NATANAILDO BARBOSA FERNANDES
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1 UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ - UESC Programa Regional de Pós-graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente Mestrado em Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente CAPACIDADE DE USO DAS TERRAS NA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO JIQUIRIÇÁ, RECÔNCAVO SUL DA BAHIA NATANAILDO BARBOSA FERNANDES ILHÉUS, BAHIA. 2008
2 NATANAILDO BARBOSA FERNANDES CAPACIDADE DE USO DAS TERRAS NA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO JIQUIRIÇÁ, RECÔNCAVO SUL DA BAHIA Dissertação Dissertação apresentada apresentada ao ao Programa Programa Regional Regional de de Pós-graduação Pós-graduação em em Desenvolvimento Desenvolvimento e Meio Meio Ambiente, Ambiente, sub-programa sub-programa Universidade Universidade Estadual Estadual de de Santa Santa Cruz, Cruz, como como parte parte dos dos requisitos requisitos para para a obtenção obtenção do do título título de de Mestre Mestre em em Desenvolvimento Desenvolvimento Regional Regional e Meio Meio Ambiente. Ambiente. Área Área de de concentração: concentração: Planejamento Planejamento e e Gestão Gestão Ambiental Ambiental no de Trópico Bacia Hidrográfica. Úmido. ILHÉUS, BAHIA. 2008
3 NATANAILDO BARBOSA FERNANDES CAPACIDADE DE USO DAS TERRAS NA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO JIQUIRIÇÁ, RECÔNCAVO SUL DA BAHIA COMISSÃO EXAMINADORA Ilhéus BA, 23/10/2008. Prof. Dr. Maurício Santana Moreau UESC - Universidade Estadual de Santa Cruz Orientador Prof. Dr. Dan Érico Lobão CEPLAC - CEPEC Examinador Externo Prof. Dr.Neylor Alves Calasans Rego UESC - Universidade Estadual de Santa Cruz Examinador Interno
4 À minha mãe, Isabel Barbosa Fernandes, pelo amor, carinho e apoio dedicados até hoje a mim, por ser a principal responsável pelo meu sucesso no plano de vida pessoal e profissional e por me apoiar nas etapas mais difícies e desafiadoras da minha vida; Ao meu pai, Pedro Fernandes de Lima pelos ensinamentos de respeito, conduta, ética, hombridade e postura moral durante toda a minha vida; A minha amada Lívia, pelo amor e carinho dedicados a mim, as minhas filhas Natanna e Nayanna, aos meus irmãos e a toda a minha família, pela confiança, apoio e incentivo em todos os momentos desta trajetória; OFEREÇO E DEDICO.
5 AGRADECIMENTOS Ao Programa Regional de Pós-graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente da Universidade Estadual de Santa Cruz e a Escola Agrotécnica Federal de Santa Inês BA, pela oportunidade concedida a mim para a realização desse curso. Ao Professor Dr. Maurício Santana Moreau pela amizade, orientações concedidas e apoio incondicional, durante todas as fases dessa dissertação. Ao Professor Dr. Neylor Alves Calasans Rego, pelo apoio e dedicação para a realização desse curso. Aos colegas do curso; Eliana, Elenildo, Jadson, Lícia, Marco, Nilton e Tito, pelo companheirismo, solidariedade e presteza ao longo dessa caminhada de convivência. A professora Drª. Ana Maria Moreau, pela amizade e apoio durante todas as etapas do curso. A todos os Professores do curso: Programa Regional de Pós-graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente da Universidade Estadual de Santa Cruz, pela amizade e ensinamentos. Aos colegas; Abdon, Adriana, Carine, Clovis, Emmanuel e Nelson pelas orientações e contribuições no início desta jornada.
