do argumento apresentando uma resposta em curva na qual tentou criar uma precária e absurda distinção entre a carne de Cristo e a sua mente, num tipo de apolinarianismo piorado. Em prejuízo das pretensões de seu próprio autor, esse raciocínio leva ironicamente à conclusão de que se Cristo tinha outra mente, a mente de Cristo Jesus, então havia mais que uma partícula de diferença entre Ele e nós. 7 No final de 1895 ou início de 1896, Ellen G. White escreveu sua hoje famosa carta a W. L. H. Baker, 8 que contém cinco parágrafos cristológicos devastadores para a teoria pós-lapsariana, expondo sua posição doutrinária quanto à natureza de Cristo com uma clareza inegável. Até hoje essa carta tem suscitado no pós-lapsarianismo apenas respostas curvilíneas, quando não completa desconsideração de suas afirmações. O curioso é que, por mais claras que sejam, tais citações não são suficientes para convencer os pós-lapsarianos dos movimentos dissidentes, tais como o Hartland Institute e outros do gênero. Eles não apenas acabaram canonizando Jones e Waggoner, tornando-os seus padroeiros, mas
6 6 / Parousia - 1º semestre de 2008 adotaram o seu espírito evasivo, além de anexarem ao cânon pós-lapsariano a figura de M. L. Andreasen e sua também precária teoria perfeccionista da última geração. O material selecionado para esta edição de Parousia muito auxiliará o leitor no esclarecimento de suas dúvidas quanto a essa questão fundamental, que se tornou esfumaçada pela grande diversidade de opiniões, várias delas articuladas por mera paixão e com base apenas em suposições. Alguns dos artigos aqui incluídos chamam a atenção para argumentos de força extraordinária. Cristo não poderia partilhar da nossa natureza pecaminosa por duas razões fundamentais: em primeiro lugar sua identidade, e, em segundo, sua missão. Assim, sendo quem Ele era na encarnação, um ser santo, exclusivo e único, o monogenes de Deus, gerado pelo Espírito Santo (Lc 1:35), Jesus é radicalmente diferente de todos os outros, os quais desde o nascimento foram marcados por um sério defeito de fábrica (Sl 51:5). Além disto, embora fosse um conosco, para que pudesse ser nosso Salvador e realizar sua missão de resgate, Ele não poderia ser um de nós. E isto está de acordo com a própria tipologia do Antigo Testamento (Lv 22:20), e também é evidente em textos tais como Romanos 8:3 e Hebreus 7:26. Tivesse Cristo vindo com a nossa natureza degenerada, Ele seria parte do problema do pecado, e não a solução para ele. Contudo, não é apenas a cristologia bíblica ou de Ellen G. White que se ergue no caminho do pós-lapsarianismo como obstáculo intransponível. A própria antropologia bíblica, tradicionalmente não explorada, seriamente desacredita a noção de que Cristo tenha sido absolutamente igual a todos os membros da humanidade caída. Quem é o homem depois da queda? Não precisamos ir muito longe em nosso estudo das Escrituras para descobrir a condição de cada descendente de Adão. Somos vítimas de uma enfermidade maligna e devastadora, que afetou radicalmente a nossa orientação espiritual e se tornou a natureza primária de todos, desde o nascimento. O planeta Terra tornou-se habitado por uma raça rebelde, de cuja natureza em revolta contra Deus, Cristo não poderia participar. Desde a planta do pé até a cabeça não há no homem coisa sã, senão feridas, contusões, chagas podres... (Is 1:5, 6). Todos se extraviaram e se fizeram inúteis (Rm 3:12). Uma verdadeira multidão de textos bíblicos descrevendo o homem sob o pecado não tratam apenas de pecados-atos, mas de pecado-estado, condição. 9 Poderia Cristo ser descrito por meio destes textos? Deveríamos dizer que Ele também foi concebido em pecado (Sl 51:5)? Dele também seriam exigidos conversão e novo nascimento, como ocorre com todos os demais (Jo 3:5-7)? Afirmar que Cristo foi pecaminoso, em qualquer sentido preciso da palavra, é colocá-lo em linha de colisão com o Pai, o que contraria a ortodoxia bíblica. Ellen G. White também não deixa qualquer dúvida quanto à condição de todos os homens, em solidariedade com o primeiro Adão, e participantes na era da morte: No seu âmago, a natureza humana foi corrompida. Desde então, o pecado alcançou todos os homens. 10 Para ela, o egoísmo, profundamente arraigado em nosso ser, nos veio por herança, 11 e, ainda, com relação ao primeira Adão os homens nada receberam dele, senão a culpa [conseqüências] e a sentença de morte. 12 Comentando Gênesis 3:15, Ellen G. White observa: Não existe, por natureza, nenhuma inimizade entre o homem pecador e o originador do pecado. 13 De fato, o que existe naturalmente entre os homens e a serpente é amizade, bem como o instinto de satisfazer os desejos da carne. Mas em Cristo esta inimizade era em certo sentido natural.... E nunca se desenvolveu a inimizade a ponto tão notável como quando Cristo se tornou habitante da terra. 14 E, portanto, não devemos ter dúvidas acerca da perfeita ausência de pecado na natureza humana de Cristo. 15
