MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL. DESPACHO n.º 089 / 2008 / 4º OTC - PRPE - MPF

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1 MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL PROCURADORIA DA REPÚBLICA EM PERNAMBUCO DESPACHO n.º 089 / 2008 / 4º OTC - PRPE - MPF Ref. Procedimento Administrativo / Trata-se de procedimento administrativo instaurado para apurar possíveis irregularidades nas compras de obras de arte para adorno do Aeroporto Internacional do Recife/ Guararapes Gilberto Freyre. são: As obras de arte a que se refere este procedimento Obra Artista Preço Painel Faces Pintadas João Câmara Filho R$ ,00 Quadro sem título Gil Vicente R$ ,00 Escultura Gilberto Freyre Abelardo da Hora R$ ,00 Quadro Bumba meu boi José Cláudio da Silva R$ ,00 Quadro Aqui passa um grande rio Quadro Flora brasileira Três esculturas em cerâmica (Pássaros) Montez Magno R$ ,00 Pedro Frederico Correia de Araújo Almeida R$ ,00 Francisco Brennand R$ ,00 1

2 Considerando o disposto no art. 25, III da Lei nº 8.666/93, as aquisições destas obras de arte se deram sem que houvesse processo licitatório, em face de sua inexigibilidade. Além da aquisição das obras acima mencionadas, este procedimento administrativo investigou também a aquisição do quadro Nordestinados de Anna Elisa Gonçalves Guerra e a contratação da Fundação Joaquim Nabuco para a remoção/recuperação do painel de Francisco Brennand, exposto na sala de embarque doméstico. Primeiramente, no que se refere ao quadro Nordestinados não há o que se perquirir, posto que foi doado pela autora. No concernente à contratação da Fundação Joaquim Nabuco para remoção/recuperação do painel de Francisco Brennand, não houve licitação, em face de sua inexigibilidade com base no art. 25, II da Lei nº 8.666/93, conforme o disposto no Despacho nº 103/2007 4º OTC/ PRPE/ MPF (fls. 116/121) entendo não ter havido qualquer irregularidade. A Fundação Joaquim Nabuco foi escolhida para realizar o serviço de recuperação por ser um fundação pública, vinculada ao Ministério da Educação, com renome internacional e consolidada reputação técnica e com experiência em serviços semelhantes. Com relação às demais obras de arte consta nos autos que foram escolhidas em razão dos trabalhos realizados por seus autores no país, bem como por suas participações em bienais e exposições. A justificativa para o preço pago 2

3 pelas obras é a capacidade técnica dos profissionais e o valor cultural das obras adquiridas. É de se notar que um dos artistas escolhidos foi Francisco Brennand, que teve três esculturas de pássaros compradas pelo valor de R$ ,00, é pai da Sra. Maria Helena Vasconcelos Brennand, esposa do Sr. Carlos Wilson Rocha de Queiroz Campos presidente da INFRAERO à época da compra. Há ainda um outro ponto a se atentar, pois as referidas esculturas não foram adquiridas diretamente ao autor, mas através do contrato em decorrência de contrato celebrado com a Odebrecht/Queiroz Galvão. Instada a esclarecer a inclusão da aquisição das esculturas no contrato de empreitada com a Odebrecht/Queiroz Galvão, a INFRAERO informou que: Quando a INFRAERO define a implantação de um novo Terminal de Passageiros em um Aeroporto de sua rede, é elaborado um documento denominado de Memorial de Critérios e Condicionantes para elaboração dos Projetos da obra a ser contratada. Basicamente, tal documento define todos os elementos que os projetistas devem considerar para elaboração dos documentos técnicos necessários para instauração do processo licitatório de contratação da obra. Ou seja, em tal documento esta listado todo o programa de necessidades da obra planejada, incluindo o dimensionamento da edificação e o detalhamento das diversas especialidades de engenharia, tais como: estruturas de concreto, instalações hidráulicas, elétricas, equipamentos eletromecânicos, (Ex: elevadores, escadas rolantes, etc.), entre outros. No caso específico do Empreendimento no Aeroporto de Recife, o documento em questão é o de número RF/972/MCC/00, emitido em março de Em sua folha de número 07/08 (anexo 01) indica no subitem 2 do item a necessidade de considerar no escopo do Empreendimento Obras de arte em seus ambientes públicos, critério este obedecido no desenvolvimento do Projeto Básico e dos elementos técnicos para instauração do processo licitatório que teve como objeto principal a contratação de obras e serviços de 3

