RECURSO ELEITORAL Nº Procedência: Recorrente: Recorrido: Relator: Juiz Carlos Roberto de Carvalho ACÓRDÃO

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1 RECURSO ELEITORAL Nº Procedência: Belo Horizonte Recorrente: Coligação Todos por Minas Recorrido: Coligação Minas pra Você e Fernando Damata Pimentel Relator: Juiz Carlos Roberto de Carvalho ACÓRDÃO Recurso Eleitoral. Eleições Representação. Horário Eleitoral Gratuito. Direito de resposta. Informação sabidamente inverídica. Improcedência. Autoriza-se o direito de resposta quando a inverdade for manifesta, de conhecimento popular, sem qualquer questionamento. Mero debate político. Salutar ao processo eleitoral. Possibilidade de o candidato, durante o seu próprio horário gratuito, rebater as questões controvertidas e apresentar seu ponto de vista dos fatos, sob pena de se admitir, por meio do direito de resposta, embates sobre questões administrativas da gestão pública. Recurso a que se nega provimento RELATÓRIO A coligação Todos por Minas interpõe recurso eleitoral às fls. 120 contra a decisão monocrática de fls. 113 que julgou improcedente o pedido de direito de resposta constante da representação ajuizada em face da coligação Minas pra Você e Fernando Damata Pimentel, sob o fundamento de divulgação de informação sabidamente inverídica em programa eleitoral de rádio, em bloco. Alega que, no dia 15/9/2014, Fernando Damata Pimentel, divulgou, na Rádio, nos blocos das 7h e 12h, informações sabidamente inverídicas a respeito do responsável pela criação do Centro de Especialidades Médicas de Belo Horizonte e sobre a premiação como 8º melhor prefeito do mundo. Consigna, inicialmente, que o direito de resposta deduzido de alegação sabidamente inverídica tem a finalidade de proteger o eleitor, muito mais que o candidato, para que aquele não seja ludibriado com falsas informações. Nesse sentido, afirma ser descabida a tese defensiva que alegou ser necessária a imputação de ofensa a fim de que seja concedido o direito de resposta. Informa que a alegação dos recorridos de terem criado, com exclusividade, o Centro de Especialidades Médicas de BH não corresponde à realidade, vez que o refelasc/sdr 1

2 rido centro foi um projeto que contou com a participação de três esferas do Governo e uma entidade da sociedade civil. Acresce que o Governo de Minas investiu R$ 62 milhões ao passo que a Prefeitura de BH, sob a gestão de Fernando Pimentel, aplicou, apenas, R$ 4 milhões. Quanto à alegação de Fernando Pimentel ter sido eleito o 8º melhor prefeito do mundo, assegura que a informação é falsa, assim como o título outorgado, pois, metodologicamente o concurso prescindiu de substrato científico, já que qualquer pessoa do mundo podia indicar seu prefeito e votar nele quantas vezes quisesse. Assevera que o concurso que outorgou o título a Pimentel foi acusado de suspeita de fraude, conforme divulgado na mídia. Informa que tal suspeita decorreu do fato de um dos consultores da ONG que promoveu o concurso ser Rodrigo Queiroga, analista de informática da empresa Prodabel de Belo Horizonte, o que poderia ter contribuído não só para a indicação, mas também para a votação de Fernando Pimentel. Acrescenta que após tais denúncias, o site da ONG foi retirado do ar. Ao final, requer o provimento do recurso a fim de deferir o exercício do direito de resposta. Os recorridos apresentam contrarrazões às fls É o relatório. VOTO O recurso é próprio e tempestivo. Presentes os demais pressupostos de admissibilidade, dele conheço. Após detido exame das razões recursais, não encontrei elementos que justificassem a modificação da decisão recorrida. Isto posto, acolho a decisão pelos seus próprios fundamentos, pelo que, a fim de possibilitar a análise colegiada dos eminentes pares, colaciono o seu inteiro teor: Vistos, Trata-se de representação em que se requer direito de resposta proposta pela Coligação Todos por Minas em face da Coligação Minas Pra Você e de