6 v Capacidade de uso das terras da bacia hidrográfica do rio Jiquiriçá, Recôncavo Sul da Bahia RESUMO A bacia hidrográfica do rio Jiquiriçá, localizada na região centro leste do Estado da Bahia, ocupa uma área de quase 7 mil km 2, com características ambientais bastante diversificadas ao longo de toda a bacia hidrográfica. Devido à forma de ocupação e utilização dos recursos naturais, a bacia hidrográfica do rio Jiquiriçá vem sofrendo crescente degradação dos seus recursos naturais, principalmente, pela utilização de manejos agropecuários inadequados. Por isso, esse trabalho foi desenvolvido no intuito de contribuir para mitigar os problemas ambientais e aumentar o conhecimento dos aspectos ambientais e da capacidade do uso dos solos da bacia hidrográfica do rio Jiquiriçá. Como metodologia, utilizou-se técnicas de geoprocessamento para delimitar a bacia hidrográfica do rio Jiquiriçá a partir do modelo digital de elevação; caracterizouse o ambiente da bacia hidrográfica do rio Jiquiriçá nos seus aspectos geomorfológicos, pedológicos, de clima e vegetação; identificaram-se as Áreas de Preservação Permanente da bacia hidrográifca; caracterizaram-se os aspectos socioeconômicos e elaborou-se o mapa de capacidade de uso das terras para fins agrícolas, com base na interação dos fatores ambientais caracterizados. Como resultado foi obtido um novo mapa político da bacia hidrográfica do rio Jiquiriçá baseado nos divisores de águas. Também foi observado que 58,18% da bacia hidrográfica encontram-se sob o clima semiárido (BS) e 38, 50% sob o clima tropical com estação seca, fatores que contribuem para a limitação do uso das terras na bacia hidrográfica. Além disso, predominam em 75,80% da área, as classes de solo dos Latossolos Amarelos e Vermelho-Amarelos Distróficos (baixa fertilidade) e o uso da terra com pastagens extensivas e agricultura, ocupando 79,52% da área da bacia hidrográfica. Por causa desta interação solo, clima, geomorfologia e uso da terra, foram identificadas seis classes de capacidade de uso das terras e dez unidades de capacidade de uso das terras. A principal classe de capacidade de uso encontrada foi a classe II, que são terras cultiváveis com problemas simples de conservação e/ou de manutenção de melhoramentos, ocupando 71,36% da área da bacia hidrográfica do rio Jiquiriçá, indicando o grande potencial agrícola da área estudada. Palavras-chave: Aptidão agrícola, Vale do Jiquiriçá, adequação ambiental.
7 vi Capacity to use the land for Jiquiriçá basin river, Bahia southern Recôncavo ABSTRACT The basin of the Jiquiriçá river, located in the east of central region in the state of Bahia, occupies an area of nearly 7 thousand km2, with environmental characteristics very different throughout the basin. Due of the way of occupation and use of natural resources, the basin of the Jiquiriçá river has been suffering increasing degradation of its natural resources, mainly by the use of inappropriated agricultural management. Therefore, this study was conducted in order to mitigate environmental problems and increase awareness of environmental and land-use capacity of the basin of the Jiquiriçá river. As methodology was used techniques of GIS to delimit the basin of the Jiquiriçá river from the digital elevation model; characterized the environment of the river basin Jiquiriçá in their geomorphological features, soil, climate and vegetation;- identified Areas where the Permanent Preservation of the basin hidro; of them were drafted and socioeconomic aspects is the statement of ability to use the land for agricultural purposes, based on the interaction of environmental factors characterized. The result has been obtained by a new political map of the Jiquiriçá river basin based on dividing the waters. We also observed that 58,18% of the watershed are under the semi-arid region (BS) and 38,50% under the tropical climate with dry season, factors that contribute to limiting the use of land in the basin. Moreover, dominant in 75.80% of the area, the soil classes of Oxisols Yellow-Red and Yellow dystrophic (low fertility) and the use of land with extensive pasture and agriculture, occupying 79.52% of the area of the basin. Because of this interaction soil, climate, geomorphology and use of land, identified six classes of capacity for land use and ten units of capacity in use of land. The main class of capacity in use was found to Class II, which are arable land with simple problems of conservation and / or maintenance of improvements, occupying 71.36% of the area of the basin of the Jiquiriçá river, indicating the great potential of agriculture area. Keywords: Fitness agriculture, Jiquiriçá Valley, suitability environmental.