4 engenharia de construção do novo Terminal de Passageiros, de suas obras complementares, da construção do Estacionamento de Veículos e da reforma do atual Terminal de Passageiros do Aeroporto Internacional Guararapes do Recife-PE. Temos que acrescentar ainda que no caso particular de Recife, existe lei municipal (art. 129 da lei nº de 29/01/1997) (anexo 02) que contempla obrigatoriedade de que toda edificação com área superior a m 2 tenha em lugar de destaque, obra de arte executada em escultura, pintura, mural ou relevo escultórico. Apenas para registro, o projeto básico foi concluído em meados do ano de 2000, época em que também foi instaurada a Concorrência Pública Internacional nº 001/2000 Estado de Pernambuco/INFRAERO. O termo de contrato nº 001/2000 foi assinado em 07/12/2000. (fls. 143/144) Com relação à escolha do artista Francisco Brennand a INFRAERO informou que: Desde o início do Projeto, as equipes responsáveis tinham em mente a opção pelo artista Francisco Brennand, considerando que era um artista natural de Pernambuco e de grande renome tanto local, como nacional. Desta forma, desde a época da elaboração do projeto básico, foram realizadas visitas ao atelier do artista para maior conhecimento do seu trabalho. No projeto básico, foi feita a opção de não nomear o artista escolhido para execução das obras de arte previstas no escopo do empreendimento. Com a assinatura do contrato das obras, foi iniciado o desenvolvimento dos projetos executivos e a primeira obra a ser iniciada foi a do Edifício Garagem. Durante o desenvolvimento do Projeto Executivo surgiu proposta de instalar no nível + 10,50 do Edifício Garagem, que na verdade é uma praça suspensa que foi projetada como elo de ligação entre o Terminal de Passageiros (nível da praça de alimentação) e a estação de metro Aeroporto (situada do outro lado da Av. Mascarenhas de Moraes), um local (espelho d'água), para instalação de esculturas (em anexo anexo 03, trecho do projeto executivo do nível + 10,50 do Edifício Garagem e perspectiva ilustrativa do citado espelho d'água com as esculturas). Também durante o desenvolvimento do Projeto Executivo, foi idealizada a reinstalação no novo Terminal de Passageiros do Painel que havia sido retirado do antigo Terminal de Passageiros e 4

5 restaurado pela Fundação Joaquim Nabuco. Logo, tendo em vista tais definições do projeto executivo, a equipe da INFRAERO, em concordância com o arquiteto responsável pelo Projeto, solicitou ao artista Francisco Brennand orçamento para elaboração de esculturas para instalação na praça do edifício garagem. Em 21/08/2001 a INFRAERO recebeu a proposta do artista (anexo 04) para fornecimento de três esculturas em cerâmica queimadas em alta temperatura com tons ferruginosos. Em tal momento, a contratação não foi efetivada, pois o preço cobrado pelo artista foi superior ao valor que existia na planilha contratual para aquisição de obras de artes. Em dezembro de 2002 o Edifício Garagem foi inaugurado e até aquele momento a INFRAERO não deu continuidade para a contratação das citadas esculturas. Em fevereiro de 2003, a equipe da INFRAERO solicitou ao artista que verificasse a possibilidade de enquadramento de seu preço inicialmente proposto dentro dos parâmetros estabelecidos na planilha contratual de forma a concluirmos tal assunto pendente. Em 12 de março de 2003, a INFRAERO recebeu proposta revisada do artista (anexo 05), com menor preço em relação ao inicial tendo em vista ajuste nas dimensões das esculturas a serem elaboradas. Considerando que o novo valor proposto, adicionado do BDI contratual (35%), ficou abaixo do valor atualizado (base nov/2002) previsto na planilha contratual para aquisição de obras de arte, autorizamos o Consórcio Contratado a proceder à aquisição das citadas esculturas através da CF nº 585/DERF/2003 de 31/03/2003 (anexo 06). Cumpre esclarecer ainda que após recebermos as esculturas, nos demos conta da vulnerabilidade do local previsto no Edifício Garagem para sua instalação, considerando ainda que o piso em questão está sendo explorado comercialmente pela INFRAERO com a realização de exposições, eventos e apresentações artísticas. Logo, de forma a garantir que as esculturas fossem preservadas como bem público e como patrimônio cultural, optamos em comum acordo com todos os envolvidos no Empreendimento em instalar as esculturas no 2º andar do novo Terminal de Passageiros, local onde as mesmas encontram-se em permanente exposição para os usuários e visitantes do novo Terminal de Passageiros do Aeroporto do Recife. Finalmente, esclarecemos que a proposta final do artista foi para fornecimento de três esculturas de 2,00 m de altura. Entretanto, após a elaboração das peças, verificamos que o artista as produziu com altura 5

