Poder Judiciário TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 4ª REGIÃO
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1 Poder Judiciário TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 4ª REGIÃO AGRAVO DE INSTRUMENTO Nº /RS AGRAVANTE: DEPARTAMENTO NACIONAL DE INFRA ESTRUTURA DE TRANSPORTES DNIT AGRAVADO: CLOVIS NEI IUNG GUEDES DESPACHO/DECISÃO Este agravo de instrumento ataca decisão que deferiu tutela de urgência (evento 3 do processo originário), proferida pelo(a) Juiz(a) Federal EVERSON GUIMARÃES SILVA, que está assim fundamentada naquilo que interessa a este agravo de instrumento: Trata se de analisar pedido de tutela provisória pelo qual a parte autora postula a suspensão dos efeitos do auto de infração mencionado na inicial, ao fundamento de que o Departamento Nacional de Infra Estrutura de Transportes (DNIT) não teria competência para promover autuações e aplicar sanções por excesso de velocidade em rodovias federais. Vieram os autos conclusos para análise do pedido liminar. A tese ventilada na inicial encontra amparo na jurisprudência do Tribunal Regional Federal da 4.ª Região, que vem confirmando a incompetência do DNIT para promover autuações e aplicar sanções em face do cumprimento de outras normas de trânsito praticadas em rodovias e estradas federais: ADMINISTRATIVO. AUTOS DE INFRAÇÃO DE TRÂNSITO. APLICAÇÃO DE MULTA. EXCESSO DE VELOCIDADE. INCOMPETÊNCIA DO DNIT. NULIDADES DOS AUTOS. 1. O DNIT não tem competência para promover autuações e aplicar sanções em face do descumprimento de outras normas de trânsito praticadas em rodovias e estradas federais, como, por exemplo, por excesso de velocidade. Reiterados precedentes desta Corte. 2. O reconhecimento da nulidade dos autos de infração é medida que se impõe. 3. Não cabe redução da verba honorária advocatícia sucumbencial fixada na sentença, considerando que haveria a fixação dessa verba em valor irrisório, atentando se, ainda, para o que dispõe o art. 20, 3º e 4º, do CPC.4. Sentença de procedência mantida. (TRF4, APELREEX , Terceira Turma, Relatora p/ Acórdão Marga Inge Barth Tessler, juntado aos autos em 17/12/2015) AGRAVO EM AGRAVO DE INSTRUMENTO. DECISÃO QUE NEGOU SEGUIMENTO AO RECURSO. MULTA DE TRANSITO. DNIT. COMPETÊNCIA. Prevalece o entendimento de que o DNIT é competente para impor multas e outras medidas administrativas relativas a infrações por excesso de peso, dimensões e lotação dos veículos (CTB, art. 21, inc. VIII) e o nível de emissão de poluentes e ruído produzidos pelos veículos automotores ou pela sua carga (CTB, art. 21, inc. XIII), mas não teria competência para promover autuações e aplicar sanções em face do descumprimento de outras normas de trânsito praticadas em rodovias e
2 estradas federais, como por excesso de velocidade. (TRF , Quarta Turma, Relator p/ Acórdão Candido Alfredo Silva Leal Junior, juntado aos autos em 14/12/2015) Assim, a autuação mencionada na inicial está viciada por falta de competência em relação à autoridade administrativa responsável pela sua lavratura e, por conta disso, considerando se nulos os efeitos delas decorrentes. O perigo de dano decorre da possibilidade de que a parte autora sofra restrições em consequência da penalidade imposta. Presentes os requisitos do art. 300 do CPC, defiro a tutela de urgência. Ante o exposto, defiro a tutela de urgência para, reconhecendo a ausência de competência do DNIT para a aplicação da penalidade mencionada na inicial, suspender os efeitos dela decorrentes.... Alega a parte agravante, em apertada síntese, que: (a) tem competência para efetuar autuações de trânsito por excesso de velocidade e para aplicar as respectivas multas; (b) a antecipação de tutela foi concedida ao arrepio da lei, sem que tenha havido a declaração de sua inconstitucionalidade; (c) o agravado está injustificadamente imune aos efeitos da infração de trânsito grave que cometeu. Pede a atribuição de efeito suspensivo