8 vii LISTA DE FIGURAS Figura 1 Localização da bacia hidrográfica do rio Jiquiriçá BA Figura 2 Resumo da variação do tipo e da intensidade máxima de uitilição das terras sem risco de erosão acelerada em função das classes de capacidade de uso das terras Figura 3 Esquema dos grupos, classes, subclasses e unidades de capacidade de uso das terras Figura 4 Mapa político da bacia hidrográfica do rio Jiquiriçá BA apresentando o novo limite da bacia hidrográifica determinado através do ArcGIS/SWAT Figura 5 Distribuição dos diferentes climas que ocorrem na bacia hidrográfica do rio Jiquiriçá BA Figura 6 Mapa geomorfológico da bacia hidrográfica do rio Jiquiriçá BA Figura 7 Mapa de Classes de altitude da bacia hidrográfica do rio Jiquiriçá BA Figura 8 Mapa de classes de declividade da bacia hidrográfica do rio Jiquiriçá BA Figura 9 Mapa pedológico da bacia hidrográfica do rio Jiquriçá BA 27 Figura 10 Classes de uso da terra na bacia hidrográfica do rio Jiquiriçá BA Figura 11 Mapa das Áreas de Preservação Permanentes sobre as classes de uso da terra da bacia hidrográfica do rio Jiquiriçá BA Figura 12 População urbana e rural nos anos de 1970 a 2007 na bacia hidrográfica do rio Jiquriçá BA Figura 13 Ocupação das terras na bacia hidrográfica do rio Jiquiriçá
9 viii BA Figura 14 Efetivo do rebanho bovino no período de 1990 a 2005 na bacia hidrográfica do rio Jiquiriçá BA Figura 15 Outras atividades de pecuária no período de 1990 a 2005 na bacia hidrográfica do rio Jiquiriçá BA Figura 16 Principais produtos da Lavoura Temporária nos anos de 1990 a 2005 da bacia hidrográfica do rio Jiquiriçá BA Figura 17 Principais produtos da Lavoura Permanente nos anos de 1990 a 2005 da bacia hidrográfica do rio Jiquiriçá BA Figura 18 Mapa de capacidade de uso das terras na bacia hidrográfica do rio Jiquiriçá BA... 39
10 ix LISTA DE TABELAS Tabela 1 Distribuição das classes gerais de solo em percentual na bacia hidrográfica do rio Jiquiriçá BA... Tabela 2 Distribuição das classes de uso das terras em percentual na bacia hidrográfica do rio Jiquriçá BA Tabela 3 Área de Preservação Premanente da bacia hidrográfica do rio Jiquiriçá estabelecida pela legislação e as áreas efetivamente preservadas Tabela 4 Classes e unidades de uso das terras e seu percentuais na bacia hidrográfica do rio Jiquirçá BA... 40
11 x SUMÁRIO Página Resumo... v ABSTRACT... vi 1 INTRODUÇÃO Objetivos Geral Específicos REVISÃO DE LITERATURA Bacias Hidrográficas Impactos causados devido a modificações no uso da terra Capacidade de uso das terras para fins agrícolas ÁREA DE ESTUDO Bacia hidrográfica do rio Jiquiriçá METODOLOGIA Procedimentos Metodológicos Delimitação da bacia hidrográfica do rio Jiquiriçá Caracterização ambiental da bacia hidrográfica do rio Jiquiriçá... 14
12 xi Caracterização socioeconômica dos municípios da bacia hidrográfica do rio Jiquiriçá Capacidade de uso das terras para fins agrícolas RESULTADOS E DISCUSSÃO Delimitação da bacia hidrográfica do rio Jiquiriçá Caracterização ambiental da bacia hidrográfica do rio Jiquiriçá Caracterização socioeconômica dos municípios da bacia hidrográfica do rio Jiquiriçá Capacidade de uso das terras da bacia hidrográfica do rio Jiquiriçá CONSIDERAÇÕES FINAIS REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS... 44
