PARECER TÉCNICO Departamento Jurídico Origem: Direção do Sindicato dos Médicos do Rio de Janeiro - SINMED/RJ

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1 Rio de Janeiro, 7 de maio de 202. PARECER TÉCNICO Departamento Jurídico Origem: Direção do Sindicato dos Médicos do Rio de Janeiro - SINMED/RJ Ementa: Considerações sobre a legalidade dos Artigos 40 a 47, 86, e inciso II do Art. 05, da MEDIDA PROVISÓRIA Nº568, DE DE MAIO DE 202, que trata da Remuneração Cargos de Médico. dos. CONSULTA Consulta-nos a Direção do Sindicato dos Médicos do Rio de Janeiro - SINMED/RJ, a cerca da legalidade dos Artigos 40 a 47, 86, e inciso II do Art. 05, da MEDIDA PROVISÓRIA Nº 568, DE DE MAIO DE 202, que Dispõe sobre servidores do Instituto Nacional de Meteorologia, da Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira, da Agência Brasileira de Inteligência, da

2 Comissão de Valores Mobiliários, do Instituto Evandro Chagas, do Centro Nacional de Primatas, da Fundação Oswaldo Cruz, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, do Instituto Nacional do Seguro Social, da Superintendência de Seguros Privados, do Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia, da Superintendência Nacional de Previdência Complementar, do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira, do Fundo Nacional de Desenvolvimento para a Educação, do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas, do Serviço Exterior Brasileiro, do Instituto Brasileiro de Turismo, da Superintendência da Zona Franca de Manaus, do ex-território de Fernando de Noronha e do Ministério da Fazenda, sobre os ocupantes de cargos de Médico do Poder Executivo, de cargos de Especialista em Infraestrutura Sênior, de cargos de Agente de Combate às Endemias e de cargos das carreiras de Magistério Superior e do Ensino Básico, Técnico e Tecnológico, de Analista de Infraestrutura, de Ciência e Tecnologia, de Tecnologia Militar, de Desenvolvimento de Políticas Sociais e de Finanças e Controle, sobre as gratificações e adicionais que menciona, e dá outras providências, publicada no DO da União, de 4 de maio de PARECER 2.- Considerações Preliminares: Em atenção ao assunto em análise, cumpre- nos ressaltar que inicialmente esclarecemos que o presente 2

3 trabalho não visa esgotar a questão apontada, tendo em vista que s. m. j. trata-se de uma Medida provisória que substitui o projeto de lei (PL) 2203/, enviado em 3/08/20 para o Congresso Nacional e que recebeu mais de 80 emendas e ainda aguardava votação. O conteúdo da MP 568/2 trata das carreiras, cargos e planos de cargos do poder Executivo Federal, criando critérios de gratificações para dezenas de carreiras do Serviço Público Federal constantes na disposição da referida MP, apontando alterações no Regime Jurídico Único da lei 82, trazendo várias tabelas de remuneração, que para melhor análise e para elucidação desta norma, necessário se torna a conjugação das áreas parecer. jurídica e econômica para elaboração do solicitado Nos debruçaremos também para identificarmos se constam na MP 568 as mesmas burlas constitucionais e infraconstitucionais encontradas nos artigos que tratam da carreira do médico servidor público federal, do PL 2203, como por exemplo, a redução do salário dos médicos federais em 50%, as alterações de critérios no pagamento de adicional de insalubridade e carga horária de médicos, e a revogação da LEI Nº 9.436/97, entre outras medidas. 3

4 De acordo com o art. 06 da MP 568/2, sua vigência tem como marco a data de sua publicação no Diário Oficial da União (DOU), dia 4/05/202, PORTANTO DE EFEITO IMEDIATO Da Análise Jurídica Analisando o aspecto jurídico, do Art.40 e seguintes da MP 568/2, que trata da remuneração dos cargos dos médicos, verificamos que o interesse da Administração Pública é o de burlar o Princípio Constitucional da Irredutibilidade de Vencimentos, valendo-se para isso do Princípio da Supremacia do Interesse Público. 37, que: O texto Constitucional assevera em seu Artigo " A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte:... (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 9, de 998) 4