ao recurso para cassação da decisão agravada. Relatei. Decido. O deferimento de efeito suspensivo ao agravo de instrumento depende da presença de dois requisitos: (a) estar configurado risco de dano grave, de difícil ou impossível reparação, caso a decisão agravada produza efeitos imediatamente; e (b) ficar demonstrada a probabilidade de provimento do recurso (Lei /2015, art. 995 único). A 2ª Seção desta Corte, em ação civil pública ajuizada pelo Ministério Público Federal, que objetivava a declaração de incompetência do DNER/DNIT para a aplicação e arrecadação de multas por excesso de velocidade, firmou orientação jurisprudencial no sentido da incompetência dessa autarquia para exercer o poder de polícia nas rodovias federais. Consequentemente, esse entendimento vinha sendo adotado por este relator nas ações que versam sobre a matéria. Todavia, melhor examinando a questão à luz do que recentemente decidiu o Superior Tribunal de Justiça, observo que o 3 do art. 82 da Lei nº /2001, incluído pela Lei nº /2002, incluiu dentre as atribuições do DNIT, observada a sua esfera de atuação, "exercer, diretamente ou mediante convênio, as competências expressas no art. 21 da Lei nº 9.503, de 1997, observado o disposto no inciso XVII do art. 24 da Lei nº /01". O art. 21 da Lei nº 9.503/97 assim estabelece:
3 Art. 21. Compete aos órgãos e entidades executivos rodoviários da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, no âmbito de sua circunscrição: I cumprir e fazer cumprir a legislação e as normas de trânsito, no âmbito de suas atribuições; II planejar, projetar, regulamentar e operar o trânsito de veículos, de pedestres e de animais, e promover o desenvolvimento da circulação e da segurança de ciclistas; III implantar, manter e operar o sistema de sinalização, os dispositivos e os equipamentos de controle viário; IV coletar dados e elaborar estudos sobre os acidentes de trânsito e suas causas; V estabelecer, em conjunto com os órgãos de policiamento ostensivo de trânsito, as respectivas diretrizes para o policiamento ostensivo de trânsito; VI executar a fiscalização de trânsito, autuar, aplicar as penalidades de advertência, por escrito, e ainda as multas e medidas administrativas cabíveis, notificando os infratores e arrecadando as multas que aplicar; VII arrecadar valores provenientes de estada e remoção de veículos e objetos, e escolta de veículos de cargas superdimensionadas ou perigosas; VIII fiscalizar, autuar, aplicar as penalidades e medidas administrativas cabíveis, relativas a infrações por excesso de peso, dimensões e lotação dos veículos, bem como notificar e arrecadar as multas que aplicar; IX fiscalizar o cumprimento da norma contida no art. 95, aplicando as penalidades e arrecadando as multas nele previstas; X implementar as medidas da Política Nacional de Trânsito e do Programa Nacional de Trânsito; XI promover e participar de projetos e programas de educação e segurança, de acordo com as diretrizes estabelecidas pelo CONTRAN; XII integrar se a outros órgãos e entidades do Sistema Nacional de Trânsito para fins de arrecadação e compensação de multas impostas na área de sua competência, com vistas à unificação do licenciamento, à simplificação e à celeridade das transferências de veículos e de prontuários de condutores de uma para outra unidade da Federação; XIII fiscalizar o nível de emissão de poluentes e ruído produzidos pelos veículos automotores ou pela sua carga, de acordo com o estabelecido no art. 66, além de dar apoio às ações específicas dos órgãos ambientais locais, quando solicitado; XIV vistoriar veículos que necessitem de autorização especial para transitar e estabelecer os requisitos técnicos a serem observados para a circulação desses veículos. Portanto, o DNIT tem competência para fiscalizar o trânsito nas rodovias federais e para autuar os infratores, inclusive aplicando sanções quando o limite de velocidade for excedido.