13 1 1. INTRODUÇÃO A bacia hidrográfica do rio Jiquiriçá, localizada na região centro leste do Estado da Bahia, ocupa uma área de quase 7 mil km 2, com características climáticas diversificadas. Ao longo do percurso do rio, da sua nascente até o encontro com o mar são encontradas vegetações de caatinga sucedida por florestas remanescentes da Mata Atlântica (Baixo Jiquiriçá), ambas bastante descaracterizadas pela ação antrópica (GOVERNO DO ESTADO DA BAHIA, 1995). A região de clima semi-árido, encontrada nas porções norte e noroeste da bacia hidrográfica (Alto Jiquiriçá), exceto nas áreas de planalto, apresenta distribuição pluviométrica irregular, com a maioria dos cursos d água intermitente e de caráter torrencial. A faixa de transição, entre os climas subúmidos e semi-árido (Médio Jiquiriçá), é caracterizada por duas estações bem definidas: uma chuvosa e outra seca. A região de clima tropical quente e úmido (Estuário do Jiquiriçá), sem estação seca, também está presente na bacia hidrográfica, sendo caracterizada pela predominância de espécies arbórea, arbustiva e de manguezais (GOVERNO DO ESTADO DA BAHIA, 1995). A bacia hidrográfica do rio Jiquiriçá tem como base econômica a agropecuária, sendo que a participação do comércio e indústria na economia local ainda é pouco expressiva. A agricultura tradicional, predominante na maior parte da
14 2 bacia, está voltada para os cultivos de subsistência, sendo praticada de forma itinerante, com mão de obra familiar. A agricultura moderna com utilização intensiva e indiscriminada de fertilizantes químicos e defensivos agrícolas desenvolve-se no trecho superior da bacia, principalmente com o cultivo de maracujá, tomate e café. A pecuária extensiva é uma atividade desenvolvida em toda a região, embora, concentra - se mais na parte noroeste da bacia (clima semi-árido), onde as pastagens são normalmente utilizadas de forma extensiva, com baixa produtividade. Devido à forma de ocupação e utilização dos recursos naturais, a bacia hidrográfica do rio Jiquiriçá vem sofrendo crescente desgaste dos seus recursos naturais, principalmente, pela utilização de manejos agropecuários inadequados. Observam-se também assentamentos urbanos sem planejamento e a prática do desmatamento predatório, seguido de queimadas constante ao longo da bacia hidrográfica. Além disso, o rio Jiquiriçá e alguns afluentes recebem elevadas cargas poluentes das cidades que o atravessam, sendo também depositário de resíduos sólidos provenientes das atividades urbanas e rurais (matadouros e subprodutos de lavouras, principalmente, café). Percebe-se que a falta de planejamento de uso e gestão das terras, seja pelo desconhecimento, ou seja, pela necessidade imediatista dos agricultores, têm promovido diversos impactos negativos ao meio ambiente, como é o caso da bacia hidrográfica do rio Jiquiriçá, resultando em degradação ambiental e redução da qualidade de vida da população. A conservação e utilização sustentável dos recursos naturais, e até mesmo a recuperação de áreas degradadas, requerem amplo conhecimento das suas características ambientais e dos efeitos negativos causados por determinadas atividades antrópicas. Nesse sentido, o diagnóstico dos elementos ambientais é uma excelente ferramenta na determinação de problemas
15 3 de uso dos recursos naturais, os quais podem auxiliar no planejamento e gestão de um determinado ambiente. Por isso, este trabalho foi desenvolvido no intuito de contribuir com o conhecimento dos aspectos ambientais e da capacidade do uso dos solos da bacia hidrográfica do rio Jiquiriçá, utilizando de técnicas de geoprocessamento e visando alertar para os diversos aspectos de degradação ambiental, causados pela utilização dos recursos naturais sem um planejamento prévio ou determinação da capacidade de suporte dos mesmos OBJETIVOS Jiquiriçá Objetivo Geral Determinar a capacidade de uso das terras na bacia hidrográfica do rio Objetivos Específicos Utilizar técnicas de geoprocessamento para identificar o limite da bacia hidrográfica do rio Jiquiriçá; Caracterizar o ambiente da bacia hidrográfica do rio Jiquiriçá em seus aspectos de clima, geomorfologia, solo e uso da terra/vegetação; Caracterizar os aspectos socioeconômicos dos municípios da bacia hidrográfica do rio Jiquiriçá; Identificar Áreas de Preservação Permanente na bacia hidrográfica do rio Jiquiriçá.