3 Fernando Damata Pimentel, sob o argumento de que o candidato a Governador da Coligação representada divulgou afirmações sabidamente inverídicas. Alega que, no dia 15/9/2014, o candidato da Coligação representada, Fernando Damata Pimentel, divulgou na Rádio nos blocos das 7h e 12h informações sabidamente inverídicas a respeito do responsável pela criação do Centro de Especialidades Médicas de Belo Horizonte e sobre a premiação como melhor prefeito do mundo. Sustenta que o art. 58 da Lei n 9.504/97 assegura o direito de resposta a candidato, partido ou coligação atingidos por conceito, imagem ou afirmação caluniosa, difamatória ou sabidamente inverídica. Afirma que o Centro de Especialidades Médicas de Belo Horizonte foi criado em parceria com as três esferas de governo, federal, estadual e municipal, não se tratando de uma obra exclusiva do governo municipal. Assim, requer que se restabeleça a verdade sobre os fatos, por meio da concessão do direito de resposta pela inverdade divulgada. Aduz, também, que a informação de que o Prefeito Pimentel foi eleito o 8 melhor prefeito do mundo é sabidamente inverídica. Diz que o título outorgado ao prefeito é falso, tendo em vista que a metodologia aplicada prescinde de qualquer substrato científico a sustentar a informação divulgada. Esclarece que Fernando Pimentel participou do concurso intitulado World Mayor ( promovido pela ONG britânica CityMayors ( no ano de 2005, a qual o elegeu como supostamente o 8 melhor prefeito do mundo. Frisa que qualquer pessoa pode indicar um prefeito, declarar o apoio e, ainda, votar nele quantas vezes quiser; que esse concurso não possui credibilidade; que pairam sobre ele suspeitas e manipulação de fraude, pois um dos consultores da City Mayor para a América Latina, Rodrigo Queiroga, era analista da Prodabel, empresa de informática do município de Belo Horizonte, fato que pode ter contribuído para a indicação e votação em Fernando Pimentel. Sustenta que essa informação é impactante, pois visa a incutir na mente do eleitor que Fernando Pimentel eleito o 8 melhor prefeito também será o mais capacitado para governar Minas Gerais. Pede ao final pela procedência da ação para deferir o direito de resposta à Coligação Todos Por Minas, nos termos da legislação vigente. Com a peça inicial foram apresentados documentos e a mídia contendo a propaganda veiculada. Em contestação, Fernando Damata Pimentel rebate os fundamentos da inicial, lasc/sdr 3

4 alegando que a criação do Centro de Especialidades Médicas teve a participação efetiva da Prefeitura de Belo Horizonte, sendo, portanto, verdadeiros os fatos divulgados. Quanto à alegação sobre a premiação de Fernando Pimentel como o 8 melhor prefeito do mundo, sustenta que o representado foi agraciado pela Word Mail, não havendo inverdades nesse fato. E, acrescenta que, sobre a alegação da parte representante quanto à fraude no concurso, afirma que este Tribunal já decidiu a respeito da validade da premiação, ensejando, no caso, a litigância de má-fé. Requer a improcedência do pedido e, ainda, a condenação da representante em litigância de má-fé, por ter utilizado como prova conteúdo de notícia já reconhecida por este Tribunal. O Procurador Regional Eleitoral ao se manifestar opina pelo indeferimento do pedido de direito de resposta. É o relatório. Decido. Conforme relatado, pretende a Coligação Todos Por Minas o deferimento do pedido de direito de resposta, visto que o candidato Fernando Damata Pimentel veiculou nos programas de Rádio informações inverídicas. A partir da escolha de candidatos em convenção, é assegurado o direito de resposta a candidato, partido ou à coligação atingidos, ainda que de forma indireta, por afirmação sabidamente inverídica difundida por qualquer veículo de comunicação social, nos termos do artigo 58, caput, da Lei 9.504/97. Sobre manifestação sabidamente inverídica já se pronunciou o TSE, quando do julgamento do Recurso Eleitoral , Relator Min. Mário Devienne Ferraz, em 28/09/2010, sendo a informação que pode ser aferida pelo homem médio e caso dependa de demonstração probatória, não pode ser ofertado direito de resposta. Com esses preceitos objetiva-se assegurar aos candidatos, partidos e as coligações proteção à honra durante a campanha eleitoral; bem como, ao eleitor, o recebimento de informações verdadeiras necessárias à formação de convicção para o exercício do sufrágio. O trecho questionado é o seguinte: Locutor 2: E você sabe porque Pimentel continua na frente? Locutor 1: Porque como prefeito de Belo Horizonte ele criou as unidades municipais de educação infantil, as UMEIs. Locutor 2: E foi o criador do Vila Viva e das escolas de tempo integral. Locutor 1: Ele também criou o centro de especialidades Médicas. Locutor 2: E por isso foi eleito pela fundação inglesa (?), o oitavo melhor prefeito do mundo. Do conjunto probatório juntado aos autos, verifica-se, quanto à criação do centro de especialidade médicas, de fato, a Prefeitura de Belo Horizonte parti-

