Processo no /001

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1 ESTADO DA PARAÍBA PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA Gabinete do Desembargador Marcos Cavalcanti de Albuquerque Acórdão Ação Direta de Inconstitucionalidade no /001 Relator: Desembargador Marcos Cavalcanti de Albuquerque Requerente: Governador do Estado da Paraíba Procurador: Gilberto Carneiro da Gama. Requerido: Assembleia Legislativa do Estado da Paraíba. EMENTA: AÇA() DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. LEI ESTADUAL QUE DISCIPLINA A PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS FUNERÁRIOS. ASSUNTO DE INTERESSE LOCAL. PRESENÇA DE FUMUS BONI IURES E PERICULUM IN MORA. OBRIGAÇÃO QUE NÃO ENCONTRA AMPARO NA CONSTITUIÇÃO ESTADUAL. DEFERIMENTO DA MEDIDA LIMINAR. Lei estadual que disciplina a prestação de serviços funerários não pode produzir efeitos, enquanto o mérito da Ação Direta de Inconstitucionalidade não for apreciado pelo órgão jurisdicional competente, sob pena de poder violar preceito constitucional que diz ser o ente municipal competente para legislar sobre assunto de interesse local. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos acima identificados. Acorda o pleno do Egrégio Tribunal de Justiça do Estado da Paraíba, por unanimidade, em DEFERIR A MEDIDA CAUTELAR, nos termos do voto do relator. RELATÓRIO O Governador do Estado da Paraíba, com apoio no art. 105, inciso I, alínea "a", da do Estado da Paraíba, Desembargado arcos Cavalcanti de Al quer le 1

2 intentou a Ação Direta de Inconstitucionalidade com Pedido Liminar, almejando deferimento liminar de medida cautelar para a suspensão dos efeitos dos arts. 1 0 e 2o, da Lei Estadual no 9.588, de 15 de dezembro de 2011, promulgada pela Assembleia Legislativa, por afronta aos arts. 11, V e 64, inciso I, da Constituição do Estado da Paraíba. Sustenta que o Projeto de Lei n.o 355/2011, que dispunha sobre a instituição da obrigatoriedade da instalação de um crematório público estadual, com a prestação de serviços gratuitos, foi vetado pelo requerente, por contrariar frontalmente a Constituição do Estado da Paraíba. Entretanto, a Assembleia Legislativa rejeitou o veto do Governador do Estado e promulgou a Lei 9.588/2011, motivo pelo qual o requerente ajuizou a presente Ação Direta de Inconstitucionalidade. Alega que a referida norma afronta os arts. 11, V e 64, inciso I, da Constituição do Estado da Paraíba, uma vez que o ente competente para legislar sobre assunto de interesse local, incluída a prestação de serviços funerários, é o Município. Ao final, requer, liminarmente, a concessão de medida cautelar, com a finalidade de suspender a eficácia da mencionada Lei Estadual, pugnando, no mérito, pela declaração da inconstitucionalidade dos dispositivos mencionados, por contrariarem frontalmente a Constituição Estadual. Juntou documentos às fls. 13/17. É o relatório. VOTO É sabido que o serviço funerário revela-se como de interesse local, consoante reconhece a melhor doutrina. Assim, a instalação de um crematório público para a prestação de serviços gratuitos, somente pode ser atribuição dos Municípios. Deste mo.,.oda e alquer legislação estadual que Desembarga uquerque 2

3 obrigue o Poder Público estadual a prestar esta espécie de serviço afronta o art. 30, I, da Constituição Federal e, por conseguinte, o art. 11, V, da Constituição do Estado da Paraíba. Ao se deparar sobre um caso semelhante, o Supremo Tribunal Federal assim decidiu: "Os serviços funerários constituem serviços municipais, dado que dizem respeito com necessidades imediatas do Município. CF, art. 30, V." (ADI 1.221, Rel. Min. Carlos Velloso, julgamento em , Plenário, D3 de ) Importante trazer o magistério do professor Hely Lopes Meirelles, o qual preleciona: "O serviço funerário é de competência municipal, por dizer respeito a atividades de precípuo interesse local, quais sejam, a confecção de caixões, a organização de velório, o transporte de cadáveres e a administração de cemitérios". (Direito Municipal Brasileiro, 10 ed. São Paulo: Malheiros, 1998, p. 338). De fato, o legislador estadual, ao promulgar a Lei n.o 9.588/2011, obrigando o Poder Público Estadual a instalar um crematório público, inobservou, claramente, o art. 11, V, da Constituição Estadual. O referido dispositivo constitucional estabelece que: Art Compete aos Municípios: V - organizar e prestar, diretamente ou sob regime de concessão ou permissão, os serviços públicos de interesse local, incluído o de transporte coletivo, que tem caráter essencial; Deste modo, o art. 1 0 da Lei Estadual n.o 9.588/2011 que obriga o Estado da Paraíba a instalar um crematório público para a prestação de serviço gratuito de natureza funerária fere a Constituição Estadual, bem como a determinação p ',ferida pelo STF na ADI acima Desembarga arcos Co a a pd uquerque 3