16 4 2. REVISÃO DE LITERATURA 2.1. Bacias Hidrográficas A bacia hidrográfica pode ser definida como unidade física, caracterizada como uma área de terra drenada por um determinado curso d água e limitada, perifericamente, pelo chamado divisor de águas. Segundo Teixeira (2003), a microbacia, do ponto de vista hidrológico, pode ser considerada como a menor unidade da paisagem capaz de integrar todos os componentes relacionados com a qualidade e disponibilidade de água como: atmosfera, vegetação natural, plantas cultivadas, solos, rochas subjacentes, corpos d água e paisagem circundante. Ambientalmente, pode-se dizer que a bacia hidrográfica é a unidade ecossistêmica e morfológica que melhor reflete os impactos das interferências antrópicas, tais como a ocupação das terras com as atividades agrícolas (CUNHA e GUERRA, 1997). A bacia hidrográfica deve ser utilizada como unidade básica para o planejamento conservacionista, entretanto os trabalhos de manejo e conservação do solo vêm sendo em grande parte, ainda hoje, realizados de maneira isolada, em nível de propriedade. O planejamento conservacionista, levando em conta as características da bacia hidrográfica, visa a um controle integrado da erosão do solo
17 5 em toda a área que converge para uma mesma seção de deságüe (CALIJURI et al.,1998). Em alguns programas, a escala de bacia hidrográfica vem sendo adotada como preferencial para o planejamento conservacionista e para a efetiva execução de programas de controle de erosão e conservação de recursos hídricos. Exemplos desta consagração são os Programas de Bacias Hidrográficas (BERTOLINI et al., 1993). Esses programas, principalmente aqueles implantados na região Sul do Brasil, vêm servindo de referência e de exemplo internacional de sucesso de agricultura conservacionista (BUSSCHER et al., 1996). Em regiões úmidas, principalmente se o enfoque está relacionado a projetos conservacionistas, a delimitação da bacia hidrográfica engloba a área de drenagem dos primeiros canais fluviais de fluxo permanente, geralmente coincidindo com os afluentes de um rio principal em nível regional. No entanto, o conceito de bacia de drenagem como um sistema hidrogeomorfológico é mais amplo e define a bacia de drenagem como uma área da superfície terrestre que drena água, sedimentos e materiais dissolvidos para uma saída comum, num determinado ponto de um canal fluvial. Definida desta forma, a bacia de drenagem comporta diferentes escalas, desde uma bacia do porte daquela drenada pelo rio Amazonas, até bacias com poucos metros quadrados que drenam para a cabeceira de um pequeno canal erosivo (COELHO NETTO, 1994). Assim, a delimitação nos Programas Conservacionistas é uma convenção consagrada pelo uso e não um conceito hidrogeomorfológico fechado. Em trabalhos de pesquisa, observa-se maior flexibilidade nos critérios de delimitação das bacias de drenagem, muito mais vinculados aos objetivos do
18 6 trabalho do que as definições e conceitos pré-estabelecidos. Alguns exemplos que podem ser citados são os trabalhos de Hamlett et al. (1992), que utilizaram Sistemas de Informações Geográficas para definir áreas potencialmente poluidoras, devido a atividade agrícola na Pensilvânia, E. U. A., considerando áreas de drenagem de milhares de hectares; ou o de Moldan & Cerny (1994), que consideram que a bacia hidrográfica, visando a estudos biogeoquimicos, não deve ultrapassar 500 hectares. O importante é que, o conceito adotado para a delimitação da bacia de drenagem deve garantir que a área escolhida seja integradora de todos os processos envolvidos no objetivo da análise e que apresente certo grau de homogeneidade, de forma que estratégias, ações e conclusões gerais possam ser estabelecidas para toda a área delimitada. No caso de programas conservacionistas, o principal objetivo é o controle da erosão, que consiste no processo mais diretamente relacionado