5 Muito embora, o Princípio Constitucional da Supremacia do Interesse Público não esteja expresso na norma em comento, encontra-se implicitamente insculpido, já que rege a matéria da administração Pública, que se encontra no caput do artigo supramencionado. Verificamos, que as alterações introduzidas pela MP 568/2, que diretamente se relacionam com as mencionadas carreiras, está diretamente condicionada aos interesses da Administração pública, em face do Principio da Supremacia do Interesse Público. Acreditamos que a edição desta medida faz parte do processo de corte de recursos públicos para o superávit primário, buscando assim reduzir os gastos público, já que estavam presentes na LOA (Lei Orçamentária Anual) de 20, e no PL 2203/ e agora contemplados nesta Medida Provisória. Da análise do artigo 44, como por exemplo, combinado com o ANEXO XLVII, verificamos que o vencimento básico dos cargos de médico do Plano de Carreira dos cargos Técnico-Administrativo em Educação, médicos professores universitários, a partir de º de julho de 202, passarão a ganhar os mesmos valores percebidos por qualquer outro profissional da Classe "E" ( nível superior). 5

6 A redução do salário dos médicos é inconstitucional e inaceitável. O piso salarial dos médicos por 20h a partir de agora, no PCCTAE, é de R$.494,97 e o piso para 40 h é R$ 2.989,33 (mesmo valor do PCCTAE). Médicos que têm hoje uma jornada de 20h/semanais no serviço público, ao ingressarem na carreira teriam que cumprir 40h/semanais pelo mesmo valor, ou seja uma redução de 50% na remuneração. A redução de vencimentos e piso salarial, certamente estimula o desinteresse na investidura do cargo de médico. Desta forma a MP, fere o dispositivo legal constitucional, já que descumpre um dos princípios da administração pública, que é o Princípio da Eficiência. A Emenda Constitucional nº 9/998, que guindou ao plano constitucional as regras relativas ao projeto de reforma do Estado, acrescentou, ao caput do art. 37, o princípio da eficiência, denominado no projeto da Emenda como de "qualidade do serviço prestado". Temos que Princípio da eficiência é Princípio segundo o qual o Governo deve atuar com eficiência. Mais especificamente, princípio da eficiência é o que impõe à administração pública direta e indireta e a seus agentes a persecução do bem comum, por meio do exercício de suas competências de forma imparcial, neutra, transparente, participativa, eficaz, sem burocracia e sempre em busca da 6

7 qualidade, rimando pela adoção dos critérios legais e morais necessários para melhor utilização possível dos recursos públicos, de maneira a evitarem-se desperdícios e garantir-se maior rentabilidade social. Indaga-se se com baixos salários pagos aos profissionais da saúde é possível atrair profissionais qualificados para ocupar as funções públicas? Atualmente os médicos que laboram uma jornada de 20h/semanais, terão redução da remuneração em 50%, que serão compensado pela criação de uma VPNI (Vantagem Pessoal Nominalmente Identificada) no valor dos outros 50%. Desta forma havendo promoção ou progressão, haverá compensação pela VPNI, a qual não sofreria qualquer reajuste. Só haverá aumento se o governo o conceder de forma linear, conforme estabelece o º do artigo 46, in verbis: Art. 46. A aplicação dos valores remuneratórios constantes dos Anexos XLV, XLVI, XLVII e XLVIII, a esta Medida Provisória, relativos à jornada de trabalho semanal dos titulares dos cargos de que tratam os arts. 46, 47, 48 e 49, aos servidores ativos, aos inativos e aos pensionistas, não poderá implicar redução de remuneração, de proventos e de pensões. 7

8 º Na hipótese de redução de remuneração, de proventos de aposentadoria ou de pensão em decorrência da aplicação das tabelas de que trata o caput, eventual diferença será paga a título de Vantagem Pessoal Nominalmente Identificada - VPNI, de natureza provisória, que será gradativamente absorvida por ocasião do desenvolvimento no cargo por progressão ou promoção ordinária ou extraordinária, da reorganização ou da reestruturação dos cargos ou das remunerações previstas nesta Lei, da concessão de reajuste ou vantagem de qualquer natureza.(grifo nosso) Verifica-se portanto, uma verdadeira afronta ao Princípio Constitucional da irredutibilidade dos vencimentos, uma vez que é clara intenção da Administração pública, pois há de se concluir que a VPNI será gradualmente absorvida por ocasião do desenvolvimento no cargo por progressão ou promoção ordinária ou extraordinária, da reorganização ou da reestruturação dos cargos ou das remunerações, isto é, o aumento recebido por um servidor, referente a uma progressão ou restruturação de cargo ou remuneração, terá uma redução correspondente ao valor 8

