POLÍTICAS PÚBLICAS HABITACIONAIS NO MUNICÍPIO DE ITABORAÍ: UM ESTUDO DOS NOVOS INVESTIMENTOS.
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1 Autora: Tatiane Benites da Silva Co- autora: Silvana Ferreira de Lima Graduandas em Geografia pela Faculdade de Formação de Professores da UERJ POLÍTICAS PÚBLICAS HABITACIONAIS NO MUNICÍPIO DE ITABORAÍ: UM ESTUDO DOS NOVOS INVESTIMENTOS. INTRODUÇÃO A produção da habitação no Brasil ocorre tanto nos marcos da produção capitalista, pela ação dos promotores imobiliários, quanto pelas formas não capitalistas, marcadas pelas diferentes formas de produção informal e irregular. São as marcas da desigualdade sócio-espacial da produção da cidade e do urbano nos países periféricos. Esse quadro de desigualdade marca, de forma mais aguda as cidades que fazem parte das regiões metropolitanas. No estado do Rio de Janeiro percebemos que a crise habitacional se fez e se faz presente ao longo de seu processo de desenvolvimento, onde a oferta e a procura de moradia popular, não seguiram no mesmo ritmo, fazendo crescer assim o número de habitações irregulares.observamos décadas de ausência dessas políticas tanto de construção de novas habitações para esse público, quanto de implementação e manutenção de infra-estrutura das áreas onde já existem essas habitações. Contudo o marco fundamental deste processo são as descontinuidades dessas políticas públicas habitacionais voltadas para as classes populares. Diante disto, trabalharemos neste artigo a questão habitacional no município de Itaboraí, situado no Leste Metropolitano do Estado do Rio de Janeiro. Este município abrigará a maior parte da planta produtiva do Complexo Petroquímico do Estado do Rio de Janeiro (COMPERJ), onde sediar este empreendimento lhe trará muitos benefícios, porém muitos impactos também. O presente artigo tem como objetivo, traçar um perfil da realidade habitacional no município de Itaboraí entre 2006 e 2010, período que marca o inicio, das políticas públicas habitacionais amarradas ao COMPERJ. Procuraremos delimitar as diferentes formas de habitações populares, que caracterizam os bairros e as novas intervenções públicas que estão sendo geradas para amenizar a questão do déficit habitacional já existente e para suprir as demandas habitacionais que provavelmente virão. 1
2 Este trabalho tem como metodologia a utilização do conceito de espaço urbano a partir de CORRÊA, 1999 e a concepção de Estado no espaço urbano fundamentadas nas obras de CORRÊA, 1999 e LOJKINE, Os procedimentos utilizados conta com trabalhos de campo para registrar a presente situação habitacional do município; a evolução das obras já iniciadas e entrevistas com os órgãos competentes da prefeitura, como as secretárias de Habitação e de Obras. O PAPEL DO ESTADO NO ESPAÇO URBANO Ao começar a discutir a questão do déficit habitacional presente nas grandes cidades brasileiras, temos que entender primeiramente o que é espaço urbano. Onde para nós, neste momento, a idéia de espaço urbano vem apoiada na obra do autor Roberto Lobato Corrêa (1999) onde ele considera a cidade como o próprio espaço urbano. O espaço de uma grande cidade capitalista constitui-se, em um primeiro momento de sua apreensão, no conjunto de diferentes usos da terra justapostos entre si. Tais usos definem áreas, como o centro da cidade, local de concentração de atividades comerciais, de serviços e de gestão, áreas industriais, áreas residenciais distintas em termos de forma e conteúdo social, de lazer e, entre outras, aquelas de reserva para futura expansão. Este complexo-conjunto de usos da terra é, em realidade, a organização espacial da cidade ou, simplesmente, o espaço urbano, que aparece assim como espaço fragmentado. (CORRÊA, 1999 Pág. 07). Esta idéia de espaço urbano, como espaço fragmentado, nos remete a realidade das cidades brasileiras, fragmentadas e articuladas ao mesmo tempo, palco dos processos e dos conflitos sociais. Processos estes, que produzem, grafam e modelam o espaço, sendo produzidos por diversos agentes. O espaço urbano capitalista [...] é um produto social, resultado de ações acumuladas através do tempo, e engendradas por agentes que produzem e consomem espaço. (CORRÊA, 1999 pág.11). Esses agentes a quem o autor se refere são: os proprietários dos meios de produção, sobretudo os grandes industriais; os proprietários fundiários; os promotores imobiliários; o Estado; e os grupos sociais excluídos. Cada um destes, tendo papéis altamente relevantes para a produção do espaço nas cidades. Onde os três primeiros agentes citados, apesar de se conflitarem em alguns momentos, tendem a se articular, para fortalecerem os seus interesses, onde nesta busca, na maioria das vezes tem o quarto 2