com a perda de potencial produtivo das terras agrícolas e com a degradação dos recursos hídricos (LAO, 1990). As ações governamentais relacionadas ao manejo e conservação dos solos e recursos hídricos são elaboradas nesta escala. Segundo Bertolini et al (1993), em São Paulo, através do Programa Estadual de Microbacias Hidrográficas, os governos Estadual e Municipal e as associações de agricultores estão iniciando um trabalho visando a adequar o aumento da produção de alimentos para atender ao consumo interno e gerar excedentes para o mercado externo, melhorando o padrão de vida do agricultor e, ao mesmo tempo, utilizando de modo racional e integrado os recursos naturais do solo, da água, flora e fauna. Da mesma forma, em outros Estados, como o Paraná, há Programas de Microbacias Hidrográficas com resultados muito positivos, principalmente na adequação do uso e manejo das terras de maneira a proporcionar um padrão
19 7 agrícola economicamente viável e ambientalmente sustentável (BERTOLINI et al, 1993). Ainda segundo o mesmo autor, a bacia hidrográfica é considerada como área de influência a partir da resolução nº 001/86 do CONAMA (Conselho Nacional do Meio Ambiente), de 1981, passando a ser considerada como a área a ser analisada no estudo de impacto ambiental Impactos causados devido a modificações no uso da terra As principais causas de ameaças à qualidade ambiental em uma bacia hidrográfica estão relacionadas às atividades não sustentáveis, com fins de lucro imediato, que não computam os custos ambientais e sociais repassando-os a terceiros. São gerados, assim, problemas ambientais diversos e interconectados que deverão resultar em sérios prejuízos econômicos e sociais para a bacia hidrográfica. Deve ser ressaltada, entretanto, a necessidade de serem identificadas as causas imediatas, aquelas provenientes de ações localizadas na própria bacia hidrográfica, e as causas mais distantes, mas não menos influentes, que provêm de ações externas à mesma, mas modificam a sua dinâmica interna. Os impactos de maior ocorrência em bacias hidrográficas estão associados aos problemas de erosão dos solos, sedimentação de canais navegáveis, enchentes, perda da qualidade de água e aumento do risco de extinção de elementos da fauna e da flora. Dentro deste contexto, o estabelecimento de medidas de controle e gerenciamento dos recursos naturais, através de um modelo de gestão integrado e eficiente para responder a essas questões ambientais, torna-se uma tarefa de grande importância.
20 8 Este modelo deve estar fundamentado em considerações relacionadas à gestão de bens comuns, como a água e a biota, que, embora presentes em propriedades particulares, a decisão sobre o uso, consumo e destruição dos mesmos não pode ser tomada unilateralmente, por afetar outros usuários. Esta gestão deve exprimir a preocupação em assegurar a renovação da base dos recursos naturais, num horizonte a longo prazo, com base no desenvolvimento de uma consciência ambiental de todos os atores sociais envolvidos que integram com a bacia hidrográfica. Os solos, a água e a biota da unidade de gerenciamento da bacia hidrográfica, são bens comuns e patrimônio da união, e, neste sentido, qualquer atividade potencialmente causadora de danos ambientais nos mesmos, deverá ser passível de controle. A legislação nacional e os tratados internacionais em relação ao uso da água, solo e da biodiversidade necessitam ser conhecidos, regulamentados, aplicados e respeitados em todos os níveis de governo, por meio de um sistema de gerenciamento ágil e dinâmico, na perspectiva de impedir quaisquer tendências de deterioração desses recursos naturais Capacidade de uso das terras para fins agrícolas O homem quando explora os recursos naturais, sempre introduz mudanças nos mesmos, para utilizá-los conforme suas necessidades. Essas mudanças interferem no curso natural do ambiente, gerando desequilíbrio em graus variáveis. É de fundamental importância os esforços para o planejamento territorial que se baseie em estudos rigorosos do meio físico e de sua dinâmica evolutiva (SANABRIA et al., 1996). Estes estudos devem ocupar um lugar de destaque nos