4 mencionada, que tem efeitos erga omnes e ex tunc, impondo, desde já, a suspensão da eficácia daquele diploma legal. Por outro lado, a análise acima está em consonância com a discussão acerca da violação do art. 64, I, da Constituição Estadual, conforme alegado pelo requerente, no sentido de que a conduta do legislador estadual de impor a obrigação de prestar um serviço público, sem indicar os recursos necessários à implementação do mesmo, não encontra amparo jurídico. Logo, presente o fumus boni jures, uma vez que a situação criada pela Lei impugnada impõe uma obrigação ao requerente, sem qualquer amparo na Lei Maior do Estado da Paraíba. Ademais, o periculum in mora também se faz presente, na medida em que a permanência da produção dos efeitos da referida norma ocasiona um flagrante prejuízo e subversão à ordem constitucional, caso se espere até o julgamento do mérito da presente ação. Ante todo o exposto, por entender que a vigência da Lei impugnada poderá acarretar graves transtornos ao erário, com a possibilidade de difícil reparação, CONCEDO A LIMINAR, para suspender a eficácia dos arts. 1 0 e 2 0 da Lei Estadual n. o 9.588/2011, até o julgamento final desta ação direta de inconstitucionalidade, em razão da comprovação dos requisitos imprescindíveis para sua concessão, quais sejam, o periculum in mora e o fumus boni jures. Determino a notificação da autoridade da qual emanou o ato impugnado para prestar informações, no prazo de 30 dias. Decorrido o prazo das informações, abra-se vista dos autos ao Procurador Geral do Estado para os fins previstos no art. 204, 2 0 do RIT3PB. Após, com ou sem as informações, bem como expirado o prazo concedido ao Procurador-Geral do Estado, quando citado, será aberta vista ao Procurador Geral de 3 stiça, pe o prazo de quinze dias, para emitir parecer, nos mos C. ' 205 a é /IT3PB. Desembargador arcos Cava! querazte 4

5 É como voto. Presidiu o julgamento, com voto, o Excelentíssimo Senhor Desembargador Márcio Murilo da Cunha Ramos, decano desimpedido na eventual ausência do Presidente. Relator: Excelentíssimo Senhor Desembargador Marcos Cavalcanti de Albuquerque. Participaram ainda do julgamento os Excelentíssimos Senhores Desembargadores Romero Marcelo da Fonseca Oliveira, Frederico Martinho da Nlábrega Coutinho, José Ricardo Porto, Genésio Gomes Pereira Filho, José Di Lorenzo Serpa, Joás de Brito Pereira Filho, Arnóbio Alves Teodásio, João Benedito da Silva, Carlos Martins Beltrão Filho. Impedidos o Exmos. Srs. Drs. Onaldo Rocha de Queiroga (Juiz convocado para substituir a Desembargadora Maria das Neves do Egito A D Ferreira), Maria das Graças Morais Guedes (Juíza convocada até o preenchimento da vaga de desembargador), Francisco Francinaldo Tavares (Juiz convocado para substituir o Desembargador Saulo Henriques de Sé e Benevides), Marcos William de Oliveira (Juiz convocado para substituir o Desembargador Luiz Silvio Ramalho Júnior). Ausentes, justificadamente, os Excelentíssimos Senhores Desembargadores João Alves da Silva, Maria de Fátima Moraes Bezerra Cavalcanti e Ricardo Vital de Almeida (Juiz convocado para substituir o Desembargador Manoel Soares Monteiro). Presente à sessão o Excelentíssimo Senhor Doutor Marcus Vilar Souto Maior, Procurador de Justiça, em substituição ao Excelentíssimo Senhor Doutor Oswaldo Trigueiro do Valle Filho, Procurador Geral de Justiça. Tribunal Pleno, Sala de Sessões do Tribunal de Justiça do Estado da Paraíba, em João Pessoa, 04 de Desembargador Marcos Cav Relat de Albuquerque Desembargador Marcos Cavalcanti de Albuquerque 5

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