3 agente citado, o Estado, que deveria agir igualmente pelo interesse de todos os cidadãos, como seu aliado. Ficando assim, o último agente citado, os grupos sociais excluídos, desfavorecidos em seus interesses, ou até mesmo privados dos mesmos. Para este estudo, o mais relevante é o papel do Estado e a forma do mesmo (um importante agente espacial, ou talvez o mais importante, por ser ele o regulador do uso do solo), intervir na construção do mesmo. Já que ele dispõe de um conjunto de instrumentos que pode ser empregado em relação ao espaço urbano. Destacaremos alguns desses instrumentos segundo A. SAMSOM (apud CORRÊA, 1999, pág 25): (a) direito de desapropriação e precedência na compra de terras; (b) regulamentação do uso do solo; (c) controle e limitação dos preços da terras; (d) limitação da superfície da terra de que cada um pode se apropriar; (e) impostos fundiários e imobiliários que podem variar segundo a dimensão do imóvel, uso da terra e localização; (f) taxação de terrenos livres, levando a uma utilização mais completa do espaço urbano; (g) mobilização de reservas fundiárias públicas, afetando o preço da terra e orientando espacialmente a ocupação do espaço; (h) investimento público na produção do espaço, através de obras de drenagem, desmontes, aterros e implantação de infra-estrutura; (i) organização de mecanismos de credito à habitação; e (j) pesquisas, operações-teste sobre materiais e procedimentos de construção, bem como o controle de produção e do mercado deste material. Analisando cada um desses instrumentos citados acima, podemos perceber o quão importante são as ações do Estado para a sociedade, e o quanto o mesmo precisaria ser neutro para poder promover, o equilíbrio social, econômico e espacial. Porém não é esta atitude que observamos do Estado, infelizmente, ele tende a agir em beneficiamento das classes dominantes, deixando ascender cada vez mais à luta de classes. Este posicionamento do Estado cada vez se torna mais visível no Espaço, através dos investimentos públicos, que tendem a ser concentrados em áreas de maior interesses do mesmo e das classes sociais dominantes. 3
4 Para Poulanttzas (apud Lojkine, 1981 pág 80): [...] Com efeito, a autonomia do Estado no regime capitalista é apropria forma da dominação de classe: o Estado capitalista comporta, inscreve em suas próprias estruturas, um jogo que permite, dentro dos limites do sistema, uma certa garantia dos interesses econômicos de algumas classes dominadas. Isso faz parte de sua função, na medida em que essa garantia é conforme à dominação hegemônica das classes dominantes... É essa autonomia do poder político institucionalizado que permite às vezes atingir o poder econômico das classes dominantes, sem jamais ameaçar-lhes o poder político. Pode-se perguntar se o que fica claro de um lado ( como o Estado pode ser ao mesmo tempo Estado povo-nação, assegurando a coesão do conjunto da formação social, e Estado que organiza a predominância de uma classe? ) não faz ainda aumentar a dificuldade e a confusão quando se tenta aplicar essa proposição teórica à relação Estado-classes sociais. Surgem, a nosso ver, duas dificuldades principais. Por não ter sido especificado e sobretudo por não ter sido de fato distinguido de uma total independência entre dois sistemas fechados, o princípio de autonomia que fundamenta a análise de Estado proposta por Poulantzas: - não permite pensar a relação Estado-classes dominantes a não ser através da noção de bloco no poder, noção que implica um certo equilíbrio estático entre várias classes dominantes (mesmo se uma delas, a fração hegemônica, representa todas as classes dominantes); - não permite pensar a relação entre Estado e luta de classes a não ser como dominação intangível, através de variações secundárias, de uma classe hegemônica sobre classes dominadas. [...] Tais ações influenciam para a formação da segregação residencial, pois os diferenciais de investimentos em infra-estrutura, entre outros, afetam diretamente o preço da terra e dos imóveis, onde a fração da sociedade de menor poder aquisitivo tende a se concentrar nas periferias urbanas, onde o valor do solo é menor, devido à falta de investimentos em infra-estrutura. É importante salientar que a atuação do Estado se processa em três esferas: A federal, a estadual e a municipal, sendo esta última de grande importância aos nossos estudos, pois esta esfera que detêm o total poder sobre o uso do solo no espaço urbano, é ela que determina onde pode e o que pode se construir em uma determinada área. È no nível municipal, no entanto, que estes interesses se tornam mais evidentes e o discurso menos eficaz. Afinal a legislação garante à municipalidade muitos poderes sobre o espaço urbano, poderes que advêm, ao que parece, de uma longa tradição reforçada pelo fato de que, numa economia cada vez mais monopolista, os setores fundiário e imobiliário, menos concentrados, constituem-se em fértil campo de atuação para as elites locais. (CORRÊA, Pág. 26) A IMPLANTAÇÃO DO COMPERJ EM ITABORAÍ 4