9 recebido a título desta VPNI, pois esta será absorvida nesse valor. A irredutibilidade de vencimentos é absolutamente ilegal e conta, inclusive sumulado pela Suprema Corte, reconhecida a repercussão geral, abaixo: conforme destacado RECURSO. Extraordinário. Gratificação por Produção Suplementar - GPS. Alteração do cálculo. Lei específica. Irredutibilidade de vencimentos. Repercussão geral reconhecida. Precedentes. Reafirmação da jurisprudência. Recurso improvido. É compatível com a Constituição lei específica que altera o cálculo da Gratificação por Produção Suplementar - GPS, desde que não haja redução da remuneração na sua totalidade.re RG / DF - DISTRITO FEDERAL REPERCUSSÃO GERAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO Relator(a): Min. MINISTRO PRESIDENTE Julgamento: 6/06/20 9

10 A presente MP, revoga a Lei nº 9.436/997, que dispõe sobre a jornada de trabalho de Médico, Médico de Saúde Pública, Médico do Trabalho e Médico Veterinário, da Administração Pública Federal direta, das autarquias e das fundações públicas federais, in verbis: Art. º A jornada de trabalho de quatro horas diárias dos servidores ocupantes de cargos efetivos integrantes das Categorias Funcionais de Médico, Médico de Saúde Pública, Médico do Trabalho e Médico Veterinário, de qualquer órgão da Administração Pública Federal direta, das autarquias e das fundações públicas federais, corresponde aos vencimentos básicos fixados na tabela constante do anexo a esta Lei. Os ocupantes dos cargos efetivos integrantes das Categorias Funcionais de que trata este artigo poderão, mediante opção funcional, exercer suas atividades em jornada de oito horas diárias, observada a disponibilidade orçamentária e financeira. 2 A opção pelo regime de quarenta horas semanais de trabalho corresponde a um cargo efetivo com duas jornadas de vinte horas semanais de trabalho, observados, para

11 este fim, os valores de vencimentos básicos fixados na tabela constante do anexo a esta Lei, assegurada aposentadoria integral aos seus exercentes. Desta forma, a disponibilidade da jornada de trabalho de Médico, Médico de Saúde Pública, Médico do Trabalho e Médico Veterinário, da Administração Pública Federal direta, das autarquias e das fundações públicas foi sancionada sob a forma de opção, e não de obrigatoriedade, conforme vimos na lei supramencionada. Não obstante o exposto acima, a MP 568/2, prevê em seu Artigo 86 alteração do Art. 68 da Lei 8.2/90, que dispõe sobre o pagamento do adicional de insalubridade e periculosidade, in verbis : "Art. 86. A Lei nº 8.2, de 990 passa a vigorar com as seguintes alterações: Art. 68. Os servidores que trabalhem com habitualidade em locais insalubres, perigosos ou em contato permanente com substâncias tóxicas, radioativas, ou com risco de vida, fazem jus a um adicional, conforme os valores abaixo:

12 I - grau de exposição mínimo de insalubridade: R$ 00,00; II - grau de exposição médio de insalubridade: R$ 80,00; III - grau de exposição máximo de insalubridade: R$ 260,00; IV - periculosidade: R$ 80,00...." Se compararmos o texto da MP com o original da lei 82, podemos observar que referida alteração mostra que o objetivo da MP é transformar os adicionais de insalubridade e periculosidade, hoje pagos como percentagem do vencimento básico, em valores fixos e sem previsão de reajuste, senão vejamos: Art. 68. Os servidores que trabalhem com habitualidade em locais insalubres ou em contato permanente com substâncias tóxicas, radioativas ou com risco de vida, fazem jus a um adicional sobre o vencimento do cargo efetivo.

13 o O servidor que fizer jus aos adicionais de insalubridade e de periculosidade deverá optar por um deles. 2o O direito ao adicional de insalubridade ou periculosidade cessa com a eliminação das condições ou dos riscos que deram causa a sua concessão. A Lei Federal N.º 8.270,/ 9, em art. 2, inciso I e II, define o percentual do adicional de insalubridade e periculosidade, que irão depender do grau de exposição à insalubridade e/ou periculosidade a que estão submetidos os servidores federais, sendo cinco, dez e vinte por cento, no caso de insalubridade nos graus mínimo, médio e máximo, respectivamente e dez por cento, no de periculosidade. De acordo com o dispositivo da MP 568, verifica-se que o servidor que faz jus ao grau mínimo de insalubridade que pela lei 8.270/9 é de 5% sobre o vencimento, passará a receber valor fixo de R$00,00(cem reais). Todavia, aquele que se expõe em grau médio, cujo percentual era de 0% sobre o vencimento passa a receber apenas R$80,00 (cento e oitenta reais), e o grau máximo de exposição em local insalubre, que correspondia a 20% sobre o