6 média de 2,80m. Ao questionarmos tal fato, o artista nos informou que com 2,00 m as esculturas não ficariam proporcionais ao local onde seriam instaladas e que optou em aumentá-las, sem custos adicionais, para que as esculturas ficassem compatíveis com o porte das edificações projetadas. (fls. 144/145). De fato, compulsando os autos, verifico que no projeto básico havia previsão de obras de arte nos ambientes públicos do novo Terminal de Passageiros (fl. 149). Além disso, às fls. 157/158 encontra-se a primeira proposta do artista Francisco Brennand datada de 21/08/2001 no valor total de R$ ,00. A segunda proposta do artista Francisco Brennand foi orçada no valor de R$ ,00 sobre os quais incidirá 35% do BID (fl. 160), dessa forma as três esculturas foram compradas pelo valor total de R$ ,00. É importante notar que embora a compra das esculturas tenha ocorrido em 2003 quando o Sr. Carlos Wilson Rocha de Queiroz Campos era presidente da INFRAERO a primeira proposta de Francisco Brennand data de 2001 (quando o Sr. Carlos Wilson não tinha vinculação com a INFRAERO). Ademais, o artista plástico referido é de renome nacional e internacional, várias de suas obras adornam lugares públicos e particulares na cidade do Recife, inclusive um painel de sua autoria era exposto no antigo Terminal de Passageiros desde a década de 50. É de se notar também que o perito contratado por esta Procuradoria da República avaliou que o valor total das três esculturas é R$ ,00. Por fim, não caberia a realização de processo licitatório para a contratação de obras de arte, sendo caso 6

7 de inexigibilidade, conforme art. 25, III da Lei nº 8.666/93. Nesse caso, faz-se necessário tão somente que o artista seja consagrado pela crítica ou opinião pública, como é o caso de Francisco Brennand, e que o preço pago pela Administração seja compatível com o praticado no mercado, este último requisito também foi atendido, de acordo com a avaliação do perito (fls. 238/242). Ante o exposto, entendo que a única irregularidade no processo de compra das três esculturas foi a não realização da pesquisa de preço no mercado de arte que deveria constar nos autos do processo (art. 26 da Lei nº 8.666/93). Entretanto, apesar de não constar esta pesquisa nos autos, tem-se que o preço pago pela Administração é compatível com o preço pago no mercado por obras semelhantes do autor. Logo não seria razoável movimentar a máquina estatal ministerial e judicial por um mero equívoco do administrador que não trouxe prejuízo à administração. Note-se que a lei de improbidade administrativa visa punir o administrador ímprobo e não o desastrado ou mal preparado que, por equívoco, não cumpriu todas as formalidades previstas na lei de licitações e contratos administrativos, no caso, pois restou provado que não houve prejuízo à Administração. Dessa forma, entendo que no que se refere à aquisição das esculturas de Francisco Brennand não há o que se apurar, não havendo aqui nenhuma irregularidade. Com relação às demais obras de arte adquiridas pela administração e acima enumeradas, observo que não consta pesquisa de preço no mercado de arte nos autos 7

8 dos processos de compra de nenhuma delas, em desconformidade com o disposto no art. 26 da Lei nº 8.666/93. O administrador deve comprovar a razoabilidade do preço pago pelas obras de arte, demonstrando que são compatíveis com os praticados no mercado. Entretanto, no caso das aquisições investigadas por este procedimento, não consta nos autos elementos objetivos que justifiquem os valores despendidos pela Administração. Dessa forma, com o fito de apurar se os valores de aquisição das obras de arte mencionadas eram, à época da compra, compatíveis com os praticados no mercado de arte, foi determinada a avaliação das obras de arte por profissional contratado por esta Procuradoria da República. Foi realizada perícia nas obras de arte pelo Sr. Sérgio Barbosa de Oliveira, segundo o qual as obras foram adquiridas por valores compatíveis com os da avaliação, não havendo prejuízo para a Administração (fls. 235/254). O quadro abaixo compara os preços pagos pela Administração e o avaliado pelo perito: Obra Autor Preço Avaliação do perito Painel Faces Pintadas João Câmara Filho R$ ,00 R$ ,00 Quadro sem título Gil Vicente R$ ,00 R$ ,00 Escultura Gilberto Freyre Quadro Bumba meu boi Abelardo da Hora R$ ,00 R$ ,00 José Cláudio da Silva R$ ,00 R$ ,00 Quadro Aqui passa Montez Magno R$ ,00 R$ ,00 8

9 um grande rio Quadro Flora brasileira Três esculturas em cerâmica (Pássaros) Pedro Frederico Correia de Araújo Almeida R$ ,00 R$ ,00 Francisco Brennand R$ ,00 R$ ,00 Considerando que a inexigibilidade do processo licitatório para a aquisição das obras de arte se deu com fulcro em dispositivo legal e que os valores pagos são compatíveis com os de mercado, não havendo suspeita de superfaturamento das obras, não vislumbro razoabilidade em ingressar com Ação de Improbidade Administrativa apenas pela ausência nos autos administrativos de aquisição, de pesquisa de mercado das obras em comento. Diante do exposto, decido pelo arquivamento do presente procedimento administrativo, determinando à SOTC que: 1.remeta os autos à 5.ª Câmara de Coordenação e Revisão do Ministério Público Federal para fins de homologação 2.publique a presente decisão no sítio da Procuradoria da República no Estado de Pernambuco na internet. O caráter anônimo da representação inviabiliza a notificação do noticiante acerca do arquivamento. Recife, 06 de agosto de Marcelo Mesquita Monte Procurador da República 9