5 Como já mencionado anteriormente, o município de Itaboraí está situado na região metropolitana do Estado do Rio de Janeiro e será um dos municípios a abrigar o Complexo Petroquímico do Estado do Rio de janeiro (COMPERJ), que está sendo implantado em Itaboraí e em São Gonçalo, onde Itaboraí abrigará o setor de beneficiamento do petróleo e São Gonçalo a Central de Escoamento de Produtos Líquidos CEPL. Itaboraí possui hoje cerca de habitantes segundo estimativas do IBGE a partir do Censo 2000 e se encontra em um potencial ritmo de crescimento, já que o mesmo sempre teve suas atividades econômicas voltadas para setor primário e terciário e agora terá suas atividades voltadas também para o setor secundário com a instalação do COMPERJ um dos maiores empreendimentos do estado. A implantação deste grande investimento no município prevê segundo estudos da FIRJAN, um potencial de instalação de 362 novas indústrias do setor de material plástico no estado, gerando cerca de 15 mil empregos diretos. As estimativas de demanda por mão-de-obra e de crescimento populacional da Região de Influência Direta para um ano típico de operação (pós 2015) indicam que, no Cenário Conservador, a migração não é necessária, já que a quantidade de mão-de-obra disponível na localidade é suficiente para suprir toda a demanda, desde que devidamente qualificada. Por outro lado, a realização do Cenário Otimista demandará migração da população, já que a oferta de emprego naquela região, medida em termos da População Economicamente Ativa (PEA), superará o contingente de desempregados. (FIRJAN pág.5) Outro problema que surge, é o da migração que poderá ser induzida pela perspectiva de crescimento econômico da região sem respaldo nas perspectivas efetivas de geração de empregos, ou seja, a exportação de desempregados, seja por percepções ilusórias de oportunidades, seja pela atração que o aumento efetivo da renda na região gerará sobre o contingente de sub-empregados e trabalhadores informais. Diante destas questões, é essencial a estruturação não só da prefeitura de Itaboraí, como também de todas as da área de influência direta do COMPERJ, para que haja um planejamento, e uma fiscalização da ocupação urbana. Que deve estar atrelado não só ao objetivo de impedir a intensificação da desestruturação do tecido urbano, mais também de gerar condições efetivas para fixar de forma adequada nos municípios à mão-de-obra contratada pelas empresas, além da necessidade de ampliação das políticas de capacitação da mão-de-obra local. 5
6 Essas preocupações são ainda maiores com o município de Itaboraí, pois o mesmo, é o município que abrigará a maior parte da planta do COMPERJ e principalmente por já possuir grandes déficits, tanto habitacional quanto no fornecimento de serviços de rede de água e esgoto. Observe no gráfico abaixo o percentual de domicílios urbanos com acesso a esses serviços: A QUESTÃO HABITACIONAL EM ITABORAÍ Os últimos estudos feitos no município de Itaboraí no ano de 2007, registraram 20 assentamentos subnormais, com cerca de no mínimo residências ao todo. Sabe-se que hoje esse número já foi superado, porém trabalharemos com estes, por serem oficiais. Estes estudos foram feitos através de uma parceria da Prefeitura de Itaboraí com o Programa habitar Brasil BID, onde foram delimitados estes assentamentos e traçados objetivos para os mesmos. Estes objetivos variam de 6
7 acordo com as especificidades de cada um, onde alguns assentamentos terão que ser demolidos por estarem em áreas de risco e outros terão um redesenho urbanístico e a regularização fundiária. Porém, apesar de terem sido feitos estes estudos, os projetos em andamentos ainda são poucos. Em fase de construção encontra-se apenas um conjunto de apartamentos no distrito de Itambí, que abrigará 256 famílias, atualmente residentes em áreas sujeitas à inundação, neste mesmo distrito. Estes apartamentos estão sendo realizados com a verba do Programa de aceleração do crescimento (PAC) do governo Federal, e serão totalmente gratuitos. Mapa do município de Itaboraí e os assentamentos subnormais levantados em 2007 Fonte: Secretária Municipal de Planejamento e desenvolvimento Econômico. 7