14 vencimento, passa a receber o valor fixo de R$260,00(duzentos e sessenta reais). Ademais, os servidores que fazem jus a periculosidade, conforme prevê a mencionada Lei, faziam jus ao percebimento de 0% do vencimento básico, entretanto com as alterações prevista na MP em comento, passarão a perceber o valor fixo de R$80,00 (cento e oitenta reais) Se considerarmos que o maior grupo atingido pela medida são os profissionais de saúde nas áreas de medicina e enfermagem, percebe-se que a MP reduz a efetiva desses profissionais. remuneração A MP ao transformar o adicional de insalubridade em valor fixo em lugar de percentagem dos vencimentos acaba anulando os efeitos financeiros dos futuros aumentos salariais, progressões, promoções e reajustes. Os suposto aumentos salariais apresentados inibem e anulam aumentos nominais de remuneração da categoria médica que recebem os referidos adicionais, ferindo o dispositivo da Carta da República que proíbe a redução nominal dos proventos Vale dizer que mesmo com a uniformidade dos pagamentos dos valores nominais a título de adicional de insalubridade e periculosidade, tais alterações não possuem qualquer justificativa para a "irredutibilidade real" que irá

15 acontecer na remuneração dos servidores públicos federais, mesmo com o pagamento da chamada VDNI, uma vez que a MP 568 em seu art.87, prevê a absorção gradativa desta, sempre que o servidor tiver algum reajuste em sua remuneração, vejamos: Art. 87. Caso o disposto nesta seção acarrete redução do valor global da remuneração total de servidor ativo que, na data de entrada em vigor desta Lei, vinha recebendo adicional de insalubridade ou de periculosidade, a diferença será paga a título de vantagem pessoal nominalmente identificada de, conforme o caso, adicional de insalubridade ou de periculosidade, de natureza provisória, que será gradativamente absorvida por ocasião do desenvolvimento no cargo por progressão ou promoção ordinária ou extraordinária, da reorganização ou da reestruturação dos cargos ou das remunerações previstas nesta Lei, da concessão de reajuste ou vantagem de qualquer natureza, sem prejuízo da supressão imediata na hipótese do art. 68, 2º, da Lei nº 8.2, de 990. (grifei) Na nossa análise o referido artigo ofende o Princípio Constitucional da Irredutibilidade de vencimentos, uma vez que, os adicionais de insalubridade e periculosidade, de acordo com o que dispõe o art. 2 da Lei 8270/9, bem como as Normas regulamentadores do Ministério do Trabalho e Emprego, que regem normas específicas para as atividades insalubres e

16 perigosas, devem ser pagas nominal. em percentual e não em valor A conversão dos adicionais em valor fixo, como pretende a Administração Pública acarretará a redução global da remuneração total do servidor ativo, até porque a diferença por ventura existente, frise-se, será paga a título de VPNI, nos termos da MP 568/2, ao ser gradativamente absorvida, por progressão, promoção, reorganização ou reestruturação dos cargos ou remunerações, ou ainda concessão de reajustes ou qualquer vantagens, acarretará, repita-se a redução de vencimentos, e por conseguinte, ofensa literal ao consagrado princípio da irredutibilidade dos vencimentos. Como é cediço, a VPNI só é reajustada anualmente por revisão geral, o que acarreta congelamento da parcela. Apenas a título de ilustração, trazemos a colação o entendimento firmado pelo Douto jurista José dos Santos Carvalho Filho, in "Manual de Direito Administrativo", revista ampliada e atualizada até a Lei nº 2.587/2-25ª Edição,- ed.atlas- 738, in verbis "O sentido da irredutibilidade, porém, não é absoluto protege-se o servidor apenas contra a redução direta de seus vencimentos, isto é, contra a lei ou qualquer outro ato que pretenda atribuir ao cargo ou à função decorrente de emprego público importância inferior à que já estava fixada ou fora contratada anteriormente."

17 Assim, é necessário a revisão imediata dos artigos que impõem a redução salarial e a supressão dos artigos 86 e 87 que modificam a forma de pagamentos dos adicionais de insalubridade e periculosidade. Esperando ter atendido com êxito a V. Consulta, apresento os meus protestos de estima e consideração. S. M.J., É o parecer, À devida apreciação. GLEYDE SELMA DA HORA OAB/RJ DEPTO JURÍDICO