21 9 programas de planejamento integral de desenvolvimento a fim de reduzir ou evitar perdas sócio-econômicas e fazer disto um processo sustentado ao longo do tempo. Neste sentido, considera-se a determinação das variáveis do meio-físico levantadas por especialistas de diversas áreas o primeiro e imprescindível passo para qualquer ação de planejamento (CÂMARA, 1993; BERTOLANI et al., 1997; MOREIRA, 1997; SILVA et al., 1997). A aplicabilidade do planejamento do uso das terras abrange vários níveis, desde o da propriedade agrícola até o nacional. Nos âmbitos mais gerais como o nacional ou regional, o planejamento permite identificar alternativas de desenvolvimento, em função das necessidades e condições sócio-econômicas, já em áreas específicas como microbacias hidrográficas e propriedades agrícolas, ele provê subsídios para adequar as terras às várias modalidades de utilização agrosilvopastoris (WEILL, 1990; LEPSCH et al., 1991). Uma pronta identificação e conhecimento das condições potenciais de desencadeamento e desenvolvimento de uma ameaça natural permitem o planejamento, a tomada de decisão e o dimensionamento adequado visando a prevenção e mitigação das condições de risco. Os riscos são diretamente relacionados à exposição da paisagem, juntamente com as intervenções antrópicas, a fenômenos naturais que por sua magnitude têm capacidade de produzir deterioração do ambiente e perdas totais ou parciais dos bens (MOREIRA, 1997). A avaliação das terras é uma ferramenta que permite o planejamento da utilização dos recursos naturais. Segundo FAO (1976), citada por Weill (1990) a avaliação das terras é: o processo de estimar o desempenho (aptidão) da terra, quando usada para propósitos específicos, envolvendo a execução e interpretação de levantamentos e estudos das formas de relevo, solos, vegetação, clima e outros
22 10 aspectos da terra, de modo a identificar e proceder à comparação dos tipos de usos da terra mais promissores, em termos da aplicabilidade aos objetivos da avaliação. Utiliza-se o termo terra por ser um conceito mais amplo do que solo, terra compreende todas as condições do ambiente físico, do qual o solo é apenas uma parte (YOUNG, 1976 citado por WEILL, 1990) No Brasil, de acordo com Weill (1990) e Marques (2000), os sistemas de avaliação de terras, de utilização mais generalizada são: O sistema de capacidade de uso adaptado da USDA, publicado em 4ª aproximação por Lespsch et al. (1991), o sistema de aptidão agrícola FAO/Brasileiro, revisado e publicado recentemente por Ramalho Filho e Beek (1995) e o sistema de capacidade de uso dos recursos naturais renováveis, publicado pelo projeto RADAMBRASIL (BRASIL, 1983). Com base nessas metodologias autores tem publicado trabalhos buscando a auxiliar a tomada de decisão e conservar os recursos naturais respeitado sua capacidade de uso. Como suporte à utilização dessas abordagens, as técnicas de sensoriamento remoto integrado à tecnologia de sistemas de informações geográficas, são ferramentas de grande utilidade para a realização de pesquisas aplicadas ao estudo de capacidade de uso das terras (SAIZ & FILHO, 1996). Os sistemas de informações geográficas constituem uma das mais modernas e promissoras tendências de armazenamento e manipulação de informações temáticas sobre recursos naturais terrestres, em complemento e até em substituição aos mapas impressos em papel, de difícil manipulação (FORMAGGIO et al., 1992). Através do SIG, obtém-se a sistematização de diferentes fontes de dados, em planos de informação (PI), como: solos, geologia, topografia, uso/cobertura e outros (GIASSON et al., 1997; LIMA et al., 1992).