8 O município de Itaboraí conta hoje com o auxílio do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) do governo federal que tem 04 projetos de construção de conjuntos habitacionais destinadas a pessoas residentes em áreas risco, sendo que destes, apenas 01 está em fase de construção. O mesmo, conta também, com o Programa Minha Casa Minha Vida de financiamento de moradias, que até o momento só tem previsões de construções para pessoas que recebam de 03 a 06 salários mínimos mensais. Além desses projetos do Governo Federal, o município tem o Projeto Pró Moradia da prefeitura de Itaboraí, que está sendo aprovado e que conta com o apoio da Caixa Econômica Federal e do Governo Estadual, e quando aprovado deverá atender a 300 famílias. Como já mencionado acima, os projetos habitacionais em Itaboraí ainda são poucos e, portanto não suprem a demanda habitacional já existente, O Programa Minha Casa Minha Vida, por exemplo, ainda não tem projetos que atendam as pessoas deste município que recebem até 03 salários mínimos, e esse é um grande problema, pois são as pessoas que se encontram nesta faixa salarial que tem mais dificuldades de acesso a financiamento de moradia e acaba tendo como única solução à ocupação irregular de margens de rios, encostas, entre outros. Observamos também descontinuidades de obras ao longo da história do município, e hoje com a enunciação do COMPERJ já observamos uma grande valorização imobiliária na região, onde terrenos que antes eram vendidos a dez mil reais, hoje são oferecidos a cem mil reais; casas populares que antes eram vendidas a quarenta mil reais hoje são oferecidas a cento e vinte mil reais. Dificultando ainda mais o acesso a moradia por parte das classes de menor poder aquisitivo. Portanto o nosso trabalho vem questionar a necessidade de se começar a pensar em projetos de construções e financiamento de residências para as classes menos favorecidas, não só as que já residem no município, como também as que poderão vir atraídas pelo COMPERJ. E neste ponto, a prefeitura pode exigir dos promotores imobiliários que já estão sondando não só este município, como toda região de influência direta do COMPERJ, não só a construção de imóveis para pessoas com maior poder aquisitivo, mas também para os de menor poder aquisitivo. E é muito importante falar sobre isso, pois é a prefeitura que permite ou não as construções imobiliárias eu seu município, e com isso ela tem o grande poder de negociar com os promotores imobiliários, em favor das classes menos favorecidas. 8
9 CONSIDERAÇÕES FINAIS Neste trabalho procuramos fazer uma breve revisão sobre o papel do Estado no Espaço urbano, no intuito de dialogar com o município de Itaboraí e os problemas habitacionais, existentes no mesmo. Infelizmente as pesquisas realizadas no município por parte da prefeitura ainda são poucas, onde os próprios órgãos competentes da área de habitação e de obras não têm muitas informações a fornecer. Este é um grande problema, pois percebemos que o município não está se preparando devidamente para receber o COMPERJ e suas demandas. Observamos uma crescente valorização fundiária e imobiliária no mesmo, onde terrenos que antes eram vendidos a dez mil reais, hoje são oferecidos a cem mil reais. Agravando ainda mais a questão habitacional no município, pois com esta crescente valorização dos imóveis, se torna cada vez mais difícil o acesso à moradia digna e segura por parte das classes de menor poder aquisitivo. Percebemos assim, que muitas prefeituras hoje, apesar de deterem o total poder da gestão de seu território, não estão sabendo exercer este poder, deixando seu território totalmente a mercê do capital. Em Itaboraí especificamente, observamos outros órgãos externos à prefeitura pesquisando mais sobre os possíveis impactos do COMPERJ, e sobre as suas deficiências do que a mesma. É importante salientar que este trabalho está em estágio inicial, onde ainda serão acrescentadas muitas questões à cerca desta temática. 9
10 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABREU, Maurício de Almeida. A evolução urbana do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Instituto Pereira Passos, CORRÊA, Roberto Lobato. O Espaço Urbano. São Paulo, Editora Ática, FIRJAN. Estudos para o desenvolvimento do Estado do Rio de Janeiro. Sistema. COMPERJ Potencial de desenvolvimento produtivo. N 1 Maio de LEFEBVRE, Henri. O direito à cidade. Editora Centauro, São Paulo, LOJKINE, Jean. O Estado Capitalista e a questão Urbana. Tradução: Estela dos Santos Abreu. São Paulo. Editora Martins Fontes, SOJA, Edward W. Geografias pós modernas: a reafirmação do espaço na teoria social Crítica. Tradução da 2 edição inglesa, Vera Ribeiro; Revisão técnica, Bertha Becker, Lia Machado. Rio de Janeiro, Jorge Zahar Editor,
11 SOUZA, Marcelo Lopes de. ABC do Desenvolvimento Urbano. Rio de Janeiro. Editora Bertrand Brasil
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