7 Editorial / 7 Incluímos, ainda, nesta edição de Parousia as declarações oficiais da Divisão Norte- Americana e da Associação Geral dos Adventistas do Sétimo Dia quanto ao caráter dissidente de vários dos assim chamados ministérios independentes. Dentre eles, o Hartland Institute sediado no estado de Virgínia, EUA, mas hoje presente em algumas partes do Brasil e do mundo, usa camuflagem de parceiro adventista para desorientar os desavisados, oferecer cursos de catequese às suas teorias, sabotar os esforços do remanescente, infiltrar seus agentes em congregações adventistas despreparadas para a nova estratégia, e, finalmente, criar a agitação perfeccionista. Não dizemos estas coisas usando de malícia contra quem quer que seja, mas para que não incorramos em julgamento divino por conhecer a verdade e nada dizer sobre ela. Diz-se que os lugares mais quentes no lago de fogo serão reservados para os que, em situações de crise, falsearam a verdade e falharam em assumir posição clara. Desejamos que os nossos leitores sejam grandemente abençoados por este número da revista teológica do Salt-Unasp, e que a verdade, mas uma vez, tenha impacto libertador. Fraternalmente, Amin A. Rodor Referências 1 Preparado por um grupo representativo de líderes e acadêmicos adventistas do sétimo dia, Seventh-day Adventists Answer Questions on Doctrine (Washington, DC: Review and Herald Association, 1957). 2 Jean R. Zurcher, Tocado Por Nossos Sentimentos, sem indicação de editora ou data de publicação. 3 Para uma síntese da teologia de M. L. Andreasen, veja Roy Admans, The Nature of Christ (Hagerstown, MD: Review and Herald Publishing Association, 1994), 37 a 54. É de Andreasen que os ministérios independentes derivam grande parte de sua teoria perfeccionista, que tem resultado divisivo na igreja. E nisto eles imitam não a Cristo, mas o caráter contencioso do próprio Andreasen, assim como anteriormente, o tinham imitado de Jones. 4 George Knight, From 1888 to Aposatasy, the Case A. T. Jones (Hagerstown, MD: Review and Herald Publishing Association, 1987), 136. Knight observa que a ênfase na igualdade de Cristo conosco está ausente nos escritos de Jones anteriores a 1894 (ibidem). 5 General Conference Bulletin, 1895, 231, 233, 436, citado também por Knight (ibidem). 6 Ellen G. White, Testemunhos para a Igreja (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2005), 2: Segue reproduzida a incrível explicação de Jones: Agora, quanto a Cristo não ter paixões semelhantes às nossas: Nas Escrituras Ele é como nós, e conosco de acordo com a carne [mas] não vá tão longe. Ele foi feito em semelhança à carne pecaminosa. Mas não prenda sua mente a isto. Sua carne foi como a nossa; mas sua mente foi a mente de Cristo Jesus. Se Ele tivesse assumido a nossa mente, como então poderíamos ser objeto da exortação haja em vós a mesma mente que houve em Cristo Jesus? Mas que tipo de mente é a nossa? Oh, está é corrompida pelo pecado (General Conference Bulletin, 1895, 312, 327; veja Knight, From 1888 to Aposatasy, the Case A. T. Jones, 138). Como poderia Cristo ter sido cem por cento igual aos demais, sem uma partícula de diferença, se Ele tinha uma mente diferente da nossa, não afetada pelo pecado? É precisamente este tipo de teimosia e incosistência lógica que constituem o maior legado de Jones aos seus seguidores atuais, incapazes de ser convencidos mesmo diante dos mais compelentes argumentos. Apolinário, pai de uma heresia cristológica, foi condenado por fazer diferença entre a mente de Cristo, ocupada pelo Logos, e o seu corpo (soma) e alma/sentimentos (psyque).
8 8 / Parousia - 1º semestre de Para detalhes sobre a carta a Baker, veja nesta edição de Parousia, o artigo de Amin A. Rodor, Cristo e os Cristãos. 9 Veja o mesmo artigo. 10 Ellen G. White, Review and Herald, 16 de abril de Idem, Historical Sketches (Basle: Imprimerie Polyglotte, 1886), Idem, Orientação da Criança (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1992), Idem, O Grande Conflito (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2001), Idem, Mensagens Escolhidas (Santo André, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1966), 1: Ibid., 256.
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