4 Esse foi o entendimento recentemente adotado pela Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiça ao interpretar a Lei nº /2001, que me parece justificar a alteração de entendimento quanto à questão litigiosa, nesses termos: ADMINISTRATIVO. PROCESSUAL CIVIL. AUSÊNCIA DE OMISSÃO, ART. 535, II, DO CPC. COMPETÊNCIA DO DNIT. APLICAÇÃO. MULTA DE TRÂNSITO. EXCESSO DE VELOCIDADE. RODOVIA FEDERAL. UTILIZAÇÃO. INTERPRETAÇÃO RESTRITIVA. 1. Não se configura a ofensa ao art. 535 do Código de Processo Civil, uma vez que o Tribunal a quo julgou integralmente a lide es olucionou a controvérsia, tal como lhe foi apresentada. 2. A competência da Polícia Rodoviária Federal para aplicar multas de trânsito nas rodovias federais não é exclusiva, pois, segundo o art. 21 do CTB, os órgãos e entidades executivos rodoviários da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios podem exercê la. 3. A Lei /2001, que dispõe sobre a reestruturação dos transportes aquaviário e terrestre, cria o Conselho Nacional de Integração de Políticas de Transporte, a Agência Nacional de Transportes Terrestres, a Agência Nacional de Transportes Aquaviários e o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes e dá outras providências, trouxe uma ampliação das funções exercidas pelo DNIT em seu art. 82, 3º, inclusive a de aplicar penalidades de trânsito por excesso de velocidade em rodovias federais. 4. Não é permitido ao intérprete da lei restringir a competência do DNIT, quando a norma jurídica quis ampliá la. No caso sub judice, a mera interpretação gramatical é apta a trazer o sentido da norma para o mundo dos fatos, portanto, depreende se que o órgão administrativo possui competência para fiscalizar o trânsito e aplicar multas por excesso de velocidade nas rodovias federais. 5. Recurso Especial parcialmente provido. (STJ, RESP , Segunda Turma, Min. Herman Benjamin, DJE 25/05/2016) Sendo assim, revejo posicionamento anterior e concluo que está evidenciada a probabilidade do direito. Quanto ao risco de dano grave, igualmente está presente. Com efeito, a suspensão dos efeitos de auto(s) de infração lavrado(s) pelo órgão competente constitui um estímulo para que motoristas excedam os limites de velocidade e desrespeitem as normas de trânsito, além de permitir que muitos dos condutores infratores mantenham o direito de dirigir, apesar de muitas vezes terem elevado número de multas. Isso compromete a segurança do tráfego e potencializa o risco de acidentes de trânsito nas rodovias, acarretando risco à vida, à integridade física e ao patrimônio da população. Além disso, decisões como a agravada têm um efeito multiplicador de demandas, o que demonstra ser prudente adequar o entendimento ao que foi decidido pelo STJ, até mesmo para evitar a movimentação desnecessária do aparato judiciário. Ante o exposto, defiro o efeito suspensivo requerido. Comunique se ao juízo de origem.
5 Intimem se as partes, inclusive a parte agravada para apresentar suas contrarrazões no prazo legal. Após, voltem conclusos para julgamento. Documento eletrônico assinado por CÂNDIDO ALFREDO S. LEAL JR., Desembargador Federal, na forma do artigo 1º, inciso III, da Lei , de 19 de dezembro de 2006 e Resolução TRF 4ª Região nº 17, de 26 de março de A conferência da autenticidade do documento está disponível no endereço eletrônico mediante o preenchimento do código verificador v20 e do código CRC 5f909b81. Informações adicionais da assinatura: Signatário (a): CÂNDIDO ALFREDO S. LEAL JR. Data e Hora: 03/06/ :19: V20 BYE CSL
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