23 11 3. ÁREA DE ESTUDO 3.1. Bacia hidrográfica do rio Jiquiriçá O rio Jiquiriçá faz parte da bacia hidrográfica do Recôncavo Sul, localizada na região Centro-Leste do Estado da Bahia. Delimitada pelas coordenadas geográficas o o e de latitude sul e 38 o 45 e 40 o 25 de longitude oeste, é integrada por um conjunto de rios independentes, que drenam diretamente para o Oceano Atlântico, onde se destacam os rios Jaguaripe, da Dona, Jiquiriçá, Una, das Almas, Cachoeira Grande, Acarai e Orobó. A bacia hidrográfica do rio Jiquiriçá é a maior sub-bacia do Recôncavo Sul, 2 ocupando uma área de km, equivalente a 39,6% da área total desta bacia hidrográfica. Está localizada aproximadamente entre as coordenadas geográficas o o o o e de Latitude Sul, e e de Longitude Oeste, e apresenta uma extensão total de cerca de 150 km das nascentes dos rios até a sua foz no Oceano Atlântico, onde tem a sua desembocadura ao norte da cidade de Valença. Trata-se de uma bacia intensamente antropizada, abrangendo terras de 19 municípios, total ou parcialmente inseridos na bacia hidrográfica, com uma população total de habitantes dados de 1991, o que representa uma
24 12 densidade demográfica da ordem de 28,94 hab/km, bastante superior a média do Estado, que é da ordem de 21 hab/km. 2 2 Fonte: SEI, 2003 Figura 1 Localização da bacia hidrográfica do rio Jiquiriçá BA.
25 13 4. METODOLOGIA Conforme Ferrari (1982) pode-se classificar esta pesquisa baseando-se principalmente em dois critérios: na forma de utilização dos resultados, classificandoa como aplicada e quanto ao nível de interpretação classificando-a como explicativa. O principal método que será utilizado é o da observação tanto direta como indireta. A seguir serão descritas as características gerais da área de estudo e também os procedimentos metodológicos para que o objetivo geral e os específicos sejam alcançados PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS Delimitação da bacia hidrográfica do rio Jiquiriçá Para identificação dos limites da bacia hidrográfica do rio Jiquiriçá, foi utilizada uma imagem Shuttle Radar Topography Mission (SRTM), disponível no site Global Land Cover Facility (GLCF), com informações espaciais das diferentes altitudes da área da bacia hidrográfica do rio Jiquiriçá. A imagem possui pixel de 30 m de resolução, o que possibilitou criar mapas na escala original de 1: A imagem SRTM é o que muitos autores denominam de modelo digital de elevação MDE. A
26 14 imagem foi trabalhada no ambiente digital através do software`s Soil Water Asssesssment Tool SWAT, que funciona como um módulo do ArcGIS 9.2. No processo de delimitação da bacia hidrografica, adcionou-se inicialmente no banco de dados do SWAT o modelo digital de elevação obtido com a imagem SRTM. Depois, seguiram-se os procedimentos conforme o guia de uso desenvolvido por Di Luzio et al. (2002), para delimitação da bacia hidrográfica do rio Jequiriçá, tomando como base os divisores de águas identificados pelo programa a partir do modelo digital de elevação, dos principais cursos d`água da bacia hidrográfica e do pondo de descarga definido para delimitação da bacia hidrográfica Caracterização ambiental da bacia hidrográfica do rio Jiquiriçá Na caracterização da bacia hidrográfica do rio Jiquiriçá foram utilizadas informações a partir da Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia SEI de 2003, a respeito dos diferentes aspectos da bacia hidrográfica do rio Jiquiriça: geomorfologia, clima e solos. As informações de classes de altitude e modelo digital de elevação foram elaboradas utilizando a imagem Shuttle Radar Topography Mission (SRTM), disponível no site Global Land Cover Facility (GLCF). O mapa de uso da terra/vegetação foi obtido a partir de dados do ano de 2007, do Ministério do Meio Ambientes através da página WEB. Os dados obtidos foram analisados através do uso de técnicas de geoprocessamento e apresentados na forma de mapas cujo limite é a bacia hidrográfica do rio Jiquiriçá. Foram também mapeadas as Áreas de Preservação Permanentes, utilizando as restrições contidas no Código Florestal a partir dos mapas de declividade,
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