5 cipou da obra conjuntamente com os demais governos federal e estadual. É importante frisar que Fernando Pimentel como Chefe do Poder Executivo Municipal, à época, também foi responsável pela construção da obra, não se tratando, portanto, de matéria inverídica. Aos candidatos é permitida a divulgação de obras e projetos realizados em seus governos. Quanto aos questionamentos sobre a premiação de Fernando Damata Pimentel ao prêmio World Mayor, como o 8 melhor prefeito do mundo, alega a representante que o título é fraudulento e utilizado como ferramenta de campanha, levando a idéia de que o candidato vem construindo uma mentira. No conjunto probatório, verificam-se as regras da premiação, discorrendo sobre quem pode participar, com quem concorrem os indicados e como os vencedores são eleitos. Ocorre que, ainda que sejam questionáveis os critérios de escolha dos melhores prefeitos pela ONG City Mayors, fato é que Fernando Pimentel foi, realmente, agraciado pela organização. Ele obteve o título, assim, não se pode afirmar que o fato é sabidamente inverídico. Ademais, deve-se destacar que, para a concessão do direito de resposta, o Tribunal Superior Eleitoral tem exigido clara mensagem com informação inverídica, caluniosa, difamatória ou injuriosa, o que não se observou na hipótese dos autos, conforme julgado que ora transcrevo: ELEIÇÕES PROPAGANDA ELEITORAL. DIREITO DE RESPOS- TA. FATO SABIDAMENTE INVERÍDICO. Para efeito de concessão de direito de resposta, não caracteriza fato sabidamente inverídico crítica à administração baseada em fatos noticiados pela imprensa. A mensagem, para ser qualificada como sabidamente inverídica, deve conter inverdade flagrante que não apresente controvérsias. Direito de resposta negado. Recurso desprovido. (Rp - Representação nº Brasília/DF - Acórdão de 28/9/ Relator(a) Min. HENRIQUE NEVES DA SILVA - publicação: PSESS - Publicado em Sessão, data 28/9/2010) Peço licença, ainda, para transcrever trecho do bem lançado parecer da Procuradora Regional Eleitoral Auxiliar, folhas 110 e 111v: (...)constata-se que as críticas efetuadas pela Coligação representante à idoneidade dos critérios eleitos para a concessão do prêmio!world Mayor ou, ainda, à imparcialidade dos dirigentes da organização não governamental britânica City Mayors, responsável pela premiação, só fazem ressaltar que a informação não pode ser classificada como sabidamente inverídica, visto que sua subjetividade dá margem a questionamentos e opiniões diversas. (...) Assim, tendo em vista que foi provado nos autos que as alegações referentes à primeira assertiva não são sabidamente inverídicas e em razão da subjeitividade que ronda a segunda assertiva, impedindo sua classificação como sabidamente inverídica, inexiste o direito de resposta pleiteado com base no art. 58 da Lei n/ 9.504/97. Nesse contexto, cabe à parte representante, durante o seu próprio horário gratuito, rebater as questões controvertidas e apresentar seu ponto de vista dos fatos, sob pena de se admitir, por meio do direito de resposta, debates sobre questões políticas. Quanto à condenação por litigância de má-fé, pleiteada pela Coligação representada, não se vislumbra a alegada litigância de má-fé ou o abuso da parte lasc/sdr 5

6 representante. Assim, não cabe aplicação da multa pretendida. Por todo o exposto, JULGO IMPROCEDENTE o pedido inicial. Pelo exposto, nego provimento ao recurso. É como voto.